É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Vitória trabalhista no Reino Unido é alento diante do abuso de poder que assola o Ocidente


Eleições britânicas equivaleram a um plebiscito acerca dos últimos 14 anos de governos conservadores

Por Lourival Sant'Anna

A vitória dos trabalhistas no Reino Unido representa um alento, diante da onda de nativismo, conservadorismo e abuso de poder que assola as democracias ocidentais. As eleições britânicas equivaleram a um plebiscito acerca dos últimos 14 anos de governos conservadores, associados a essas tendências destrutivas.

O Reino Unido foi a primeira democracia ocidental a sucumbir ao radical populismo, materializado na vitória do plebiscito do Brexit em 2016. Nesse sentido, talvez seja natural que se torne o primeiro país a superar essa onda, embora não haja garantias de que o ciclo tenha terminado: dependerá do êxito do novo governo.

Essa não é uma leitura que privilegia a “esquerda” em detrimento da “direita”. Sob a liderança de Keir Starmer, o Partido Trabalhista é fiscalmente responsável e não estatista, diferentemente da esquerda brasileira, por exemplo. Assim como aconteceu nos Estados Unidos, na França e na Itália, a direita britânica foi capturada por um líder que desvirtua os seus valores tradicionais.

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O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, fala em Downing Street. O Partido Trabalhista britânico chegou ao poder na sexta-feira, depois de mais de uma década na oposição Foto: David Cliff/AP

Boris Johnson foi sucedido por dois primeiros-ministros inexpressivos, Liz Truss e Rishi Sunak, incapazes de reverter os danos que o líder populista causou ao partido e ao país. Diante do flerte de Johnson com o nativismo, os conservadores foram prejudicados pela concorrência com o partido Reform UK, de Nigel Farage, um ultranacionalista que floresceu na campanha pelo Brexit, em 2016.

Os trabalhistas conquistaram 412 cadeiras, no Parlamento de 650. A bancada de 122 cadeiras é a menor da história moderna do Partido Conservador. A principal causa da vitória, a estagnação econômica, é ao mesmo tempo o maior desafio à longevidade do domínio trabalhista.

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O poder de compra do britânico médio é menor hoje do que há cinco anos, quando o Parlamento substituído agora foi eleito. Fazia 60 anos que isso não acontecia. Claro que, no meio do caminho, houve o Brexit, a pandemia e o choque gerado pela guerra na Ucrânia e sanções contra o petróleo e gás da Rússia.

A economia cresceu 0,1% em 2023 e a inflação foi de 4% — uma combinação perversa. Com déficit público de 4,4%, o novo governo não tem margem para estimular a atividade econômica. Pode ter de elevar impostos.

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Uma das opções é incrementar a produtividade. O maior obstáculo é o envelhecimento da população: um em cada quatro britânicos tem mais de 60 anos, e a idade média é de 40.

O caminho mais certeiro para injetar dinamismo na economia e na sociedade britânicas seria a volta do país à União Europeia (UE). Esse movimento será bloqueado por Bruxelas no horizonte visível, por causa do risco de retorno dos conservadores ao poder, e de repetição do trauma do Brexit.

Tudo isso é importante, para a sustentação no tempo do significado histórico da derrota conservadora. Por ora, ela significa punição da conduta permissiva do partido com seu líder máximo. Inversamente, ela valoriza a honestidade e respeitabilidade das instituições.

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Johnson mentiu para os eleitores acerca dos ganhos ilusórios do Brexit; violou, com as festinhas no gabinete, as regras da pandemia, que impediram cidadãos comuns de se despedir de seus entes queridos; induziu a então rainha Elizabeth a suspender o Parlamento para facilitar a aprovação da saída da UE, o que foi revertido pela Corte Suprema, num constrangimento monumental para a monarquia — para ficar em apenas três exemplos.

Além disso, a vitória trabalhista reverte um processo de potencial desmembramento do Reino Unido. O partido venceu em todas as regiões que formam a União: Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, além da Inglaterra.

