Lula cita Mandela ao transferir presidência do G-20 para a África do Sul


Presidente encerrou oficialmente o último dia de cúpula de líderes após alcançar consenso em um acordo final já no primeiro dia apesar dos embates entre os países

Por Carolina Marins, Beatriz Bulla e Felipe Frazão

ENVIADOS AO RIO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva transferiu, em seu discurso de encerramento da cúpula de líderes, a presidência do G-20 para a África do Sul. Com a voz embargada, Lula citou o ex-presidente sul-africano e Nobel da Paz Nelson Mandela e ofereceu ajuda brasileira aos eventos da cúpula a ser realizada em Johanesburgo ano que vem.

“Depois da presidência sul-africana, todos os países do G-20 terão exercido, pelo menos uma vez, a liderança do grupo”, afirmou Lula aos líderes presentes na plenária do Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro. “Será um momento propício para avaliar o papel que desempenhamos até agora e como devemos atuar daqui em diante. Temos a responsabilidade de fazer melhor. É com essa esperança que passo o martelo da presidência do G-20 para o presidente [Cyril] Ramaphosa”.

Ao oficializar a passagem da presidência, Lula disse que aquela não era uma transferência comum, mas sim “a expressão concreta dos vínculos históricos, econômicos, sociais e culturais que unem a América Latina e a África”.

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Lula transferiu a presidência do G-20 para a África do Sul nesta terça, no encerramento da cúpula no Rio Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República via AFP

“A África do Sul poderá contar com o Brasil para exercer uma presidência que vá além do que pudemos realizar. Lembro as palavras de outro grande sul-africano, Nelson Mandela, que disse: ‘é fácil demolir e destruir; os heróis são aqueles que constroem’. Vamos seguir construindo um mundo justo e um planeta sustentável”, finalizou seu discurso.

Antes o brasileiro celebrou os avanços desta cúpula, que viveu momentos de incerteza sobre a assinatura do documento final, já que o presidente argentino, Javier Milei, dava sinais de que poderia não endossar o acordo.

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Em dois dias de cúpula, o Brasil lançou oficialmente uma Aliança Global contra a Fome a a Pobreza com a adesão de 82 países, incluindo a Argentina de última hora. O brasileiro também celebrou a início dos debates sobre taxação de super-ricos, outro tema que gerou intensas discussões dos países.

“Fizemos um chamado a ação por reformas que tornem a governança global mais efetiva e representativa e dialogamos com a sociedade por meio do G20 Social”, continuou Lula. “Neste ano, realizamos mais de 140 reuniões em 15 cidades brasileiras. Voltamos a adotar declarações consensuais em quase todos os grupos de trabalho. Deixamos a lição de que, quanto maior for a interação entre as trilhas de sherpas e de finanças, maiores e mais significativos serão os resultados dos nossos trabalhos. Trabalhamos com afinco, mesmo cientes de que apenas arranhamos a superfície dos profundos desafios que o mundo tem a enfrentar.”

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Acordo final

A cúpula do G-20 - que reúne as 19 maiores economias do mundo, além de União Europeia e União Africana - abriu suas discussões para a finalização de um acordo conjunto na segunda, momento em que foram tratadas as pautas de combate à fome e a pobreza, principal iniciativa do Brasil, e reforma das instituições de governança global. Nesta terça, as negociações se concentraram em torno do desenvolvimento sustentável e transição energética.

A pauta climática é uma das que mais causa embates entre os países na hora de costurar os termos da declaração final. Reforma das instituições, gênero e taxação de super-ricos eram outros temas complexos. O presidente argentino era quem encabeçava as maiores desavenças, mas terminou cedendo e assinou o acordo com ressalvas verbais, não registradas no documento.

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Milei busca ser o expoente do conservadorismo na América Latina, encorajado pelo retorno de Donald Trump à Casa Branca ano que vem. Mas o libertário não estava sozinho neste incômodo. Países ricos, especialmente europeus, queriam que emergentes, como China e Brasil, dividissem o custo do financiamento climático global. O pleito era considerado inadmissível pelo Brasil e demais países. A divisão como queriam as nações desenvolvidas não foi incluída.

