Lula propõe referendo popular como alternativa à guerra na Ucrânia e quer assunto fora do G-20


Petista afirmou que referendo seria mais ‘justo e democrático’ para encerrar conflito bélico no Leste Europeu; tema será foco de debates em cúpula do Rio e exclusão da pauta interessa à Rússia

Por Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu nesta sexta-feira, dia 1º, a realização de uma consulta popular para dar fim à disputa pelo controle de territórios ocupados pela Rússia durante a guerra na Ucrânia. Lula propôs que um referendo poderia encerrar o conflito bélico no Leste Europeu.

“A Rússia diz que o território que estão ocupando é russo. A Ucrânia diz que é deles. Por que em vez de guerra não fazem um referendo para saber com quem o povo quer ficar?”, sugeriu o presidente, durante entrevista ao canal de TV francês TF1. “Seria muito mais simples, muito mais democrático e muito mais justo. Vamos deixar o povo decidir, vamos consultar o povo para saber se ele quer ser russo ou ucraniano.”

A proposta é mais uma no rol de ideias apresentadas pelo petista desde que se colocou como potencial mediador do conflito. Líderes ucranianos, no entanto, já rejeitaram essas tentativas de mediação porque consideram haver influência russa e chinesa nas propostas.

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Lula falou à TV francesa TF1 sobre proposta de referendo para fim da guerra na Ucrânia. Foto: Reprodução/Palácio do Planalto

Antes, Lula chegou a aventar a ideia de formar um clube da paz, um grupo de países neutros que pudessem mediar um entendimento; sugeriu que a Ucrânia deveria ceder território, deixando de disputar a Crimeia, ocupada em 2014; e também apresentou uma sugestão com a China com seis princípios para obter um cessar-fogo e estabelecer uma negociação que reunisse tanto os russos quanto os ucranianos na mesa. Todas as propostas foram rejeitadas com veemência pela Ucrânia, que teve seu território invadido e ocupado por Vladimir Putin.

Manifestações de Lula foram na maioria das vezes interpretadas como pró-Rússia, como quando disse que os dois lados tinham responsabilidade similar pelo conflito — iniciado por uma invasão de tropas russas — e que os Estados Unidos e a Europa ajudavam a prolongar a guerra ao colaborar com armas e dinheiro para as defesas de Kiev.

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Em setembro de 2022, referendos sobre a anexação à Rússia, patrocinados por forças políticas locais pró-Moscou, foram realizados em quatro regiões ucranianas: Donetsk e Luhansk, províncias separatistas no Donbas, além de Kherson e Zaporizhzia.

Kiev e países ocidentais não reconheceram o resultado da votação em áreas ocupadas militarmente, por estarem em desacordo com a lei ucraniana. Putin, por sua vez, assinou decretos ratificando a anexação dessas regiões a seu território.

Em 2014, o referendo local feito às pressas também foi uma forma usada pelo Kremlin para dar respaldo popular à anexação da Crimeia.

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Guerras ‘de fora’ do G-20 no Rio

Lula também defendeu que a guerra entre Rússia e Ucrânia e outras, como a de Israel contra o grupo terrorista Hamas, não devem ser pauta da Cúpula de Líderes do G-20, nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio.

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O encontro de chefes de Estado e de governo do grupo das maiores economias do mundo é presidido pelo Brasil e, apesar da declaração de Lula, tem como um dos temas mais complexos e polarizantes a abordagem dos conflitos em curso no mundo.

“Nós não achamos que esse fórum do G-20 será um espaço para discutir a guerra entre dois países. Será para discutir os temas abordados no último G-20 (na Índia) e queremos evoluir”, afirmou Lula. “Não vai ser no G-20 que a gente vai discutir esse assunto. O companheiro Putin e o companheiro Zelenski não virão a esse encontro. Queremos discutir outras coisas importantes para a humanidade e não transformar o G-20 numa discussão sobre a guerra, seja de Israel, seja da Ucrânia e da Rússia.”

O petista argumentou, em linha com que vem defendendo a diplomacia brasileira, que as guerras devem ser abordadas nas Nações Unidas e por seu Conselho de Segurança. Ele ponderou, porém, que devem ser criadas estruturas para dar mais credibilidade e representatividade aos países a fim de resolver os confrontos bélicos. Lula insiste que a ONU está enfraquecida e que ninguém respeita as decisões do conselho.

