É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Na eleição dos EUA, americanos querem mudança. Isso pode atrapalhar Kamala e ajudar Trump


Biden não está na cédula, mas está na sombra de sua vice

Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

As pesquisas não indicam favoritismo na eleição presidencial de terça-feira nos Estados Unidos. A rejeição a Donald Trump é maior do que a Kamala Harris, que tem arrecadado muito mais doações. Indicadores menos visíveis favorecem Trump: o registro de eleitores e a distribuição dos votos antecipados, além da impopularidade de Joe Biden.

As doações de campanha são ao mesmo tempo um termômetro do humor do eleitorado e um impulso para os comerciais de TV. Kamala arrecadou US$ 1,2 bilhão e Trump, US$ 700 milhões.

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Os Estados americanos realizaram uma checagem de integridade nas listas de eleitores registrados, para eliminar inconsistências, que resultou na redução de 121 para 118 milhões de habilitados a votar. Os democratas perderam 3,5 milhões de eleitores registrados; os republicanos ganharam 141 mil.

Na Pensilvânia, que detém o maior número de cadeiras no Colégio Eleitoral entre os Estados-pêndulo, 19, desde a última eleição presidencial o número de democratas registrados caiu 320 mil, enquanto o de republicanos diminuiu apenas 1.400. Em julho, 21 mil republicanos se registraram no Estado, e apenas 5 mil democratas.

Segundo a média do FiveThirtyEight, 52,2% dos eleitores têm opinião desfavorável sobre Trump e 46,3%, sobre Kamala Foto: AP / AP
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Em 2020, por causa da pandemia, apenas 27% dos eleitores votaram no dia da eleição. A grande maioria recorreu ao voto antecipado, pessoalmente ou pelo correio. Em sua campanha para desacreditar o sistema eleitoral, Trump recomendou há quatro anos que seus eleitores não votassem antecipadamente.

Isso pode ter contribuído para sua derrota: 82% dos eleitores de Biden e 62% dos de Trump votaram antes. Nessa eleição, Trump mudou de tática e tem orientado seus eleitores a votar antecipadamente de forma presencial, embora continue lançando suspeitas sobre o voto pelo correio.

Na Pensilvânia, de mais de 1 milhão de votos pelo correio, 62% foram de eleitores registrados como democratas e 28%, como republicanos – aumento em relação aos 23% em 2020. Na Carolina do Norte, outro Estado decisivo, dos eleitores que votaram antecipadamente, 34,2% são republicanos e 34,0%, democratas. Outros 31,8% são de outro partido ou não-filiados.

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Nos sete Estados-pêndulo, a média das pesquisas calculada pela plataforma FiveThirtyEight coloca Trump 1 ponto porcentual acima de Kamala na Pensilvânia e na Carolina do Norte e 2 pontos na Geórgia e no Arizona. Kamala está 1 ponto à frente no Michigan e no Wisconsin. Tudo isso está dentro da margem de erro. No Nevada, eles estão empatados. Esse equilíbrio é inédito.

Ainda segundo a média do FiveThirtyEight, 52,2% dos eleitores têm opinião desfavorável sobre Trump e 46,3%, sobre Kamala. Já com relação ao governo Biden, pesquisa do YouGov registra aprovação de 25%.

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Nunca na história dos americanos o partido do presidente venceu uma eleição presidencial com uma taxa de aprovação tão baixa do governo como essa. Biden não está na cédula, mas está na sombra de sua vice.

Kamala não se ajudou quando, em entrevista à rede de TV ABC, no dia 8, respondeu da seguinte forma à pergunta sobre o que faria de diferente de Biden: “Nem uma coisa sequer vem à mente”. Com o enorme impacto negativo, a vice-presidente passou a responder que é diferente de seu atual chefe, citando como exemplo que traria um republicano para seu ministério.

O fato é que o eleitorado americano quer mudança. Kamala tem tentado se projetar desde o início como a candidata da mudança e com uma visão de futuro, enquanto Trump, cujo lema é “Faça a América grande de novo”, estaria fixado no passado. Mas é contraintuitivo encarar a vice-presidente como a candidata da mudança.

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Os eleitores elencam como prioridade o custo de vida, o rumo da economia e a imigração, nessa ordem. Na última pesquisa do Instituto Ipsos, os entrevistados deram preferência a Trump sobre Kamala nesses três temas, combinados, por 47% a 37%. Mesmo assim, 44% disseram que votariam em Kamala e 43%, em Trump.

A explicação para o aparente paradoxo é a rejeição à figura de Trump. Por outro lado, a economia é uma motivação tão forte no voto que, segundo a minha hipótese, é a explicação para o fato de mulheres, latinos e negros apoiarem menos Kamala do que apoiaram Biden há quatro anos.

Os três grupos ainda preferem Kamala sobre Trump: 50% a 44%, 54% a 37% e 79% a 12%, respectivamente. A soma não é 100% por causa dos indecisos ou eleitores de outros candidatos. Mas Trump cresce nas três bases entre a eleição passada e esta: de 42% para 44%, 32% para 37% e 12% para 13%, respectivamente.

