É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Intenção de Netanyahu é clara: manter-se no poder e impor uma ‘nova ordem’ no Oriente Médio


Primeiro-ministro terá êxito, por ora, no seu objetivo principal, que é seguir no cargo, e obterá vitórias táticas contra os inimigos, mas fracassará em tornar a região mais segura para Israel

Por Lourival Sant'Anna

As intenções estratégicas de Binyamin Netanyahu estão claras: manter-se no poder e impor à força na região uma “nova ordem”, nome da ofensiva contra o Hezbollah. O primeiro-ministro terá êxito, por ora, no seu objetivo principal, a continuidade no cargo, e obterá vitórias táticas contra os inimigos, mas fracassará em tornar a região mais segura para Israel.

O avanço das tropas israelenses no sul do Líbano demonstra que o objetivo é varrer a presença do Hezbollah de uma área que se estende além do Rio Litani, 29 km ao norte da fronteira, tradicional marco da zona de segurança observado por Israel, um território de 800 quilômetros quadrados. Um porta-voz israelense em idioma árabe advertiu os moradores a se retirar de 25 localidades para o norte do Rio Awali, a 45 km do Litani.

A Força Aérea israelense tem bombardeado centenas de alvos por dia no Líbano, principalmente nos redutos do Hezbollah: sul e leste do país e sul de Beirute. Tem atacado também o centro de Beirute, onde haveria um centro de inteligência do grupo xiita, e os dois lados da fronteira com a Síria, por onde passam as linhas de suprimento de armas e munição.

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Primeiro-ministro Binyamin Netanyahu na Assembleia-Geral da ONU. Foto: AP Photo/Richard Drew

Não é a primeira vez que Israel invade o Líbano — e, a julgar pelos resultados das campanhas anteriores, não será a última, a menos que o país tire as conclusões certas sobre as verdadeiras causas de seu crônico problema de segurança. Tropas israelenses cruzaram a fronteira norte em 1978, 1982 e 2006.

As duas primeiras campanhas, ocorridas durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990), foram para expulsar os guerrilheiros da Organização de Libertação da Palestina (OLP), que tinham se transferido para o Líbano depois de sua tentativa de derrubar o rei Hussein da Jordânia em 1970, no que entrou para a história como Setembro Negro.

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Em 1978, os invasores israelenses foram apenas até o Litani. Quatro anos depois, avançaram até Beirute. Além de rechaçar as forças de Yasser Arafat, cercaram os campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila e permitiram a entrada de seus aliados das Falanges Cristãs. Os falangistas mataram 3.500 civis palestinos.

Depois de cumprir seu objetivo de derrotar a OLP, as forças israelenses recuaram para o sul do Rio Litani e estabeleceram uma zona de segurança. A ocupação do sul do Líbano motivou a criação do Hezbollah, com apoio do Irã. Os ataques frequentes da milícia xiita levaram o então primeiro-ministro Ehud Barak, um general condecorado, a ordenar a retirada do sul do Líbano em 2000.

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Mas a guerra de baixa intensidade com o Hezbollah continuou. Em 2006, num ataque a uma patrulha israelense, integrantes do grupo mataram oito soldados e capturaram outros dois. Essa ação desencadeou uma nova guerra, que durou 34 dias, e teve a mesma dinâmica da atual: bombardeios intensos a alvos do Hezbollah, seguidos de invasão terrestre.

Na época, o Hezbollah tinha 15 mil foguetes de curto alcance; hoje, tem 150 mil foguetes e mísseis, com capacidade de atingir qualquer ponto do território israelense. De alguns milhares de combatentes mal-treinados, a milícia evoluiu para 100 mil, muitos deles veteranos da guerra civil na Síria.

Ao matar Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, em Teerã, e sobretudo Hassan Nasrallah, líder espiritual do Hezbollah e principal aliado da teocracia iraniana, o governo israelense tornou inevitável uma resposta direta do Irã, que disparou 180 mísseis balísticos contra o território de Israel.

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Embora não tenha feito vítimas, graças ao excelente sistema Arrow de defesa contra mísseis de longo alcance, o ataque iraniano cria as condições para Netanyahu ordenar um bombardeio de alvos estratégicos no Irã, como instalações petrolíferas, nucleares e militares.

Assim como a invasão do Líbano, esse ataque também não tornará a região mais segura para Israel. Pelo contrário. O país só ficaria mais seguro se devolvesse a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, que ocupou na Guerra dos Seis Dias de 1967, e aceitasse a criação de um Estado no qual os palestinos pudessem viver com dignidade.

Antes disso, teria de firmar um cessar-fogo com o Hamas, em troca da libertação dos 100 reféns israelenses, retirar-se da Faixa de Gaza e levantar o bloqueio que impõe sobre ela desde 2007. Netanyahu não deseja e neste momento nem reúne condições políticas para fazer isso. Sua maioria no Parlamento depende de três ministros que rejeitam qualquer concessão aos palestinos. Netanyahu construiu sua carreira política com base na premissa de que Israel não precisava trocar terra por paz. Ele e os que o apoiam estão tragicamente errados.

