Lula reage a Milei no Mercosul e critica ‘ultraliberalismo’ e ‘nacionalismo arcaico’


Presidente discursou na abertura da cúpula do Mercosul, em Assunção

Por Felipe Frazão
Atualização:

ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta segunda-feira, 8, o “ultraliberalismo” e o “nacionalismo arcaico”, durante a abertura da cúpula do Mercosul, em Assunção, capital Paraguai. O discurso de Lula foi quase integralmente calibrado para reagir à chegada do libertário Javier Milei, presidente da Argentina, no Mercosul e o impacto de sua agenda de guerra cultural, com viés liberal e conservador. Sem citá-lo, Lula disse que “falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários”.

“Os bons economistas sabem que o livre-mercado não é uma panaceia para a humanidade. Quem conhece a história da América Latina reconhece o valor do estado como planejador e indutor do desenvolvimento. No mundo globalizado não faz sentido recorrer ao nacionalismo arcaico e isolacionista. Tampouco há justificativa para resgatar as experiências ultraliberais que apenas agravaram as desigualdades em nossa região”, disse o presidente.

Os presidentes do Mercosul se reuniram no Paraguai, sem Javier Milei Foto: Divulgação/Presidência do Paraguai
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Embora Milei tenha boicotado a cúpula - ele faltou ao que seria sua estreia na reunião de presidentes -, os últimos dias de negociação ficaram marcados por embates promovidos pela delegação argentina. Liderados pela chanceler Diana Mondino, os representantes de Milei fizeram propostas de flexibilizar a negociação de acordos comerciais bilaterais e defenderam um “choque de adrenalina” no Mercosul.

Sob a intervenção de aliados próximos de Milei, os argentinos passaram a defender uma reforma para atualizar a dinâmica interna do Mercosul, a tomada de decisões e revisar o orçamento. Bloquearam temas de gênero e identitários, como a proposta paraguaia de promover um subgrupo de Comércio e Gênero. A guinada ideológica sobre temas sociais, direitos humanos e femininos é atribuída a Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da Casa Rosada.

Presidente Lula participa da cerimônia de abertura de encontro do Mercosul Foto: Ricardo Stuckert/Presidencia da Republica
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Milei desistiu de comparecer depois de reiterar que considera Lula “corrupto” e “comunista” e se recusar a pedir as desculpas exigidas pelo petista. O libertário ainda decidiu fazer sua primeira visita ao Brasil, ignorando Lula, para encontrar com o principal líder opositor no País, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em Santa Catarina, ele evitou citar Lula, que ameaçava retaliação diplomática, mas criticou as liberdades no Brasil, o socialismo e aliados do petista.

Lula pregou que os países devem resolver suas diferenças “dentro do bloco e não fora dele”. Ele respondeu diretamente à agenda de Milei para o Mercosul, apresentada pela chanceler. “A pseudo-reforma afasta o Mercosul de suas bases sociais e nos enfraquece. Apagar a palavra gênero de documentos só agrava a violência cotidiana sofrida por mulheres e meninas”, reagiu o petista. Segundo Lula, o Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos (IPPDH) e o Instituto Social do Mercosul (IMS) precisam ter recursos para combater a fome a a desigualdade e preservar direitos.

Lula também defendeu a articulação regional dos países para fazer frente a catástrofes climáticas como as enchentes no Rio Grande do Sul e as queimadas no Pantanal. A pauta ambiental sofre desprezo por parte do atual governo argentino.

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O petista disse que o Mercosul nunca foi marcado por uma união em que todos pensam da mesma forma, e que a diversidade de opiniões sem extremismo e intolerância é bem-vinda” por ser parte da democracia e levar a escolhas melhores.

Ele afirmou que o Mercosul segue como a principal aposta de inserção internacional do Brasil, enquanto a ausência de Milei levanta dúvidas sobre sua prioridade. Lula disse não ver contradição entre participar do bloco e manter relações privilegiadas com países externos, de outras regiões.

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Bolívia

No início do discurso, Lula afirmou que a Bolívia passou por uma tentativa de golpe de Estado. Essa é a versão oficial do governo Luis Arce, que formalizou o ingresso do país andino no Mercosul, e denunciou uma movimentação irregular de tropas militares em La Paz, há cerca de dez dias.

