É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Kamala Harris avança, mas faz uma aposta arriscada ao prometer pacotes econômicos populistas


Candidata democrata apresentou plano econômico para recuperar o poder de compra da classe média, mas estratégia pode atrair o voto da baixa renda e repelir o eleitor moderado

Por Lourival Sant'Anna

No dia 21 de julho, escrevi aqui que Joe Biden já havia desistido da corrida presidencial, que provavelmente apoiaria Kamala Harris, e portanto a iniciativa da disputa estava com os democratas. Horas depois da publicação da coluna, Biden anunciou essas decisões. E Harris tirou de Donald Trump o favoritismo na disputa.

Pela média das pesquisas nacionais, calculada pelo site Five-Thirty-Eight, Harris tem 46,3% das intenções de voto, ante 43,7% para Trump. Bem mais significativo: ela está à frente 4 pontos porcentuais nos 3 Estados decisivos: Pensilvânia, Michigan e Wisconsin, de acordo com a pesquisa do Siena College para The New York Times.

Todas essas vantagens estão dentro da margem de erro das pesquisas, e muita coisa pode acontecer até 5 de novembro. A tendência, no entanto, está a favor de Harris, porque ela não carrega o peso da rejeição a Trump e a Biden. Isso se espelha também nos vices das chapas, Tim Walz e J.D. Vance. Segundo pesquisa da ABC News, 42% dos eleitores rejeitam Vance e apenas 30%, Walz.

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Harris não tem a rejeição de Trump e de Biden porque é pouco conhecida, depois de uma passagem apagada pela vice-presidência. Biden a incumbiu de cuidar da imigração. Ela não foi bem, deu uma entrevista desastrosa em junho de 2021, primeiro ano de governo, à rede NBC, na qual não conseguiu responder por que não tinha ido à fronteira ainda, e recolheu-se depois disso.

Imigração é uma das principais linhas de ataque de Trump, que despeja números falsos, como o de que 20 milhões de estrangeiros teriam entrado ilegalmente nos Estados Unidos, incluindo 70% dos presos da Venezuela, 20 mil soldados chineses, estupradores, assassinos etc.

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Outra é a inflação: os preços dos alimentos subiram 20% durante o governo Biden, castigando sobretudo o eleitor de mais baixa renda, tradicional base dos democratas, embora Trump tenha arrastado parte dessa fatia em 2016, e perdido em 2020.

Harris apresentou na sexta-feira um plano populista para recuperar o poder de compra da classe média. Apelidado por ela de “oportunidade econômica”, o pacote inclui US$ 25 mil de subsídios para a compra da primeira casa, perdão de dívida com serviços de saúde para milhões de americanos e dedução tributária de US$ 6 mil para famílias no primeiro ano de vida do bebê.

Esse último item representa uma corrida de quem dá mais: o governo Biden elevou o crédito fiscal de US$ 2 mil para US$ 3 mil. Vance sugeriu no início do mês o aumento para US$ 5 mil.

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Sondagens apontam que Kamala Harris, ao substituir Joe Biden na disputa, tirou o favoritismo de Donald Trump. Mas sua estratégia econômica pode colocar em risco tal vantagem. Foto: Stephanie Scarbrough/AP

O Comitê para um Orçamento Federal Responsável, instituto independente com sede em Washington, calcula que essas promessas elevariam em US$ 1,7 trilhão ao longo de uma década o déficit americano, que já alcança astronômicos US$ 31 trilhões e impõe ameaça permanente de insolvência do governo.

Harris promete ainda combater a “especulação dos preços”, um tipo de controle que nunca houve nos Estados Unidos, mas sim no Brasil, Argentina e Venezuela, sempre levando à hiperinflação.

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Antes desse anúncio, os discursos de Harris focavam em temas mais genéricos, como olhar para o futuro em contraste com a proposta de Trump de “tornar a América grande de novo”. Isso injetou um tom positivo na campanha, em contraste com o mote negativo de Biden, de que Trump representa uma ameaça para a democracia.

As pesquisas que colocam Harris à frente capturam a primeira fase da campanha, em que ela representou a novidade, o frescor e essas promessas genéricas, que incluíram também liberdade para os trabalhadores se filiarem aos sindicatos e para as mulheres decidirem sobre o aborto.

