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Opinião|O que Kennedy e a crise dos mísseis em Cuba ensinam sobre os ataques de Israel ao Hezbollah


Mais de 60 anos depois daquela disputa, estamos hoje em um novo momento de tensão geopolítica

Por Luiz Raatz

Montando o roteiro para o podcast Uma História Americana, uma série especial do Estadão sobre as eleições nos Estados Unidos, me deparei com uma cena de 13 dias que abalaram o mundo, filme que trata da Crise dos Mísseis em Cuba. Nela, Bruce Greenwood, que interpreta o presidente John F. Kennedy, faz um alerta sobre a escalada de violência que, se detonada, poderia levar o mundo à 3ª Guerra:

“Se um dos navios russos resistir à nossa inspeção, e nós o invadirmos, eles atiram em um dos nossos aviões. Em resposta a isso, nós bombardeamos as baterias antiaéreas soviéticas. Eles atacam Berlim. Então invadimos Cuba. E eles disparam os mísseis deles... e nós disparamos os nossos...”

Mais de 60 anos depois daquela disputa, estamos hoje em um novo momento de tensão geopolítica. Se não é similar em gravidade ao impasse que quase levou o mundo à guerra termonuclear, a crise entre Israel e o Hezbollah está cada vez mais perto de provocar um confronto imprevisível, graças à incessante troca de retaliações entre israelenses e o chamado “eixo de resistência” liderado pelo Irã, que inclui o Hamas, o Hezbollah e os houthis.

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Nâo sei se Binyamin Netanyahu viu esse filme, mas o premiê israelense com certeza não tem tido a cautela necessária para agir contra o Irã e seus aliados.

Israel fala em uma guerra aberta contra o Hezbollah desde março, e desde os atentados dos terroristas do Hamas em 7 de outubro, tem lidado com disparos da milícia xiita em sua fronteira norte. Esses ataques provocaram o deslocamento de 60 mil civis israelenses que vivem na região da Alta Galileia, na fronteira com o Líbano.

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Há seis meses, estive em Israel. Na ocasião, ma fonte da chancelaria israelense com acesso a dados de inteligência, que não pode se identificar por não poder discutir abertamente estratégia militares, me disse que a avaliação de momento era a de que o Hezbollah não queria um confronto aberto com Israel.

“Ninguém quer uma guerra em larga escala. Mas o problema é que eles estão fazendo apostas cada vez mais arriscadas”, disse. “Reduzir as tensões serve ao bem comum. Estamos apelando a China, Índia e Rússia para que o Irã pare de apoiar o Hezbollah. Mas um problema adjacente é que o Irã tem um controle limitado sobre seus agentes na região, como o Hezbollah, os houthis e o Hamas. Estamos à beira do esgotamento das vias diplomáticas.”

Ataque aéreo noturno israelense no sul do Líbano Foto: Rabih Daher/RABIH DAHER
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Israel cada vez mais agressivo

Neste interim, os ataques da milícia xiita não pararam, e o discurso e a prática israelense deram um giro de 180º. Com a guerra na região prestes a completar um ano, já são mais de 2,2 mil deles. Israel retaliou num volume similar. Foram 2,4 mil ações militares israelenses no sul do Líbano desde o 7 de outubro.

Nos últimos meses, no entanto, Israel tem organizado uma série de operações arriscadas contra o Irã, o Hezbollah e o Hamas.

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Na mais grave delas, em abril, um ataque na Síria matou um comandante da guarda revolucionária iraniana. O Irã retaliou com um ataque de mísseis e drones contra Israel. Uma semana depois, Israel devolveu. Àquela altura, o escopo dos ataques foi limitado, graças à intervenção americana, e a crise amainou.

Em julho, um ataque aéreo atribuído a Israel matou o líder político do Hamas, Ismail Hanyeh dentro do Irã. E agora, uma série coordenada de ataques atribuída ao serviço secreto israelense deixou cerca de 20 mortos no Líbano, após a explosão de pagers e walkie-talkies de membros do Hezbollah.

Se após a morte de Hanyeh, não houve reações mais pronunciadas do eixo da resistência, agora o líder do Hezbollah, Nassan Nasrallah, diz que uma ‘linha vermelha’ foi cruzada. “O inimigo enfrentará uma punição severa e justa”, afirmou.