Essa versão foi contestada por oficialmente Milei, na esteira da reação de opositores da direita boliviana e até do ex-presidente Evo Morales, hoje rival interno de Arce. Eles acusam o mandatário boliviano de montar uma farsa com fins de melhorar sua popularidade e angariar apoio. O ex-comandante do Exército general Juan José Zúñiga fez a denúncia depois de ser preso.

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Todos os presidentes na cúpula expressaram solidariedade a Arce. A representante argentina, a chanceler Diana Mondino, disse apenas que “nenhum golpe de Estado ou ataque à democracia é aceitável”.

O boliviano agradeceu o apoio “inquebrantável” dos países do Mercosul e disse que a manifestação foi “fundamental para evitar a ruptura” da ordem democrática. “Lamentamos declarações infundadas e pouco sérias sobre um suposto autogolpe, quando se tratava de um clássico golpe de Estado”, disse Arce. Ele afirmou que militares, civis e ex-militares estão sob investigação.

O presidente uruguaio Lacalle Pou mandou dois recados indiretos ao colega argentino Milei, de quem busca marcar distância ideológica, apesar de ambos compartilharem o campo político. Lacalle Pou disse que não importa contra quem seja a alteração da ordem constitucional, deve ser condenada se o líder foi eleito democraticamente. Ele se solidarizou com Arce e afirmou que os governos não podem se cegar a depender da afinidade de pensamento: “Se a valorização da democracia é subjetiva, já não existe”.

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O uruguaio também criticou a ausência de Milei. Disse que não importa somente a mensagem, mas também o mensageiro. “Não quero menosprezar ninguém, mas se o Mercosul é tão importante deveríamos estar aqui todos os presidentes”, queixou-se Lacalle Pou.

A foto oficial das delegações presentes ao Mercosul, em frente ao Palácio de López, em Assunção, Paraguai Foto: Divulgação/Presidência do Paraguai

França e Reino Unido

Lula celebrou as vitórias da esquerda nas eleições parlamentares na França e no Reino Unido: “Ambas são fundamentais para a defesa da democracia e da justiça social contra as amaças do extremismo”.

O presidente brasileiro afirmou que o Mercosul não foi capaz de concluir negociações de livre comércio com a União Europeia por causa das contradições internas dos europeus.

O uruguaio Lacalle Pou disse que o Mercosul apostava na capacidade de Lula de negociar o acordo, mas se surpreendeu com a reviravolta da França, que no fim do ano passsado bloqueou e sugeriu a renegociação total do acordo. Ele disse as mudanças políticas com as eleições europeias mostram que “não há uma linha lógica de avanço”.

“A ideologia está atrapalhando a união entre Mercosul e UE”, afirmou o uruguaio.

China

O petista também disse que o Brasil agora está aberto a aprofundar o diálogo do Mercosul para um “acordo abrangente” com a China. O governo brasileiro manda sinais de que poderia avançar em conversas, desde que em conjunto. Antes o País era mais refratário a essa negociação.

O presidente do Uruguai reagiu positivamente e afirmou que a proposta uruguaia será retomar as conversas e que a abordagem de buscar um acordo bilateral com Pequim “não era por capricho”. O governo Lacalle Pou sugere que os países negociem em ritmos diferentes, dado o peso do intercâmbio comercial com Pequim para sua economia.

Lacalle Pou assumiu a presidência temporária do Mercosul para o segundo semestre. Ele celebrou as manifestações do governo brasileiro, ainda que a favor de uma negociação em conjunto, apenas como bloco.

Minerais e moedas

O presidente Lula propôs ainda que os países do bloco sul-americano lancem uma aliança de produtores de minerais críticos para sua inserção na cadeia internacional de fabricação dos semicondutores. Ele pediu que o Uruguai se dedice a aprimorar o sistemas de pagamentos entre os países usando moedas locais.

Ao falar sobre as guerras em curso no mundo, Lula voltou a defender uma conferência internacional que reúna russos e ucranianos como forma de engajamento ideal para promover a paz e chamou de “matança indiscriminada” de mulheres e crianças a ação militar de Israel contra os terroristas do Hamas na Faixa de Gaza.