Com o discurso de sexta-feira, que por sinal teve público mais seleto do que os comícios que ela vinha fazendo para milhares de eleitores entusiasmados, Harris entrou numa nova etapa, que apresenta oportunidades e riscos.

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De um lado, o programa econômico endereça a maior fragilidade da candidatura democrata: a queda no poder aquisitivo dos americanos. De outro, empurra o Partido Democrata ainda mais para a esquerda no âmbito econômico, um movimento que Biden já havia iniciado, com investimentos em infraestrutura, transição energética e atração de fábricas para os EUA, orçados em US$ 4 trilhões.

Essa estratégia de intervenção do Estado na economia, que na pandemia se traduziu em transferência de dinheiro aos necessitados, é em parte responsável pela inflação de 2022. O Banco Central procurou contê-la com aumento dos juros, que elevou o preço dos empréstimos para a compra de bens duráveis e moradia.

A aposta é arriscada: pode atrair o voto da baixa renda e repelir o eleitor moderado. O que pode salvar Harris é a rejeição a Trump.

No dia 21 de julho, escrevi aqui que Joe Biden já havia desistido da corrida presidencial, que provavelmente apoiaria Kamala Harris, e portanto a iniciativa da disputa estava com os democratas. Horas depois da publicação da coluna, Biden anunciou essas decisões. E Harris tirou de Donald Trump o favoritismo na disputa.

Pela média das pesquisas nacionais, calculada pelo site Five-Thirty-Eight, Harris tem 46,3% das intenções de voto, ante 43,7% para Trump. Bem mais significativo: ela está à frente 4 pontos porcentuais nos 3 Estados decisivos: Pensilvânia, Michigan e Wisconsin, de acordo com a pesquisa do Siena College para The New York Times.

Todas essas vantagens estão dentro da margem de erro das pesquisas, e muita coisa pode acontecer até 5 de novembro. A tendência, no entanto, está a favor de Harris, porque ela não carrega o peso da rejeição a Trump e a Biden. Isso se espelha também nos vices das chapas, Tim Walz e J.D. Vance. Segundo pesquisa da ABC News, 42% dos eleitores rejeitam Vance e apenas 30%, Walz.

Harris não tem a rejeição de Trump e de Biden porque é pouco conhecida, depois de uma passagem apagada pela vice-presidência. Biden a incumbiu de cuidar da imigração. Ela não foi bem, deu uma entrevista desastrosa em junho de 2021, primeiro ano de governo, à rede NBC, na qual não conseguiu responder por que não tinha ido à fronteira ainda, e recolheu-se depois disso.

Imigração é uma das principais linhas de ataque de Trump, que despeja números falsos, como o de que 20 milhões de estrangeiros teriam entrado ilegalmente nos Estados Unidos, incluindo 70% dos presos da Venezuela, 20 mil soldados chineses, estupradores, assassinos etc.

Outra é a inflação: os preços dos alimentos subiram 20% durante o governo Biden, castigando sobretudo o eleitor de mais baixa renda, tradicional base dos democratas, embora Trump tenha arrastado parte dessa fatia em 2016, e perdido em 2020.

Harris apresentou na sexta-feira um plano populista para recuperar o poder de compra da classe média. Apelidado por ela de “oportunidade econômica”, o pacote inclui US$ 25 mil de subsídios para a compra da primeira casa, perdão de dívida com serviços de saúde para milhões de americanos e dedução tributária de US$ 6 mil para famílias no primeiro ano de vida do bebê.

Esse último item representa uma corrida de quem dá mais: o governo Biden elevou o crédito fiscal de US$ 2 mil para US$ 3 mil. Vance sugeriu no início do mês o aumento para US$ 5 mil.

Sondagens apontam que Kamala Harris, ao substituir Joe Biden na disputa, tirou o favoritismo de Donald Trump. Mas sua estratégia econômica pode colocar em risco tal vantagem. Foto: Stephanie Scarbrough/AP

O Comitê para um Orçamento Federal Responsável, instituto independente com sede em Washington, calcula que essas promessas elevariam em US$ 1,7 trilhão ao longo de uma década o déficit americano, que já alcança astronômicos US$ 31 trilhões e impõe ameaça permanente de insolvência do governo.