As intenções estratégicas de Binyamin Netanyahu estão claras: manter-se no poder e impor à força na região uma “nova ordem”, nome da ofensiva contra o Hezbollah. O primeiro-ministro terá êxito, por ora, no seu objetivo principal, a continuidade no cargo, e obterá vitórias táticas contra os inimigos, mas fracassará em tornar a região mais segura para Israel.

O avanço das tropas israelenses no sul do Líbano demonstra que o objetivo é varrer a presença do Hezbollah de uma área que se estende além do Rio Litani, 29 km ao norte da fronteira, tradicional marco da zona de segurança observado por Israel, um território de 800 quilômetros quadrados. Um porta-voz israelense em idioma árabe advertiu os moradores a se retirar de 25 localidades para o norte do Rio Awali, a 45 km do Litani.

A Força Aérea israelense tem bombardeado centenas de alvos por dia no Líbano, principalmente nos redutos do Hezbollah: sul e leste do país e sul de Beirute. Tem atacado também o centro de Beirute, onde haveria um centro de inteligência do grupo xiita, e os dois lados da fronteira com a Síria, por onde passam as linhas de suprimento de armas e munição.

Primeiro-ministro Binyamin Netanyahu na Assembleia-Geral da ONU. Foto: AP Photo/Richard Drew

Não é a primeira vez que Israel invade o Líbano — e, a julgar pelos resultados das campanhas anteriores, não será a última, a menos que o país tire as conclusões certas sobre as verdadeiras causas de seu crônico problema de segurança. Tropas israelenses cruzaram a fronteira norte em 1978, 1982 e 2006.

As duas primeiras campanhas, ocorridas durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990), foram para expulsar os guerrilheiros da Organização de Libertação da Palestina (OLP), que tinham se transferido para o Líbano depois de sua tentativa de derrubar o rei Hussein da Jordânia em 1970, no que entrou para a história como Setembro Negro.

Em 1978, os invasores israelenses foram apenas até o Litani. Quatro anos depois, avançaram até Beirute. Além de rechaçar as forças de Yasser Arafat, cercaram os campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila e permitiram a entrada de seus aliados das Falanges Cristãs. Os falangistas mataram 3.500 civis palestinos.

Depois de cumprir seu objetivo de derrotar a OLP, as forças israelenses recuaram para o sul do Rio Litani e estabeleceram uma zona de segurança. A ocupação do sul do Líbano motivou a criação do Hezbollah, com apoio do Irã. Os ataques frequentes da milícia xiita levaram o então primeiro-ministro Ehud Barak, um general condecorado, a ordenar a retirada do sul do Líbano em 2000.

Mas a guerra de baixa intensidade com o Hezbollah continuou. Em 2006, num ataque a uma patrulha israelense, integrantes do grupo mataram oito soldados e capturaram outros dois. Essa ação desencadeou uma nova guerra, que durou 34 dias, e teve a mesma dinâmica da atual: bombardeios intensos a alvos do Hezbollah, seguidos de invasão terrestre.

Na época, o Hezbollah tinha 15 mil foguetes de curto alcance; hoje, tem 150 mil foguetes e mísseis, com capacidade de atingir qualquer ponto do território israelense. De alguns milhares de combatentes mal-treinados, a milícia evoluiu para 100 mil, muitos deles veteranos da guerra civil na Síria.

Ao matar Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, em Teerã, e sobretudo Hassan Nasrallah, líder espiritual do Hezbollah e principal aliado da teocracia iraniana, o governo israelense tornou inevitável uma resposta direta do Irã, que disparou 180 mísseis balísticos contra o território de Israel.

Embora não tenha feito vítimas, graças ao excelente sistema Arrow de defesa contra mísseis de longo alcance, o ataque iraniano cria as condições para Netanyahu ordenar um bombardeio de alvos estratégicos no Irã, como instalações petrolíferas, nucleares e militares.

Assim como a invasão do Líbano, esse ataque também não tornará a região mais segura para Israel. Pelo contrário. O país só ficaria mais seguro se devolvesse a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, que ocupou na Guerra dos Seis Dias de 1967, e aceitasse a criação de um Estado no qual os palestinos pudessem viver com dignidade.

Antes disso, teria de firmar um cessar-fogo com o Hamas, em troca da libertação dos 100 reféns israelenses, retirar-se da Faixa de Gaza e levantar o bloqueio que impõe sobre ela desde 2007. Netanyahu não deseja e neste momento nem reúne condições políticas para fazer isso. Sua maioria no Parlamento depende de três ministros que rejeitam qualquer concessão aos palestinos. Netanyahu construiu sua carreira política com base na premissa de que Israel não precisava trocar terra por paz. Ele e os que o apoiam estão tragicamente errados.

