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Opinião|Tutela militar e melhora econômica da Venezuela dificultam pressão para que Maduro reconheça derrota


Diferente de 2019, ditador está fortalecido internamente e não se vê constrangido em apelar para fraude

Por Luiz Raatz

Passados cinco dias da eleição presidencial da Venezuela, a fraude do ditador Nicolás Maduro parece cada vez mais evidente. A oposição apresentou números com base em atas eleitorais, que indicam uma vitória incontestável de Edmundo González. O Centro Carter afirmou que a votação não pode ser considerada democrática. E o herdeiro de Hugo Chávez, pressionado a divulgar o resultado detalhado, citou a Bíblia ao dizer que não é necessário ver para crer nos resultados. É um fanfarrão.

A oposição foi para essa eleição num momento totalmente distinto das outras disputas em que foi competitiva. Se em 2013, a unidade apostou no moderado Henrique Capriles para destronar o chavismo num país ainda enlutado pela morte do tenente-coronel, e quase venceu, em 2015 o antichavismo aproveitou-se da grave situação econômica criada por Maduro para vencer a disputa pelo Parlamento.

A vitória opositora foi anulada na Justiça e Maduro foi fechando progressivamente o regime. No campo econômico, sua incompetência gerou a maior crise econômica na história das Américas. A economia contraiu 71% entre 2013 e 2020 e a inflação aumentou 130.000%. Mais de 7 milhões de venezuelanos fugiram e na Venezuela faltava de tudo, de papel higiênico a alimentos e até preservativos. A situação de escassez era tão grave que levou pessoas a morrerem após consumir mandioca brava.

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Imagem mostra ditador Nicolás Maduro durante um comício em Caracas no dia 16 de julho. Ditador fortaleceu regime com força militar e melhoras econômicas Foto: Cristian Hernandez/AP

As sanções econômicas, a falta de dólares para investimento em infraestrutura e a incompetência chavista arruinaram a indústria petroleira. Com a galinha dos ovos de ouro debilitada, o contrabando, a mineração ilegal e o narcotráfico se tornaram pilares importantes para manter o padrão de vida luxuoso da elite chavista.

É nesse contexto que Maduro, para consolidar-se no poder, hipoteca o Estado chavista aos militares. A Venezuela é o país do mundo com o maior número de generais. São mais de 2 mil, número maior que toda a Otan, por exemplo. Na Venezuela, os generais fazem de tudo. São ministros, diretores de autarquias, e, sobretudo, dirigem empresas estatais. Como ao longo de 25 anos de chavismo, a maioria das empresas foi estatizada, os militares dirigem uma boa porção da economia.

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Os generais de Maduro também são suspeitos de atuar na zona ilegal da economia chavista. Segundo a ONU, os militares estão envolvidos com o Cartel de Los Soles, responsável pelo escoamento da cocaína produzida nos Andes para o Caribe. Ainda há indícios de envolvimento deles com mineração ilegal na Amazônia e até mesmo no contrabando de combustível e alimentos na fronteira com a Colômbia.

“Somos um poder militar, porque a Força Armada Nacional Bolivariana me apoia, é chavista, é bolivariana, é revolucionária; somos um poder policial. Somos a perfeita união civil-militar-policial”, disse Maduro antes da eleição.

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Com esse respaldo político e tamanha infiltração militar na vida econômica do país, é difícil pensar num cenário em que Maduro aceitaria de bom grado entregar o poder para a oposição após uma derrota eleitoral.

Para piorar as perspectivas antichavistas, a economia venezuelana após a pandemia tem apresentado algum grau de recuperação. A inflação diminuiu, assim como a escassez de produtos importados, graças a alguma liberalização da economia. Essa melhora, no entanto, não se estendeu a toda a população. Muito concentrada em Caracas e na chamada ‘boliburguesia’, gerou uma disparidade social enorme, o que explica a popularidade de María Corina Machado, mas ao mesmo tempo dá a Maduro as condições econômicas para manter-se no poder.

A Guerra da Ucrânia, que dificultou o acesso a fontes de energia pelas potências ocidentais, e a crise migratória na fronteira sul dos Estados Unidos, fizeram o Ocidente endossar, com o apoio do Brasil e da Colômbia, os Acordos de Barbados, que levaram às eleições de domingo.

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O problema é que, para a oposição, o timing político da votação foi equivocado. Maduro não está mais nas cordas como estava em 2019. Está fortalecido internamente e não se vê constrangido em apelar para uma fraude tão flagrante como a de domingo.

No front externo, americanos e europeus têm poucas opções. Pressionados pela questão migratória e energética, não podem apelar novamente para a ‘saída Guaidó' e combinar sanções com o reconhecimento internacional de um governo opositor no exílio.

Outra alternativa seria provocar deserções entre os militares e a elite da burguesia bolivariana e pressionar por um governo de união, com uma transição de olho na convocação de novas eleições no médio prazo. Mas não existem hoje as condições políticas para isso, e nem atores com credibilidade suficiente, tanto na oposição quanto no chavismo, para liderar essa transição.

