É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Israel e Irã estão redesenhando suas ‘linhas vermelhas’, e não buscando uma guerra em grande escala


Linhas de deterrência é como são chamados os limites que sinalizam para o inimigo o custo alto de um conflito. Os momentos de redesenho dessas linhas são críticos e assumem a feição de uma escalada

Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

Israel e Irã estão redesenhando suas linhas de deterrência, e não buscando uma guerra em grande escala. É o que se depreende dos bombardeios israelenses na madrugada de sábado, dos disparos de mísseis iranianos no dia 1.º e das declarações de autoridades de ambos nas últimas horas.

De acordo com as Forças de Defesa de Israel (IDF), os bombardeios miraram 20 alvos militares, entre baterias de defesa antiaérea, radares e instalações de produção de mísseis. Já a Força de Defesa Aérea iraniana informou que os ataques atingiram bases militares em três províncias e mataram quatro soldados, mas seu sistema limitou os danos.

O almirante Daniel Hagari declarou que as IDF “conduziram ataques precisos contra alvos militares no Irã”. O porta-voz enfatizou tratar-se de uma “resposta a meses de ataques contínuos do regime no Irã contra o Estado de Israel que, como todo país soberano, tem direito e dever de responder”.

continua após a publicidade
Mural em parede de um edifício em Teerã, no Irã, com os dizeres 'o próximo tapa será mais forte', em farsi e hebraico, em 14 de abril de 2024 Foto: Arash Khamooshi/The New York Times

Hagari concluiu: “Nossas capacidades defensivas e ofensivas estão completamente mobilizadas. Faremos o que for necessário para defender o Estado e o povo de Israel”. Em linguagem militar, essa é a postura da deterrência e não uma declaração de guerra.

O Irã segue a mesma cartilha. A chancelaria em Teerã acusou Israel de aumentar as tensões na região e afirmou que o Irã “tem o direito e a obrigação de se defender contra atos externos de agressão”.

continua após a publicidade

O ambiente informacional foi preparado para justificar a ausência de retaliação direta do Irã. Três agências de notícias sublinharam o fato de que os aeroportos operam normalmente e Teerã não teria sido atingida — embora as explosões tenham acordado os moradores da capital.

A agência Tasnim, que pertence ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), informou que “avaliações iniciais indicam que a operação de Israel foi fraca”. A TV estatal colocou no ar o programa “Um dia comum em Teerã”, com pessoas fazendo compras numa feira e congestionamentos da hora do rush. Sábado é o primeiro dia útil da semana no calendário muçulmano. Essa mensagem não prepara uma população para a guerra.

continua após a publicidade

A teocracia iraniana lida agora com um dilema recorrente diante de ataques israelenses: de um lado, evitar uma guerra total, que teria alto custo para um regime opressor que já sofre um nível quase insustentável de rejeição popular; de outro, o risco de parecer débil.

Até o dia 17 de abril, quando disparou 170 drones, 30 mísseis de cruzeiro e 120 mísseis balísticos contra Israel, o Irã exercitava a chamada “paciência estratégica”, respondendo às operações do Mossad (serviço secreto israelense) em território iraniano e aos bombardeios das IDF contra seus braços armados no Líbano, Faixa de Gaza, Síria, Iraque e Iêmen com ações desses mesmos grupos irregulares.

Os ataques do Hamas do dia 7 de outubro inauguraram um novo capítulo no confronto Israel-Irã. A campanha israelense de aniquilação do Hamas se estendeu ao bombardeio do consulado iraniano em Damasco, que matou comandantes do IRGC, em 1.º de abril. O Irã retaliou com o lançamento dos 320 projéteis, primeiro ataque direto de solo iraniano contra Israel.

continua após a publicidade

Foi um ataque telegrafado, para preparar a robusta defesa antiaérea israelense, primeiro com drones, que levam 8 horas para percorrer cerca de 2 mil km; depois, mísseis de cruzeiro, que demoram 2 horas; e finalmente mísseis balísticos, cerca de 10 minutos. Ainda assim, a base aérea de Nevatim foi atingida.

