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Análise|Como a morte de Sinwar afeta os objetivos de Israel contra o Hamas, o Hezbollah e o Irã


Pouco após a confirmação da morte de Sinwar, Netanyahu fez um pronunciamento no qual alertou os israelenses de que a guerra não acabou e ainda há objetivos a serem cumpridos pelos militares

Por Luiz Raatz
Atualização:

O Exército de Israel eliminou nesta quinta-feira, 17, Yahya Sinwar, líder do Hamas e arquiteto dos atentados de 7 de outubro. A morte do terrorista dá um impulso crucial para o premiê Binyamin Netanyahu cumprir seus objetivos políticos e estratégicos com a guerra na Faixa de Gaza e no Líbano. A perspectiva de um cessar-fogo, no entanto, segue distante.

Pouco após a confirmação da morte de Sinwar, Netanyahu fez um pronunciamento no qual alertou os israelenses de que a guerra não acabou e ainda há objetivos a serem cumpridos pelos militares. Entre eles, segundo o premiê, estaria a libertação dos cerca de 100 reféns ainda em poder do Hamas.

Desde 7 de outubro, Netanyahu trabalha em duas frentes. A primeira é estratégica e a segunda é política. O premiê acredita que precisa reestabelecer o poder de dissuasão israelense na Faixa de Gaza e na fronteira com o Líbano e enfraquecer o ‘eixo da resistência’ criado pelo Irã no Oriente Médio.

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Sinwar durante entrevista na Faixa de Gaza, em 2018 Foto: Khalil Hamra/AP

Com a brutalidade dos atentados de 7 de outubro, a sensação de segurança da sociedade israelense — fortalecida nos últimos anos pelo Iron Dome, as sucessivas operações militares contra o Hamas em Gaza e uma relativa calma na fronteira sul — foi estraçalhada.

Para reconstruir essa percepção, as autoridades israelenses apostaram numa resposta militar num grau agressivo o suficiente para sufocar o Hamas e outros grupos terroristas a um ponto que o grau da força utilizada os fizesse ‘pensar duas vezes’ antes de lançar qualquer ataque contra Israel. Em paralelo, a ofensiva também se propôs a desmantelar a estrutura militar e de comando do Hamas e do Hezbollah.

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Com isso, a invasão de Gaza extinguiu os nove batalhões de comando do Hamas e procurou inutilizar os túneis que o grupo usava, além de extinguir seus arsenais. As principais cabeças do grupo — Sinwar, Ismail Haniyeh e, ao que tudo indica, Mohamed Deif — foram eliminadas uma por uma.

Por fim, a ofensiva também intimidou os civis em Gaza. Em um ano de combates, 42 mil pessoas morreram, 90% da população do território foi deslocada dentro do território, que está a um ano sob bloqueio militar. Epidemias e desnutrição são uma ameaça constante.

Como o principal objetivo estratégico de Netanyahu reside numa demonstração inédita de força, os apelos por diplomacia e negociação, dentro e fora de Israel, surtiram pouco efeito. Após uma trégua no fim do ano passado que levou à libertação de um grupo de 105 pessoas. Desde então, no entanto, negociações intermediadas pelo Catar e o Egito pouco avançaram.

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Netanyahu acredita que a melhor ferramenta para libertar os reféns é a pressão militar. Hoje, ele voltou a acenar para essa estratégia. “Para aqueles que estão com os sequestrados: liberte-os e nós deixaremos vocês vivos”, declarou.

Muito provavelmente, a derrota do Hamas não virá acompanhada de uma retirada israelense de Gaza. O Exército deverá manter algum controle sobre o território nos próximos anos.

No Líbano, o golpe contra o Hezbollah também foi duro. Uma operação do Mossad contra alvos do grupo, baseada na explosão de pagers usados pelos militantes, acabou com a morte de 12 pessoas no mês passado. Na sequência, Israel matou o líder da milícia, Hassan Nasrallah, e invadiu o sul do Líbano.

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Com isso, o eixo da resistência, liderado pelo Irã, sofreu um duro golpe justamente na menina dos olhos do aiatolá Ali Khamenei.

