É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|O diálogo de Biden e Xi


Na véspera do 20.º ano dos ataques de 11 de setembro, os dois líderes tiveram a primeira conversa por telefone desde fevereiro

Por Lourival Sant'Anna

Na véspera do 20.º aniversário dos atentados do 11 de setembroJoe Biden e Xi Jinping tiveram sua primeira conversa pelo telefone desde fevereiro. Diálogos entre líderes de nações rivais costumam produzir relatos bem divergentes. Não foi o caso. Daí que se pode afirmar com segurança que, embora tenha sido uma conversa franca, e não tenham concordado a respeito de tudo, houve uma mudança no tom. E essa mudança, assim como a conversa em si, partiu de Biden.

Segundo a Casa Branca, “Biden sublinhou o interesse dos EUA na paz, estabilidade e prosperidade no mundo, e os dois discutiram a responsabilidade de ambas as nações em assegurar que a competição não se torne conflito”. Isso é exatamente o que o governo chinês tem defendido desde que Biden assumiu, em janeiro, e passou a caracterizar a rivalidade com a China como uma disputa entre autocracia e democracia. 

No dia 9 de junho, após a aprovação nos EUA da Lei de Concorrência, que estabelece uma política industrial de incentivos para fazer frente à competição com a China, Wang Wenbin, porta-voz do premiê chinês, declarou: “Os EUA não deveriam tratar a China como seu inimigo imaginário”. Wang exortou os americanos a “parar de interferir nos assuntos internos da China”. De acordo com ele, “a China se mantém comprometida com a não confrontação”.

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Os presidentes da China e dos Estados Unidos, Xi Jinping e Joe Biden, respectivamente. Foto: David McNew/Reuters

Segundo governo chinês, a questão de Taiwan foi discutida, e Biden reiterou seu compromisso com a chamada política de uma China. Significa que a ilha é parte da China. Os EUA aderiram a esse conceito em 1972, como resultado da “diplomacia do pingue-pongue”, que aproximou os dois países. Sete anos mais tarde, o governo americano trocou as relações diplomáticas formais com Taiwan pela China. 

A separação foi o desfecho da guerra civil chinesa, que levou à tomada de poder pelos comunistas, em 1949, e à fuga dos nacionalistas pró-capitalistas para a Ilha de Formosa. Mesmo não havendo mais o tratado de defesa mútua entre EUA e Taiwan, que vigorou entre 1954 e 1979, o poderio incomparável das Forças Armadas americanas continua sendo o principal obstáculo à anexação de Taiwan pela China.

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Xi já deixou claro que não pretende passar para seu sucessor a questão de Taiwan. Presidente desde 2013, ele eliminou o limite de dois mandatos de cinco anos. Mas Xi não é eterno. Além de Taiwan, há outros atritos entre os dois países no campo político: a lei de segurança imposta sobre Hong Kong, a projeção da Marinha chinesa sobre o Mar do Sul da China e a repressão aos muçulmanos da Província de Xinjiang.

Além disso, a disputa econômica e tecnológica entre os dois países continua no mesmo lugar. O que aconteceu ultimamente que poderia ter levado Biden a adotar uma abordagem mais cooperativa? Três coisas. Primeiro, a pressão da chamada “América corporativa” aumentou para que o governo evite medidas restritivas ao comércio com a China, que prejudicam as cadeias de produção das quais as grandes empresas americanas dependem. Segundo, Xi ameaça não adotar metas ambiciosas de redução de gás carbônico, um dos eixos da política externa de Biden. No dia 1.º, o chanceler chinês, Wang Yi, advertiu o enviado de Biden para mudança climática, John Kerry, de que as tensões podem solapar a cooperação ambiental. Por fim, a retirada dos EUA do Afeganistão ampliou o perfil da China como potência regional na Ásia. Esses dados podem recalibrar a política externa de Biden, com ganhos para todos.

É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

Na véspera do 20.º aniversário dos atentados do 11 de setembroJoe Biden e Xi Jinping tiveram sua primeira conversa pelo telefone desde fevereiro. Diálogos entre líderes de nações rivais costumam produzir relatos bem divergentes. Não foi o caso. Daí que se pode afirmar com segurança que, embora tenha sido uma conversa franca, e não tenham concordado a respeito de tudo, houve uma mudança no tom. E essa mudança, assim como a conversa em si, partiu de Biden.

Segundo a Casa Branca, “Biden sublinhou o interesse dos EUA na paz, estabilidade e prosperidade no mundo, e os dois discutiram a responsabilidade de ambas as nações em assegurar que a competição não se torne conflito”. Isso é exatamente o que o governo chinês tem defendido desde que Biden assumiu, em janeiro, e passou a caracterizar a rivalidade com a China como uma disputa entre autocracia e democracia. 