Israel reagiu com um preciso míssil Rampage, disparado por um F-35 de fora do espaço aéreo iraniano, contra o radar de uma bateria antiaérea russa S-300 em Isfahan, cidade que abriga instalações nucleares. Foi, como agora, um ataque destinado não a escalar, mas a deter, com o recado: “eu posso tornar seu programa nuclear vulnerável”.

continua após a publicidade

O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, também profundamente impopular, prosseguiu com ações destinadas a enfraquecer o Hamas e seu aliado, o Hezbollah, ambos patrocinados pelo Irã. Os assassinatos de seus líderes, respectivamente Ismail Haniyeh, em Teerã, condição humilhante para o Irã, e Hassan Nasrallah, levaram a um segundo ataque direto do Irã, mais contundente que o primeiro, com 180 mísseis balísticos, no dia 1.º. Nevatim foi atingida mais uma vez, embora de novo os danos tenham sido mínimos. Foi a esse ataque que Israel respondeu agora.

Linhas de deterrência sinalizam para o inimigo o custo alto de uma escalada e as condições a partir das quais um país estaria disposto a pagar esse preço. Os momentos de redesenho dessas linhas são críticos, porque assumem a feição de uma escalada, e sua capacidade de evitar uma guerra total depende da leitura que os atores fazem da nova realidade.

Israel e Irã estão redesenhando suas linhas de deterrência, e não buscando uma guerra em grande escala. É o que se depreende dos bombardeios israelenses na madrugada de sábado, dos disparos de mísseis iranianos no dia 1.º e das declarações de autoridades de ambos nas últimas horas.

De acordo com as Forças de Defesa de Israel (IDF), os bombardeios miraram 20 alvos militares, entre baterias de defesa antiaérea, radares e instalações de produção de mísseis. Já a Força de Defesa Aérea iraniana informou que os ataques atingiram bases militares em três províncias e mataram quatro soldados, mas seu sistema limitou os danos.

O almirante Daniel Hagari declarou que as IDF “conduziram ataques precisos contra alvos militares no Irã”. O porta-voz enfatizou tratar-se de uma “resposta a meses de ataques contínuos do regime no Irã contra o Estado de Israel que, como todo país soberano, tem direito e dever de responder”.

Mural em parede de um edifício em Teerã, no Irã, com os dizeres 'o próximo tapa será mais forte', em farsi e hebraico, em 14 de abril de 2024 Foto: Arash Khamooshi/The New York Times

Hagari concluiu: “Nossas capacidades defensivas e ofensivas estão completamente mobilizadas. Faremos o que for necessário para defender o Estado e o povo de Israel”. Em linguagem militar, essa é a postura da deterrência e não uma declaração de guerra.

O Irã segue a mesma cartilha. A chancelaria em Teerã acusou Israel de aumentar as tensões na região e afirmou que o Irã “tem o direito e a obrigação de se defender contra atos externos de agressão”.

O ambiente informacional foi preparado para justificar a ausência de retaliação direta do Irã. Três agências de notícias sublinharam o fato de que os aeroportos operam normalmente e Teerã não teria sido atingida — embora as explosões tenham acordado os moradores da capital.

A agência Tasnim, que pertence ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), informou que “avaliações iniciais indicam que a operação de Israel foi fraca”. A TV estatal colocou no ar o programa “Um dia comum em Teerã”, com pessoas fazendo compras numa feira e congestionamentos da hora do rush. Sábado é o primeiro dia útil da semana no calendário muçulmano. Essa mensagem não prepara uma população para a guerra.

A teocracia iraniana lida agora com um dilema recorrente diante de ataques israelenses: de um lado, evitar uma guerra total, que teria alto custo para um regime opressor que já sofre um nível quase insustentável de rejeição popular; de outro, o risco de parecer débil.

Até o dia 17 de abril, quando disparou 170 drones, 30 mísseis de cruzeiro e 120 mísseis balísticos contra Israel, o Irã exercitava a chamada “paciência estratégica”, respondendo às operações do Mossad (serviço secreto israelense) em território iraniano e aos bombardeios das IDF contra seus braços armados no Líbano, Faixa de Gaza, Síria, Iraque e Iêmen com ações desses mesmos grupos irregulares.