O sucesso recente de Netanyahu em busca de seus objetivos estratégicos facilita também seus objetivos políticos. O primeiro, e mais óbvio, é a sua permanência no cargo. Há um ano, o premiê é alvo de protestos quase semanais pela sua renúncia, em razão das falhas internas de segurança que possibilitaram os atentados.

A coalizão que o apoia ameaça abandoná-lo caso ele priorize as negociações. Uma vez fora do cargo, Netanyahu perderia a imunidade contra os processos de corrupção contra ele na Justiça israelense.

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No front externo, os Estados Unidos pressionam o primeiro-ministro há um ano para criar um plano para o pós-Hamas na Faixa de Gaza, que incluiria passar o território para o controle de uma Autoridade Palestina revigorada e um compromisso, pelo menos verbal, para a conclusão dos acordos de Oslo e a criação de um Estado palestino.

Netanyahu é um inimigo de Oslo desde os anos 90, e há três décadas trabalha, às vezes abertamente, às vezes nas sombras, contra um Estado palestino. Não é de seu interesse que o Fatah volte a ganhar força política administrando Gaza, nem que o atual status quo na Cisjordânia, com assentamentos cada vez maiores de colonos judaicos, seja alterado.

Fortalecido por essas vitórias táticas contra o Hamas e o Hezbollah e com os EUA imersos em campanha eleitoral, Netanyahu está mais próximo desses objetivos estratégicos e militares. Não há por que ele desacelerar agora.

O Exército de Israel eliminou nesta quinta-feira, 17, Yahya Sinwar, líder do Hamas e arquiteto dos atentados de 7 de outubro. A morte do terrorista dá um impulso crucial para o premiê Binyamin Netanyahu cumprir seus objetivos políticos e estratégicos com a guerra na Faixa de Gaza e no Líbano. A perspectiva de um cessar-fogo, no entanto, segue distante.

Pouco após a confirmação da morte de Sinwar, Netanyahu fez um pronunciamento no qual alertou os israelenses de que a guerra não acabou e ainda há objetivos a serem cumpridos pelos militares. Entre eles, segundo o premiê, estaria a libertação dos cerca de 100 reféns ainda em poder do Hamas.

Desde 7 de outubro, Netanyahu trabalha em duas frentes. A primeira é estratégica e a segunda é política. O premiê acredita que precisa reestabelecer o poder de dissuasão israelense na Faixa de Gaza e na fronteira com o Líbano e enfraquecer o ‘eixo da resistência’ criado pelo Irã no Oriente Médio.

Sinwar durante entrevista na Faixa de Gaza, em 2018 Foto: Khalil Hamra/AP

Com a brutalidade dos atentados de 7 de outubro, a sensação de segurança da sociedade israelense — fortalecida nos últimos anos pelo Iron Dome, as sucessivas operações militares contra o Hamas em Gaza e uma relativa calma na fronteira sul — foi estraçalhada.

Para reconstruir essa percepção, as autoridades israelenses apostaram numa resposta militar num grau agressivo o suficiente para sufocar o Hamas e outros grupos terroristas a um ponto que o grau da força utilizada os fizesse ‘pensar duas vezes’ antes de lançar qualquer ataque contra Israel. Em paralelo, a ofensiva também se propôs a desmantelar a estrutura militar e de comando do Hamas e do Hezbollah.

Com isso, a invasão de Gaza extinguiu os nove batalhões de comando do Hamas e procurou inutilizar os túneis que o grupo usava, além de extinguir seus arsenais. As principais cabeças do grupo — Sinwar, Ismail Haniyeh e, ao que tudo indica, Mohamed Deif — foram eliminadas uma por uma.

Por fim, a ofensiva também intimidou os civis em Gaza. Em um ano de combates, 42 mil pessoas morreram, 90% da população do território foi deslocada dentro do território, que está a um ano sob bloqueio militar. Epidemias e desnutrição são uma ameaça constante.