Harris promete ainda combater a “especulação dos preços”, um tipo de controle que nunca houve nos Estados Unidos, mas sim no Brasil, Argentina e Venezuela, sempre levando à hiperinflação.

Antes desse anúncio, os discursos de Harris focavam em temas mais genéricos, como olhar para o futuro em contraste com a proposta de Trump de “tornar a América grande de novo”. Isso injetou um tom positivo na campanha, em contraste com o mote negativo de Biden, de que Trump representa uma ameaça para a democracia.

As pesquisas que colocam Harris à frente capturam a primeira fase da campanha, em que ela representou a novidade, o frescor e essas promessas genéricas, que incluíram também liberdade para os trabalhadores se filiarem aos sindicatos e para as mulheres decidirem sobre o aborto.

Com o discurso de sexta-feira, que por sinal teve público mais seleto do que os comícios que ela vinha fazendo para milhares de eleitores entusiasmados, Harris entrou numa nova etapa, que apresenta oportunidades e riscos.

De um lado, o programa econômico endereça a maior fragilidade da candidatura democrata: a queda no poder aquisitivo dos americanos. De outro, empurra o Partido Democrata ainda mais para a esquerda no âmbito econômico, um movimento que Biden já havia iniciado, com investimentos em infraestrutura, transição energética e atração de fábricas para os EUA, orçados em US$ 4 trilhões.

Essa estratégia de intervenção do Estado na economia, que na pandemia se traduziu em transferência de dinheiro aos necessitados, é em parte responsável pela inflação de 2022. O Banco Central procurou contê-la com aumento dos juros, que elevou o preço dos empréstimos para a compra de bens duráveis e moradia.

A aposta é arriscada: pode atrair o voto da baixa renda e repelir o eleitor moderado. O que pode salvar Harris é a rejeição a Trump.

No dia 21 de julho, escrevi aqui que Joe Biden já havia desistido da corrida presidencial, que provavelmente apoiaria Kamala Harris, e portanto a iniciativa da disputa estava com os democratas. Horas depois da publicação da coluna, Biden anunciou essas decisões. E Harris tirou de Donald Trump o favoritismo na disputa.

Pela média das pesquisas nacionais, calculada pelo site Five-Thirty-Eight, Harris tem 46,3% das intenções de voto, ante 43,7% para Trump. Bem mais significativo: ela está à frente 4 pontos porcentuais nos 3 Estados decisivos: Pensilvânia, Michigan e Wisconsin, de acordo com a pesquisa do Siena College para The New York Times.

Todas essas vantagens estão dentro da margem de erro das pesquisas, e muita coisa pode acontecer até 5 de novembro. A tendência, no entanto, está a favor de Harris, porque ela não carrega o peso da rejeição a Trump e a Biden. Isso se espelha também nos vices das chapas, Tim Walz e J.D. Vance. Segundo pesquisa da ABC News, 42% dos eleitores rejeitam Vance e apenas 30%, Walz.

Harris não tem a rejeição de Trump e de Biden porque é pouco conhecida, depois de uma passagem apagada pela vice-presidência. Biden a incumbiu de cuidar da imigração. Ela não foi bem, deu uma entrevista desastrosa em junho de 2021, primeiro ano de governo, à rede NBC, na qual não conseguiu responder por que não tinha ido à fronteira ainda, e recolheu-se depois disso.

Imigração é uma das principais linhas de ataque de Trump, que despeja números falsos, como o de que 20 milhões de estrangeiros teriam entrado ilegalmente nos Estados Unidos, incluindo 70% dos presos da Venezuela, 20 mil soldados chineses, estupradores, assassinos etc.

Outra é a inflação: os preços dos alimentos subiram 20% durante o governo Biden, castigando sobretudo o eleitor de mais baixa renda, tradicional base dos democratas, embora Trump tenha arrastado parte dessa fatia em 2016, e perdido em 2020.

Harris apresentou na sexta-feira um plano populista para recuperar o poder de compra da classe média. Apelidado por ela de “oportunidade econômica”, o pacote inclui US$ 25 mil de subsídios para a compra da primeira casa, perdão de dívida com serviços de saúde para milhões de americanos e dedução tributária de US$ 6 mil para famílias no primeiro ano de vida do bebê.

