Donald Trump, Elon Musk e Binyamin Netanyahu agem com base na premissa de que estão cercados de inimigos que conspiram para destruí-los. A premissa é falsa – ou, no caso de Israel, não é inescapável. Mas tem tudo para se tornar uma profecia autorrealizada.
As tarifas adicionais que Trump impôs ao Canadá e à China prejudicam os agricultores do Meio Oeste, região vital para a competitividade eleitoral dos republicanos. De duas formas: com a retaliação chinesa contra as commodities produzidas na região e com o encarecimento do potássio, ingrediente-chave dos fertilizantes cuja importação do Canadá representa 80% do consumo americano.
A dominância do dólar está associada ao déficit comercial. Os excedentes gerados pelos superávits dos exportadores para os EUA formam reservas em dólar e sustentam a demanda pela moeda americana. O dólar forte torna as importações mais baratas, aumenta o poder de compra e a prosperidade dos americanos.
O fechamento da USAID põe fim às compras de alimentos, veículos, tendas, equipamentos e outros bens produzidos nos EUA pelas entidades financiadas pela agência ao redor do mundo, como parte da política de repatriar os recursos.
As demissões que Musk está capitaneando no governo federal afetam o Departamento de Comércio, que perderá a capacidade de promover as exportações e apoiar as empresas exportadoras.
O efeito prático de todas essas políticas se voltará contra Trump.
As atitudes hostis e arrogantes de Trump e de Musk perante o mundo já prejudicam a Tesla na Europa. As vendas da Tesla caíram em janeiro 59% na Alemanha, ao mesmo tempo em que as dos carros elétricos em geral – ou seja, dos concorrentes chineses – aumentaram 50%.
A fábrica da montadora na Europa fica na Alemanha, onde o partido neonazista Alternativa para a Alemanha é apoiado por Musk. Na França, as vendas caíram 63%; na Noruega, 38% e no Reino Unido, 8%.
A ideia de Trump de deslocar os palestinos da Faixa de Gaza para reconstruí-la reforça sua atitude abusiva. O argumento é ultrajante: Israel tornou a Faixa de Gaza inabitável (em resposta ao ataque do Hamas), logo os palestinos não podem viver lá, e o lugar deve ser transformado em um paraíso imobiliário, para outros, que possam bancar. Ou seja, uma mescla de limpeza étnica com gentrificação.
A indignação diante do plano inviabiliza politicamente a normalização das relações entre Israel e seus vizinhos árabes. Significa que o país continuará cercado de inimigos, alvo de ataques terroristas, e gastando 6,5% de seu PIB com defesa. E que continuarão tolhidos o seu comércio, investimentos e turismo com a região.