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A tendência é que tudo continue como está.

Passados cinco dias da eleição presidencial da Venezuela, a fraude do ditador Nicolás Maduro parece cada vez mais evidente. A oposição apresentou números com base em atas eleitorais, que indicam uma vitória incontestável de Edmundo González. O Centro Carter afirmou que a votação não pode ser considerada democrática. E o herdeiro de Hugo Chávez, pressionado a divulgar o resultado detalhado, citou a Bíblia ao dizer que não é necessário ver para crer nos resultados. É um fanfarrão.

A oposição foi para essa eleição num momento totalmente distinto das outras disputas em que foi competitiva. Se em 2013, a unidade apostou no moderado Henrique Capriles para destronar o chavismo num país ainda enlutado pela morte do tenente-coronel, e quase venceu, em 2015 o antichavismo aproveitou-se da grave situação econômica criada por Maduro para vencer a disputa pelo Parlamento.

A vitória opositora foi anulada na Justiça e Maduro foi fechando progressivamente o regime. No campo econômico, sua incompetência gerou a maior crise econômica na história das Américas. A economia contraiu 71% entre 2013 e 2020 e a inflação aumentou 130.000%. Mais de 7 milhões de venezuelanos fugiram e na Venezuela faltava de tudo, de papel higiênico a alimentos e até preservativos. A situação de escassez era tão grave que levou pessoas a morrerem após consumir mandioca brava.

Imagem mostra ditador Nicolás Maduro durante um comício em Caracas no dia 16 de julho. Ditador fortaleceu regime com força militar e melhoras econômicas Foto: Cristian Hernandez/AP

As sanções econômicas, a falta de dólares para investimento em infraestrutura e a incompetência chavista arruinaram a indústria petroleira. Com a galinha dos ovos de ouro debilitada, o contrabando, a mineração ilegal e o narcotráfico se tornaram pilares importantes para manter o padrão de vida luxuoso da elite chavista.

É nesse contexto que Maduro, para consolidar-se no poder, hipoteca o Estado chavista aos militares. A Venezuela é o país do mundo com o maior número de generais. São mais de 2 mil, número maior que toda a Otan, por exemplo. Na Venezuela, os generais fazem de tudo. São ministros, diretores de autarquias, e, sobretudo, dirigem empresas estatais. Como ao longo de 25 anos de chavismo, a maioria das empresas foi estatizada, os militares dirigem uma boa porção da economia.

Os generais de Maduro também são suspeitos de atuar na zona ilegal da economia chavista. Segundo a ONU, os militares estão envolvidos com o Cartel de Los Soles, responsável pelo escoamento da cocaína produzida nos Andes para o Caribe. Ainda há indícios de envolvimento deles com mineração ilegal na Amazônia e até mesmo no contrabando de combustível e alimentos na fronteira com a Colômbia.

“Somos um poder militar, porque a Força Armada Nacional Bolivariana me apoia, é chavista, é bolivariana, é revolucionária; somos um poder policial. Somos a perfeita união civil-militar-policial”, disse Maduro antes da eleição.

Com esse respaldo político e tamanha infiltração militar na vida econômica do país, é difícil pensar num cenário em que Maduro aceitaria de bom grado entregar o poder para a oposição após uma derrota eleitoral.

Para piorar as perspectivas antichavistas, a economia venezuelana após a pandemia tem apresentado algum grau de recuperação. A inflação diminuiu, assim como a escassez de produtos importados, graças a alguma liberalização da economia. Essa melhora, no entanto, não se estendeu a toda a população. Muito concentrada em Caracas e na chamada ‘boliburguesia’, gerou uma disparidade social enorme, o que explica a popularidade de María Corina Machado, mas ao mesmo tempo dá a Maduro as condições econômicas para manter-se no poder.

A Guerra da Ucrânia, que dificultou o acesso a fontes de energia pelas potências ocidentais, e a crise migratória na fronteira sul dos Estados Unidos, fizeram o Ocidente endossar, com o apoio do Brasil e da Colômbia, os Acordos de Barbados, que levaram às eleições de domingo.

O problema é que, para a oposição, o timing político da votação foi equivocado. Maduro não está mais nas cordas como estava em 2019. Está fortalecido internamente e não se vê constrangido em apelar para uma fraude tão flagrante como a de domingo.

No front externo, americanos e europeus têm poucas opções. Pressionados pela questão migratória e energética, não podem apelar novamente para a ‘saída Guaidó' e combinar sanções com o reconhecimento internacional de um governo opositor no exílio.

Outra alternativa seria provocar deserções entre os militares e a elite da burguesia bolivariana e pressionar por um governo de união, com uma transição de olho na convocação de novas eleições no médio prazo. Mas não existem hoje as condições políticas para isso, e nem atores com credibilidade suficiente, tanto na oposição quanto no chavismo, para liderar essa transição.

A tendência é que tudo continue como está.