Esse último item representa uma corrida de quem dá mais: o governo Biden elevou o crédito fiscal de US$ 2 mil para US$ 3 mil. Vance sugeriu no início do mês o aumento para US$ 5 mil.

Sondagens apontam que Kamala Harris, ao substituir Joe Biden na disputa, tirou o favoritismo de Donald Trump. Mas sua estratégia econômica pode colocar em risco tal vantagem. Foto: Stephanie Scarbrough/AP

O Comitê para um Orçamento Federal Responsável, instituto independente com sede em Washington, calcula que essas promessas elevariam em US$ 1,7 trilhão ao longo de uma década o déficit americano, que já alcança astronômicos US$ 31 trilhões e impõe ameaça permanente de insolvência do governo.

Harris promete ainda combater a “especulação dos preços”, um tipo de controle que nunca houve nos Estados Unidos, mas sim no Brasil, Argentina e Venezuela, sempre levando à hiperinflação.

Antes desse anúncio, os discursos de Harris focavam em temas mais genéricos, como olhar para o futuro em contraste com a proposta de Trump de “tornar a América grande de novo”. Isso injetou um tom positivo na campanha, em contraste com o mote negativo de Biden, de que Trump representa uma ameaça para a democracia.

As pesquisas que colocam Harris à frente capturam a primeira fase da campanha, em que ela representou a novidade, o frescor e essas promessas genéricas, que incluíram também liberdade para os trabalhadores se filiarem aos sindicatos e para as mulheres decidirem sobre o aborto.

Com o discurso de sexta-feira, que por sinal teve público mais seleto do que os comícios que ela vinha fazendo para milhares de eleitores entusiasmados, Harris entrou numa nova etapa, que apresenta oportunidades e riscos.

De um lado, o programa econômico endereça a maior fragilidade da candidatura democrata: a queda no poder aquisitivo dos americanos. De outro, empurra o Partido Democrata ainda mais para a esquerda no âmbito econômico, um movimento que Biden já havia iniciado, com investimentos em infraestrutura, transição energética e atração de fábricas para os EUA, orçados em US$ 4 trilhões.

Essa estratégia de intervenção do Estado na economia, que na pandemia se traduziu em transferência de dinheiro aos necessitados, é em parte responsável pela inflação de 2022. O Banco Central procurou contê-la com aumento dos juros, que elevou o preço dos empréstimos para a compra de bens duráveis e moradia.

A aposta é arriscada: pode atrair o voto da baixa renda e repelir o eleitor moderado. O que pode salvar Harris é a rejeição a Trump.

No dia 21 de julho, escrevi aqui que Joe Biden já havia desistido da corrida presidencial, que provavelmente apoiaria Kamala Harris, e portanto a iniciativa da disputa estava com os democratas. Horas depois da publicação da coluna, Biden anunciou essas decisões. E Harris tirou de Donald Trump o favoritismo na disputa.

Pela média das pesquisas nacionais, calculada pelo site Five-Thirty-Eight, Harris tem 46,3% das intenções de voto, ante 43,7% para Trump. Bem mais significativo: ela está à frente 4 pontos porcentuais nos 3 Estados decisivos: Pensilvânia, Michigan e Wisconsin, de acordo com a pesquisa do Siena College para The New York Times.

Todas essas vantagens estão dentro da margem de erro das pesquisas, e muita coisa pode acontecer até 5 de novembro. A tendência, no entanto, está a favor de Harris, porque ela não carrega o peso da rejeição a Trump e a Biden. Isso se espelha também nos vices das chapas, Tim Walz e J.D. Vance. Segundo pesquisa da ABC News, 42% dos eleitores rejeitam Vance e apenas 30%, Walz.

Harris não tem a rejeição de Trump e de Biden porque é pouco conhecida, depois de uma passagem apagada pela vice-presidência. Biden a incumbiu de cuidar da imigração. Ela não foi bem, deu uma entrevista desastrosa em junho de 2021, primeiro ano de governo, à rede NBC, na qual não conseguiu responder por que não tinha ido à fronteira ainda, e recolheu-se depois disso.