Como o principal objetivo estratégico de Netanyahu reside numa demonstração inédita de força, os apelos por diplomacia e negociação, dentro e fora de Israel, surtiram pouco efeito. Após uma trégua no fim do ano passado que levou à libertação de um grupo de 105 pessoas. Desde então, no entanto, negociações intermediadas pelo Catar e o Egito pouco avançaram.

Netanyahu acredita que a melhor ferramenta para libertar os reféns é a pressão militar. Hoje, ele voltou a acenar para essa estratégia. “Para aqueles que estão com os sequestrados: liberte-os e nós deixaremos vocês vivos”, declarou.

Muito provavelmente, a derrota do Hamas não virá acompanhada de uma retirada israelense de Gaza. O Exército deverá manter algum controle sobre o território nos próximos anos.

No Líbano, o golpe contra o Hezbollah também foi duro. Uma operação do Mossad contra alvos do grupo, baseada na explosão de pagers usados pelos militantes, acabou com a morte de 12 pessoas no mês passado. Na sequência, Israel matou o líder da milícia, Hassan Nasrallah, e invadiu o sul do Líbano.

Com isso, o eixo da resistência, liderado pelo Irã, sofreu um duro golpe justamente na menina dos olhos do aiatolá Ali Khamenei.

O sucesso recente de Netanyahu em busca de seus objetivos estratégicos facilita também seus objetivos políticos. O primeiro, e mais óbvio, é a sua permanência no cargo. Há um ano, o premiê é alvo de protestos quase semanais pela sua renúncia, em razão das falhas internas de segurança que possibilitaram os atentados.

A coalizão que o apoia ameaça abandoná-lo caso ele priorize as negociações. Uma vez fora do cargo, Netanyahu perderia a imunidade contra os processos de corrupção contra ele na Justiça israelense.

No front externo, os Estados Unidos pressionam o primeiro-ministro há um ano para criar um plano para o pós-Hamas na Faixa de Gaza, que incluiria passar o território para o controle de uma Autoridade Palestina revigorada e um compromisso, pelo menos verbal, para a conclusão dos acordos de Oslo e a criação de um Estado palestino.

Netanyahu é um inimigo de Oslo desde os anos 90, e há três décadas trabalha, às vezes abertamente, às vezes nas sombras, contra um Estado palestino. Não é de seu interesse que o Fatah volte a ganhar força política administrando Gaza, nem que o atual status quo na Cisjordânia, com assentamentos cada vez maiores de colonos judaicos, seja alterado.

Fortalecido por essas vitórias táticas contra o Hamas e o Hezbollah e com os EUA imersos em campanha eleitoral, Netanyahu está mais próximo desses objetivos estratégicos e militares. Não há por que ele desacelerar agora.

O Exército de Israel eliminou nesta quinta-feira, 17, Yahya Sinwar, líder do Hamas e arquiteto dos atentados de 7 de outubro. A morte do terrorista dá um impulso crucial para o premiê Binyamin Netanyahu cumprir seus objetivos políticos e estratégicos com a guerra na Faixa de Gaza e no Líbano. A perspectiva de um cessar-fogo, no entanto, segue distante.

Pouco após a confirmação da morte de Sinwar, Netanyahu fez um pronunciamento no qual alertou os israelenses de que a guerra não acabou e ainda há objetivos a serem cumpridos pelos militares. Entre eles, segundo o premiê, estaria a libertação dos cerca de 100 reféns ainda em poder do Hamas.

Desde 7 de outubro, Netanyahu trabalha em duas frentes. A primeira é estratégica e a segunda é política. O premiê acredita que precisa reestabelecer o poder de dissuasão israelense na Faixa de Gaza e na fronteira com o Líbano e enfraquecer o ‘eixo da resistência’ criado pelo Irã no Oriente Médio.

Sinwar durante entrevista na Faixa de Gaza, em 2018 Foto: Khalil Hamra/AP

Com a brutalidade dos atentados de 7 de outubro, a sensação de segurança da sociedade israelense — fortalecida nos últimos anos pelo Iron Dome, as sucessivas operações militares contra o Hamas em Gaza e uma relativa calma na fronteira sul — foi estraçalhada.