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Netanyahu e o ministro da Defesa Yoav Gallant Foto: Abir Sultan/AP

Os blefes de Netanyahu

Netanyahu tem protelado tanto um acordo para libertar os reféns quanto um cessar-fogo com o Hamas. Na semana passada, no entanto, a última brigada militar do Hamas em Rafah foi declarada derrotada. Mohamed Deif, um dos líderes do grupo, foi morto em agosto num ataque israelense. Apenas Yahia Sinwar segue com paradeiro desconhecido.

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Agora que o Hamas não apresenta uma ameaça militar significativa, o governo de Israel declarou na terça-feira, o mesmo dia do ataque aos pagers, que o Hezbollah tinha se tornado um dos objetivos da guerra, para que os 60 mil desalojados voltassem as suas casas.

Ainda que Israel tenha o Exército mais forte do Oriente Médio, um confronto com o Hezbollah é diferente de um confronto com o Hamas. Segundo o Brookings Institution, o Hezbollah é a força não estatal com maior poder militar do mundo. Tem ao menos 70 mil mísseis e foguetes, a maioria de curto alcance. A maior parte desse arsenal, no entanto, não tem precisão de alvo.

O Hezbollah conta ainda com um arsenal de cerca de 2 mil drones, a maior parte deles de fabricação caseira. O alcance desses drones varia de distâncias bem curtas, de até 100 km, às maiores, de até 1,7 mil km, e podem trazer cargas explosivas contra alvos civis e militares em Israel.

Os riscos de um confronto

O problema, segundo analistas, é que as características geográficas e econômicas da região também evidenciam as fragilidades de Israel perante um ataque.

Espremido entre as colinas da Cisjordânia a leste, o mar a oeste, a cordilheira da Galileia a norte, e o Deserto do Negev ao sul, num país de apenas 22 mil km2 o centro de israel é frágil do ponto de vista estratégico.

De acordo com o Bureau de estatísticas de Israel, 53% da população vive na faixa central de terra entre Tel-Aviv e Jerusalém, na planície central do país. A região abriga também grande parte da força produtiva do país.

Até agora, Netanyahu parece ter se inspirado não em Kennedy, mas em Richard Nixon e na ‘Teoria do Maluco.’ Em outubro de 1969, Nixon colocou as Forças Armadas em prontidão total para a guerra global e bombardeios com armas termonucleares fizeram voos perto da fronteira soviética por três dias consecutivos. A ideia de Nixon, segundo alguns analistas, era tentar parecer errático ao ponto de os soviéticos acreditarem que ele poderia realmente fazer o impensável.

Netanyahu não é maluco. Seu instinto de sobrevivência política, que lhe rendeu o apelido de mágico e quase 20 anos à frente do governo de Israel, prova que ele sabe quando e como apostar. O perigo é que uma hora, por excesso de confiança, ele pode calcular mal o blefe.

Montando o roteiro para o podcast Uma História Americana, uma série especial do Estadão sobre as eleições nos Estados Unidos, me deparei com uma cena de 13 dias que abalaram o mundo, filme que trata da Crise dos Mísseis em Cuba. Nela, Bruce Greenwood, que interpreta o presidente John F. Kennedy, faz um alerta sobre a escalada de violência que, se detonada, poderia levar o mundo à 3ª Guerra:

“Se um dos navios russos resistir à nossa inspeção, e nós o invadirmos, eles atiram em um dos nossos aviões. Em resposta a isso, nós bombardeamos as baterias antiaéreas soviéticas. Eles atacam Berlim. Então invadimos Cuba. E eles disparam os mísseis deles... e nós disparamos os nossos...”

Mais de 60 anos depois daquela disputa, estamos hoje em um novo momento de tensão geopolítica. Se não é similar em gravidade ao impasse que quase levou o mundo à guerra termonuclear, a crise entre Israel e o Hezbollah está cada vez mais perto de provocar um confronto imprevisível, graças à incessante troca de retaliações entre israelenses e o chamado “eixo de resistência” liderado pelo Irã, que inclui o Hamas, o Hezbollah e os houthis.