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Tradicionalmente, latinos e negros foram decisivos nas vitórias dos democratas. Esses votos podem fazer falta a Kamala este ano.

As pesquisas não indicam favoritismo na eleição presidencial de terça-feira nos Estados Unidos. A rejeição a Donald Trump é maior do que a Kamala Harris, que tem arrecadado muito mais doações. Indicadores menos visíveis favorecem Trump: o registro de eleitores e a distribuição dos votos antecipados, além da impopularidade de Joe Biden.

As doações de campanha são ao mesmo tempo um termômetro do humor do eleitorado e um impulso para os comerciais de TV. Kamala arrecadou US$ 1,2 bilhão e Trump, US$ 700 milhões.

Os Estados americanos realizaram uma checagem de integridade nas listas de eleitores registrados, para eliminar inconsistências, que resultou na redução de 121 para 118 milhões de habilitados a votar. Os democratas perderam 3,5 milhões de eleitores registrados; os republicanos ganharam 141 mil.

Na Pensilvânia, que detém o maior número de cadeiras no Colégio Eleitoral entre os Estados-pêndulo, 19, desde a última eleição presidencial o número de democratas registrados caiu 320 mil, enquanto o de republicanos diminuiu apenas 1.400. Em julho, 21 mil republicanos se registraram no Estado, e apenas 5 mil democratas.

Segundo a média do FiveThirtyEight, 52,2% dos eleitores têm opinião desfavorável sobre Trump e 46,3%, sobre Kamala Foto: AP / AP

Em 2020, por causa da pandemia, apenas 27% dos eleitores votaram no dia da eleição. A grande maioria recorreu ao voto antecipado, pessoalmente ou pelo correio. Em sua campanha para desacreditar o sistema eleitoral, Trump recomendou há quatro anos que seus eleitores não votassem antecipadamente.

Isso pode ter contribuído para sua derrota: 82% dos eleitores de Biden e 62% dos de Trump votaram antes. Nessa eleição, Trump mudou de tática e tem orientado seus eleitores a votar antecipadamente de forma presencial, embora continue lançando suspeitas sobre o voto pelo correio.

Na Pensilvânia, de mais de 1 milhão de votos pelo correio, 62% foram de eleitores registrados como democratas e 28%, como republicanos – aumento em relação aos 23% em 2020. Na Carolina do Norte, outro Estado decisivo, dos eleitores que votaram antecipadamente, 34,2% são republicanos e 34,0%, democratas. Outros 31,8% são de outro partido ou não-filiados.

Nos sete Estados-pêndulo, a média das pesquisas calculada pela plataforma FiveThirtyEight coloca Trump 1 ponto porcentual acima de Kamala na Pensilvânia e na Carolina do Norte e 2 pontos na Geórgia e no Arizona. Kamala está 1 ponto à frente no Michigan e no Wisconsin. Tudo isso está dentro da margem de erro. No Nevada, eles estão empatados. Esse equilíbrio é inédito.

Ainda segundo a média do FiveThirtyEight, 52,2% dos eleitores têm opinião desfavorável sobre Trump e 46,3%, sobre Kamala. Já com relação ao governo Biden, pesquisa do YouGov registra aprovação de 25%.

Nunca na história dos americanos o partido do presidente venceu uma eleição presidencial com uma taxa de aprovação tão baixa do governo como essa. Biden não está na cédula, mas está na sombra de sua vice.

Kamala não se ajudou quando, em entrevista à rede de TV ABC, no dia 8, respondeu da seguinte forma à pergunta sobre o que faria de diferente de Biden: “Nem uma coisa sequer vem à mente”. Com o enorme impacto negativo, a vice-presidente passou a responder que é diferente de seu atual chefe, citando como exemplo que traria um republicano para seu ministério.

O fato é que o eleitorado americano quer mudança. Kamala tem tentado se projetar desde o início como a candidata da mudança e com uma visão de futuro, enquanto Trump, cujo lema é “Faça a América grande de novo”, estaria fixado no passado. Mas é contraintuitivo encarar a vice-presidente como a candidata da mudança.

Os eleitores elencam como prioridade o custo de vida, o rumo da economia e a imigração, nessa ordem. Na última pesquisa do Instituto Ipsos, os entrevistados deram preferência a Trump sobre Kamala nesses três temas, combinados, por 47% a 37%. Mesmo assim, 44% disseram que votariam em Kamala e 43%, em Trump.

A explicação para o aparente paradoxo é a rejeição à figura de Trump. Por outro lado, a economia é uma motivação tão forte no voto que, segundo a minha hipótese, é a explicação para o fato de mulheres, latinos e negros apoiarem menos Kamala do que apoiaram Biden há quatro anos.

Os três grupos ainda preferem Kamala sobre Trump: 50% a 44%, 54% a 37% e 79% a 12%, respectivamente. A soma não é 100% por causa dos indecisos ou eleitores de outros candidatos. Mas Trump cresce nas três bases entre a eleição passada e esta: de 42% para 44%, 32% para 37% e 12% para 13%, respectivamente.

Tradicionalmente, latinos e negros foram decisivos nas vitórias dos democratas. Esses votos podem fazer falta a Kamala este ano.

