Lula visita Bolívia em meio à crise política, evita Evo Morales e reforça apoio a Luis Arce


Encontro com presidente em Santa Cruz de La Sierra ocorre duas semanas após quartelada denunciada como tentativa de golpe em La Paz

Por Jéssica Petrovna

ENVIADA ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se solidarizou com Luis Arce pela quartelada em La Paz e evitou o seu aliado histórico Evo Morales ao visitar a Bolívia pela primeira vez desde que voltou ao Palácio do Planalto.

O encontro, segundo o governo, marca nova fase da relação Brasil-Bolívia, com foco na maior integração entre os países que compartilham 3.400 quilômetros de fronteiras. Mas coincide com o acirramento da crise política em La Paz, palco de uma intentona do Exército no mês passado.

“Não podemos tolerar devaneios autoritários e golpismos. Temos a enorme responsabilidade de defender a democracia contra as tentativas de retrocesso”, disse Lula, que havia classificado a tentativa de golpe como “imperdoável” ao chegar em Santa Cruz de La Sierra para o encontro com o presidente Luis Arce.

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Lula reforçou o apoio ao governo Luis Arce contra a investida militar em meio ao fratricídio da esquerda boliviana, que tem como plano de fundo as eleições do ano que vem. E encerra a visita a Bolívia, a primeira em 15 anos, sem se reunir com Evo Morales, com quem compartilhou a “onda rosa” América Latina.

Ao lado de Arce, o petista declarou: “Em todo o mundo, a desunião das forças democráticas só tem servido à extrema direita”. Ele citou o Reino Unido e a França, onde os conservadores e a direita radical sofreram derrotas nas eleições da semana passada, acrescentando que “é imperativo superar diferenças em prol de um objetivo comum”.

El presidente brasileño, Luiz Inácio Lula da Silva, a la izquierda, escucha al mandatario boliviano, Luis Arce, en un acto de firma de acuerdos en Santa Cruz, Bolivia, el martes 9 de julio de 2024. (AP Foto/Ipa Ibánez) Foto: Ipa Ibanez/AP
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Para a analista Carolina Pavese, doutora em Relações Internacionais pela London School of Economics, a fala reflete a pretensão do petista em se mostrar como liderança do chamado Sul Global. Mas mostra também o nível de divisão na América do Sul, cuja integração foi eleita como prioridade na política externa do governo petista.

“Salvas as devidas proporções na comparação, dialogar com Evo Morales nesse momento na Bolívia seria repetir, de certa forma, o que Milei acaba de fazer ao ir no Brasil e se encontrar com Bolsonaro, o maior oponente político de Lula”, afirma

Ao lado de Luis Arce, o petista bateu na tecla da integração regional após a assinatura de dez atos, entre acordos e memorandos, com foco nos setores de energia, combate ao crime organizado. A lista inclui investimentos na produção de fertilizantes; exploração de minérios como lítio e gás e desenvolvimento da infraestrutura para o comércio por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

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“Bolívia e Brasil estão no coração sul-americano. A integração física e energética da região passa necessariamente por nossos países”, declarou presidente brasileiro.

O fortalecimento das relações com La Paz, que concluiu o processo de adesão ao Mercosul, contudo, ocorre no momento em que a disputa entre Luis Arce e Evo Morales cria mais um ponto de instabilidade política no continente.

A viagem, que já estava programada, ocorre duas semanas após o cerco militar à Praça Murillo, sede do governo boliviano. Luis Arce, que apareceu em vídeos da televisão local confrontando o então comandante do Exército Juan José Zúñiga, afirma ter sido vítima de uma tentativa de golpe, sufocada com a troca no alto comando das Forças Armadas.

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Mas com a prisão de Zúñiga, uma nova versão surgiu. O militar acusou o presidente de armar a quartelada para aumentar a própria popularidade. “O presidente me disse que a situação estava muito difícil, com muitas críticas”, disse o general ao relatar a suposta conversa com Arce. “Tiramos os blindados?”, teria perguntado o militar.

A versão foi reforçada pelo ex-presidente Evo Morales. “Eu achava que era um golpe, mas agora estou confuso: parece autogolpe”, disse em seu programa de rádio após ter convocado manifestações e bloqueios em defesa da democracia.