Lula lembrou que o Brasil foi o primeiro membro do bloco a ratificar e fazer entrar em vigor, dias atrás, um acordo de livre comércio assinado em 2011, entre os países do Mercosul com e a Palestina. O gesto irritou a chancelaria argentina, já que Milei prioriza a aliança total com Israel no contexto da guerra em Gaza.

ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta segunda-feira, 8, o “ultraliberalismo” e o “nacionalismo arcaico”, durante a abertura da cúpula do Mercosul, em Assunção, capital Paraguai. O discurso de Lula foi quase integralmente calibrado para reagir à chegada do libertário Javier Milei, presidente da Argentina, no Mercosul e o impacto de sua agenda de guerra cultural, com viés liberal e conservador. Sem citá-lo, Lula disse que “falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários”.

“Os bons economistas sabem que o livre-mercado não é uma panaceia para a humanidade. Quem conhece a história da América Latina reconhece o valor do estado como planejador e indutor do desenvolvimento. No mundo globalizado não faz sentido recorrer ao nacionalismo arcaico e isolacionista. Tampouco há justificativa para resgatar as experiências ultraliberais que apenas agravaram as desigualdades em nossa região”, disse o presidente.

Os presidentes do Mercosul se reuniram no Paraguai, sem Javier Milei Foto: Divulgação/Presidência do Paraguai

Embora Milei tenha boicotado a cúpula - ele faltou ao que seria sua estreia na reunião de presidentes -, os últimos dias de negociação ficaram marcados por embates promovidos pela delegação argentina. Liderados pela chanceler Diana Mondino, os representantes de Milei fizeram propostas de flexibilizar a negociação de acordos comerciais bilaterais e defenderam um “choque de adrenalina” no Mercosul.

Sob a intervenção de aliados próximos de Milei, os argentinos passaram a defender uma reforma para atualizar a dinâmica interna do Mercosul, a tomada de decisões e revisar o orçamento. Bloquearam temas de gênero e identitários, como a proposta paraguaia de promover um subgrupo de Comércio e Gênero. A guinada ideológica sobre temas sociais, direitos humanos e femininos é atribuída a Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da Casa Rosada.

Presidente Lula participa da cerimônia de abertura de encontro do Mercosul Foto: Ricardo Stuckert/Presidencia da Republica

Milei desistiu de comparecer depois de reiterar que considera Lula “corrupto” e “comunista” e se recusar a pedir as desculpas exigidas pelo petista. O libertário ainda decidiu fazer sua primeira visita ao Brasil, ignorando Lula, para encontrar com o principal líder opositor no País, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em Santa Catarina, ele evitou citar Lula, que ameaçava retaliação diplomática, mas criticou as liberdades no Brasil, o socialismo e aliados do petista.

Lula pregou que os países devem resolver suas diferenças “dentro do bloco e não fora dele”. Ele respondeu diretamente à agenda de Milei para o Mercosul, apresentada pela chanceler. “A pseudo-reforma afasta o Mercosul de suas bases sociais e nos enfraquece. Apagar a palavra gênero de documentos só agrava a violência cotidiana sofrida por mulheres e meninas”, reagiu o petista. Segundo Lula, o Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos (IPPDH) e o Instituto Social do Mercosul (IMS) precisam ter recursos para combater a fome a a desigualdade e preservar direitos.

Lula também defendeu a articulação regional dos países para fazer frente a catástrofes climáticas como as enchentes no Rio Grande do Sul e as queimadas no Pantanal. A pauta ambiental sofre desprezo por parte do atual governo argentino.

O petista disse que o Mercosul nunca foi marcado por uma união em que todos pensam da mesma forma, e que a diversidade de opiniões sem extremismo e intolerância é bem-vinda” por ser parte da democracia e levar a escolhas melhores.

Ele afirmou que o Mercosul segue como a principal aposta de inserção internacional do Brasil, enquanto a ausência de Milei levanta dúvidas sobre sua prioridade. Lula disse não ver contradição entre participar do bloco e manter relações privilegiadas com países externos, de outras regiões.

Bolívia

No início do discurso, Lula afirmou que a Bolívia passou por uma tentativa de golpe de Estado. Essa é a versão oficial do governo Luis Arce, que formalizou o ingresso do país andino no Mercosul, e denunciou uma movimentação irregular de tropas militares em La Paz, há cerca de dez dias.