Nâo sei se Binyamin Netanyahu viu esse filme, mas o premiê israelense com certeza não tem tido a cautela necessária para agir contra o Irã e seus aliados.

Israel fala em uma guerra aberta contra o Hezbollah desde março, e desde os atentados dos terroristas do Hamas em 7 de outubro, tem lidado com disparos da milícia xiita em sua fronteira norte. Esses ataques provocaram o deslocamento de 60 mil civis israelenses que vivem na região da Alta Galileia, na fronteira com o Líbano.

Há seis meses, estive em Israel. Na ocasião, ma fonte da chancelaria israelense com acesso a dados de inteligência, que não pode se identificar por não poder discutir abertamente estratégia militares, me disse que a avaliação de momento era a de que o Hezbollah não queria um confronto aberto com Israel.

“Ninguém quer uma guerra em larga escala. Mas o problema é que eles estão fazendo apostas cada vez mais arriscadas”, disse. “Reduzir as tensões serve ao bem comum. Estamos apelando a China, Índia e Rússia para que o Irã pare de apoiar o Hezbollah. Mas um problema adjacente é que o Irã tem um controle limitado sobre seus agentes na região, como o Hezbollah, os houthis e o Hamas. Estamos à beira do esgotamento das vias diplomáticas.”

Ataque aéreo noturno israelense no sul do Líbano Foto: Rabih Daher/RABIH DAHER

Israel cada vez mais agressivo

Neste interim, os ataques da milícia xiita não pararam, e o discurso e a prática israelense deram um giro de 180º. Com a guerra na região prestes a completar um ano, já são mais de 2,2 mil deles. Israel retaliou num volume similar. Foram 2,4 mil ações militares israelenses no sul do Líbano desde o 7 de outubro.

Nos últimos meses, no entanto, Israel tem organizado uma série de operações arriscadas contra o Irã, o Hezbollah e o Hamas.

Na mais grave delas, em abril, um ataque na Síria matou um comandante da guarda revolucionária iraniana. O Irã retaliou com um ataque de mísseis e drones contra Israel. Uma semana depois, Israel devolveu. Àquela altura, o escopo dos ataques foi limitado, graças à intervenção americana, e a crise amainou.

Em julho, um ataque aéreo atribuído a Israel matou o líder político do Hamas, Ismail Hanyeh dentro do Irã. E agora, uma série coordenada de ataques atribuída ao serviço secreto israelense deixou cerca de 20 mortos no Líbano, após a explosão de pagers e walkie-talkies de membros do Hezbollah.

Se após a morte de Hanyeh, não houve reações mais pronunciadas do eixo da resistência, agora o líder do Hezbollah, Nassan Nasrallah, diz que uma ‘linha vermelha’ foi cruzada. “O inimigo enfrentará uma punição severa e justa”, afirmou.

Netanyahu e o ministro da Defesa Yoav Gallant Foto: Abir Sultan/AP

Os blefes de Netanyahu

Netanyahu tem protelado tanto um acordo para libertar os reféns quanto um cessar-fogo com o Hamas. Na semana passada, no entanto, a última brigada militar do Hamas em Rafah foi declarada derrotada. Mohamed Deif, um dos líderes do grupo, foi morto em agosto num ataque israelense. Apenas Yahia Sinwar segue com paradeiro desconhecido.

Agora que o Hamas não apresenta uma ameaça militar significativa, o governo de Israel declarou na terça-feira, o mesmo dia do ataque aos pagers, que o Hezbollah tinha se tornado um dos objetivos da guerra, para que os 60 mil desalojados voltassem as suas casas.

Ainda que Israel tenha o Exército mais forte do Oriente Médio, um confronto com o Hezbollah é diferente de um confronto com o Hamas. Segundo o Brookings Institution, o Hezbollah é a força não estatal com maior poder militar do mundo. Tem ao menos 70 mil mísseis e foguetes, a maioria de curto alcance. A maior parte desse arsenal, no entanto, não tem precisão de alvo.

O Hezbollah conta ainda com um arsenal de cerca de 2 mil drones, a maior parte deles de fabricação caseira. O alcance desses drones varia de distâncias bem curtas, de até 100 km, às maiores, de até 1,7 mil km, e podem trazer cargas explosivas contra alvos civis e militares em Israel.