Para reconstruir essa percepção, as autoridades israelenses apostaram numa resposta militar num grau agressivo o suficiente para sufocar o Hamas e outros grupos terroristas a um ponto que o grau da força utilizada os fizesse ‘pensar duas vezes’ antes de lançar qualquer ataque contra Israel. Em paralelo, a ofensiva também se propôs a desmantelar a estrutura militar e de comando do Hamas e do Hezbollah.

Com isso, a invasão de Gaza extinguiu os nove batalhões de comando do Hamas e procurou inutilizar os túneis que o grupo usava, além de extinguir seus arsenais. As principais cabeças do grupo — Sinwar, Ismail Haniyeh e, ao que tudo indica, Mohamed Deif — foram eliminadas uma por uma.

Por fim, a ofensiva também intimidou os civis em Gaza. Em um ano de combates, 42 mil pessoas morreram, 90% da população do território foi deslocada dentro do território, que está a um ano sob bloqueio militar. Epidemias e desnutrição são uma ameaça constante.

Como o principal objetivo estratégico de Netanyahu reside numa demonstração inédita de força, os apelos por diplomacia e negociação, dentro e fora de Israel, surtiram pouco efeito. Após uma trégua no fim do ano passado que levou à libertação de um grupo de 105 pessoas. Desde então, no entanto, negociações intermediadas pelo Catar e o Egito pouco avançaram.

Netanyahu acredita que a melhor ferramenta para libertar os reféns é a pressão militar. Hoje, ele voltou a acenar para essa estratégia. “Para aqueles que estão com os sequestrados: liberte-os e nós deixaremos vocês vivos”, declarou.

Muito provavelmente, a derrota do Hamas não virá acompanhada de uma retirada israelense de Gaza. O Exército deverá manter algum controle sobre o território nos próximos anos.

No Líbano, o golpe contra o Hezbollah também foi duro. Uma operação do Mossad contra alvos do grupo, baseada na explosão de pagers usados pelos militantes, acabou com a morte de 12 pessoas no mês passado. Na sequência, Israel matou o líder da milícia, Hassan Nasrallah, e invadiu o sul do Líbano.

Com isso, o eixo da resistência, liderado pelo Irã, sofreu um duro golpe justamente na menina dos olhos do aiatolá Ali Khamenei.

O sucesso recente de Netanyahu em busca de seus objetivos estratégicos facilita também seus objetivos políticos. O primeiro, e mais óbvio, é a sua permanência no cargo. Há um ano, o premiê é alvo de protestos quase semanais pela sua renúncia, em razão das falhas internas de segurança que possibilitaram os atentados.

A coalizão que o apoia ameaça abandoná-lo caso ele priorize as negociações. Uma vez fora do cargo, Netanyahu perderia a imunidade contra os processos de corrupção contra ele na Justiça israelense.

No front externo, os Estados Unidos pressionam o primeiro-ministro há um ano para criar um plano para o pós-Hamas na Faixa de Gaza, que incluiria passar o território para o controle de uma Autoridade Palestina revigorada e um compromisso, pelo menos verbal, para a conclusão dos acordos de Oslo e a criação de um Estado palestino.

Netanyahu é um inimigo de Oslo desde os anos 90, e há três décadas trabalha, às vezes abertamente, às vezes nas sombras, contra um Estado palestino. Não é de seu interesse que o Fatah volte a ganhar força política administrando Gaza, nem que o atual status quo na Cisjordânia, com assentamentos cada vez maiores de colonos judaicos, seja alterado.

Fortalecido por essas vitórias táticas contra o Hamas e o Hezbollah e com os EUA imersos em campanha eleitoral, Netanyahu está mais próximo desses objetivos estratégicos e militares. Não há por que ele desacelerar agora.

Análise por Luiz Raatz

É jornalista formado pela PUC-SP. Subeditor de internacional do Estadão, tem 20 anos de experiência em coberturas na América Latina, Estados Unidos e Oriente Médio.

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