O governo boliviano nega as acusações. “Não se engane mais uma vez. O que aconteceu no dia 26 de junho foi um golpe militar fracassado”, rebateu o presidente.

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Arce foi ministro de Evo e disputou a eleição de 2020 pelo Movimento ao Socialismo (MAS) com a sua benção. O líder indígena havia sido deposto um ano antes por policiais e militares em meio ao tumulto que se seguiu à sua reeleição sob acusações de fraude, e estava exilado no México.

De volta à Bolívia, Evo Morales quer se candidatar à presidência em 2025, apesar de estar inelegível por decisão da Justiça. A insistência em tentar voltar ao poder abriu uma cisão no MAS que levou a expulsão de Luis Arce das fileiras do partido.

A tese de autogolpe forjado também foi reforçada pelo presidente argentino Javier Milei, que tem travado embates com líderes sul-americanos, expondo o tensionamento político na região. “Vejam o que está acontecendo na Bolívia agora mesmo. Estão dispostas a encenar um falso golpe de Estado para ganhar uns pontos a mais na eleição.”

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Desde o primeiro momento, Buenos Aires destoou da firme condenação da quartelada em La Paz. Enquanto os tanques cercavam a Praça Murillo, a chanceler Diana Mondino disse que “governos, sejam bons ou ruins, se trocam unicamente nas urnas, não se trocam com violentos golpes de Estado”, sem citar diretamente a Bolívia ou expressar apoio a Luis Arce.

Para além do discurso, representantes do governo argentino na Cúpula do Mercosul pressionaram para emplacar sua agenda conservadora, dificultando a formação de consensos. Como resultado das disputas internas, o bloco abrandou o tom ao falar sobre a intentona do Exército boliviano.

Outro ponto de tensão na América do Sul são as eleições na Venezuela, marcadas para 28 de julho, marcadas pela inabilitação de opositores e pela ausência de observadores da União Europeia. Sem citar as preocupações com a lisura no processo, Lula disse esperar que a Venezuela, suspensa por violações da cláusula democrática, possa voltar ao Mercosul. “A normalização da vida política venezuelana significa estabilidade para toda a América do Sul”, disse durante a visita à Bolívia.

ENVIADA ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se solidarizou com Luis Arce pela quartelada em La Paz e evitou o seu aliado histórico Evo Morales ao visitar a Bolívia pela primeira vez desde que voltou ao Palácio do Planalto.

O encontro, segundo o governo, marca nova fase da relação Brasil-Bolívia, com foco na maior integração entre os países que compartilham 3.400 quilômetros de fronteiras. Mas coincide com o acirramento da crise política em La Paz, palco de uma intentona do Exército no mês passado.

“Não podemos tolerar devaneios autoritários e golpismos. Temos a enorme responsabilidade de defender a democracia contra as tentativas de retrocesso”, disse Lula, que havia classificado a tentativa de golpe como “imperdoável” ao chegar em Santa Cruz de La Sierra para o encontro com o presidente Luis Arce.

Lula reforçou o apoio ao governo Luis Arce contra a investida militar em meio ao fratricídio da esquerda boliviana, que tem como plano de fundo as eleições do ano que vem. E encerra a visita a Bolívia, a primeira em 15 anos, sem se reunir com Evo Morales, com quem compartilhou a “onda rosa” América Latina.

Ao lado de Arce, o petista declarou: “Em todo o mundo, a desunião das forças democráticas só tem servido à extrema direita”. Ele citou o Reino Unido e a França, onde os conservadores e a direita radical sofreram derrotas nas eleições da semana passada, acrescentando que “é imperativo superar diferenças em prol de um objetivo comum”.

El presidente brasileño, Luiz Inácio Lula da Silva, a la izquierda, escucha al mandatario boliviano, Luis Arce, en un acto de firma de acuerdos en Santa Cruz, Bolivia, el martes 9 de julio de 2024. (AP Foto/Ipa Ibánez) Foto: Ipa Ibanez/AP

Para a analista Carolina Pavese, doutora em Relações Internacionais pela London School of Economics, a fala reflete a pretensão do petista em se mostrar como liderança do chamado Sul Global. Mas mostra também o nível de divisão na América do Sul, cuja integração foi eleita como prioridade na política externa do governo petista.

