ENVIADO ESPECIAL A ROMA E AO VATICANO – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou nesta quinta-feira, dia 22, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, uma das novas caras da direita mais radical europeia.
Lula e Meloni se reuniram durante a passagem do petista por Roma. Antes de deixar o país, Lula falou sobre a pauta migratória, um tema que divide opiniões na Europa, e sugeriu que a esquerda encampe essa bandeira para fazer frente à extrema direita.
“Quando um chefe de Estado encontra com outro [de governo, no caso dela] não está em jogo a questão ideológica. A mim não importa o posicionamento político. Não existe possibilidade de veto ideológico. Quando é amizade pessoal posso escolher alguém que gosto politicamente”, disse Lula, em entrevista coletiva, antes de deixar Roma.
“Fiquei bem impressionado com a Giorgia, uma jovem, a primeira mulher primeira-ministra da Itália, no meio de tanto homem. Uma mulher ganhar a eleição na Itália é um fato extraordinária num mundo ainda muito machista. Ela vai enfrentar muito preconceito, desrespeito, violência contra mulheres. A questão de gênero pesa muito ainda. Existe um crescimento de ódio contra as mulheres. Eu senti que é uma mulher com a cabeça no lugar, inteligente, se não fosse não estaria onde está”, afirmou o petista.
Lula e Meloni se encontraram no Palácio Chigi, em ROma, sede do governo italiano. A reunião foi confirmada de última hora. Havia expectativa pelo encontro por causa das divergências explícitas entre Lula e Meloni, e de manifestações críticas feitas antes de lado a lado.
Se Meloni criticara Lula, reiteradamente, sobretudo por ter barrado a extradição de Cesare Battisti, condenado na Itália a prisão perpétua por assassinatos nos anos 1970, Lula havia usado a expressão “país de fascistas” quando a líder do partido Fratelli d’Italia venceu as eleições.
O encontro foi uma forma de normalizar a relação e adotar mais pragmatismo, segundo diplomatas envolvidos no diálogo bilateral. Os países lançaram um mecanismo de coordenação política e contatos frequentes nas futuras presidências do Brasil, no G-20, e da Itália, no G-7.
Agenda de Lula na Europa
‘Esquerda repaginada’
O presidente disse que a esquerda europeia precisa se repaginar e encontrar um novo discurso que defenda, por exemplo, os direitos e o acolhimento de imigrantes, tema que divide a classe política nos países.
Lula disse que a esquerda europeia “perdeu o discurso”. Agora, sugeriu Lula, a esquerda deve reconstruir a sua “utopia” para rebater argumentos da direita e dos setores mais conservadores.
“Precisamos ter coragem de defender o trânsito livre de ser humanos da mesma forma que se defende o trânsito livre de dinheiro. O dinheiro circula por todos os países sem mostrar passaporte. É preciso que a gente tenha mais paciência e maturidade para defender os migrantes, as pessoas que fogem porque não têm como sobreviver”, propôs Lula. “O ser humano é por natureza nômade, ele vive em busca do que comer, onde trabalhar, das coisas melhores. É normal se você tem centros de pobreza e violência no mundo que as pessoas queiram transitar deum lado para outro.”
Durante a visita a Roma, o presidente se reuniu com o ex-primeiro-ministro Massimo D’Alema e com a secretária-geral do Partido Democrático, Elly Schlein, líder da oposição a Meloni.
O petista disse estranhar o fato de poucas autoridades italianas visitarem o Brasil. Ele cobrou um reforço no fluxo comercial. Segundo Lula, o comércio pode superar em muito os atuais U$ 10,5 bilhões.
Ele disse ter convidado tanto o presidente Sergio Mattarella quanto a primeira-ministra Giorgia Meloni a viajar a Brasília. “É no mínimo estranho”, disse Lula, citando os cerca de 30 milhões de descendentes de italianos no Brasil. “Espero que os dois tomem a iniciativa de visitar o Brasil”.