Os emergentes, porém, saíram vitoriosos dessa batalha. O comunicado dos líderes fala da “necessidade de aumentar a colaboração e o apoio internacionais, incluindo com o objetivo de ampliar o financiamento climático público e privado e o investimento para os países em desenvolvimento”.

Na interpretação de diplomatas que acompanharam a tratativa, Milei ficou isolado na oposição durante a plenária e percebeu o custo alto perante todos os demais países de barrar a declaração. Então foi construída a saída para que ele pudesse declarar em um discurso os motivos da resistência - e divulgar um comunicado próprio pela Casa Rosada.

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O capítulo mais delicado do documento, no entanto, foi o referente à geopolítica. Havia divergência entre as nações sobre como abordar as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio.

A saída para chegar a um texto de consenso foi não fazer condenações nem à Rússia nem a Israel. Os países voltaram atrás, no entanto, na proposta de não mencionar a palavra “guerra” - uma demanda do bloco mais pró-Rússia - e incluíram o vocábulo no texto. Eles retomaram a linguagem usada no comunicado do G-20 do ano passado, na Índia, que usou o termo guerra - e já poupava Moscou.

Após pressão do G-7, as nações incluíram uma condenação a ataques à “infraestrutura” dos países. Europeus exigiam uma condenação mais dura à Rússia, com menção específica aos ataques à infraestrutura de energia ucraniana feitos por Moscou no domingo, dia 17.

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Também reforçaram os termos dizendo que “especificamente” em relação à guerra na Ucrânia” destacam o “sofrimento humano e os impactos negativos adicionais da guerra no que diz respeito à segurança alimentar e energética global, às cadeias de suprimentos, à estabilidade macrofinanceira, à inflação e ao crescimento”.

ENVIADOS AO RIO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva transferiu, em seu discurso de encerramento da cúpula de líderes, a presidência do G-20 para a África do Sul. Com a voz embargada, Lula citou o ex-presidente sul-africano e Nobel da Paz Nelson Mandela e ofereceu ajuda brasileira aos eventos da cúpula a ser realizada em Johanesburgo ano que vem.

“Depois da presidência sul-africana, todos os países do G-20 terão exercido, pelo menos uma vez, a liderança do grupo”, afirmou Lula aos líderes presentes na plenária do Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro. “Será um momento propício para avaliar o papel que desempenhamos até agora e como devemos atuar daqui em diante. Temos a responsabilidade de fazer melhor. É com essa esperança que passo o martelo da presidência do G-20 para o presidente [Cyril] Ramaphosa”.

Ao oficializar a passagem da presidência, Lula disse que aquela não era uma transferência comum, mas sim “a expressão concreta dos vínculos históricos, econômicos, sociais e culturais que unem a América Latina e a África”.

Lula transferiu a presidência do G-20 para a África do Sul nesta terça, no encerramento da cúpula no Rio Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República via AFP

“A África do Sul poderá contar com o Brasil para exercer uma presidência que vá além do que pudemos realizar. Lembro as palavras de outro grande sul-africano, Nelson Mandela, que disse: ‘é fácil demolir e destruir; os heróis são aqueles que constroem’. Vamos seguir construindo um mundo justo e um planeta sustentável”, finalizou seu discurso.

Antes o brasileiro celebrou os avanços desta cúpula, que viveu momentos de incerteza sobre a assinatura do documento final, já que o presidente argentino, Javier Milei, dava sinais de que poderia não endossar o acordo.

Em dois dias de cúpula, o Brasil lançou oficialmente uma Aliança Global contra a Fome a a Pobreza com a adesão de 82 países, incluindo a Argentina de última hora. O brasileiro também celebrou a início dos debates sobre taxação de super-ricos, outro tema que gerou intensas discussões dos países.

“Fizemos um chamado a ação por reformas que tornem a governança global mais efetiva e representativa e dialogamos com a sociedade por meio do G20 Social”, continuou Lula. “Neste ano, realizamos mais de 140 reuniões em 15 cidades brasileiras. Voltamos a adotar declarações consensuais em quase todos os grupos de trabalho. Deixamos a lição de que, quanto maior for a interação entre as trilhas de sherpas e de finanças, maiores e mais significativos serão os resultados dos nossos trabalhos. Trabalhamos com afinco, mesmo cientes de que apenas arranhamos a superfície dos profundos desafios que o mundo tem a enfrentar.”

