É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Novo Brics vira bloco de ditaduras que favorece a China; leia a coluna de Lourival Sant’Anna


Lula cede, pela segunda vez, poder real do Brasil em troca de uma falsa promessa reciclada de ampliação do conselho de Segurança da ONU

Por Lourival Sant'Anna

A expansão do Brics e a consolidação dos sistemas de pagamentos em moedas nacionais e de resgate de países sob asfixia financeira são parte da estratégia da China na disputa com os Estados Unidos; e na proteção de sua maior aliada, a Rússia, contra o isolamento político e econômico imposto pelo Ocidente.

Nessa histórica cúpula, Brasil e Índia cederam poder e a África do Sul se consolidou como eficaz facilitadora da China e da Rússia.

Havia quase 60 países representados, dos quais 22 inscritos para entrar no bloco: Argentina, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos (EAU), Egito, Etiópia, Irã, Argélia, Bangladesh, Bahrein, Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Honduras, Indonésia, Kuwait, Marrocos, Nigéria, Senegal, Tailândia, Venezuela e Vietnã.

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Os seis primeiros foram convidados sumariamente — sem definição de critérios para a adesão, como desejavam Brasil e Índia, e como blocos econômicos costumam proceder. A lista expressa a natureza da expansão: os Brics se tornarão um bloco de ditaduras, legitimado por um punhado de democracias iliberais.

Da esquerda para a direita, Lula, o presidernte da China, Xi Jinping, o da África do sul, Cyril Ramaphosa, o premiê da Índia, Narendra Modi, e o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, em encerramento da Cúpula do Brics em Johannesburgo Foto: Gianluigi Guercia/Pool via AP

Os entusiastas do Brics sonham com um mundo multipolar. Com 70% do PIB do bloco, a China o transformou em sua plataforma na disputa bipolar com os EUA.  Isso fica claro na forma como a expansão foi imposta ao Brasil — algo que não lhe interessa, porque reduz o seu peso no grupo.

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Funcionários do governo brasileiro afirmam ter obtido em troca o apoio chinês a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Cobri, para o Estadão, a primeira ida de Lula à China, em 2004.

Naquela viagem, o Brasil se tornou a primeira grande economia a conceder à China o status de economia de livre mercado, que a favoreceu nos processos antidumping. Em troca, o então presidente Hu Jintao ofereceu a Lula o assento permanente.

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Passaram-se 19 anos. A ampliação do Conselho não caminhou um centímetro. Dois adversários da China são candidatos naturais a assentos permanentes: Índia e Japão. Diferentemente do Brasil sob Lula, países normalmente não cedem poder em troca de nada. Agora, Lula cede, pela segunda vez, poder real do Brasil em troca de uma falsa promessa reciclada.

Arábia Saudita, Irã e Egito são adversários entre si. O Egito compete com a Etiópia pelo controle do Rio Nilo. A China se torna o árbitro de todas essas disputas. Arábia Saudita e EAU tentam historicamente se projetar sobre o Chifre da África. Essa projeção passa a ser supervisionada pela China, que conduz as maiores obras de infraestrutura da Etiópia, como de toda a África. O mesmo se dá com a projeção do Brasil no Cone Sul. Principal investidora e parceira comercial da Argentina, a China supervisiona essa projeção também.

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O Brics+ vertebra essa inteligente teia desenhada pela China em três continentes. Xi Jinping não exagerou quando chamou essa cúpula de “histórica”. Ela foi. Para a China.

A expansão do Brics e a consolidação dos sistemas de pagamentos em moedas nacionais e de resgate de países sob asfixia financeira são parte da estratégia da China na disputa com os Estados Unidos; e na proteção de sua maior aliada, a Rússia, contra o isolamento político e econômico imposto pelo Ocidente.

Nessa histórica cúpula, Brasil e Índia cederam poder e a África do Sul se consolidou como eficaz facilitadora da China e da Rússia.

Havia quase 60 países representados, dos quais 22 inscritos para entrar no bloco: Argentina, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos (EAU), Egito, Etiópia, Irã, Argélia, Bangladesh, Bahrein, Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Honduras, Indonésia, Kuwait, Marrocos, Nigéria, Senegal, Tailândia, Venezuela e Vietnã.

Os seis primeiros foram convidados sumariamente — sem definição de critérios para a adesão, como desejavam Brasil e Índia, e como blocos econômicos costumam proceder. A lista expressa a natureza da expansão: os Brics se tornarão um bloco de ditaduras, legitimado por um punhado de democracias iliberais.

Da esquerda para a direita, Lula, o presidernte da China, Xi Jinping, o da África do sul, Cyril Ramaphosa, o premiê da Índia, Narendra Modi, e o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, em encerramento da Cúpula do Brics em Johannesburgo Foto: Gianluigi Guercia/Pool via AP

Os entusiastas do Brics sonham com um mundo multipolar. Com 70% do PIB do bloco, a China o transformou em sua plataforma na disputa bipolar com os EUA.  Isso fica claro na forma como a expansão foi imposta ao Brasil — algo que não lhe interessa, porque reduz o seu peso no grupo.