Essa versão foi contestada por oficialmente Milei, na esteira da reação de opositores da direita boliviana e até do ex-presidente Evo Morales, hoje rival interno de Arce. Eles acusam o mandatário boliviano de montar uma farsa com fins de melhorar sua popularidade e angariar apoio. O ex-comandante do Exército general Juan José Zúñiga fez a denúncia depois de ser preso.

Todos os presidentes na cúpula expressaram solidariedade a Arce. A representante argentina, a chanceler Diana Mondino, disse apenas que “nenhum golpe de Estado ou ataque à democracia é aceitável”.

O boliviano agradeceu o apoio “inquebrantável” dos países do Mercosul e disse que a manifestação foi “fundamental para evitar a ruptura” da ordem democrática. “Lamentamos declarações infundadas e pouco sérias sobre um suposto autogolpe, quando se tratava de um clássico golpe de Estado”, disse Arce. Ele afirmou que militares, civis e ex-militares estão sob investigação.

O presidente uruguaio Lacalle Pou mandou dois recados indiretos ao colega argentino Milei, de quem busca marcar distância ideológica, apesar de ambos compartilharem o campo político. Lacalle Pou disse que não importa contra quem seja a alteração da ordem constitucional, deve ser condenada se o líder foi eleito democraticamente. Ele se solidarizou com Arce e afirmou que os governos não podem se cegar a depender da afinidade de pensamento: “Se a valorização da democracia é subjetiva, já não existe”.

O uruguaio também criticou a ausência de Milei. Disse que não importa somente a mensagem, mas também o mensageiro. “Não quero menosprezar ninguém, mas se o Mercosul é tão importante deveríamos estar aqui todos os presidentes”, queixou-se Lacalle Pou.

A foto oficial das delegações presentes ao Mercosul, em frente ao Palácio de López, em Assunção, Paraguai Foto: Divulgação/Presidência do Paraguai

França e Reino Unido

Lula celebrou as vitórias da esquerda nas eleições parlamentares na França e no Reino Unido: “Ambas são fundamentais para a defesa da democracia e da justiça social contra as amaças do extremismo”.

O presidente brasileiro afirmou que o Mercosul não foi capaz de concluir negociações de livre comércio com a União Europeia por causa das contradições internas dos europeus.

O uruguaio Lacalle Pou disse que o Mercosul apostava na capacidade de Lula de negociar o acordo, mas se surpreendeu com a reviravolta da França, que no fim do ano passsado bloqueou e sugeriu a renegociação total do acordo. Ele disse as mudanças políticas com as eleições europeias mostram que “não há uma linha lógica de avanço”.

“A ideologia está atrapalhando a união entre Mercosul e UE”, afirmou o uruguaio.

China

O petista também disse que o Brasil agora está aberto a aprofundar o diálogo do Mercosul para um “acordo abrangente” com a China. O governo brasileiro manda sinais de que poderia avançar em conversas, desde que em conjunto. Antes o País era mais refratário a essa negociação.

O presidente do Uruguai reagiu positivamente e afirmou que a proposta uruguaia será retomar as conversas e que a abordagem de buscar um acordo bilateral com Pequim “não era por capricho”. O governo Lacalle Pou sugere que os países negociem em ritmos diferentes, dado o peso do intercâmbio comercial com Pequim para sua economia.

Lacalle Pou assumiu a presidência temporária do Mercosul para o segundo semestre. Ele celebrou as manifestações do governo brasileiro, ainda que a favor de uma negociação em conjunto, apenas como bloco.

Minerais e moedas

O presidente Lula propôs ainda que os países do bloco sul-americano lancem uma aliança de produtores de minerais críticos para sua inserção na cadeia internacional de fabricação dos semicondutores. Ele pediu que o Uruguai se dedice a aprimorar o sistemas de pagamentos entre os países usando moedas locais.

Ao falar sobre as guerras em curso no mundo, Lula voltou a defender uma conferência internacional que reúna russos e ucranianos como forma de engajamento ideal para promover a paz e chamou de “matança indiscriminada” de mulheres e crianças a ação militar de Israel contra os terroristas do Hamas na Faixa de Gaza.

Lula lembrou que o Brasil foi o primeiro membro do bloco a ratificar e fazer entrar em vigor, dias atrás, um acordo de livre comércio assinado em 2011, entre os países do Mercosul com e a Palestina. O gesto irritou a chancelaria argentina, já que Milei prioriza a aliança total com Israel no contexto da guerra em Gaza.

ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta segunda-feira, 8, o “ultraliberalismo” e o “nacionalismo arcaico”, durante a abertura da cúpula do Mercosul, em Assunção, capital Paraguai. O discurso de Lula foi quase integralmente calibrado para reagir à chegada do libertário Javier Milei, presidente da Argentina, no Mercosul e o impacto de sua agenda de guerra cultural, com viés liberal e conservador. Sem citá-lo, Lula disse que “falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários”.

“Os bons economistas sabem que o livre-mercado não é uma panaceia para a humanidade. Quem conhece a história da América Latina reconhece o valor do estado como planejador e indutor do desenvolvimento. No mundo globalizado não faz sentido recorrer ao nacionalismo arcaico e isolacionista. Tampouco há justificativa para resgatar as experiências ultraliberais que apenas agravaram as desigualdades em nossa região”, disse o presidente.

Os presidentes do Mercosul se reuniram no Paraguai, sem Javier Milei Foto: Divulgação/Presidência do Paraguai

Embora Milei tenha boicotado a cúpula - ele faltou ao que seria sua estreia na reunião de presidentes -, os últimos dias de negociação ficaram marcados por embates promovidos pela delegação argentina. Liderados pela chanceler Diana Mondino, os representantes de Milei fizeram propostas de flexibilizar a negociação de acordos comerciais bilaterais e defenderam um “choque de adrenalina” no Mercosul.

Sob a intervenção de aliados próximos de Milei, os argentinos passaram a defender uma reforma para atualizar a dinâmica interna do Mercosul, a tomada de decisões e revisar o orçamento. Bloquearam temas de gênero e identitários, como a proposta paraguaia de promover um subgrupo de Comércio e Gênero. A guinada ideológica sobre temas sociais, direitos humanos e femininos é atribuída a Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da Casa Rosada.

Presidente Lula participa da cerimônia de abertura de encontro do Mercosul Foto: Ricardo Stuckert/Presidencia da Republica

Milei desistiu de comparecer depois de reiterar que considera Lula “corrupto” e “comunista” e se recusar a pedir as desculpas exigidas pelo petista. O libertário ainda decidiu fazer sua primeira visita ao Brasil, ignorando Lula, para encontrar com o principal líder opositor no País, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em Santa Catarina, ele evitou citar Lula, que ameaçava retaliação diplomática, mas criticou as liberdades no Brasil, o socialismo e aliados do petista.

Lula pregou que os países devem resolver suas diferenças “dentro do bloco e não fora dele”. Ele respondeu diretamente à agenda de Milei para o Mercosul, apresentada pela chanceler. “A pseudo-reforma afasta o Mercosul de suas bases sociais e nos enfraquece. Apagar a palavra gênero de documentos só agrava a violência cotidiana sofrida por mulheres e meninas”, reagiu o petista. Segundo Lula, o Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos (IPPDH) e o Instituto Social do Mercosul (IMS) precisam ter recursos para combater a fome a a desigualdade e preservar direitos.

Lula também defendeu a articulação regional dos países para fazer frente a catástrofes climáticas como as enchentes no Rio Grande do Sul e as queimadas no Pantanal. A pauta ambiental sofre desprezo por parte do atual governo argentino.

O petista disse que o Mercosul nunca foi marcado por uma união em que todos pensam da mesma forma, e que a diversidade de opiniões sem extremismo e intolerância é bem-vinda” por ser parte da democracia e levar a escolhas melhores.

Ele afirmou que o Mercosul segue como a principal aposta de inserção internacional do Brasil, enquanto a ausência de Milei levanta dúvidas sobre sua prioridade. Lula disse não ver contradição entre participar do bloco e manter relações privilegiadas com países externos, de outras regiões.

Bolívia

No início do discurso, Lula afirmou que a Bolívia passou por uma tentativa de golpe de Estado. Essa é a versão oficial do governo Luis Arce, que formalizou o ingresso do país andino no Mercosul, e denunciou uma movimentação irregular de tropas militares em La Paz, há cerca de dez dias.