Imigração é uma das principais linhas de ataque de Trump, que despeja números falsos, como o de que 20 milhões de estrangeiros teriam entrado ilegalmente nos Estados Unidos, incluindo 70% dos presos da Venezuela, 20 mil soldados chineses, estupradores, assassinos etc.

Outra é a inflação: os preços dos alimentos subiram 20% durante o governo Biden, castigando sobretudo o eleitor de mais baixa renda, tradicional base dos democratas, embora Trump tenha arrastado parte dessa fatia em 2016, e perdido em 2020.

Harris apresentou na sexta-feira um plano populista para recuperar o poder de compra da classe média. Apelidado por ela de “oportunidade econômica”, o pacote inclui US$ 25 mil de subsídios para a compra da primeira casa, perdão de dívida com serviços de saúde para milhões de americanos e dedução tributária de US$ 6 mil para famílias no primeiro ano de vida do bebê.

Esse último item representa uma corrida de quem dá mais: o governo Biden elevou o crédito fiscal de US$ 2 mil para US$ 3 mil. Vance sugeriu no início do mês o aumento para US$ 5 mil.

Sondagens apontam que Kamala Harris, ao substituir Joe Biden na disputa, tirou o favoritismo de Donald Trump. Mas sua estratégia econômica pode colocar em risco tal vantagem. Foto: Stephanie Scarbrough/AP

O Comitê para um Orçamento Federal Responsável, instituto independente com sede em Washington, calcula que essas promessas elevariam em US$ 1,7 trilhão ao longo de uma década o déficit americano, que já alcança astronômicos US$ 31 trilhões e impõe ameaça permanente de insolvência do governo.

Harris promete ainda combater a “especulação dos preços”, um tipo de controle que nunca houve nos Estados Unidos, mas sim no Brasil, Argentina e Venezuela, sempre levando à hiperinflação.

Antes desse anúncio, os discursos de Harris focavam em temas mais genéricos, como olhar para o futuro em contraste com a proposta de Trump de “tornar a América grande de novo”. Isso injetou um tom positivo na campanha, em contraste com o mote negativo de Biden, de que Trump representa uma ameaça para a democracia.

As pesquisas que colocam Harris à frente capturam a primeira fase da campanha, em que ela representou a novidade, o frescor e essas promessas genéricas, que incluíram também liberdade para os trabalhadores se filiarem aos sindicatos e para as mulheres decidirem sobre o aborto.

Com o discurso de sexta-feira, que por sinal teve público mais seleto do que os comícios que ela vinha fazendo para milhares de eleitores entusiasmados, Harris entrou numa nova etapa, que apresenta oportunidades e riscos.

De um lado, o programa econômico endereça a maior fragilidade da candidatura democrata: a queda no poder aquisitivo dos americanos. De outro, empurra o Partido Democrata ainda mais para a esquerda no âmbito econômico, um movimento que Biden já havia iniciado, com investimentos em infraestrutura, transição energética e atração de fábricas para os EUA, orçados em US$ 4 trilhões.

Essa estratégia de intervenção do Estado na economia, que na pandemia se traduziu em transferência de dinheiro aos necessitados, é em parte responsável pela inflação de 2022. O Banco Central procurou contê-la com aumento dos juros, que elevou o preço dos empréstimos para a compra de bens duráveis e moradia.

A aposta é arriscada: pode atrair o voto da baixa renda e repelir o eleitor moderado. O que pode salvar Harris é a rejeição a Trump.

No dia 21 de julho, escrevi aqui que Joe Biden já havia desistido da corrida presidencial, que provavelmente apoiaria Kamala Harris, e portanto a iniciativa da disputa estava com os democratas. Horas depois da publicação da coluna, Biden anunciou essas decisões. E Harris tirou de Donald Trump o favoritismo na disputa.

Pela média das pesquisas nacionais, calculada pelo site Five-Thirty-Eight, Harris tem 46,3% das intenções de voto, ante 43,7% para Trump. Bem mais significativo: ela está à frente 4 pontos porcentuais nos 3 Estados decisivos: Pensilvânia, Michigan e Wisconsin, de acordo com a pesquisa do Siena College para The New York Times.