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Lula também argumentou que não convidou para a cúpula carioca o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, e que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, declinou de participar. Putin alegou que não “atrapalharia” os trabalhos do G-20. A decisão do russo tem como pano de fundo o risco de ser preso no Brasil, por causa de um mandado internacional sob acusação de crime de guerra na deportação ilegal de crianças ucranianas.

O Estadão apurou que os ucranianos chegaram a propor ao Palácio do Planalto que Zelenski fosse convidado ao G-20, quando achavam que Putin ainda viria, para que então se promovesse uma primeira reunião entre eles. A ideia era que o convite fosse levado pessoalmente por Lula a Kiev, no mês passado, quando ele também realizaria uma visita e audiência com Putin, em Kazan. No entanto, o governo brasileiro jamais respondeu, segundo fontes diplomáticas ucranianas. Lula cancelou a viagem ao Brics na Rússia por causa de um acidente doméstico.

Diplomacia russa

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Por uma estratégia diplomática, o governo brasileiro sugeriu aos demais países que deixassem essa discussão justamente para a reunião de líderes no Rio e os encontros prévios de chanceleres, uma forma de desbloquear a agenda ao longo de 2024 para os assuntos definidos como prioritários pelo Brasil: combate à fome e à pobreza, desenvolvimento sustentável e reforma da governança global.

Ao tentar retirar agora o tema do foco, Lula externou uma posição que coincide com os interesses da diplomacia de Putin. Na véspera, o embaixador da Rússia no Brasil, Alexei Labestkii, também defendeu que a guerra estava “fora do jogo” no G-20, ecoando a tese russa que o fórum deve se manter fiel a suas discussões originais de natureza econômica e financeira, em vez de se ocupar das tensões geopolíticas.

Há dois anos, o líder russo vem sendo isolado dos debates globais, em uma ofensiva de norte-americanos e europeus. O G-20 é um dos palcos que ele deixou de frequentar, em que os consensos têm sido dificultados por tentativas de adotar uma linguagem dura e que responsabilize a Rússia pela guerra e seus efeitos econômicos e humanitários.

Na TV francesa, o petista voltou a dizer que falta interlocução para construir a paz entre Rússia e Ucrânia. Ele lembrou a proposta com seis princípios sugerida em conjunto por seu governo e a China de Xi Jinping - maior aliado estratégico de Putin.

O plano agradou a Putin, mas não a Zelenski. O ucraniano possui uma fórmula própria “de paz” que parte da exigência de retirada total das tropas russas, o que Moscou não aceita e não consta na proposta sino-brasileira. Os ucranianos já se mostraram dispostos a discutir os dois planos em conjunto, mas a diplomacia russa descarta essa possibilidade.

“Sempre é momento de construir paz. O poder da palavra, do argumento, às vezes faz mais efeito do que o barulho do canhão, da metralhadora e de uma explosão qualquer. Acho que é plenamente possível (a negociação), o que acontece é que nem o Zelenski, nem o Putin querem ainda sentar (à mesa)”, afirmou Lula. “Está faltando interlocução, pessoas com credibilidade para serem ouvidas. O Brasil está se colocando. O Brasil está dizendo em alto e bom som que não queremos participar do conflito e, quando houver vontade de conversar, estamos dispostos a sentar na mesa com todas as pessoas para ver se encontramos uma solução pacífica.”

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu nesta sexta-feira, dia 1º, a realização de uma consulta popular para dar fim à disputa pelo controle de territórios ocupados pela Rússia durante a guerra na Ucrânia. Lula propôs que um referendo poderia encerrar o conflito bélico no Leste Europeu.

“A Rússia diz que o território que estão ocupando é russo. A Ucrânia diz que é deles. Por que em vez de guerra não fazem um referendo para saber com quem o povo quer ficar?”, sugeriu o presidente, durante entrevista ao canal de TV francês TF1. “Seria muito mais simples, muito mais democrático e muito mais justo. Vamos deixar o povo decidir, vamos consultar o povo para saber se ele quer ser russo ou ucraniano.”

A proposta é mais uma no rol de ideias apresentadas pelo petista desde que se colocou como potencial mediador do conflito. Líderes ucranianos, no entanto, já rejeitaram essas tentativas de mediação porque consideram haver influência russa e chinesa nas propostas.