Os ataques do Hamas do dia 7 de outubro inauguraram um novo capítulo no confronto Israel-Irã. A campanha israelense de aniquilação do Hamas se estendeu ao bombardeio do consulado iraniano em Damasco, que matou comandantes do IRGC, em 1.º de abril. O Irã retaliou com o lançamento dos 320 projéteis, primeiro ataque direto de solo iraniano contra Israel.

Foi um ataque telegrafado, para preparar a robusta defesa antiaérea israelense, primeiro com drones, que levam 8 horas para percorrer cerca de 2 mil km; depois, mísseis de cruzeiro, que demoram 2 horas; e finalmente mísseis balísticos, cerca de 10 minutos. Ainda assim, a base aérea de Nevatim foi atingida.

Israel reagiu com um preciso míssil Rampage, disparado por um F-35 de fora do espaço aéreo iraniano, contra o radar de uma bateria antiaérea russa S-300 em Isfahan, cidade que abriga instalações nucleares. Foi, como agora, um ataque destinado não a escalar, mas a deter, com o recado: “eu posso tornar seu programa nuclear vulnerável”.

O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, também profundamente impopular, prosseguiu com ações destinadas a enfraquecer o Hamas e seu aliado, o Hezbollah, ambos patrocinados pelo Irã. Os assassinatos de seus líderes, respectivamente Ismail Haniyeh, em Teerã, condição humilhante para o Irã, e Hassan Nasrallah, levaram a um segundo ataque direto do Irã, mais contundente que o primeiro, com 180 mísseis balísticos, no dia 1.º. Nevatim foi atingida mais uma vez, embora de novo os danos tenham sido mínimos. Foi a esse ataque que Israel respondeu agora.

Linhas de deterrência sinalizam para o inimigo o custo alto de uma escalada e as condições a partir das quais um país estaria disposto a pagar esse preço. Os momentos de redesenho dessas linhas são críticos, porque assumem a feição de uma escalada, e sua capacidade de evitar uma guerra total depende da leitura que os atores fazem da nova realidade.

Israel e Irã estão redesenhando suas linhas de deterrência, e não buscando uma guerra em grande escala. É o que se depreende dos bombardeios israelenses na madrugada de sábado, dos disparos de mísseis iranianos no dia 1.º e das declarações de autoridades de ambos nas últimas horas.

De acordo com as Forças de Defesa de Israel (IDF), os bombardeios miraram 20 alvos militares, entre baterias de defesa antiaérea, radares e instalações de produção de mísseis. Já a Força de Defesa Aérea iraniana informou que os ataques atingiram bases militares em três províncias e mataram quatro soldados, mas seu sistema limitou os danos.

O almirante Daniel Hagari declarou que as IDF “conduziram ataques precisos contra alvos militares no Irã”. O porta-voz enfatizou tratar-se de uma “resposta a meses de ataques contínuos do regime no Irã contra o Estado de Israel que, como todo país soberano, tem direito e dever de responder”.

Mural em parede de um edifício em Teerã, no Irã, com os dizeres 'o próximo tapa será mais forte', em farsi e hebraico, em 14 de abril de 2024 Foto: Arash Khamooshi/The New York Times

Hagari concluiu: “Nossas capacidades defensivas e ofensivas estão completamente mobilizadas. Faremos o que for necessário para defender o Estado e o povo de Israel”. Em linguagem militar, essa é a postura da deterrência e não uma declaração de guerra.

O Irã segue a mesma cartilha. A chancelaria em Teerã acusou Israel de aumentar as tensões na região e afirmou que o Irã “tem o direito e a obrigação de se defender contra atos externos de agressão”.

O ambiente informacional foi preparado para justificar a ausência de retaliação direta do Irã. Três agências de notícias sublinharam o fato de que os aeroportos operam normalmente e Teerã não teria sido atingida — embora as explosões tenham acordado os moradores da capital.

A agência Tasnim, que pertence ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), informou que “avaliações iniciais indicam que a operação de Israel foi fraca”. A TV estatal colocou no ar o programa “Um dia comum em Teerã”, com pessoas fazendo compras numa feira e congestionamentos da hora do rush. Sábado é o primeiro dia útil da semana no calendário muçulmano. Essa mensagem não prepara uma população para a guerra.