O Brexit e a liderança errática dos conservadores estimularam o movimento de independência da Escócia. A vitória trabalhista veio acompanhada da derrota do Partido Nacional Escocês, que defende a independência. As regiões se sentirão muito mais parte do governo em Londres do que antes: as bancadas escocesa e galesa passam a representar 15,5% da maioria trabalhista; antes, elas respondiam por apenas 5,4% da maioria conservadora.

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Na Irlanda do Norte, os eleitores em favor da união com o Reino Unido se dividiram, enfraquecendo essa corrente, chamada de unionista. Já os que apoiam a separação da região e absorção pela República da Irlanda, chamados republicanos, continuam unidos em torno do Sinn Féin. Entretanto, o antigo braço político do extinto Exército Republicano Irlandês (IRA) manteve o discurso moderado e não fez campanha em favor da separação.

No balanço de todos esses resultados, o Reino Unido emerge mais unido nessa eleição. E sua democracia, mais forte.

A vitória dos trabalhistas no Reino Unido representa um alento, diante da onda de nativismo, conservadorismo e abuso de poder que assola as democracias ocidentais. As eleições britânicas equivaleram a um plebiscito acerca dos últimos 14 anos de governos conservadores, associados a essas tendências destrutivas.

O Reino Unido foi a primeira democracia ocidental a sucumbir ao radical populismo, materializado na vitória do plebiscito do Brexit em 2016. Nesse sentido, talvez seja natural que se torne o primeiro país a superar essa onda, embora não haja garantias de que o ciclo tenha terminado: dependerá do êxito do novo governo.

Essa não é uma leitura que privilegia a “esquerda” em detrimento da “direita”. Sob a liderança de Keir Starmer, o Partido Trabalhista é fiscalmente responsável e não estatista, diferentemente da esquerda brasileira, por exemplo. Assim como aconteceu nos Estados Unidos, na França e na Itália, a direita britânica foi capturada por um líder que desvirtua os seus valores tradicionais.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, fala em Downing Street. O Partido Trabalhista britânico chegou ao poder na sexta-feira, depois de mais de uma década na oposição Foto: David Cliff/AP

Boris Johnson foi sucedido por dois primeiros-ministros inexpressivos, Liz Truss e Rishi Sunak, incapazes de reverter os danos que o líder populista causou ao partido e ao país. Diante do flerte de Johnson com o nativismo, os conservadores foram prejudicados pela concorrência com o partido Reform UK, de Nigel Farage, um ultranacionalista que floresceu na campanha pelo Brexit, em 2016.

Os trabalhistas conquistaram 412 cadeiras, no Parlamento de 650. A bancada de 122 cadeiras é a menor da história moderna do Partido Conservador. A principal causa da vitória, a estagnação econômica, é ao mesmo tempo o maior desafio à longevidade do domínio trabalhista.

O poder de compra do britânico médio é menor hoje do que há cinco anos, quando o Parlamento substituído agora foi eleito. Fazia 60 anos que isso não acontecia. Claro que, no meio do caminho, houve o Brexit, a pandemia e o choque gerado pela guerra na Ucrânia e sanções contra o petróleo e gás da Rússia.

A economia cresceu 0,1% em 2023 e a inflação foi de 4% — uma combinação perversa. Com déficit público de 4,4%, o novo governo não tem margem para estimular a atividade econômica. Pode ter de elevar impostos.

Uma das opções é incrementar a produtividade. O maior obstáculo é o envelhecimento da população: um em cada quatro britânicos tem mais de 60 anos, e a idade média é de 40.

O caminho mais certeiro para injetar dinamismo na economia e na sociedade britânicas seria a volta do país à União Europeia (UE). Esse movimento será bloqueado por Bruxelas no horizonte visível, por causa do risco de retorno dos conservadores ao poder, e de repetição do trauma do Brexit.