Essa versão foi contestada por oficialmente Milei, na esteira da reação de opositores da direita boliviana e até do ex-presidente Evo Morales, hoje rival interno de Arce. Eles acusam o mandatário boliviano de montar uma farsa com fins de melhorar sua popularidade e angariar apoio. O ex-comandante do Exército general Juan José Zúñiga fez a denúncia depois de ser preso.

Todos os presidentes na cúpula expressaram solidariedade a Arce. A representante argentina, a chanceler Diana Mondino, disse apenas que “nenhum golpe de Estado ou ataque à democracia é aceitável”.

O boliviano agradeceu o apoio “inquebrantável” dos países do Mercosul e disse que a manifestação foi “fundamental para evitar a ruptura” da ordem democrática. “Lamentamos declarações infundadas e pouco sérias sobre um suposto autogolpe, quando se tratava de um clássico golpe de Estado”, disse Arce. Ele afirmou que militares, civis e ex-militares estão sob investigação.

O presidente uruguaio Lacalle Pou mandou dois recados indiretos ao colega argentino Milei, de quem busca marcar distância ideológica, apesar de ambos compartilharem o campo político. Lacalle Pou disse que não importa contra quem seja a alteração da ordem constitucional, deve ser condenada se o líder foi eleito democraticamente. Ele se solidarizou com Arce e afirmou que os governos não podem se cegar a depender da afinidade de pensamento: “Se a valorização da democracia é subjetiva, já não existe”.

O uruguaio também criticou a ausência de Milei. Disse que não importa somente a mensagem, mas também o mensageiro. “Não quero menosprezar ninguém, mas se o Mercosul é tão importante deveríamos estar aqui todos os presidentes”, queixou-se Lacalle Pou.

A foto oficial das delegações presentes ao Mercosul, em frente ao Palácio de López, em Assunção, Paraguai Foto: Divulgação/Presidência do Paraguai

França e Reino Unido

Lula celebrou as vitórias da esquerda nas eleições parlamentares na França e no Reino Unido: “Ambas são fundamentais para a defesa da democracia e da justiça social contra as amaças do extremismo”.

O presidente brasileiro afirmou que o Mercosul não foi capaz de concluir negociações de livre comércio com a União Europeia por causa das contradições internas dos europeus.

O uruguaio Lacalle Pou disse que o Mercosul apostava na capacidade de Lula de negociar o acordo, mas se surpreendeu com a reviravolta da França, que no fim do ano passsado bloqueou e sugeriu a renegociação total do acordo. Ele disse as mudanças políticas com as eleições europeias mostram que “não há uma linha lógica de avanço”.

“A ideologia está atrapalhando a união entre Mercosul e UE”, afirmou o uruguaio.

China

O petista também disse que o Brasil agora está aberto a aprofundar o diálogo do Mercosul para um “acordo abrangente” com a China. O governo brasileiro manda sinais de que poderia avançar em conversas, desde que em conjunto. Antes o País era mais refratário a essa negociação.

O presidente do Uruguai reagiu positivamente e afirmou que a proposta uruguaia será retomar as conversas e que a abordagem de buscar um acordo bilateral com Pequim “não era por capricho”. O governo Lacalle Pou sugere que os países negociem em ritmos diferentes, dado o peso do intercâmbio comercial com Pequim para sua economia.

Lacalle Pou assumiu a presidência temporária do Mercosul para o segundo semestre. Ele celebrou as manifestações do governo brasileiro, ainda que a favor de uma negociação em conjunto, apenas como bloco.

Minerais e moedas

O presidente Lula propôs ainda que os países do bloco sul-americano lancem uma aliança de produtores de minerais críticos para sua inserção na cadeia internacional de fabricação dos semicondutores. Ele pediu que o Uruguai se dedice a aprimorar o sistemas de pagamentos entre os países usando moedas locais.

Ao falar sobre as guerras em curso no mundo, Lula voltou a defender uma conferência internacional que reúna russos e ucranianos como forma de engajamento ideal para promover a paz e chamou de “matança indiscriminada” de mulheres e crianças a ação militar de Israel contra os terroristas do Hamas na Faixa de Gaza.

Lula lembrou que o Brasil foi o primeiro membro do bloco a ratificar e fazer entrar em vigor, dias atrás, um acordo de livre comércio assinado em 2011, entre os países do Mercosul com e a Palestina. O gesto irritou a chancelaria argentina, já que Milei prioriza a aliança total com Israel no contexto da guerra em Gaza.

ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta segunda-feira, 8, o “ultraliberalismo” e o “nacionalismo arcaico”, durante a abertura da cúpula do Mercosul, em Assunção, capital Paraguai. O discurso de Lula foi quase integralmente calibrado para reagir à chegada do libertário Javier Milei, presidente da Argentina, no Mercosul e o impacto de sua agenda de guerra cultural, com viés liberal e conservador. Sem citá-lo, Lula disse que “falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários”.

“Os bons economistas sabem que o livre-mercado não é uma panaceia para a humanidade. Quem conhece a história da América Latina reconhece o valor do estado como planejador e indutor do desenvolvimento. No mundo globalizado não faz sentido recorrer ao nacionalismo arcaico e isolacionista. Tampouco há justificativa para resgatar as experiências ultraliberais que apenas agravaram as desigualdades em nossa região”, disse o presidente.

Os presidentes do Mercosul se reuniram no Paraguai, sem Javier Milei Foto: Divulgação/Presidência do Paraguai

Embora Milei tenha boicotado a cúpula - ele faltou ao que seria sua estreia na reunião de presidentes -, os últimos dias de negociação ficaram marcados por embates promovidos pela delegação argentina. Liderados pela chanceler Diana Mondino, os representantes de Milei fizeram propostas de flexibilizar a negociação de acordos comerciais bilaterais e defenderam um “choque de adrenalina” no Mercosul.

Sob a intervenção de aliados próximos de Milei, os argentinos passaram a defender uma reforma para atualizar a dinâmica interna do Mercosul, a tomada de decisões e revisar o orçamento. Bloquearam temas de gênero e identitários, como a proposta paraguaia de promover um subgrupo de Comércio e Gênero. A guinada ideológica sobre temas sociais, direitos humanos e femininos é atribuída a Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da Casa Rosada.

Presidente Lula participa da cerimônia de abertura de encontro do Mercosul Foto: Ricardo Stuckert/Presidencia da Republica

Milei desistiu de comparecer depois de reiterar que considera Lula “corrupto” e “comunista” e se recusar a pedir as desculpas exigidas pelo petista. O libertário ainda decidiu fazer sua primeira visita ao Brasil, ignorando Lula, para encontrar com o principal líder opositor no País, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em Santa Catarina, ele evitou citar Lula, que ameaçava retaliação diplomática, mas criticou as liberdades no Brasil, o socialismo e aliados do petista.

Lula pregou que os países devem resolver suas diferenças “dentro do bloco e não fora dele”. Ele respondeu diretamente à agenda de Milei para o Mercosul, apresentada pela chanceler. “A pseudo-reforma afasta o Mercosul de suas bases sociais e nos enfraquece. Apagar a palavra gênero de documentos só agrava a violência cotidiana sofrida por mulheres e meninas”, reagiu o petista. Segundo Lula, o Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos (IPPDH) e o Instituto Social do Mercosul (IMS) precisam ter recursos para combater a fome a a desigualdade e preservar direitos.

Lula também defendeu a articulação regional dos países para fazer frente a catástrofes climáticas como as enchentes no Rio Grande do Sul e as queimadas no Pantanal. A pauta ambiental sofre desprezo por parte do atual governo argentino.

O petista disse que o Mercosul nunca foi marcado por uma união em que todos pensam da mesma forma, e que a diversidade de opiniões sem extremismo e intolerância é bem-vinda” por ser parte da democracia e levar a escolhas melhores.

Ele afirmou que o Mercosul segue como a principal aposta de inserção internacional do Brasil, enquanto a ausência de Milei levanta dúvidas sobre sua prioridade. Lula disse não ver contradição entre participar do bloco e manter relações privilegiadas com países externos, de outras regiões.

Bolívia

No início do discurso, Lula afirmou que a Bolívia passou por uma tentativa de golpe de Estado. Essa é a versão oficial do governo Luis Arce, que formalizou o ingresso do país andino no Mercosul, e denunciou uma movimentação irregular de tropas militares em La Paz, há cerca de dez dias.

Essa versão foi contestada por oficialmente Milei, na esteira da reação de opositores da direita boliviana e até do ex-presidente Evo Morales, hoje rival interno de Arce. Eles acusam o mandatário boliviano de montar uma farsa com fins de melhorar sua popularidade e angariar apoio. O ex-comandante do Exército general Juan José Zúñiga fez a denúncia depois de ser preso.