A teocracia iraniana lida agora com um dilema recorrente diante de ataques israelenses: de um lado, evitar uma guerra total, que teria alto custo para um regime opressor que já sofre um nível quase insustentável de rejeição popular; de outro, o risco de parecer débil.

Até o dia 17 de abril, quando disparou 170 drones, 30 mísseis de cruzeiro e 120 mísseis balísticos contra Israel, o Irã exercitava a chamada “paciência estratégica”, respondendo às operações do Mossad (serviço secreto israelense) em território iraniano e aos bombardeios das IDF contra seus braços armados no Líbano, Faixa de Gaza, Síria, Iraque e Iêmen com ações desses mesmos grupos irregulares.

Os ataques do Hamas do dia 7 de outubro inauguraram um novo capítulo no confronto Israel-Irã. A campanha israelense de aniquilação do Hamas se estendeu ao bombardeio do consulado iraniano em Damasco, que matou comandantes do IRGC, em 1.º de abril. O Irã retaliou com o lançamento dos 320 projéteis, primeiro ataque direto de solo iraniano contra Israel.

Foi um ataque telegrafado, para preparar a robusta defesa antiaérea israelense, primeiro com drones, que levam 8 horas para percorrer cerca de 2 mil km; depois, mísseis de cruzeiro, que demoram 2 horas; e finalmente mísseis balísticos, cerca de 10 minutos. Ainda assim, a base aérea de Nevatim foi atingida.

Israel reagiu com um preciso míssil Rampage, disparado por um F-35 de fora do espaço aéreo iraniano, contra o radar de uma bateria antiaérea russa S-300 em Isfahan, cidade que abriga instalações nucleares. Foi, como agora, um ataque destinado não a escalar, mas a deter, com o recado: “eu posso tornar seu programa nuclear vulnerável”.

O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, também profundamente impopular, prosseguiu com ações destinadas a enfraquecer o Hamas e seu aliado, o Hezbollah, ambos patrocinados pelo Irã. Os assassinatos de seus líderes, respectivamente Ismail Haniyeh, em Teerã, condição humilhante para o Irã, e Hassan Nasrallah, levaram a um segundo ataque direto do Irã, mais contundente que o primeiro, com 180 mísseis balísticos, no dia 1.º. Nevatim foi atingida mais uma vez, embora de novo os danos tenham sido mínimos. Foi a esse ataque que Israel respondeu agora.

Linhas de deterrência sinalizam para o inimigo o custo alto de uma escalada e as condições a partir das quais um país estaria disposto a pagar esse preço. Os momentos de redesenho dessas linhas são críticos, porque assumem a feição de uma escalada, e sua capacidade de evitar uma guerra total depende da leitura que os atores fazem da nova realidade.

Israel e Irã estão redesenhando suas linhas de deterrência, e não buscando uma guerra em grande escala. É o que se depreende dos bombardeios israelenses na madrugada de sábado, dos disparos de mísseis iranianos no dia 1.º e das declarações de autoridades de ambos nas últimas horas.

De acordo com as Forças de Defesa de Israel (IDF), os bombardeios miraram 20 alvos militares, entre baterias de defesa antiaérea, radares e instalações de produção de mísseis. Já a Força de Defesa Aérea iraniana informou que os ataques atingiram bases militares em três províncias e mataram quatro soldados, mas seu sistema limitou os danos.

O almirante Daniel Hagari declarou que as IDF “conduziram ataques precisos contra alvos militares no Irã”. O porta-voz enfatizou tratar-se de uma “resposta a meses de ataques contínuos do regime no Irã contra o Estado de Israel que, como todo país soberano, tem direito e dever de responder”.

Mural em parede de um edifício em Teerã, no Irã, com os dizeres 'o próximo tapa será mais forte', em farsi e hebraico, em 14 de abril de 2024 Foto: Arash Khamooshi/The New York Times

Hagari concluiu: “Nossas capacidades defensivas e ofensivas estão completamente mobilizadas. Faremos o que for necessário para defender o Estado e o povo de Israel”. Em linguagem militar, essa é a postura da deterrência e não uma declaração de guerra.

O Irã segue a mesma cartilha. A chancelaria em Teerã acusou Israel de aumentar as tensões na região e afirmou que o Irã “tem o direito e a obrigação de se defender contra atos externos de agressão”.