“Salvas as devidas proporções na comparação, dialogar com Evo Morales nesse momento na Bolívia seria repetir, de certa forma, o que Milei acaba de fazer ao ir no Brasil e se encontrar com Bolsonaro, o maior oponente político de Lula”, afirma

Ao lado de Luis Arce, o petista bateu na tecla da integração regional após a assinatura de dez atos, entre acordos e memorandos, com foco nos setores de energia, combate ao crime organizado. A lista inclui investimentos na produção de fertilizantes; exploração de minérios como lítio e gás e desenvolvimento da infraestrutura para o comércio por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

“Bolívia e Brasil estão no coração sul-americano. A integração física e energética da região passa necessariamente por nossos países”, declarou presidente brasileiro.

O fortalecimento das relações com La Paz, que concluiu o processo de adesão ao Mercosul, contudo, ocorre no momento em que a disputa entre Luis Arce e Evo Morales cria mais um ponto de instabilidade política no continente.

A viagem, que já estava programada, ocorre duas semanas após o cerco militar à Praça Murillo, sede do governo boliviano. Luis Arce, que apareceu em vídeos da televisão local confrontando o então comandante do Exército Juan José Zúñiga, afirma ter sido vítima de uma tentativa de golpe, sufocada com a troca no alto comando das Forças Armadas.

Mas com a prisão de Zúñiga, uma nova versão surgiu. O militar acusou o presidente de armar a quartelada para aumentar a própria popularidade. “O presidente me disse que a situação estava muito difícil, com muitas críticas”, disse o general ao relatar a suposta conversa com Arce. “Tiramos os blindados?”, teria perguntado o militar.

A versão foi reforçada pelo ex-presidente Evo Morales. “Eu achava que era um golpe, mas agora estou confuso: parece autogolpe”, disse em seu programa de rádio após ter convocado manifestações e bloqueios em defesa da democracia.

O governo boliviano nega as acusações. “Não se engane mais uma vez. O que aconteceu no dia 26 de junho foi um golpe militar fracassado”, rebateu o presidente.

Arce foi ministro de Evo e disputou a eleição de 2020 pelo Movimento ao Socialismo (MAS) com a sua benção. O líder indígena havia sido deposto um ano antes por policiais e militares em meio ao tumulto que se seguiu à sua reeleição sob acusações de fraude, e estava exilado no México.

De volta à Bolívia, Evo Morales quer se candidatar à presidência em 2025, apesar de estar inelegível por decisão da Justiça. A insistência em tentar voltar ao poder abriu uma cisão no MAS que levou a expulsão de Luis Arce das fileiras do partido.

A tese de autogolpe forjado também foi reforçada pelo presidente argentino Javier Milei, que tem travado embates com líderes sul-americanos, expondo o tensionamento político na região. “Vejam o que está acontecendo na Bolívia agora mesmo. Estão dispostas a encenar um falso golpe de Estado para ganhar uns pontos a mais na eleição.”

Desde o primeiro momento, Buenos Aires destoou da firme condenação da quartelada em La Paz. Enquanto os tanques cercavam a Praça Murillo, a chanceler Diana Mondino disse que “governos, sejam bons ou ruins, se trocam unicamente nas urnas, não se trocam com violentos golpes de Estado”, sem citar diretamente a Bolívia ou expressar apoio a Luis Arce.

Para além do discurso, representantes do governo argentino na Cúpula do Mercosul pressionaram para emplacar sua agenda conservadora, dificultando a formação de consensos. Como resultado das disputas internas, o bloco abrandou o tom ao falar sobre a intentona do Exército boliviano.

Outro ponto de tensão na América do Sul são as eleições na Venezuela, marcadas para 28 de julho, marcadas pela inabilitação de opositores e pela ausência de observadores da União Europeia. Sem citar as preocupações com a lisura no processo, Lula disse esperar que a Venezuela, suspensa por violações da cláusula democrática, possa voltar ao Mercosul. “A normalização da vida política venezuelana significa estabilidade para toda a América do Sul”, disse durante a visita à Bolívia.

ENVIADA ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se solidarizou com Luis Arce pela quartelada em La Paz e evitou o seu aliado histórico Evo Morales ao visitar a Bolívia pela primeira vez desde que voltou ao Palácio do Planalto.

O encontro, segundo o governo, marca nova fase da relação Brasil-Bolívia, com foco na maior integração entre os países que compartilham 3.400 quilômetros de fronteiras. Mas coincide com o acirramento da crise política em La Paz, palco de uma intentona do Exército no mês passado.