Tudo isso é importante, para a sustentação no tempo do significado histórico da derrota conservadora. Por ora, ela significa punição da conduta permissiva do partido com seu líder máximo. Inversamente, ela valoriza a honestidade e respeitabilidade das instituições.

Johnson mentiu para os eleitores acerca dos ganhos ilusórios do Brexit; violou, com as festinhas no gabinete, as regras da pandemia, que impediram cidadãos comuns de se despedir de seus entes queridos; induziu a então rainha Elizabeth a suspender o Parlamento para facilitar a aprovação da saída da UE, o que foi revertido pela Corte Suprema, num constrangimento monumental para a monarquia — para ficar em apenas três exemplos.

Além disso, a vitória trabalhista reverte um processo de potencial desmembramento do Reino Unido. O partido venceu em todas as regiões que formam a União: Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, além da Inglaterra.

O Brexit e a liderança errática dos conservadores estimularam o movimento de independência da Escócia. A vitória trabalhista veio acompanhada da derrota do Partido Nacional Escocês, que defende a independência. As regiões se sentirão muito mais parte do governo em Londres do que antes: as bancadas escocesa e galesa passam a representar 15,5% da maioria trabalhista; antes, elas respondiam por apenas 5,4% da maioria conservadora.

Na Irlanda do Norte, os eleitores em favor da união com o Reino Unido se dividiram, enfraquecendo essa corrente, chamada de unionista. Já os que apoiam a separação da região e absorção pela República da Irlanda, chamados republicanos, continuam unidos em torno do Sinn Féin. Entretanto, o antigo braço político do extinto Exército Republicano Irlandês (IRA) manteve o discurso moderado e não fez campanha em favor da separação.

No balanço de todos esses resultados, o Reino Unido emerge mais unido nessa eleição. E sua democracia, mais forte.

A vitória dos trabalhistas no Reino Unido representa um alento, diante da onda de nativismo, conservadorismo e abuso de poder que assola as democracias ocidentais. As eleições britânicas equivaleram a um plebiscito acerca dos últimos 14 anos de governos conservadores, associados a essas tendências destrutivas.

O Reino Unido foi a primeira democracia ocidental a sucumbir ao radical populismo, materializado na vitória do plebiscito do Brexit em 2016. Nesse sentido, talvez seja natural que se torne o primeiro país a superar essa onda, embora não haja garantias de que o ciclo tenha terminado: dependerá do êxito do novo governo.

Essa não é uma leitura que privilegia a “esquerda” em detrimento da “direita”. Sob a liderança de Keir Starmer, o Partido Trabalhista é fiscalmente responsável e não estatista, diferentemente da esquerda brasileira, por exemplo. Assim como aconteceu nos Estados Unidos, na França e na Itália, a direita britânica foi capturada por um líder que desvirtua os seus valores tradicionais.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, fala em Downing Street. O Partido Trabalhista britânico chegou ao poder na sexta-feira, depois de mais de uma década na oposição Foto: David Cliff/AP

Boris Johnson foi sucedido por dois primeiros-ministros inexpressivos, Liz Truss e Rishi Sunak, incapazes de reverter os danos que o líder populista causou ao partido e ao país. Diante do flerte de Johnson com o nativismo, os conservadores foram prejudicados pela concorrência com o partido Reform UK, de Nigel Farage, um ultranacionalista que floresceu na campanha pelo Brexit, em 2016.

Os trabalhistas conquistaram 412 cadeiras, no Parlamento de 650. A bancada de 122 cadeiras é a menor da história moderna do Partido Conservador. A principal causa da vitória, a estagnação econômica, é ao mesmo tempo o maior desafio à longevidade do domínio trabalhista.

O poder de compra do britânico médio é menor hoje do que há cinco anos, quando o Parlamento substituído agora foi eleito. Fazia 60 anos que isso não acontecia. Claro que, no meio do caminho, houve o Brexit, a pandemia e o choque gerado pela guerra na Ucrânia e sanções contra o petróleo e gás da Rússia.

