É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Os planos grandiosos de Xi Jinping; leia coluna de Lourival Sant’Anna


A política industrial proposta pelo líder chinês incentiva ineficiências e freará a inovação na China

Por Lourival Sant'Anna

O Congresso do Partido Comunista cristalizou a tendência dos últimos anos: o sacrifício da eficiência econômica, gerencial e tecnológica em favor da concentração de poder em torno de Xi Jinping. Como previsto, Xi assegurou o terceiro mandato de cinco anos, abolido por Deng Xiaoping em 1982 para, nas palavras do líder reformista, “evitar o caos que pode acontecer quando se tem um líder autoritário único, como a China teve com Mao Tsé-tung”.

Honra só alcançada por Mao e Deng, o congresso aprovou a inscrição do “Pensamento de Xi Jinping” na Carta do Partido, como se fez na Constituição, em 2017. As sete cadeiras do Comitê Permanente do Politburo, núcleo duro do regime, foram preenchidas com dirigentes leais a Xi. As nomeações mostram que Xi não aceita sucessor. O mais jovem, Ding Xuexiang, terá 65 em 2027, ao fim do terceiro mandato.

O premiê Li Keqiang, possível sucessor, perdeu o cargo. Li havia dito em agosto: “A reforma e a abertura continuarão a avançar. O Rio Amarelo e o Rio Yang-tse-kiang não vão correr para trás”. Li é afilhado político do ex-presidente Hu Jintao que, com a expressão atônita, foi retirado à força do palco, onde estava sentado ao lado de Xi. Hu governou o país entre 2002 e 2012, consultando os pares, ao contrário de seu sucessor.

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Presidente da China, Xi Jinping (E), observa enquanto o ex-presidente Hu Jintao é removido do congresso do Partido Comunista  Foto: Noel Celis / AFP - 22/10/2022

Wang Yang, ex-líder da Província de Guangdong, também foi expurgado. Ele havia declarado: “Precisamos erradicar a ideia de que a felicidade é um presente do partido e do governo”. Li Keqiang foi substituído por Li Qiang, responsável pelo lockdown de Xangai – e sem experiência no governo central. Motor da economia chinesa, Xangai viu seu PIB encolher 13,7% no segundo trimestre. A política de covid zero é uma amostra da prioridade que Xi dá ao próprio poder, em detrimento dos interesses do país.

Xi identificou o surgimento do vírus na China como ameaça a seu plano de perpetuação no poder. Muitos chineses não confiam nas vacinas do país e Xi se recusa a importar vacinas estrangeiras. Daí os contínuos lockdowns.

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Outra amostra é a ofensiva regulatória contra empresas de tecnologia chinesas, que perderam valor e fatias de mercado, porque estavam se tornando poderosas demais, na visão do regime. Sob Xi, as estatais voltaram a ter preferência, beneficiadas pela injeção de bilhões de dólares.

Essa política industrial, como bem sabemos no Brasil, incentiva ineficiências e freará a inovação na China. Os EUA passaram a impor restrições ao uso, pelos chineses, de programas de design apoiado por computador, patenteados pelos americanos, que possibilitam a produção de equipamentos para semicondutores.

O avanço da China parecia nos obrigar a reescrever os manuais, que associam liberdade política a desenvolvimento econômico e tecnológico. O experimento de Xi pode mostrar que os manuais estavam certos.

O Congresso do Partido Comunista cristalizou a tendência dos últimos anos: o sacrifício da eficiência econômica, gerencial e tecnológica em favor da concentração de poder em torno de Xi Jinping. Como previsto, Xi assegurou o terceiro mandato de cinco anos, abolido por Deng Xiaoping em 1982 para, nas palavras do líder reformista, “evitar o caos que pode acontecer quando se tem um líder autoritário único, como a China teve com Mao Tsé-tung”.

Honra só alcançada por Mao e Deng, o congresso aprovou a inscrição do “Pensamento de Xi Jinping” na Carta do Partido, como se fez na Constituição, em 2017. As sete cadeiras do Comitê Permanente do Politburo, núcleo duro do regime, foram preenchidas com dirigentes leais a Xi. As nomeações mostram que Xi não aceita sucessor. O mais jovem, Ding Xuexiang, terá 65 em 2027, ao fim do terceiro mandato.

O premiê Li Keqiang, possível sucessor, perdeu o cargo. Li havia dito em agosto: “A reforma e a abertura continuarão a avançar. O Rio Amarelo e o Rio Yang-tse-kiang não vão correr para trás”. Li é afilhado político do ex-presidente Hu Jintao que, com a expressão atônita, foi retirado à força do palco, onde estava sentado ao lado de Xi. Hu governou o país entre 2002 e 2012, consultando os pares, ao contrário de seu sucessor.