“Não podemos tolerar devaneios autoritários e golpismos. Temos a enorme responsabilidade de defender a democracia contra as tentativas de retrocesso”, disse Lula, que havia classificado a tentativa de golpe como “imperdoável” ao chegar em Santa Cruz de La Sierra para o encontro com o presidente Luis Arce.

Lula reforçou o apoio ao governo Luis Arce contra a investida militar em meio ao fratricídio da esquerda boliviana, que tem como plano de fundo as eleições do ano que vem. E encerra a visita a Bolívia, a primeira em 15 anos, sem se reunir com Evo Morales, com quem compartilhou a “onda rosa” América Latina.

Ao lado de Arce, o petista declarou: “Em todo o mundo, a desunião das forças democráticas só tem servido à extrema direita”. Ele citou o Reino Unido e a França, onde os conservadores e a direita radical sofreram derrotas nas eleições da semana passada, acrescentando que “é imperativo superar diferenças em prol de um objetivo comum”.

El presidente brasileño, Luiz Inácio Lula da Silva, a la izquierda, escucha al mandatario boliviano, Luis Arce, en un acto de firma de acuerdos en Santa Cruz, Bolivia, el martes 9 de julio de 2024. (AP Foto/Ipa Ibánez) Foto: Ipa Ibanez/AP

Para a analista Carolina Pavese, doutora em Relações Internacionais pela London School of Economics, a fala reflete a pretensão do petista em se mostrar como liderança do chamado Sul Global. Mas mostra também o nível de divisão na América do Sul, cuja integração foi eleita como prioridade na política externa do governo petista.

“Salvas as devidas proporções na comparação, dialogar com Evo Morales nesse momento na Bolívia seria repetir, de certa forma, o que Milei acaba de fazer ao ir no Brasil e se encontrar com Bolsonaro, o maior oponente político de Lula”, afirma

Ao lado de Luis Arce, o petista bateu na tecla da integração regional após a assinatura de dez atos, entre acordos e memorandos, com foco nos setores de energia, combate ao crime organizado. A lista inclui investimentos na produção de fertilizantes; exploração de minérios como lítio e gás e desenvolvimento da infraestrutura para o comércio por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

“Bolívia e Brasil estão no coração sul-americano. A integração física e energética da região passa necessariamente por nossos países”, declarou presidente brasileiro.

O fortalecimento das relações com La Paz, que concluiu o processo de adesão ao Mercosul, contudo, ocorre no momento em que a disputa entre Luis Arce e Evo Morales cria mais um ponto de instabilidade política no continente.

A viagem, que já estava programada, ocorre duas semanas após o cerco militar à Praça Murillo, sede do governo boliviano. Luis Arce, que apareceu em vídeos da televisão local confrontando o então comandante do Exército Juan José Zúñiga, afirma ter sido vítima de uma tentativa de golpe, sufocada com a troca no alto comando das Forças Armadas.

Mas com a prisão de Zúñiga, uma nova versão surgiu. O militar acusou o presidente de armar a quartelada para aumentar a própria popularidade. “O presidente me disse que a situação estava muito difícil, com muitas críticas”, disse o general ao relatar a suposta conversa com Arce. “Tiramos os blindados?”, teria perguntado o militar.

A versão foi reforçada pelo ex-presidente Evo Morales. “Eu achava que era um golpe, mas agora estou confuso: parece autogolpe”, disse em seu programa de rádio após ter convocado manifestações e bloqueios em defesa da democracia.

O governo boliviano nega as acusações. “Não se engane mais uma vez. O que aconteceu no dia 26 de junho foi um golpe militar fracassado”, rebateu o presidente.

Arce foi ministro de Evo e disputou a eleição de 2020 pelo Movimento ao Socialismo (MAS) com a sua benção. O líder indígena havia sido deposto um ano antes por policiais e militares em meio ao tumulto que se seguiu à sua reeleição sob acusações de fraude, e estava exilado no México.

De volta à Bolívia, Evo Morales quer se candidatar à presidência em 2025, apesar de estar inelegível por decisão da Justiça. A insistência em tentar voltar ao poder abriu uma cisão no MAS que levou a expulsão de Luis Arce das fileiras do partido.