A economia cresceu 0,1% em 2023 e a inflação foi de 4% — uma combinação perversa. Com déficit público de 4,4%, o novo governo não tem margem para estimular a atividade econômica. Pode ter de elevar impostos.

Uma das opções é incrementar a produtividade. O maior obstáculo é o envelhecimento da população: um em cada quatro britânicos tem mais de 60 anos, e a idade média é de 40.

O caminho mais certeiro para injetar dinamismo na economia e na sociedade britânicas seria a volta do país à União Europeia (UE). Esse movimento será bloqueado por Bruxelas no horizonte visível, por causa do risco de retorno dos conservadores ao poder, e de repetição do trauma do Brexit.

Tudo isso é importante, para a sustentação no tempo do significado histórico da derrota conservadora. Por ora, ela significa punição da conduta permissiva do partido com seu líder máximo. Inversamente, ela valoriza a honestidade e respeitabilidade das instituições.

Johnson mentiu para os eleitores acerca dos ganhos ilusórios do Brexit; violou, com as festinhas no gabinete, as regras da pandemia, que impediram cidadãos comuns de se despedir de seus entes queridos; induziu a então rainha Elizabeth a suspender o Parlamento para facilitar a aprovação da saída da UE, o que foi revertido pela Corte Suprema, num constrangimento monumental para a monarquia — para ficar em apenas três exemplos.

Além disso, a vitória trabalhista reverte um processo de potencial desmembramento do Reino Unido. O partido venceu em todas as regiões que formam a União: Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, além da Inglaterra.

O Brexit e a liderança errática dos conservadores estimularam o movimento de independência da Escócia. A vitória trabalhista veio acompanhada da derrota do Partido Nacional Escocês, que defende a independência. As regiões se sentirão muito mais parte do governo em Londres do que antes: as bancadas escocesa e galesa passam a representar 15,5% da maioria trabalhista; antes, elas respondiam por apenas 5,4% da maioria conservadora.

Na Irlanda do Norte, os eleitores em favor da união com o Reino Unido se dividiram, enfraquecendo essa corrente, chamada de unionista. Já os que apoiam a separação da região e absorção pela República da Irlanda, chamados republicanos, continuam unidos em torno do Sinn Féin. Entretanto, o antigo braço político do extinto Exército Republicano Irlandês (IRA) manteve o discurso moderado e não fez campanha em favor da separação.

No balanço de todos esses resultados, o Reino Unido emerge mais unido nessa eleição. E sua democracia, mais forte.

A vitória dos trabalhistas no Reino Unido representa um alento, diante da onda de nativismo, conservadorismo e abuso de poder que assola as democracias ocidentais. As eleições britânicas equivaleram a um plebiscito acerca dos últimos 14 anos de governos conservadores, associados a essas tendências destrutivas.

O Reino Unido foi a primeira democracia ocidental a sucumbir ao radical populismo, materializado na vitória do plebiscito do Brexit em 2016. Nesse sentido, talvez seja natural que se torne o primeiro país a superar essa onda, embora não haja garantias de que o ciclo tenha terminado: dependerá do êxito do novo governo.

Essa não é uma leitura que privilegia a “esquerda” em detrimento da “direita”. Sob a liderança de Keir Starmer, o Partido Trabalhista é fiscalmente responsável e não estatista, diferentemente da esquerda brasileira, por exemplo. Assim como aconteceu nos Estados Unidos, na França e na Itália, a direita britânica foi capturada por um líder que desvirtua os seus valores tradicionais.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, fala em Downing Street. O Partido Trabalhista britânico chegou ao poder na sexta-feira, depois de mais de uma década na oposição Foto: David Cliff/AP

Boris Johnson foi sucedido por dois primeiros-ministros inexpressivos, Liz Truss e Rishi Sunak, incapazes de reverter os danos que o líder populista causou ao partido e ao país. Diante do flerte de Johnson com o nativismo, os conservadores foram prejudicados pela concorrência com o partido Reform UK, de Nigel Farage, um ultranacionalista que floresceu na campanha pelo Brexit, em 2016.

