A Otan está imersa em um dilema praticamente insolúvel sobre a entrada da Ucrânia na aliança. “O futuro da Ucrânia está na Otan”, afirma o comunicado final da cúpula. A aliança decidiu isentar o país do Plano de Ação para Adesão, um processo de adaptação institucional e militar que pode levar décadas, e criou um conselho para a Ucrânia. Entretanto, o convite virá “quando os aliados concordarem e as condições forem cumpridas”.
Promessas vagas podem ter consequências nefastas. Na cúpula de 2008 em Bucareste, a Otan anunciou que a Geórgia e a Ucrânia se tornariam membros em um futuro indeterminado. Antes que recebessem o escudo da aliança, Vladimir Putin ordenou as invasões da Geórgia em 2008 e da Ucrânia em 2014 e 2022.
Agora, a Otan não consegue definir como seria uma janela de oportunidade para a entrada dos dois países, ambos com 20% de seus territórios ocupados pela Rússia. Só há três maneiras de eles se tornarem membros da Otan sem que a aliança entre em guerra direta com a Rússia, o que ela quer evitar a todo custo.
A primeira seria a fórmula alemã: a Alemanha Ocidental participou da criação da Otan, e a Oriental, do Pacto de Varsóvia, dominado pelos soviéticos. Isso implicaria a Ucrânia ser dividida e renunciar ao território ocupado pela Rússia. Seria um prêmio à agressão de Putin e um terrível destino para os ucranianos em território controlado pelos russos.
A segunda seria flexibilizar o Artigo 5, que prevê que o ataque a um membro desencadeia sua defesa por todos os outros. O mecanismo ficaria relativizado pelo front móvel do conflito. Isso esvaziaria a aliança, cujo poder de dissuasão está fincado na defesa mútua de fronteiras fixas e inegociáveis.
A terceira é o fim da guerra. Mas, sendo assim, qual o incentivo de Putin de aceitar até mesmo um cessar-fogo para reagrupar suas forças e atacar novamente, se nesse intervalo a Ucrânia poderia ficar sob o guarda-chuva da Otan, elevando drasticamente o custo de sua ocupação futura?
Em resposta a esse dilema, os membros da Otan decidiram fornecer mais armas e munição, como as bombas de fragmentação americanas para desbastar as trincheiras russas; mais dezenas de tanques Leopard 1 alemães; os mísseis Storm Shadow britânicos e Scalp franceses, com 250 km de alcance, para atingir a retaguarda das linhas de defesa; e o treinamento de pilotos para os caças F-16.
Tudo isso será suficiente para derrotar a Rússia? Expulsar a Rússia do território ucraniano será suficiente para pôr fim ao expansionismo russo? Ou será necessário quebrar a espinha dorsal do regime em território russo, como foi com a Alemanha, Itália e Japão, na 2.ª Guerra Mundial?
Guerras nunca produzem escolhas fáceis.