Passados cinco dias da eleição presidencial da Venezuela, a fraude do ditador Nicolás Maduro parece cada vez mais evidente. A oposição apresentou números com base em atas eleitorais, que indicam uma vitória incontestável de Edmundo González. O Centro Carter afirmou que a votação não pode ser considerada democrática. E o herdeiro de Hugo Chávez, pressionado a divulgar o resultado detalhado, citou a Bíblia ao dizer que não é necessário ver para crer nos resultados. É um fanfarrão.

A oposição foi para essa eleição num momento totalmente distinto das outras disputas em que foi competitiva. Se em 2013, a unidade apostou no moderado Henrique Capriles para destronar o chavismo num país ainda enlutado pela morte do tenente-coronel, e quase venceu, em 2015 o antichavismo aproveitou-se da grave situação econômica criada por Maduro para vencer a disputa pelo Parlamento.

A vitória opositora foi anulada na Justiça e Maduro foi fechando progressivamente o regime. No campo econômico, sua incompetência gerou a maior crise econômica na história das Américas. A economia contraiu 71% entre 2013 e 2020 e a inflação aumentou 130.000%. Mais de 7 milhões de venezuelanos fugiram e na Venezuela faltava de tudo, de papel higiênico a alimentos e até preservativos. A situação de escassez era tão grave que levou pessoas a morrerem após consumir mandioca brava.

Imagem mostra ditador Nicolás Maduro durante um comício em Caracas no dia 16 de julho. Ditador fortaleceu regime com força militar e melhoras econômicas Foto: Cristian Hernandez/AP

As sanções econômicas, a falta de dólares para investimento em infraestrutura e a incompetência chavista arruinaram a indústria petroleira. Com a galinha dos ovos de ouro debilitada, o contrabando, a mineração ilegal e o narcotráfico se tornaram pilares importantes para manter o padrão de vida luxuoso da elite chavista.

É nesse contexto que Maduro, para consolidar-se no poder, hipoteca o Estado chavista aos militares. A Venezuela é o país do mundo com o maior número de generais. São mais de 2 mil, número maior que toda a Otan, por exemplo. Na Venezuela, os generais fazem de tudo. São ministros, diretores de autarquias, e, sobretudo, dirigem empresas estatais. Como ao longo de 25 anos de chavismo, a maioria das empresas foi estatizada, os militares dirigem uma boa porção da economia.

Os generais de Maduro também são suspeitos de atuar na zona ilegal da economia chavista. Segundo a ONU, os militares estão envolvidos com o Cartel de Los Soles, responsável pelo escoamento da cocaína produzida nos Andes para o Caribe. Ainda há indícios de envolvimento deles com mineração ilegal na Amazônia e até mesmo no contrabando de combustível e alimentos na fronteira com a Colômbia.

“Somos um poder militar, porque a Força Armada Nacional Bolivariana me apoia, é chavista, é bolivariana, é revolucionária; somos um poder policial. Somos a perfeita união civil-militar-policial”, disse Maduro antes da eleição.

Com esse respaldo político e tamanha infiltração militar na vida econômica do país, é difícil pensar num cenário em que Maduro aceitaria de bom grado entregar o poder para a oposição após uma derrota eleitoral.

Para piorar as perspectivas antichavistas, a economia venezuelana após a pandemia tem apresentado algum grau de recuperação. A inflação diminuiu, assim como a escassez de produtos importados, graças a alguma liberalização da economia. Essa melhora, no entanto, não se estendeu a toda a população. Muito concentrada em Caracas e na chamada ‘boliburguesia’, gerou uma disparidade social enorme, o que explica a popularidade de María Corina Machado, mas ao mesmo tempo dá a Maduro as condições econômicas para manter-se no poder.

A Guerra da Ucrânia, que dificultou o acesso a fontes de energia pelas potências ocidentais, e a crise migratória na fronteira sul dos Estados Unidos, fizeram o Ocidente endossar, com o apoio do Brasil e da Colômbia, os Acordos de Barbados, que levaram às eleições de domingo.

O problema é que, para a oposição, o timing político da votação foi equivocado. Maduro não está mais nas cordas como estava em 2019. Está fortalecido internamente e não se vê constrangido em apelar para uma fraude tão flagrante como a de domingo.

No front externo, americanos e europeus têm poucas opções. Pressionados pela questão migratória e energética, não podem apelar novamente para a ‘saída Guaidó' e combinar sanções com o reconhecimento internacional de um governo opositor no exílio.

Outra alternativa seria provocar deserções entre os militares e a elite da burguesia bolivariana e pressionar por um governo de união, com uma transição de olho na convocação de novas eleições no médio prazo. Mas não existem hoje as condições políticas para isso, e nem atores com credibilidade suficiente, tanto na oposição quanto no chavismo, para liderar essa transição.

A tendência é que tudo continue como está.

Opinião por Luiz Raatz

É jornalista formado pela PUC-SP. Subeditor de internacional do Estadão, tem 20 anos de experiência em coberturas na América Latina, Estados Unidos e Oriente Médio.

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