Os trabalhistas conquistaram 412 cadeiras, no Parlamento de 650. A bancada de 122 cadeiras é a menor da história moderna do Partido Conservador. A principal causa da vitória, a estagnação econômica, é ao mesmo tempo o maior desafio à longevidade do domínio trabalhista.

O poder de compra do britânico médio é menor hoje do que há cinco anos, quando o Parlamento substituído agora foi eleito. Fazia 60 anos que isso não acontecia. Claro que, no meio do caminho, houve o Brexit, a pandemia e o choque gerado pela guerra na Ucrânia e sanções contra o petróleo e gás da Rússia.

A economia cresceu 0,1% em 2023 e a inflação foi de 4% — uma combinação perversa. Com déficit público de 4,4%, o novo governo não tem margem para estimular a atividade econômica. Pode ter de elevar impostos.

Uma das opções é incrementar a produtividade. O maior obstáculo é o envelhecimento da população: um em cada quatro britânicos tem mais de 60 anos, e a idade média é de 40.

O caminho mais certeiro para injetar dinamismo na economia e na sociedade britânicas seria a volta do país à União Europeia (UE). Esse movimento será bloqueado por Bruxelas no horizonte visível, por causa do risco de retorno dos conservadores ao poder, e de repetição do trauma do Brexit.

Tudo isso é importante, para a sustentação no tempo do significado histórico da derrota conservadora. Por ora, ela significa punição da conduta permissiva do partido com seu líder máximo. Inversamente, ela valoriza a honestidade e respeitabilidade das instituições.

Johnson mentiu para os eleitores acerca dos ganhos ilusórios do Brexit; violou, com as festinhas no gabinete, as regras da pandemia, que impediram cidadãos comuns de se despedir de seus entes queridos; induziu a então rainha Elizabeth a suspender o Parlamento para facilitar a aprovação da saída da UE, o que foi revertido pela Corte Suprema, num constrangimento monumental para a monarquia — para ficar em apenas três exemplos.

Além disso, a vitória trabalhista reverte um processo de potencial desmembramento do Reino Unido. O partido venceu em todas as regiões que formam a União: Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, além da Inglaterra.

O Brexit e a liderança errática dos conservadores estimularam o movimento de independência da Escócia. A vitória trabalhista veio acompanhada da derrota do Partido Nacional Escocês, que defende a independência. As regiões se sentirão muito mais parte do governo em Londres do que antes: as bancadas escocesa e galesa passam a representar 15,5% da maioria trabalhista; antes, elas respondiam por apenas 5,4% da maioria conservadora.

Na Irlanda do Norte, os eleitores em favor da união com o Reino Unido se dividiram, enfraquecendo essa corrente, chamada de unionista. Já os que apoiam a separação da região e absorção pela República da Irlanda, chamados republicanos, continuam unidos em torno do Sinn Féin. Entretanto, o antigo braço político do extinto Exército Republicano Irlandês (IRA) manteve o discurso moderado e não fez campanha em favor da separação.

No balanço de todos esses resultados, o Reino Unido emerge mais unido nessa eleição. E sua democracia, mais forte.

A vitória dos trabalhistas no Reino Unido representa um alento, diante da onda de nativismo, conservadorismo e abuso de poder que assola as democracias ocidentais. As eleições britânicas equivaleram a um plebiscito acerca dos últimos 14 anos de governos conservadores, associados a essas tendências destrutivas.

O Reino Unido foi a primeira democracia ocidental a sucumbir ao radical populismo, materializado na vitória do plebiscito do Brexit em 2016. Nesse sentido, talvez seja natural que se torne o primeiro país a superar essa onda, embora não haja garantias de que o ciclo tenha terminado: dependerá do êxito do novo governo.