Lula falou à TV francesa TF1 sobre proposta de referendo para fim da guerra na Ucrânia. Foto: Reprodução/Palácio do Planalto

Antes, Lula chegou a aventar a ideia de formar um clube da paz, um grupo de países neutros que pudessem mediar um entendimento; sugeriu que a Ucrânia deveria ceder território, deixando de disputar a Crimeia, ocupada em 2014; e também apresentou uma sugestão com a China com seis princípios para obter um cessar-fogo e estabelecer uma negociação que reunisse tanto os russos quanto os ucranianos na mesa. Todas as propostas foram rejeitadas com veemência pela Ucrânia, que teve seu território invadido e ocupado por Vladimir Putin.

Manifestações de Lula foram na maioria das vezes interpretadas como pró-Rússia, como quando disse que os dois lados tinham responsabilidade similar pelo conflito — iniciado por uma invasão de tropas russas — e que os Estados Unidos e a Europa ajudavam a prolongar a guerra ao colaborar com armas e dinheiro para as defesas de Kiev.

Em setembro de 2022, referendos sobre a anexação à Rússia, patrocinados por forças políticas locais pró-Moscou, foram realizados em quatro regiões ucranianas: Donetsk e Luhansk, províncias separatistas no Donbas, além de Kherson e Zaporizhzia.

Kiev e países ocidentais não reconheceram o resultado da votação em áreas ocupadas militarmente, por estarem em desacordo com a lei ucraniana. Putin, por sua vez, assinou decretos ratificando a anexação dessas regiões a seu território.

Em 2014, o referendo local feito às pressas também foi uma forma usada pelo Kremlin para dar respaldo popular à anexação da Crimeia.

Guerras ‘de fora’ do G-20 no Rio

Lula também defendeu que a guerra entre Rússia e Ucrânia e outras, como a de Israel contra o grupo terrorista Hamas, não devem ser pauta da Cúpula de Líderes do G-20, nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio.

O encontro de chefes de Estado e de governo do grupo das maiores economias do mundo é presidido pelo Brasil e, apesar da declaração de Lula, tem como um dos temas mais complexos e polarizantes a abordagem dos conflitos em curso no mundo.

“Nós não achamos que esse fórum do G-20 será um espaço para discutir a guerra entre dois países. Será para discutir os temas abordados no último G-20 (na Índia) e queremos evoluir”, afirmou Lula. “Não vai ser no G-20 que a gente vai discutir esse assunto. O companheiro Putin e o companheiro Zelenski não virão a esse encontro. Queremos discutir outras coisas importantes para a humanidade e não transformar o G-20 numa discussão sobre a guerra, seja de Israel, seja da Ucrânia e da Rússia.”

O petista argumentou, em linha com que vem defendendo a diplomacia brasileira, que as guerras devem ser abordadas nas Nações Unidas e por seu Conselho de Segurança. Ele ponderou, porém, que devem ser criadas estruturas para dar mais credibilidade e representatividade aos países a fim de resolver os confrontos bélicos. Lula insiste que a ONU está enfraquecida e que ninguém respeita as decisões do conselho.

Lula também argumentou que não convidou para a cúpula carioca o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, e que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, declinou de participar. Putin alegou que não “atrapalharia” os trabalhos do G-20. A decisão do russo tem como pano de fundo o risco de ser preso no Brasil, por causa de um mandado internacional sob acusação de crime de guerra na deportação ilegal de crianças ucranianas.

O Estadão apurou que os ucranianos chegaram a propor ao Palácio do Planalto que Zelenski fosse convidado ao G-20, quando achavam que Putin ainda viria, para que então se promovesse uma primeira reunião entre eles. A ideia era que o convite fosse levado pessoalmente por Lula a Kiev, no mês passado, quando ele também realizaria uma visita e audiência com Putin, em Kazan. No entanto, o governo brasileiro jamais respondeu, segundo fontes diplomáticas ucranianas. Lula cancelou a viagem ao Brics na Rússia por causa de um acidente doméstico.

Diplomacia russa

Por uma estratégia diplomática, o governo brasileiro sugeriu aos demais países que deixassem essa discussão justamente para a reunião de líderes no Rio e os encontros prévios de chanceleres, uma forma de desbloquear a agenda ao longo de 2024 para os assuntos definidos como prioritários pelo Brasil: combate à fome e à pobreza, desenvolvimento sustentável e reforma da governança global.

Ao tentar retirar agora o tema do foco, Lula externou uma posição que coincide com os interesses da diplomacia de Putin. Na véspera, o embaixador da Rússia no Brasil, Alexei Labestkii, também defendeu que a guerra estava “fora do jogo” no G-20, ecoando a tese russa que o fórum deve se manter fiel a suas discussões originais de natureza econômica e financeira, em vez de se ocupar das tensões geopolíticas.