O ambiente informacional foi preparado para justificar a ausência de retaliação direta do Irã. Três agências de notícias sublinharam o fato de que os aeroportos operam normalmente e Teerã não teria sido atingida — embora as explosões tenham acordado os moradores da capital.

A agência Tasnim, que pertence ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), informou que “avaliações iniciais indicam que a operação de Israel foi fraca”. A TV estatal colocou no ar o programa “Um dia comum em Teerã”, com pessoas fazendo compras numa feira e congestionamentos da hora do rush. Sábado é o primeiro dia útil da semana no calendário muçulmano. Essa mensagem não prepara uma população para a guerra.

A teocracia iraniana lida agora com um dilema recorrente diante de ataques israelenses: de um lado, evitar uma guerra total, que teria alto custo para um regime opressor que já sofre um nível quase insustentável de rejeição popular; de outro, o risco de parecer débil.

Até o dia 17 de abril, quando disparou 170 drones, 30 mísseis de cruzeiro e 120 mísseis balísticos contra Israel, o Irã exercitava a chamada “paciência estratégica”, respondendo às operações do Mossad (serviço secreto israelense) em território iraniano e aos bombardeios das IDF contra seus braços armados no Líbano, Faixa de Gaza, Síria, Iraque e Iêmen com ações desses mesmos grupos irregulares.

Os ataques do Hamas do dia 7 de outubro inauguraram um novo capítulo no confronto Israel-Irã. A campanha israelense de aniquilação do Hamas se estendeu ao bombardeio do consulado iraniano em Damasco, que matou comandantes do IRGC, em 1.º de abril. O Irã retaliou com o lançamento dos 320 projéteis, primeiro ataque direto de solo iraniano contra Israel.

Foi um ataque telegrafado, para preparar a robusta defesa antiaérea israelense, primeiro com drones, que levam 8 horas para percorrer cerca de 2 mil km; depois, mísseis de cruzeiro, que demoram 2 horas; e finalmente mísseis balísticos, cerca de 10 minutos. Ainda assim, a base aérea de Nevatim foi atingida.

Israel reagiu com um preciso míssil Rampage, disparado por um F-35 de fora do espaço aéreo iraniano, contra o radar de uma bateria antiaérea russa S-300 em Isfahan, cidade que abriga instalações nucleares. Foi, como agora, um ataque destinado não a escalar, mas a deter, com o recado: “eu posso tornar seu programa nuclear vulnerável”.

O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, também profundamente impopular, prosseguiu com ações destinadas a enfraquecer o Hamas e seu aliado, o Hezbollah, ambos patrocinados pelo Irã. Os assassinatos de seus líderes, respectivamente Ismail Haniyeh, em Teerã, condição humilhante para o Irã, e Hassan Nasrallah, levaram a um segundo ataque direto do Irã, mais contundente que o primeiro, com 180 mísseis balísticos, no dia 1.º. Nevatim foi atingida mais uma vez, embora de novo os danos tenham sido mínimos. Foi a esse ataque que Israel respondeu agora.

Linhas de deterrência sinalizam para o inimigo o custo alto de uma escalada e as condições a partir das quais um país estaria disposto a pagar esse preço. Os momentos de redesenho dessas linhas são críticos, porque assumem a feição de uma escalada, e sua capacidade de evitar uma guerra total depende da leitura que os atores fazem da nova realidade.

Israel e Irã estão redesenhando suas linhas de deterrência, e não buscando uma guerra em grande escala. É o que se depreende dos bombardeios israelenses na madrugada de sábado, dos disparos de mísseis iranianos no dia 1.º e das declarações de autoridades de ambos nas últimas horas.

De acordo com as Forças de Defesa de Israel (IDF), os bombardeios miraram 20 alvos militares, entre baterias de defesa antiaérea, radares e instalações de produção de mísseis. Já a Força de Defesa Aérea iraniana informou que os ataques atingiram bases militares em três províncias e mataram quatro soldados, mas seu sistema limitou os danos.