Os riscos de um confronto

O problema, segundo analistas, é que as características geográficas e econômicas da região também evidenciam as fragilidades de Israel perante um ataque.

Espremido entre as colinas da Cisjordânia a leste, o mar a oeste, a cordilheira da Galileia a norte, e o Deserto do Negev ao sul, num país de apenas 22 mil km2 o centro de israel é frágil do ponto de vista estratégico.

De acordo com o Bureau de estatísticas de Israel, 53% da população vive na faixa central de terra entre Tel-Aviv e Jerusalém, na planície central do país. A região abriga também grande parte da força produtiva do país.

Até agora, Netanyahu parece ter se inspirado não em Kennedy, mas em Richard Nixon e na ‘Teoria do Maluco.’ Em outubro de 1969, Nixon colocou as Forças Armadas em prontidão total para a guerra global e bombardeios com armas termonucleares fizeram voos perto da fronteira soviética por três dias consecutivos. A ideia de Nixon, segundo alguns analistas, era tentar parecer errático ao ponto de os soviéticos acreditarem que ele poderia realmente fazer o impensável.

Netanyahu não é maluco. Seu instinto de sobrevivência política, que lhe rendeu o apelido de mágico e quase 20 anos à frente do governo de Israel, prova que ele sabe quando e como apostar. O perigo é que uma hora, por excesso de confiança, ele pode calcular mal o blefe.

Montando o roteiro para o podcast Uma História Americana, uma série especial do Estadão sobre as eleições nos Estados Unidos, me deparei com uma cena de 13 dias que abalaram o mundo, filme que trata da Crise dos Mísseis em Cuba. Nela, Bruce Greenwood, que interpreta o presidente John F. Kennedy, faz um alerta sobre a escalada de violência que, se detonada, poderia levar o mundo à 3ª Guerra:

“Se um dos navios russos resistir à nossa inspeção, e nós o invadirmos, eles atiram em um dos nossos aviões. Em resposta a isso, nós bombardeamos as baterias antiaéreas soviéticas. Eles atacam Berlim. Então invadimos Cuba. E eles disparam os mísseis deles... e nós disparamos os nossos...”

Mais de 60 anos depois daquela disputa, estamos hoje em um novo momento de tensão geopolítica. Se não é similar em gravidade ao impasse que quase levou o mundo à guerra termonuclear, a crise entre Israel e o Hezbollah está cada vez mais perto de provocar um confronto imprevisível, graças à incessante troca de retaliações entre israelenses e o chamado “eixo de resistência” liderado pelo Irã, que inclui o Hamas, o Hezbollah e os houthis.

Nâo sei se Binyamin Netanyahu viu esse filme, mas o premiê israelense com certeza não tem tido a cautela necessária para agir contra o Irã e seus aliados.

Israel fala em uma guerra aberta contra o Hezbollah desde março, e desde os atentados dos terroristas do Hamas em 7 de outubro, tem lidado com disparos da milícia xiita em sua fronteira norte. Esses ataques provocaram o deslocamento de 60 mil civis israelenses que vivem na região da Alta Galileia, na fronteira com o Líbano.

Há seis meses, estive em Israel. Na ocasião, ma fonte da chancelaria israelense com acesso a dados de inteligência, que não pode se identificar por não poder discutir abertamente estratégia militares, me disse que a avaliação de momento era a de que o Hezbollah não queria um confronto aberto com Israel.

“Ninguém quer uma guerra em larga escala. Mas o problema é que eles estão fazendo apostas cada vez mais arriscadas”, disse. “Reduzir as tensões serve ao bem comum. Estamos apelando a China, Índia e Rússia para que o Irã pare de apoiar o Hezbollah. Mas um problema adjacente é que o Irã tem um controle limitado sobre seus agentes na região, como o Hezbollah, os houthis e o Hamas. Estamos à beira do esgotamento das vias diplomáticas.”

Ataque aéreo noturno israelense no sul do Líbano Foto: Rabih Daher/RABIH DAHER

Israel cada vez mais agressivo

Neste interim, os ataques da milícia xiita não pararam, e o discurso e a prática israelense deram um giro de 180º. Com a guerra na região prestes a completar um ano, já são mais de 2,2 mil deles. Israel retaliou num volume similar. Foram 2,4 mil ações militares israelenses no sul do Líbano desde o 7 de outubro.