No dia 9 de junho, após a aprovação nos EUA da Lei de Concorrência, que estabelece uma política industrial de incentivos para fazer frente à competição com a China, Wang Wenbin, porta-voz do premiê chinês, declarou: “Os EUA não deveriam tratar a China como seu inimigo imaginário”. Wang exortou os americanos a “parar de interferir nos assuntos internos da China”. De acordo com ele, “a China se mantém comprometida com a não confrontação”.

Os presidentes da China e dos Estados Unidos, Xi Jinping e Joe Biden, respectivamente. Foto: David McNew/Reuters

Segundo governo chinês, a questão de Taiwan foi discutida, e Biden reiterou seu compromisso com a chamada política de uma China. Significa que a ilha é parte da China. Os EUA aderiram a esse conceito em 1972, como resultado da “diplomacia do pingue-pongue”, que aproximou os dois países. Sete anos mais tarde, o governo americano trocou as relações diplomáticas formais com Taiwan pela China. 

A separação foi o desfecho da guerra civil chinesa, que levou à tomada de poder pelos comunistas, em 1949, e à fuga dos nacionalistas pró-capitalistas para a Ilha de Formosa. Mesmo não havendo mais o tratado de defesa mútua entre EUA e Taiwan, que vigorou entre 1954 e 1979, o poderio incomparável das Forças Armadas americanas continua sendo o principal obstáculo à anexação de Taiwan pela China.

Xi já deixou claro que não pretende passar para seu sucessor a questão de Taiwan. Presidente desde 2013, ele eliminou o limite de dois mandatos de cinco anos. Mas Xi não é eterno. Além de Taiwan, há outros atritos entre os dois países no campo político: a lei de segurança imposta sobre Hong Kong, a projeção da Marinha chinesa sobre o Mar do Sul da China e a repressão aos muçulmanos da Província de Xinjiang.

Além disso, a disputa econômica e tecnológica entre os dois países continua no mesmo lugar. O que aconteceu ultimamente que poderia ter levado Biden a adotar uma abordagem mais cooperativa? Três coisas. Primeiro, a pressão da chamada “América corporativa” aumentou para que o governo evite medidas restritivas ao comércio com a China, que prejudicam as cadeias de produção das quais as grandes empresas americanas dependem. Segundo, Xi ameaça não adotar metas ambiciosas de redução de gás carbônico, um dos eixos da política externa de Biden. No dia 1.º, o chanceler chinês, Wang Yi, advertiu o enviado de Biden para mudança climática, John Kerry, de que as tensões podem solapar a cooperação ambiental. Por fim, a retirada dos EUA do Afeganistão ampliou o perfil da China como potência regional na Ásia. Esses dados podem recalibrar a política externa de Biden, com ganhos para todos.

É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

Na véspera do 20.º aniversário dos atentados do 11 de setembroJoe Biden e Xi Jinping tiveram sua primeira conversa pelo telefone desde fevereiro. Diálogos entre líderes de nações rivais costumam produzir relatos bem divergentes. Não foi o caso. Daí que se pode afirmar com segurança que, embora tenha sido uma conversa franca, e não tenham concordado a respeito de tudo, houve uma mudança no tom. E essa mudança, assim como a conversa em si, partiu de Biden.

Segundo a Casa Branca, “Biden sublinhou o interesse dos EUA na paz, estabilidade e prosperidade no mundo, e os dois discutiram a responsabilidade de ambas as nações em assegurar que a competição não se torne conflito”. Isso é exatamente o que o governo chinês tem defendido desde que Biden assumiu, em janeiro, e passou a caracterizar a rivalidade com a China como uma disputa entre autocracia e democracia. 

No dia 9 de junho, após a aprovação nos EUA da Lei de Concorrência, que estabelece uma política industrial de incentivos para fazer frente à competição com a China, Wang Wenbin, porta-voz do premiê chinês, declarou: “Os EUA não deveriam tratar a China como seu inimigo imaginário”. Wang exortou os americanos a “parar de interferir nos assuntos internos da China”. De acordo com ele, “a China se mantém comprometida com a não confrontação”.

Os presidentes da China e dos Estados Unidos, Xi Jinping e Joe Biden, respectivamente. Foto: David McNew/Reuters

Segundo governo chinês, a questão de Taiwan foi discutida, e Biden reiterou seu compromisso com a chamada política de uma China. Significa que a ilha é parte da China. Os EUA aderiram a esse conceito em 1972, como resultado da “diplomacia do pingue-pongue”, que aproximou os dois países. Sete anos mais tarde, o governo americano trocou as relações diplomáticas formais com Taiwan pela China. 

A separação foi o desfecho da guerra civil chinesa, que levou à tomada de poder pelos comunistas, em 1949, e à fuga dos nacionalistas pró-capitalistas para a Ilha de Formosa. Mesmo não havendo mais o tratado de defesa mútua entre EUA e Taiwan, que vigorou entre 1954 e 1979, o poderio incomparável das Forças Armadas americanas continua sendo o principal obstáculo à anexação de Taiwan pela China.