Há dois anos, o líder russo vem sendo isolado dos debates globais, em uma ofensiva de norte-americanos e europeus. O G-20 é um dos palcos que ele deixou de frequentar, em que os consensos têm sido dificultados por tentativas de adotar uma linguagem dura e que responsabilize a Rússia pela guerra e seus efeitos econômicos e humanitários.

Na TV francesa, o petista voltou a dizer que falta interlocução para construir a paz entre Rússia e Ucrânia. Ele lembrou a proposta com seis princípios sugerida em conjunto por seu governo e a China de Xi Jinping - maior aliado estratégico de Putin.

O plano agradou a Putin, mas não a Zelenski. O ucraniano possui uma fórmula própria “de paz” que parte da exigência de retirada total das tropas russas, o que Moscou não aceita e não consta na proposta sino-brasileira. Os ucranianos já se mostraram dispostos a discutir os dois planos em conjunto, mas a diplomacia russa descarta essa possibilidade.

“Sempre é momento de construir paz. O poder da palavra, do argumento, às vezes faz mais efeito do que o barulho do canhão, da metralhadora e de uma explosão qualquer. Acho que é plenamente possível (a negociação), o que acontece é que nem o Zelenski, nem o Putin querem ainda sentar (à mesa)”, afirmou Lula. “Está faltando interlocução, pessoas com credibilidade para serem ouvidas. O Brasil está se colocando. O Brasil está dizendo em alto e bom som que não queremos participar do conflito e, quando houver vontade de conversar, estamos dispostos a sentar na mesa com todas as pessoas para ver se encontramos uma solução pacífica.”

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu nesta sexta-feira, dia 1º, a realização de uma consulta popular para dar fim à disputa pelo controle de territórios ocupados pela Rússia durante a guerra na Ucrânia. Lula propôs que um referendo poderia encerrar o conflito bélico no Leste Europeu.

“A Rússia diz que o território que estão ocupando é russo. A Ucrânia diz que é deles. Por que em vez de guerra não fazem um referendo para saber com quem o povo quer ficar?”, sugeriu o presidente, durante entrevista ao canal de TV francês TF1. “Seria muito mais simples, muito mais democrático e muito mais justo. Vamos deixar o povo decidir, vamos consultar o povo para saber se ele quer ser russo ou ucraniano.”

A proposta é mais uma no rol de ideias apresentadas pelo petista desde que se colocou como potencial mediador do conflito. Líderes ucranianos, no entanto, já rejeitaram essas tentativas de mediação porque consideram haver influência russa e chinesa nas propostas.

Lula falou à TV francesa TF1 sobre proposta de referendo para fim da guerra na Ucrânia. Foto: Reprodução/Palácio do Planalto

Antes, Lula chegou a aventar a ideia de formar um clube da paz, um grupo de países neutros que pudessem mediar um entendimento; sugeriu que a Ucrânia deveria ceder território, deixando de disputar a Crimeia, ocupada em 2014; e também apresentou uma sugestão com a China com seis princípios para obter um cessar-fogo e estabelecer uma negociação que reunisse tanto os russos quanto os ucranianos na mesa. Todas as propostas foram rejeitadas com veemência pela Ucrânia, que teve seu território invadido e ocupado por Vladimir Putin.

Manifestações de Lula foram na maioria das vezes interpretadas como pró-Rússia, como quando disse que os dois lados tinham responsabilidade similar pelo conflito — iniciado por uma invasão de tropas russas — e que os Estados Unidos e a Europa ajudavam a prolongar a guerra ao colaborar com armas e dinheiro para as defesas de Kiev.

Em setembro de 2022, referendos sobre a anexação à Rússia, patrocinados por forças políticas locais pró-Moscou, foram realizados em quatro regiões ucranianas: Donetsk e Luhansk, províncias separatistas no Donbas, além de Kherson e Zaporizhzia.

Kiev e países ocidentais não reconheceram o resultado da votação em áreas ocupadas militarmente, por estarem em desacordo com a lei ucraniana. Putin, por sua vez, assinou decretos ratificando a anexação dessas regiões a seu território.

Em 2014, o referendo local feito às pressas também foi uma forma usada pelo Kremlin para dar respaldo popular à anexação da Crimeia.

Guerras ‘de fora’ do G-20 no Rio

Lula também defendeu que a guerra entre Rússia e Ucrânia e outras, como a de Israel contra o grupo terrorista Hamas, não devem ser pauta da Cúpula de Líderes do G-20, nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio.