Acordo final

A cúpula do G-20 - que reúne as 19 maiores economias do mundo, além de União Europeia e União Africana - abriu suas discussões para a finalização de um acordo conjunto na segunda, momento em que foram tratadas as pautas de combate à fome e a pobreza, principal iniciativa do Brasil, e reforma das instituições de governança global. Nesta terça, as negociações se concentraram em torno do desenvolvimento sustentável e transição energética.

A pauta climática é uma das que mais causa embates entre os países na hora de costurar os termos da declaração final. Reforma das instituições, gênero e taxação de super-ricos eram outros temas complexos. O presidente argentino era quem encabeçava as maiores desavenças, mas terminou cedendo e assinou o acordo com ressalvas verbais, não registradas no documento.

Milei busca ser o expoente do conservadorismo na América Latina, encorajado pelo retorno de Donald Trump à Casa Branca ano que vem. Mas o libertário não estava sozinho neste incômodo. Países ricos, especialmente europeus, queriam que emergentes, como China e Brasil, dividissem o custo do financiamento climático global. O pleito era considerado inadmissível pelo Brasil e demais países. A divisão como queriam as nações desenvolvidas não foi incluída.

Os emergentes, porém, saíram vitoriosos dessa batalha. O comunicado dos líderes fala da “necessidade de aumentar a colaboração e o apoio internacionais, incluindo com o objetivo de ampliar o financiamento climático público e privado e o investimento para os países em desenvolvimento”.

Na interpretação de diplomatas que acompanharam a tratativa, Milei ficou isolado na oposição durante a plenária e percebeu o custo alto perante todos os demais países de barrar a declaração. Então foi construída a saída para que ele pudesse declarar em um discurso os motivos da resistência - e divulgar um comunicado próprio pela Casa Rosada.

O capítulo mais delicado do documento, no entanto, foi o referente à geopolítica. Havia divergência entre as nações sobre como abordar as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio.

A saída para chegar a um texto de consenso foi não fazer condenações nem à Rússia nem a Israel. Os países voltaram atrás, no entanto, na proposta de não mencionar a palavra “guerra” - uma demanda do bloco mais pró-Rússia - e incluíram o vocábulo no texto. Eles retomaram a linguagem usada no comunicado do G-20 do ano passado, na Índia, que usou o termo guerra - e já poupava Moscou.

Após pressão do G-7, as nações incluíram uma condenação a ataques à “infraestrutura” dos países. Europeus exigiam uma condenação mais dura à Rússia, com menção específica aos ataques à infraestrutura de energia ucraniana feitos por Moscou no domingo, dia 17.

Também reforçaram os termos dizendo que “especificamente” em relação à guerra na Ucrânia” destacam o “sofrimento humano e os impactos negativos adicionais da guerra no que diz respeito à segurança alimentar e energética global, às cadeias de suprimentos, à estabilidade macrofinanceira, à inflação e ao crescimento”.

ENVIADOS AO RIO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva transferiu, em seu discurso de encerramento da cúpula de líderes, a presidência do G-20 para a África do Sul. Com a voz embargada, Lula citou o ex-presidente sul-africano e Nobel da Paz Nelson Mandela e ofereceu ajuda brasileira aos eventos da cúpula a ser realizada em Johanesburgo ano que vem.

“Depois da presidência sul-africana, todos os países do G-20 terão exercido, pelo menos uma vez, a liderança do grupo”, afirmou Lula aos líderes presentes na plenária do Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro. “Será um momento propício para avaliar o papel que desempenhamos até agora e como devemos atuar daqui em diante. Temos a responsabilidade de fazer melhor. É com essa esperança que passo o martelo da presidência do G-20 para o presidente [Cyril] Ramaphosa”.

Ao oficializar a passagem da presidência, Lula disse que aquela não era uma transferência comum, mas sim “a expressão concreta dos vínculos históricos, econômicos, sociais e culturais que unem a América Latina e a África”.

Lula transferiu a presidência do G-20 para a África do Sul nesta terça, no encerramento da cúpula no Rio Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República via AFP

“A África do Sul poderá contar com o Brasil para exercer uma presidência que vá além do que pudemos realizar. Lembro as palavras de outro grande sul-africano, Nelson Mandela, que disse: ‘é fácil demolir e destruir; os heróis são aqueles que constroem’. Vamos seguir construindo um mundo justo e um planeta sustentável”, finalizou seu discurso.