Xi já deixou claro que não pretende passar para seu sucessor a questão de Taiwan. Presidente desde 2013, ele eliminou o limite de dois mandatos de cinco anos. Mas Xi não é eterno. Além de Taiwan, há outros atritos entre os dois países no campo político: a lei de segurança imposta sobre Hong Kong, a projeção da Marinha chinesa sobre o Mar do Sul da China e a repressão aos muçulmanos da Província de Xinjiang.

Além disso, a disputa econômica e tecnológica entre os dois países continua no mesmo lugar. O que aconteceu ultimamente que poderia ter levado Biden a adotar uma abordagem mais cooperativa? Três coisas. Primeiro, a pressão da chamada “América corporativa” aumentou para que o governo evite medidas restritivas ao comércio com a China, que prejudicam as cadeias de produção das quais as grandes empresas americanas dependem. Segundo, Xi ameaça não adotar metas ambiciosas de redução de gás carbônico, um dos eixos da política externa de Biden. No dia 1.º, o chanceler chinês, Wang Yi, advertiu o enviado de Biden para mudança climática, John Kerry, de que as tensões podem solapar a cooperação ambiental. Por fim, a retirada dos EUA do Afeganistão ampliou o perfil da China como potência regional na Ásia. Esses dados podem recalibrar a política externa de Biden, com ganhos para todos.

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Na véspera do 20.º aniversário dos atentados do 11 de setembroJoe Biden e Xi Jinping tiveram sua primeira conversa pelo telefone desde fevereiro. Diálogos entre líderes de nações rivais costumam produzir relatos bem divergentes. Não foi o caso. Daí que se pode afirmar com segurança que, embora tenha sido uma conversa franca, e não tenham concordado a respeito de tudo, houve uma mudança no tom. E essa mudança, assim como a conversa em si, partiu de Biden.

Segundo a Casa Branca, “Biden sublinhou o interesse dos EUA na paz, estabilidade e prosperidade no mundo, e os dois discutiram a responsabilidade de ambas as nações em assegurar que a competição não se torne conflito”. Isso é exatamente o que o governo chinês tem defendido desde que Biden assumiu, em janeiro, e passou a caracterizar a rivalidade com a China como uma disputa entre autocracia e democracia. 

No dia 9 de junho, após a aprovação nos EUA da Lei de Concorrência, que estabelece uma política industrial de incentivos para fazer frente à competição com a China, Wang Wenbin, porta-voz do premiê chinês, declarou: “Os EUA não deveriam tratar a China como seu inimigo imaginário”. Wang exortou os americanos a “parar de interferir nos assuntos internos da China”. De acordo com ele, “a China se mantém comprometida com a não confrontação”.

Os presidentes da China e dos Estados Unidos, Xi Jinping e Joe Biden, respectivamente. Foto: David McNew/Reuters

Segundo governo chinês, a questão de Taiwan foi discutida, e Biden reiterou seu compromisso com a chamada política de uma China. Significa que a ilha é parte da China. Os EUA aderiram a esse conceito em 1972, como resultado da “diplomacia do pingue-pongue”, que aproximou os dois países. Sete anos mais tarde, o governo americano trocou as relações diplomáticas formais com Taiwan pela China. 

A separação foi o desfecho da guerra civil chinesa, que levou à tomada de poder pelos comunistas, em 1949, e à fuga dos nacionalistas pró-capitalistas para a Ilha de Formosa. Mesmo não havendo mais o tratado de defesa mútua entre EUA e Taiwan, que vigorou entre 1954 e 1979, o poderio incomparável das Forças Armadas americanas continua sendo o principal obstáculo à anexação de Taiwan pela China.

Xi já deixou claro que não pretende passar para seu sucessor a questão de Taiwan. Presidente desde 2013, ele eliminou o limite de dois mandatos de cinco anos. Mas Xi não é eterno. Além de Taiwan, há outros atritos entre os dois países no campo político: a lei de segurança imposta sobre Hong Kong, a projeção da Marinha chinesa sobre o Mar do Sul da China e a repressão aos muçulmanos da Província de Xinjiang.

Além disso, a disputa econômica e tecnológica entre os dois países continua no mesmo lugar. O que aconteceu ultimamente que poderia ter levado Biden a adotar uma abordagem mais cooperativa? Três coisas. Primeiro, a pressão da chamada “América corporativa” aumentou para que o governo evite medidas restritivas ao comércio com a China, que prejudicam as cadeias de produção das quais as grandes empresas americanas dependem. Segundo, Xi ameaça não adotar metas ambiciosas de redução de gás carbônico, um dos eixos da política externa de Biden. No dia 1.º, o chanceler chinês, Wang Yi, advertiu o enviado de Biden para mudança climática, John Kerry, de que as tensões podem solapar a cooperação ambiental. Por fim, a retirada dos EUA do Afeganistão ampliou o perfil da China como potência regional na Ásia. Esses dados podem recalibrar a política externa de Biden, com ganhos para todos.

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