Todas essas vantagens estão dentro da margem de erro das pesquisas, e muita coisa pode acontecer até 5 de novembro. A tendência, no entanto, está a favor de Harris, porque ela não carrega o peso da rejeição a Trump e a Biden. Isso se espelha também nos vices das chapas, Tim Walz e J.D. Vance. Segundo pesquisa da ABC News, 42% dos eleitores rejeitam Vance e apenas 30%, Walz.

Harris não tem a rejeição de Trump e de Biden porque é pouco conhecida, depois de uma passagem apagada pela vice-presidência. Biden a incumbiu de cuidar da imigração. Ela não foi bem, deu uma entrevista desastrosa em junho de 2021, primeiro ano de governo, à rede NBC, na qual não conseguiu responder por que não tinha ido à fronteira ainda, e recolheu-se depois disso.

Imigração é uma das principais linhas de ataque de Trump, que despeja números falsos, como o de que 20 milhões de estrangeiros teriam entrado ilegalmente nos Estados Unidos, incluindo 70% dos presos da Venezuela, 20 mil soldados chineses, estupradores, assassinos etc.

Outra é a inflação: os preços dos alimentos subiram 20% durante o governo Biden, castigando sobretudo o eleitor de mais baixa renda, tradicional base dos democratas, embora Trump tenha arrastado parte dessa fatia em 2016, e perdido em 2020.

Harris apresentou na sexta-feira um plano populista para recuperar o poder de compra da classe média. Apelidado por ela de “oportunidade econômica”, o pacote inclui US$ 25 mil de subsídios para a compra da primeira casa, perdão de dívida com serviços de saúde para milhões de americanos e dedução tributária de US$ 6 mil para famílias no primeiro ano de vida do bebê.

Esse último item representa uma corrida de quem dá mais: o governo Biden elevou o crédito fiscal de US$ 2 mil para US$ 3 mil. Vance sugeriu no início do mês o aumento para US$ 5 mil.

Sondagens apontam que Kamala Harris, ao substituir Joe Biden na disputa, tirou o favoritismo de Donald Trump. Mas sua estratégia econômica pode colocar em risco tal vantagem. Foto: Stephanie Scarbrough/AP

O Comitê para um Orçamento Federal Responsável, instituto independente com sede em Washington, calcula que essas promessas elevariam em US$ 1,7 trilhão ao longo de uma década o déficit americano, que já alcança astronômicos US$ 31 trilhões e impõe ameaça permanente de insolvência do governo.

Harris promete ainda combater a “especulação dos preços”, um tipo de controle que nunca houve nos Estados Unidos, mas sim no Brasil, Argentina e Venezuela, sempre levando à hiperinflação.

Antes desse anúncio, os discursos de Harris focavam em temas mais genéricos, como olhar para o futuro em contraste com a proposta de Trump de “tornar a América grande de novo”. Isso injetou um tom positivo na campanha, em contraste com o mote negativo de Biden, de que Trump representa uma ameaça para a democracia.

As pesquisas que colocam Harris à frente capturam a primeira fase da campanha, em que ela representou a novidade, o frescor e essas promessas genéricas, que incluíram também liberdade para os trabalhadores se filiarem aos sindicatos e para as mulheres decidirem sobre o aborto.

Com o discurso de sexta-feira, que por sinal teve público mais seleto do que os comícios que ela vinha fazendo para milhares de eleitores entusiasmados, Harris entrou numa nova etapa, que apresenta oportunidades e riscos.

De um lado, o programa econômico endereça a maior fragilidade da candidatura democrata: a queda no poder aquisitivo dos americanos. De outro, empurra o Partido Democrata ainda mais para a esquerda no âmbito econômico, um movimento que Biden já havia iniciado, com investimentos em infraestrutura, transição energética e atração de fábricas para os EUA, orçados em US$ 4 trilhões.

Essa estratégia de intervenção do Estado na economia, que na pandemia se traduziu em transferência de dinheiro aos necessitados, é em parte responsável pela inflação de 2022. O Banco Central procurou contê-la com aumento dos juros, que elevou o preço dos empréstimos para a compra de bens duráveis e moradia.

A aposta é arriscada: pode atrair o voto da baixa renda e repelir o eleitor moderado. O que pode salvar Harris é a rejeição a Trump.

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