Funcionários do governo brasileiro afirmam ter obtido em troca o apoio chinês a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Cobri, para o Estadão, a primeira ida de Lula à China, em 2004.

Naquela viagem, o Brasil se tornou a primeira grande economia a conceder à China o status de economia de livre mercado, que a favoreceu nos processos antidumping. Em troca, o então presidente Hu Jintao ofereceu a Lula o assento permanente.

Passaram-se 19 anos. A ampliação do Conselho não caminhou um centímetro. Dois adversários da China são candidatos naturais a assentos permanentes: Índia e Japão. Diferentemente do Brasil sob Lula, países normalmente não cedem poder em troca de nada. Agora, Lula cede, pela segunda vez, poder real do Brasil em troca de uma falsa promessa reciclada.

Arábia Saudita, Irã e Egito são adversários entre si. O Egito compete com a Etiópia pelo controle do Rio Nilo. A China se torna o árbitro de todas essas disputas. Arábia Saudita e EAU tentam historicamente se projetar sobre o Chifre da África. Essa projeção passa a ser supervisionada pela China, que conduz as maiores obras de infraestrutura da Etiópia, como de toda a África. O mesmo se dá com a projeção do Brasil no Cone Sul. Principal investidora e parceira comercial da Argentina, a China supervisiona essa projeção também.

O Brics+ vertebra essa inteligente teia desenhada pela China em três continentes. Xi Jinping não exagerou quando chamou essa cúpula de “histórica”. Ela foi. Para a China.

A expansão do Brics e a consolidação dos sistemas de pagamentos em moedas nacionais e de resgate de países sob asfixia financeira são parte da estratégia da China na disputa com os Estados Unidos; e na proteção de sua maior aliada, a Rússia, contra o isolamento político e econômico imposto pelo Ocidente.

Nessa histórica cúpula, Brasil e Índia cederam poder e a África do Sul se consolidou como eficaz facilitadora da China e da Rússia.

Havia quase 60 países representados, dos quais 22 inscritos para entrar no bloco: Argentina, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos (EAU), Egito, Etiópia, Irã, Argélia, Bangladesh, Bahrein, Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Honduras, Indonésia, Kuwait, Marrocos, Nigéria, Senegal, Tailândia, Venezuela e Vietnã.

Os seis primeiros foram convidados sumariamente — sem definição de critérios para a adesão, como desejavam Brasil e Índia, e como blocos econômicos costumam proceder. A lista expressa a natureza da expansão: os Brics se tornarão um bloco de ditaduras, legitimado por um punhado de democracias iliberais.

Da esquerda para a direita, Lula, o presidernte da China, Xi Jinping, o da África do sul, Cyril Ramaphosa, o premiê da Índia, Narendra Modi, e o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, em encerramento da Cúpula do Brics em Johannesburgo Foto: Gianluigi Guercia/Pool via AP

Os entusiastas do Brics sonham com um mundo multipolar. Com 70% do PIB do bloco, a China o transformou em sua plataforma na disputa bipolar com os EUA.  Isso fica claro na forma como a expansão foi imposta ao Brasil — algo que não lhe interessa, porque reduz o seu peso no grupo.

Funcionários do governo brasileiro afirmam ter obtido em troca o apoio chinês a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Cobri, para o Estadão, a primeira ida de Lula à China, em 2004.

Naquela viagem, o Brasil se tornou a primeira grande economia a conceder à China o status de economia de livre mercado, que a favoreceu nos processos antidumping. Em troca, o então presidente Hu Jintao ofereceu a Lula o assento permanente.

Passaram-se 19 anos. A ampliação do Conselho não caminhou um centímetro. Dois adversários da China são candidatos naturais a assentos permanentes: Índia e Japão. Diferentemente do Brasil sob Lula, países normalmente não cedem poder em troca de nada. Agora, Lula cede, pela segunda vez, poder real do Brasil em troca de uma falsa promessa reciclada.

Arábia Saudita, Irã e Egito são adversários entre si. O Egito compete com a Etiópia pelo controle do Rio Nilo. A China se torna o árbitro de todas essas disputas. Arábia Saudita e EAU tentam historicamente se projetar sobre o Chifre da África. Essa projeção passa a ser supervisionada pela China, que conduz as maiores obras de infraestrutura da Etiópia, como de toda a África. O mesmo se dá com a projeção do Brasil no Cone Sul. Principal investidora e parceira comercial da Argentina, a China supervisiona essa projeção também.

O Brics+ vertebra essa inteligente teia desenhada pela China em três continentes. Xi Jinping não exagerou quando chamou essa cúpula de “histórica”. Ela foi. Para a China.

Opinião por Lourival Sant'Anna

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