As intenções estratégicas de Binyamin Netanyahu estão claras: manter-se no poder e impor à força na região uma “nova ordem”, nome da ofensiva contra o Hezbollah. O primeiro-ministro terá êxito, por ora, no seu objetivo principal, a continuidade no cargo, e obterá vitórias táticas contra os inimigos, mas fracassará em tornar a região mais segura para Israel.

O avanço das tropas israelenses no sul do Líbano demonstra que o objetivo é varrer a presença do Hezbollah de uma área que se estende além do Rio Litani, 29 km ao norte da fronteira, tradicional marco da zona de segurança observado por Israel, um território de 800 quilômetros quadrados. Um porta-voz israelense em idioma árabe advertiu os moradores a se retirar de 25 localidades para o norte do Rio Awali, a 45 km do Litani.

A Força Aérea israelense tem bombardeado centenas de alvos por dia no Líbano, principalmente nos redutos do Hezbollah: sul e leste do país e sul de Beirute. Tem atacado também o centro de Beirute, onde haveria um centro de inteligência do grupo xiita, e os dois lados da fronteira com a Síria, por onde passam as linhas de suprimento de armas e munição.

Primeiro-ministro Binyamin Netanyahu na Assembleia-Geral da ONU. Foto: AP Photo/Richard Drew

Não é a primeira vez que Israel invade o Líbano — e, a julgar pelos resultados das campanhas anteriores, não será a última, a menos que o país tire as conclusões certas sobre as verdadeiras causas de seu crônico problema de segurança. Tropas israelenses cruzaram a fronteira norte em 1978, 1982 e 2006.

As duas primeiras campanhas, ocorridas durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990), foram para expulsar os guerrilheiros da Organização de Libertação da Palestina (OLP), que tinham se transferido para o Líbano depois de sua tentativa de derrubar o rei Hussein da Jordânia em 1970, no que entrou para a história como Setembro Negro.

Em 1978, os invasores israelenses foram apenas até o Litani. Quatro anos depois, avançaram até Beirute. Além de rechaçar as forças de Yasser Arafat, cercaram os campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila e permitiram a entrada de seus aliados das Falanges Cristãs. Os falangistas mataram 3.500 civis palestinos.

Depois de cumprir seu objetivo de derrotar a OLP, as forças israelenses recuaram para o sul do Rio Litani e estabeleceram uma zona de segurança. A ocupação do sul do Líbano motivou a criação do Hezbollah, com apoio do Irã. Os ataques frequentes da milícia xiita levaram o então primeiro-ministro Ehud Barak, um general condecorado, a ordenar a retirada do sul do Líbano em 2000.

Mas a guerra de baixa intensidade com o Hezbollah continuou. Em 2006, num ataque a uma patrulha israelense, integrantes do grupo mataram oito soldados e capturaram outros dois. Essa ação desencadeou uma nova guerra, que durou 34 dias, e teve a mesma dinâmica da atual: bombardeios intensos a alvos do Hezbollah, seguidos de invasão terrestre.

Na época, o Hezbollah tinha 15 mil foguetes de curto alcance; hoje, tem 150 mil foguetes e mísseis, com capacidade de atingir qualquer ponto do território israelense. De alguns milhares de combatentes mal-treinados, a milícia evoluiu para 100 mil, muitos deles veteranos da guerra civil na Síria.

Ao matar Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, em Teerã, e sobretudo Hassan Nasrallah, líder espiritual do Hezbollah e principal aliado da teocracia iraniana, o governo israelense tornou inevitável uma resposta direta do Irã, que disparou 180 mísseis balísticos contra o território de Israel.

Embora não tenha feito vítimas, graças ao excelente sistema Arrow de defesa contra mísseis de longo alcance, o ataque iraniano cria as condições para Netanyahu ordenar um bombardeio de alvos estratégicos no Irã, como instalações petrolíferas, nucleares e militares.

Assim como a invasão do Líbano, esse ataque também não tornará a região mais segura para Israel. Pelo contrário. O país só ficaria mais seguro se devolvesse a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, que ocupou na Guerra dos Seis Dias de 1967, e aceitasse a criação de um Estado no qual os palestinos pudessem viver com dignidade.

Antes disso, teria de firmar um cessar-fogo com o Hamas, em troca da libertação dos 100 reféns israelenses, retirar-se da Faixa de Gaza e levantar o bloqueio que impõe sobre ela desde 2007. Netanyahu não deseja e neste momento nem reúne condições políticas para fazer isso. Sua maioria no Parlamento depende de três ministros que rejeitam qualquer concessão aos palestinos. Netanyahu construiu sua carreira política com base na premissa de que Israel não precisava trocar terra por paz. Ele e os que o apoiam estão tragicamente errados.

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