O almirante Daniel Hagari declarou que as IDF “conduziram ataques precisos contra alvos militares no Irã”. O porta-voz enfatizou tratar-se de uma “resposta a meses de ataques contínuos do regime no Irã contra o Estado de Israel que, como todo país soberano, tem direito e dever de responder”.

Mural em parede de um edifício em Teerã, no Irã, com os dizeres 'o próximo tapa será mais forte', em farsi e hebraico, em 14 de abril de 2024 Foto: Arash Khamooshi/The New York Times

Hagari concluiu: “Nossas capacidades defensivas e ofensivas estão completamente mobilizadas. Faremos o que for necessário para defender o Estado e o povo de Israel”. Em linguagem militar, essa é a postura da deterrência e não uma declaração de guerra.

O Irã segue a mesma cartilha. A chancelaria em Teerã acusou Israel de aumentar as tensões na região e afirmou que o Irã “tem o direito e a obrigação de se defender contra atos externos de agressão”.

O ambiente informacional foi preparado para justificar a ausência de retaliação direta do Irã. Três agências de notícias sublinharam o fato de que os aeroportos operam normalmente e Teerã não teria sido atingida — embora as explosões tenham acordado os moradores da capital.

A agência Tasnim, que pertence ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), informou que “avaliações iniciais indicam que a operação de Israel foi fraca”. A TV estatal colocou no ar o programa “Um dia comum em Teerã”, com pessoas fazendo compras numa feira e congestionamentos da hora do rush. Sábado é o primeiro dia útil da semana no calendário muçulmano. Essa mensagem não prepara uma população para a guerra.

A teocracia iraniana lida agora com um dilema recorrente diante de ataques israelenses: de um lado, evitar uma guerra total, que teria alto custo para um regime opressor que já sofre um nível quase insustentável de rejeição popular; de outro, o risco de parecer débil.

Até o dia 17 de abril, quando disparou 170 drones, 30 mísseis de cruzeiro e 120 mísseis balísticos contra Israel, o Irã exercitava a chamada “paciência estratégica”, respondendo às operações do Mossad (serviço secreto israelense) em território iraniano e aos bombardeios das IDF contra seus braços armados no Líbano, Faixa de Gaza, Síria, Iraque e Iêmen com ações desses mesmos grupos irregulares.

Os ataques do Hamas do dia 7 de outubro inauguraram um novo capítulo no confronto Israel-Irã. A campanha israelense de aniquilação do Hamas se estendeu ao bombardeio do consulado iraniano em Damasco, que matou comandantes do IRGC, em 1.º de abril. O Irã retaliou com o lançamento dos 320 projéteis, primeiro ataque direto de solo iraniano contra Israel.

Foi um ataque telegrafado, para preparar a robusta defesa antiaérea israelense, primeiro com drones, que levam 8 horas para percorrer cerca de 2 mil km; depois, mísseis de cruzeiro, que demoram 2 horas; e finalmente mísseis balísticos, cerca de 10 minutos. Ainda assim, a base aérea de Nevatim foi atingida.

Israel reagiu com um preciso míssil Rampage, disparado por um F-35 de fora do espaço aéreo iraniano, contra o radar de uma bateria antiaérea russa S-300 em Isfahan, cidade que abriga instalações nucleares. Foi, como agora, um ataque destinado não a escalar, mas a deter, com o recado: “eu posso tornar seu programa nuclear vulnerável”.

O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, também profundamente impopular, prosseguiu com ações destinadas a enfraquecer o Hamas e seu aliado, o Hezbollah, ambos patrocinados pelo Irã. Os assassinatos de seus líderes, respectivamente Ismail Haniyeh, em Teerã, condição humilhante para o Irã, e Hassan Nasrallah, levaram a um segundo ataque direto do Irã, mais contundente que o primeiro, com 180 mísseis balísticos, no dia 1.º. Nevatim foi atingida mais uma vez, embora de novo os danos tenham sido mínimos. Foi a esse ataque que Israel respondeu agora.

Linhas de deterrência sinalizam para o inimigo o custo alto de uma escalada e as condições a partir das quais um país estaria disposto a pagar esse preço. Os momentos de redesenho dessas linhas são críticos, porque assumem a feição de uma escalada, e sua capacidade de evitar uma guerra total depende da leitura que os atores fazem da nova realidade.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.