Presidente da China, Xi Jinping (E), observa enquanto o ex-presidente Hu Jintao é removido do congresso do Partido Comunista  Foto: Noel Celis / AFP - 22/10/2022

Wang Yang, ex-líder da Província de Guangdong, também foi expurgado. Ele havia declarado: “Precisamos erradicar a ideia de que a felicidade é um presente do partido e do governo”. Li Keqiang foi substituído por Li Qiang, responsável pelo lockdown de Xangai – e sem experiência no governo central. Motor da economia chinesa, Xangai viu seu PIB encolher 13,7% no segundo trimestre. A política de covid zero é uma amostra da prioridade que Xi dá ao próprio poder, em detrimento dos interesses do país.

Xi identificou o surgimento do vírus na China como ameaça a seu plano de perpetuação no poder. Muitos chineses não confiam nas vacinas do país e Xi se recusa a importar vacinas estrangeiras. Daí os contínuos lockdowns.

Outra amostra é a ofensiva regulatória contra empresas de tecnologia chinesas, que perderam valor e fatias de mercado, porque estavam se tornando poderosas demais, na visão do regime. Sob Xi, as estatais voltaram a ter preferência, beneficiadas pela injeção de bilhões de dólares.

Essa política industrial, como bem sabemos no Brasil, incentiva ineficiências e freará a inovação na China. Os EUA passaram a impor restrições ao uso, pelos chineses, de programas de design apoiado por computador, patenteados pelos americanos, que possibilitam a produção de equipamentos para semicondutores.

O avanço da China parecia nos obrigar a reescrever os manuais, que associam liberdade política a desenvolvimento econômico e tecnológico. O experimento de Xi pode mostrar que os manuais estavam certos.

O Congresso do Partido Comunista cristalizou a tendência dos últimos anos: o sacrifício da eficiência econômica, gerencial e tecnológica em favor da concentração de poder em torno de Xi Jinping. Como previsto, Xi assegurou o terceiro mandato de cinco anos, abolido por Deng Xiaoping em 1982 para, nas palavras do líder reformista, “evitar o caos que pode acontecer quando se tem um líder autoritário único, como a China teve com Mao Tsé-tung”.

Honra só alcançada por Mao e Deng, o congresso aprovou a inscrição do “Pensamento de Xi Jinping” na Carta do Partido, como se fez na Constituição, em 2017. As sete cadeiras do Comitê Permanente do Politburo, núcleo duro do regime, foram preenchidas com dirigentes leais a Xi. As nomeações mostram que Xi não aceita sucessor. O mais jovem, Ding Xuexiang, terá 65 em 2027, ao fim do terceiro mandato.

O premiê Li Keqiang, possível sucessor, perdeu o cargo. Li havia dito em agosto: “A reforma e a abertura continuarão a avançar. O Rio Amarelo e o Rio Yang-tse-kiang não vão correr para trás”. Li é afilhado político do ex-presidente Hu Jintao que, com a expressão atônita, foi retirado à força do palco, onde estava sentado ao lado de Xi. Hu governou o país entre 2002 e 2012, consultando os pares, ao contrário de seu sucessor.

Presidente da China, Xi Jinping (E), observa enquanto o ex-presidente Hu Jintao é removido do congresso do Partido Comunista  Foto: Noel Celis / AFP - 22/10/2022

Wang Yang, ex-líder da Província de Guangdong, também foi expurgado. Ele havia declarado: “Precisamos erradicar a ideia de que a felicidade é um presente do partido e do governo”. Li Keqiang foi substituído por Li Qiang, responsável pelo lockdown de Xangai – e sem experiência no governo central. Motor da economia chinesa, Xangai viu seu PIB encolher 13,7% no segundo trimestre. A política de covid zero é uma amostra da prioridade que Xi dá ao próprio poder, em detrimento dos interesses do país.

Xi identificou o surgimento do vírus na China como ameaça a seu plano de perpetuação no poder. Muitos chineses não confiam nas vacinas do país e Xi se recusa a importar vacinas estrangeiras. Daí os contínuos lockdowns.

Outra amostra é a ofensiva regulatória contra empresas de tecnologia chinesas, que perderam valor e fatias de mercado, porque estavam se tornando poderosas demais, na visão do regime. Sob Xi, as estatais voltaram a ter preferência, beneficiadas pela injeção de bilhões de dólares.

Essa política industrial, como bem sabemos no Brasil, incentiva ineficiências e freará a inovação na China. Os EUA passaram a impor restrições ao uso, pelos chineses, de programas de design apoiado por computador, patenteados pelos americanos, que possibilitam a produção de equipamentos para semicondutores.

O avanço da China parecia nos obrigar a reescrever os manuais, que associam liberdade política a desenvolvimento econômico e tecnológico. O experimento de Xi pode mostrar que os manuais estavam certos.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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