Nos últimos meses, no entanto, Israel tem organizado uma série de operações arriscadas contra o Irã, o Hezbollah e o Hamas.

Na mais grave delas, em abril, um ataque na Síria matou um comandante da guarda revolucionária iraniana. O Irã retaliou com um ataque de mísseis e drones contra Israel. Uma semana depois, Israel devolveu. Àquela altura, o escopo dos ataques foi limitado, graças à intervenção americana, e a crise amainou.

Em julho, um ataque aéreo atribuído a Israel matou o líder político do Hamas, Ismail Hanyeh dentro do Irã. E agora, uma série coordenada de ataques atribuída ao serviço secreto israelense deixou cerca de 20 mortos no Líbano, após a explosão de pagers e walkie-talkies de membros do Hezbollah.

Se após a morte de Hanyeh, não houve reações mais pronunciadas do eixo da resistência, agora o líder do Hezbollah, Nassan Nasrallah, diz que uma ‘linha vermelha’ foi cruzada. “O inimigo enfrentará uma punição severa e justa”, afirmou.

Netanyahu e o ministro da Defesa Yoav Gallant Foto: Abir Sultan/AP

Os blefes de Netanyahu

Netanyahu tem protelado tanto um acordo para libertar os reféns quanto um cessar-fogo com o Hamas. Na semana passada, no entanto, a última brigada militar do Hamas em Rafah foi declarada derrotada. Mohamed Deif, um dos líderes do grupo, foi morto em agosto num ataque israelense. Apenas Yahia Sinwar segue com paradeiro desconhecido.

Agora que o Hamas não apresenta uma ameaça militar significativa, o governo de Israel declarou na terça-feira, o mesmo dia do ataque aos pagers, que o Hezbollah tinha se tornado um dos objetivos da guerra, para que os 60 mil desalojados voltassem as suas casas.

Ainda que Israel tenha o Exército mais forte do Oriente Médio, um confronto com o Hezbollah é diferente de um confronto com o Hamas. Segundo o Brookings Institution, o Hezbollah é a força não estatal com maior poder militar do mundo. Tem ao menos 70 mil mísseis e foguetes, a maioria de curto alcance. A maior parte desse arsenal, no entanto, não tem precisão de alvo.

O Hezbollah conta ainda com um arsenal de cerca de 2 mil drones, a maior parte deles de fabricação caseira. O alcance desses drones varia de distâncias bem curtas, de até 100 km, às maiores, de até 1,7 mil km, e podem trazer cargas explosivas contra alvos civis e militares em Israel.

Os riscos de um confronto

O problema, segundo analistas, é que as características geográficas e econômicas da região também evidenciam as fragilidades de Israel perante um ataque.

Espremido entre as colinas da Cisjordânia a leste, o mar a oeste, a cordilheira da Galileia a norte, e o Deserto do Negev ao sul, num país de apenas 22 mil km2 o centro de israel é frágil do ponto de vista estratégico.

De acordo com o Bureau de estatísticas de Israel, 53% da população vive na faixa central de terra entre Tel-Aviv e Jerusalém, na planície central do país. A região abriga também grande parte da força produtiva do país.

Até agora, Netanyahu parece ter se inspirado não em Kennedy, mas em Richard Nixon e na ‘Teoria do Maluco.’ Em outubro de 1969, Nixon colocou as Forças Armadas em prontidão total para a guerra global e bombardeios com armas termonucleares fizeram voos perto da fronteira soviética por três dias consecutivos. A ideia de Nixon, segundo alguns analistas, era tentar parecer errático ao ponto de os soviéticos acreditarem que ele poderia realmente fazer o impensável.

Netanyahu não é maluco. Seu instinto de sobrevivência política, que lhe rendeu o apelido de mágico e quase 20 anos à frente do governo de Israel, prova que ele sabe quando e como apostar. O perigo é que uma hora, por excesso de confiança, ele pode calcular mal o blefe.

Opinião por Luiz Raatz

É jornalista formado pela PUC-SP. Subeditor de internacional do Estadão, tem 20 anos de experiência em coberturas na América Latina, Estados Unidos e Oriente Médio.

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