Essa não é uma leitura que privilegia a “esquerda” em detrimento da “direita”. Sob a liderança de Keir Starmer, o Partido Trabalhista é fiscalmente responsável e não estatista, diferentemente da esquerda brasileira, por exemplo. Assim como aconteceu nos Estados Unidos, na França e na Itália, a direita britânica foi capturada por um líder que desvirtua os seus valores tradicionais.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, fala em Downing Street. O Partido Trabalhista britânico chegou ao poder na sexta-feira, depois de mais de uma década na oposição Foto: David Cliff/AP

Boris Johnson foi sucedido por dois primeiros-ministros inexpressivos, Liz Truss e Rishi Sunak, incapazes de reverter os danos que o líder populista causou ao partido e ao país. Diante do flerte de Johnson com o nativismo, os conservadores foram prejudicados pela concorrência com o partido Reform UK, de Nigel Farage, um ultranacionalista que floresceu na campanha pelo Brexit, em 2016.

Os trabalhistas conquistaram 412 cadeiras, no Parlamento de 650. A bancada de 122 cadeiras é a menor da história moderna do Partido Conservador. A principal causa da vitória, a estagnação econômica, é ao mesmo tempo o maior desafio à longevidade do domínio trabalhista.

O poder de compra do britânico médio é menor hoje do que há cinco anos, quando o Parlamento substituído agora foi eleito. Fazia 60 anos que isso não acontecia. Claro que, no meio do caminho, houve o Brexit, a pandemia e o choque gerado pela guerra na Ucrânia e sanções contra o petróleo e gás da Rússia.

A economia cresceu 0,1% em 2023 e a inflação foi de 4% — uma combinação perversa. Com déficit público de 4,4%, o novo governo não tem margem para estimular a atividade econômica. Pode ter de elevar impostos.

Uma das opções é incrementar a produtividade. O maior obstáculo é o envelhecimento da população: um em cada quatro britânicos tem mais de 60 anos, e a idade média é de 40.

O caminho mais certeiro para injetar dinamismo na economia e na sociedade britânicas seria a volta do país à União Europeia (UE). Esse movimento será bloqueado por Bruxelas no horizonte visível, por causa do risco de retorno dos conservadores ao poder, e de repetição do trauma do Brexit.

Tudo isso é importante, para a sustentação no tempo do significado histórico da derrota conservadora. Por ora, ela significa punição da conduta permissiva do partido com seu líder máximo. Inversamente, ela valoriza a honestidade e respeitabilidade das instituições.

Johnson mentiu para os eleitores acerca dos ganhos ilusórios do Brexit; violou, com as festinhas no gabinete, as regras da pandemia, que impediram cidadãos comuns de se despedir de seus entes queridos; induziu a então rainha Elizabeth a suspender o Parlamento para facilitar a aprovação da saída da UE, o que foi revertido pela Corte Suprema, num constrangimento monumental para a monarquia — para ficar em apenas três exemplos.

Além disso, a vitória trabalhista reverte um processo de potencial desmembramento do Reino Unido. O partido venceu em todas as regiões que formam a União: Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, além da Inglaterra.

O Brexit e a liderança errática dos conservadores estimularam o movimento de independência da Escócia. A vitória trabalhista veio acompanhada da derrota do Partido Nacional Escocês, que defende a independência. As regiões se sentirão muito mais parte do governo em Londres do que antes: as bancadas escocesa e galesa passam a representar 15,5% da maioria trabalhista; antes, elas respondiam por apenas 5,4% da maioria conservadora.

Na Irlanda do Norte, os eleitores em favor da união com o Reino Unido se dividiram, enfraquecendo essa corrente, chamada de unionista. Já os que apoiam a separação da região e absorção pela República da Irlanda, chamados republicanos, continuam unidos em torno do Sinn Féin. Entretanto, o antigo braço político do extinto Exército Republicano Irlandês (IRA) manteve o discurso moderado e não fez campanha em favor da separação.

No balanço de todos esses resultados, o Reino Unido emerge mais unido nessa eleição. E sua democracia, mais forte.

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