Passado um mês da eleição presidencial cercada por indícios de fraude, o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, promoveu uma mudança no seu gabinete de ministros que aponta para duas direções. Uma delas é que o aparato repressor chavista ganhará força e liberdade para agir contra a oposição. A segunda é que Maduro cada vez mais hipoteca lotes de poder dentro do Estado venezuelano para ganhar uma sobrevida à frente do regime.
São três os movimentos principais do líder bolivariano. O mais importante deles é a promoção de Diosdado Cabello, o cachorro louco do chavismo, ao posto de Ministro do Interior. Representante da linha-dura, Cabello sempre foi impopular e autoritário, desde os tempos de Hugo Chávez.
Tem contatos com a cúpula militar e laços com o narcotráfico. Era também um dos principais críticos do processo eleitoral organizado com a oposição e dos Acordos de Barbados negociados com a ajuda do Brasil, Colômbia, EUA e União Europeia.
Em paralelo, a vice-presidente Delcy Rodríguez, que acumulava também o cargo de ministra da Economia, assumirá a pasta do petróleo. Essa movimentação é importante porque Delcy foi responsáel por uma relativa liberalização da economia chavista desde a pandemia, que estabilizou os preços e promoveu algum crescimento econômico.
A mudança pode indicar que Maduro queira com isso racionalizar a colapsada indústria petroleira, que há anos vem sendo sucateada. Ao mesmo tempo, Delcy é vista dentro e fora do regime como alguém mais aberta a algum diálogo.
Por fim, o todo poderoso ministro da Defesa Vladimir Padrino segue no cargo, intocável. É ele que sustenta Maduro no poder e por ele passaria qualquer movimento para uma possível mudança de regime.
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Desde a eleição, a oposição tem acenado, em vão, com promessas de anistia e inclusão aos militares chavistas. Desde que chegou ao poder, em 2013, Maduro tem cedido aos generais uma participação cada vez maior no Estado e na economia, ao ponto que a Venezuela hoje, se parece bastante com a ditadura militar egípcia, onde os tentáculos dos militares se ampliaram tanto pelo país que quando um movimento popular tentou derrubá-los, durante a Primavera Árabe, o contragolpe veio rápido e reinstalou os generais no poder, com Abdel Fatah Al-Sissi.
Os militares venezuelanos também têm ligações com o contrabando e com o narcotráfico, e alguns estão na mira do Departamento de Justiça americano. De certa forma, eles dependem de Maduro e Maduro depende deles, numa simbiose fardada difícil de ser desmontada.
É nesse cenário que Diosdado Cabello ascende no chavismo. Maduro sabe que perdeu a eleição e é odiado pela população. Por isso, aposta na repressão. Ao colocar Cabello no comando do serviço secreto, o temível Sebin, e da polícia nacional, ele sinaliza que as coisas podem ficar bem mais feia do que estão desde 28 de julho, do ponto de vista da repressão.
Ao mesmo tempo, no entanto, Maduro pode estar criando corvos. Desde que Chávez ficou doente em 2012, havia uma disputa interna entre ele e Cabello para ver quem seria o sucessor do comandante. Maduro levou a melhor e desde então sempre teve cuidado com o rival. Cabello ao longo do regime madurista ocupou cargos no Parlamento e no partido chavista, o PSUV, mas nunca tinha tido uma posição proeminente de governo.
Agora as coisas mudaram, e ele pode furar os olhos do ‘super-bigode’.