O encontro de chefes de Estado e de governo do grupo das maiores economias do mundo é presidido pelo Brasil e, apesar da declaração de Lula, tem como um dos temas mais complexos e polarizantes a abordagem dos conflitos em curso no mundo.

“Nós não achamos que esse fórum do G-20 será um espaço para discutir a guerra entre dois países. Será para discutir os temas abordados no último G-20 (na Índia) e queremos evoluir”, afirmou Lula. “Não vai ser no G-20 que a gente vai discutir esse assunto. O companheiro Putin e o companheiro Zelenski não virão a esse encontro. Queremos discutir outras coisas importantes para a humanidade e não transformar o G-20 numa discussão sobre a guerra, seja de Israel, seja da Ucrânia e da Rússia.”

O petista argumentou, em linha com que vem defendendo a diplomacia brasileira, que as guerras devem ser abordadas nas Nações Unidas e por seu Conselho de Segurança. Ele ponderou, porém, que devem ser criadas estruturas para dar mais credibilidade e representatividade aos países a fim de resolver os confrontos bélicos. Lula insiste que a ONU está enfraquecida e que ninguém respeita as decisões do conselho.

Lula também argumentou que não convidou para a cúpula carioca o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, e que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, declinou de participar. Putin alegou que não “atrapalharia” os trabalhos do G-20. A decisão do russo tem como pano de fundo o risco de ser preso no Brasil, por causa de um mandado internacional sob acusação de crime de guerra na deportação ilegal de crianças ucranianas.

O Estadão apurou que os ucranianos chegaram a propor ao Palácio do Planalto que Zelenski fosse convidado ao G-20, quando achavam que Putin ainda viria, para que então se promovesse uma primeira reunião entre eles. A ideia era que o convite fosse levado pessoalmente por Lula a Kiev, no mês passado, quando ele também realizaria uma visita e audiência com Putin, em Kazan. No entanto, o governo brasileiro jamais respondeu, segundo fontes diplomáticas ucranianas. Lula cancelou a viagem ao Brics na Rússia por causa de um acidente doméstico.

Diplomacia russa

Por uma estratégia diplomática, o governo brasileiro sugeriu aos demais países que deixassem essa discussão justamente para a reunião de líderes no Rio e os encontros prévios de chanceleres, uma forma de desbloquear a agenda ao longo de 2024 para os assuntos definidos como prioritários pelo Brasil: combate à fome e à pobreza, desenvolvimento sustentável e reforma da governança global.

Ao tentar retirar agora o tema do foco, Lula externou uma posição que coincide com os interesses da diplomacia de Putin. Na véspera, o embaixador da Rússia no Brasil, Alexei Labestkii, também defendeu que a guerra estava “fora do jogo” no G-20, ecoando a tese russa que o fórum deve se manter fiel a suas discussões originais de natureza econômica e financeira, em vez de se ocupar das tensões geopolíticas.

Há dois anos, o líder russo vem sendo isolado dos debates globais, em uma ofensiva de norte-americanos e europeus. O G-20 é um dos palcos que ele deixou de frequentar, em que os consensos têm sido dificultados por tentativas de adotar uma linguagem dura e que responsabilize a Rússia pela guerra e seus efeitos econômicos e humanitários.

Na TV francesa, o petista voltou a dizer que falta interlocução para construir a paz entre Rússia e Ucrânia. Ele lembrou a proposta com seis princípios sugerida em conjunto por seu governo e a China de Xi Jinping - maior aliado estratégico de Putin.

O plano agradou a Putin, mas não a Zelenski. O ucraniano possui uma fórmula própria “de paz” que parte da exigência de retirada total das tropas russas, o que Moscou não aceita e não consta na proposta sino-brasileira. Os ucranianos já se mostraram dispostos a discutir os dois planos em conjunto, mas a diplomacia russa descarta essa possibilidade.

“Sempre é momento de construir paz. O poder da palavra, do argumento, às vezes faz mais efeito do que o barulho do canhão, da metralhadora e de uma explosão qualquer. Acho que é plenamente possível (a negociação), o que acontece é que nem o Zelenski, nem o Putin querem ainda sentar (à mesa)”, afirmou Lula. “Está faltando interlocução, pessoas com credibilidade para serem ouvidas. O Brasil está se colocando. O Brasil está dizendo em alto e bom som que não queremos participar do conflito e, quando houver vontade de conversar, estamos dispostos a sentar na mesa com todas as pessoas para ver se encontramos uma solução pacífica.”

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