Todos os presidentes na cúpula expressaram solidariedade a Arce. A representante argentina, a chanceler Diana Mondino, disse apenas que “nenhum golpe de Estado ou ataque à democracia é aceitável”.

O boliviano agradeceu o apoio “inquebrantável” dos países do Mercosul e disse que a manifestação foi “fundamental para evitar a ruptura” da ordem democrática. “Lamentamos declarações infundadas e pouco sérias sobre um suposto autogolpe, quando se tratava de um clássico golpe de Estado”, disse Arce. Ele afirmou que militares, civis e ex-militares estão sob investigação.

O presidente uruguaio Lacalle Pou mandou dois recados indiretos ao colega argentino Milei, de quem busca marcar distância ideológica, apesar de ambos compartilharem o campo político. Lacalle Pou disse que não importa contra quem seja a alteração da ordem constitucional, deve ser condenada se o líder foi eleito democraticamente. Ele se solidarizou com Arce e afirmou que os governos não podem se cegar a depender da afinidade de pensamento: “Se a valorização da democracia é subjetiva, já não existe”.

O uruguaio também criticou a ausência de Milei. Disse que não importa somente a mensagem, mas também o mensageiro. “Não quero menosprezar ninguém, mas se o Mercosul é tão importante deveríamos estar aqui todos os presidentes”, queixou-se Lacalle Pou.

A foto oficial das delegações presentes ao Mercosul, em frente ao Palácio de López, em Assunção, Paraguai Foto: Divulgação/Presidência do Paraguai

França e Reino Unido

Lula celebrou as vitórias da esquerda nas eleições parlamentares na França e no Reino Unido: “Ambas são fundamentais para a defesa da democracia e da justiça social contra as amaças do extremismo”.

O presidente brasileiro afirmou que o Mercosul não foi capaz de concluir negociações de livre comércio com a União Europeia por causa das contradições internas dos europeus.

O uruguaio Lacalle Pou disse que o Mercosul apostava na capacidade de Lula de negociar o acordo, mas se surpreendeu com a reviravolta da França, que no fim do ano passsado bloqueou e sugeriu a renegociação total do acordo. Ele disse as mudanças políticas com as eleições europeias mostram que “não há uma linha lógica de avanço”.

“A ideologia está atrapalhando a união entre Mercosul e UE”, afirmou o uruguaio.

China

O petista também disse que o Brasil agora está aberto a aprofundar o diálogo do Mercosul para um “acordo abrangente” com a China. O governo brasileiro manda sinais de que poderia avançar em conversas, desde que em conjunto. Antes o País era mais refratário a essa negociação.

O presidente do Uruguai reagiu positivamente e afirmou que a proposta uruguaia será retomar as conversas e que a abordagem de buscar um acordo bilateral com Pequim “não era por capricho”. O governo Lacalle Pou sugere que os países negociem em ritmos diferentes, dado o peso do intercâmbio comercial com Pequim para sua economia.

Lacalle Pou assumiu a presidência temporária do Mercosul para o segundo semestre. Ele celebrou as manifestações do governo brasileiro, ainda que a favor de uma negociação em conjunto, apenas como bloco.

Minerais e moedas

O presidente Lula propôs ainda que os países do bloco sul-americano lancem uma aliança de produtores de minerais críticos para sua inserção na cadeia internacional de fabricação dos semicondutores. Ele pediu que o Uruguai se dedice a aprimorar o sistemas de pagamentos entre os países usando moedas locais.

Ao falar sobre as guerras em curso no mundo, Lula voltou a defender uma conferência internacional que reúna russos e ucranianos como forma de engajamento ideal para promover a paz e chamou de “matança indiscriminada” de mulheres e crianças a ação militar de Israel contra os terroristas do Hamas na Faixa de Gaza.

Lula lembrou que o Brasil foi o primeiro membro do bloco a ratificar e fazer entrar em vigor, dias atrás, um acordo de livre comércio assinado em 2011, entre os países do Mercosul com e a Palestina. O gesto irritou a chancelaria argentina, já que Milei prioriza a aliança total com Israel no contexto da guerra em Gaza.

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