Antes o brasileiro celebrou os avanços desta cúpula, que viveu momentos de incerteza sobre a assinatura do documento final, já que o presidente argentino, Javier Milei, dava sinais de que poderia não endossar o acordo.

Em dois dias de cúpula, o Brasil lançou oficialmente uma Aliança Global contra a Fome a a Pobreza com a adesão de 82 países, incluindo a Argentina de última hora. O brasileiro também celebrou a início dos debates sobre taxação de super-ricos, outro tema que gerou intensas discussões dos países.

“Fizemos um chamado a ação por reformas que tornem a governança global mais efetiva e representativa e dialogamos com a sociedade por meio do G20 Social”, continuou Lula. “Neste ano, realizamos mais de 140 reuniões em 15 cidades brasileiras. Voltamos a adotar declarações consensuais em quase todos os grupos de trabalho. Deixamos a lição de que, quanto maior for a interação entre as trilhas de sherpas e de finanças, maiores e mais significativos serão os resultados dos nossos trabalhos. Trabalhamos com afinco, mesmo cientes de que apenas arranhamos a superfície dos profundos desafios que o mundo tem a enfrentar.”

Acordo final

A cúpula do G-20 - que reúne as 19 maiores economias do mundo, além de União Europeia e União Africana - abriu suas discussões para a finalização de um acordo conjunto na segunda, momento em que foram tratadas as pautas de combate à fome e a pobreza, principal iniciativa do Brasil, e reforma das instituições de governança global. Nesta terça, as negociações se concentraram em torno do desenvolvimento sustentável e transição energética.

A pauta climática é uma das que mais causa embates entre os países na hora de costurar os termos da declaração final. Reforma das instituições, gênero e taxação de super-ricos eram outros temas complexos. O presidente argentino era quem encabeçava as maiores desavenças, mas terminou cedendo e assinou o acordo com ressalvas verbais, não registradas no documento.

Milei busca ser o expoente do conservadorismo na América Latina, encorajado pelo retorno de Donald Trump à Casa Branca ano que vem. Mas o libertário não estava sozinho neste incômodo. Países ricos, especialmente europeus, queriam que emergentes, como China e Brasil, dividissem o custo do financiamento climático global. O pleito era considerado inadmissível pelo Brasil e demais países. A divisão como queriam as nações desenvolvidas não foi incluída.

Os emergentes, porém, saíram vitoriosos dessa batalha. O comunicado dos líderes fala da “necessidade de aumentar a colaboração e o apoio internacionais, incluindo com o objetivo de ampliar o financiamento climático público e privado e o investimento para os países em desenvolvimento”.

Na interpretação de diplomatas que acompanharam a tratativa, Milei ficou isolado na oposição durante a plenária e percebeu o custo alto perante todos os demais países de barrar a declaração. Então foi construída a saída para que ele pudesse declarar em um discurso os motivos da resistência - e divulgar um comunicado próprio pela Casa Rosada.

O capítulo mais delicado do documento, no entanto, foi o referente à geopolítica. Havia divergência entre as nações sobre como abordar as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio.

A saída para chegar a um texto de consenso foi não fazer condenações nem à Rússia nem a Israel. Os países voltaram atrás, no entanto, na proposta de não mencionar a palavra “guerra” - uma demanda do bloco mais pró-Rússia - e incluíram o vocábulo no texto. Eles retomaram a linguagem usada no comunicado do G-20 do ano passado, na Índia, que usou o termo guerra - e já poupava Moscou.

Após pressão do G-7, as nações incluíram uma condenação a ataques à “infraestrutura” dos países. Europeus exigiam uma condenação mais dura à Rússia, com menção específica aos ataques à infraestrutura de energia ucraniana feitos por Moscou no domingo, dia 17.

Também reforçaram os termos dizendo que “especificamente” em relação à guerra na Ucrânia” destacam o “sofrimento humano e os impactos negativos adicionais da guerra no que diz respeito à segurança alimentar e energética global, às cadeias de suprimentos, à estabilidade macrofinanceira, à inflação e ao crescimento”.

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