As pesquisas não indicam favoritismo na eleição presidencial de terça-feira nos Estados Unidos. A rejeição a Donald Trump é maior do que a Kamala Harris, que tem arrecadado muito mais doações. Indicadores menos visíveis favorecem Trump: o registro de eleitores e a distribuição dos votos antecipados, além da impopularidade de Joe Biden.

As doações de campanha são ao mesmo tempo um termômetro do humor do eleitorado e um impulso para os comerciais de TV. Kamala arrecadou US$ 1,2 bilhão e Trump, US$ 700 milhões.

Os Estados americanos realizaram uma checagem de integridade nas listas de eleitores registrados, para eliminar inconsistências, que resultou na redução de 121 para 118 milhões de habilitados a votar. Os democratas perderam 3,5 milhões de eleitores registrados; os republicanos ganharam 141 mil.

Na Pensilvânia, que detém o maior número de cadeiras no Colégio Eleitoral entre os Estados-pêndulo, 19, desde a última eleição presidencial o número de democratas registrados caiu 320 mil, enquanto o de republicanos diminuiu apenas 1.400. Em julho, 21 mil republicanos se registraram no Estado, e apenas 5 mil democratas.

Segundo a média do FiveThirtyEight, 52,2% dos eleitores têm opinião desfavorável sobre Trump e 46,3%, sobre Kamala Foto: AP / AP

Em 2020, por causa da pandemia, apenas 27% dos eleitores votaram no dia da eleição. A grande maioria recorreu ao voto antecipado, pessoalmente ou pelo correio. Em sua campanha para desacreditar o sistema eleitoral, Trump recomendou há quatro anos que seus eleitores não votassem antecipadamente.

Isso pode ter contribuído para sua derrota: 82% dos eleitores de Biden e 62% dos de Trump votaram antes. Nessa eleição, Trump mudou de tática e tem orientado seus eleitores a votar antecipadamente de forma presencial, embora continue lançando suspeitas sobre o voto pelo correio.

Na Pensilvânia, de mais de 1 milhão de votos pelo correio, 62% foram de eleitores registrados como democratas e 28%, como republicanos – aumento em relação aos 23% em 2020. Na Carolina do Norte, outro Estado decisivo, dos eleitores que votaram antecipadamente, 34,2% são republicanos e 34,0%, democratas. Outros 31,8% são de outro partido ou não-filiados.

Nos sete Estados-pêndulo, a média das pesquisas calculada pela plataforma FiveThirtyEight coloca Trump 1 ponto porcentual acima de Kamala na Pensilvânia e na Carolina do Norte e 2 pontos na Geórgia e no Arizona. Kamala está 1 ponto à frente no Michigan e no Wisconsin. Tudo isso está dentro da margem de erro. No Nevada, eles estão empatados. Esse equilíbrio é inédito.

Ainda segundo a média do FiveThirtyEight, 52,2% dos eleitores têm opinião desfavorável sobre Trump e 46,3%, sobre Kamala. Já com relação ao governo Biden, pesquisa do YouGov registra aprovação de 25%.

Nunca na história dos americanos o partido do presidente venceu uma eleição presidencial com uma taxa de aprovação tão baixa do governo como essa. Biden não está na cédula, mas está na sombra de sua vice.

Kamala não se ajudou quando, em entrevista à rede de TV ABC, no dia 8, respondeu da seguinte forma à pergunta sobre o que faria de diferente de Biden: “Nem uma coisa sequer vem à mente”. Com o enorme impacto negativo, a vice-presidente passou a responder que é diferente de seu atual chefe, citando como exemplo que traria um republicano para seu ministério.

O fato é que o eleitorado americano quer mudança. Kamala tem tentado se projetar desde o início como a candidata da mudança e com uma visão de futuro, enquanto Trump, cujo lema é “Faça a América grande de novo”, estaria fixado no passado. Mas é contraintuitivo encarar a vice-presidente como a candidata da mudança.

Os eleitores elencam como prioridade o custo de vida, o rumo da economia e a imigração, nessa ordem. Na última pesquisa do Instituto Ipsos, os entrevistados deram preferência a Trump sobre Kamala nesses três temas, combinados, por 47% a 37%. Mesmo assim, 44% disseram que votariam em Kamala e 43%, em Trump.

A explicação para o aparente paradoxo é a rejeição à figura de Trump. Por outro lado, a economia é uma motivação tão forte no voto que, segundo a minha hipótese, é a explicação para o fato de mulheres, latinos e negros apoiarem menos Kamala do que apoiaram Biden há quatro anos.

Os três grupos ainda preferem Kamala sobre Trump: 50% a 44%, 54% a 37% e 79% a 12%, respectivamente. A soma não é 100% por causa dos indecisos ou eleitores de outros candidatos. Mas Trump cresce nas três bases entre a eleição passada e esta: de 42% para 44%, 32% para 37% e 12% para 13%, respectivamente.

Tradicionalmente, latinos e negros foram decisivos nas vitórias dos democratas. Esses votos podem fazer falta a Kamala este ano.

Opinião por Lourival Sant'Anna

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