A tese de autogolpe forjado também foi reforçada pelo presidente argentino Javier Milei, que tem travado embates com líderes sul-americanos, expondo o tensionamento político na região. “Vejam o que está acontecendo na Bolívia agora mesmo. Estão dispostas a encenar um falso golpe de Estado para ganhar uns pontos a mais na eleição.”

Desde o primeiro momento, Buenos Aires destoou da firme condenação da quartelada em La Paz. Enquanto os tanques cercavam a Praça Murillo, a chanceler Diana Mondino disse que “governos, sejam bons ou ruins, se trocam unicamente nas urnas, não se trocam com violentos golpes de Estado”, sem citar diretamente a Bolívia ou expressar apoio a Luis Arce.

Para além do discurso, representantes do governo argentino na Cúpula do Mercosul pressionaram para emplacar sua agenda conservadora, dificultando a formação de consensos. Como resultado das disputas internas, o bloco abrandou o tom ao falar sobre a intentona do Exército boliviano.

Outro ponto de tensão na América do Sul são as eleições na Venezuela, marcadas para 28 de julho, marcadas pela inabilitação de opositores e pela ausência de observadores da União Europeia. Sem citar as preocupações com a lisura no processo, Lula disse esperar que a Venezuela, suspensa por violações da cláusula democrática, possa voltar ao Mercosul. “A normalização da vida política venezuelana significa estabilidade para toda a América do Sul”, disse durante a visita à Bolívia.

ENVIADA ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se solidarizou com Luis Arce pela quartelada em La Paz e evitou o seu aliado histórico Evo Morales ao visitar a Bolívia pela primeira vez desde que voltou ao Palácio do Planalto.

O encontro, segundo o governo, marca nova fase da relação Brasil-Bolívia, com foco na maior integração entre os países que compartilham 3.400 quilômetros de fronteiras. Mas coincide com o acirramento da crise política em La Paz, palco de uma intentona do Exército no mês passado.

“Não podemos tolerar devaneios autoritários e golpismos. Temos a enorme responsabilidade de defender a democracia contra as tentativas de retrocesso”, disse Lula, que havia classificado a tentativa de golpe como “imperdoável” ao chegar em Santa Cruz de La Sierra para o encontro com o presidente Luis Arce.

Lula reforçou o apoio ao governo Luis Arce contra a investida militar em meio ao fratricídio da esquerda boliviana, que tem como plano de fundo as eleições do ano que vem. E encerra a visita a Bolívia, a primeira em 15 anos, sem se reunir com Evo Morales, com quem compartilhou a “onda rosa” América Latina.

Ao lado de Arce, o petista declarou: “Em todo o mundo, a desunião das forças democráticas só tem servido à extrema direita”. Ele citou o Reino Unido e a França, onde os conservadores e a direita radical sofreram derrotas nas eleições da semana passada, acrescentando que “é imperativo superar diferenças em prol de um objetivo comum”.

El presidente brasileño, Luiz Inácio Lula da Silva, a la izquierda, escucha al mandatario boliviano, Luis Arce, en un acto de firma de acuerdos en Santa Cruz, Bolivia, el martes 9 de julio de 2024. (AP Foto/Ipa Ibánez) Foto: Ipa Ibanez/AP

Para a analista Carolina Pavese, doutora em Relações Internacionais pela London School of Economics, a fala reflete a pretensão do petista em se mostrar como liderança do chamado Sul Global. Mas mostra também o nível de divisão na América do Sul, cuja integração foi eleita como prioridade na política externa do governo petista.

“Salvas as devidas proporções na comparação, dialogar com Evo Morales nesse momento na Bolívia seria repetir, de certa forma, o que Milei acaba de fazer ao ir no Brasil e se encontrar com Bolsonaro, o maior oponente político de Lula”, afirma

Ao lado de Luis Arce, o petista bateu na tecla da integração regional após a assinatura de dez atos, entre acordos e memorandos, com foco nos setores de energia, combate ao crime organizado. A lista inclui investimentos na produção de fertilizantes; exploração de minérios como lítio e gás e desenvolvimento da infraestrutura para o comércio por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

“Bolívia e Brasil estão no coração sul-americano. A integração física e energética da região passa necessariamente por nossos países”, declarou presidente brasileiro.

O fortalecimento das relações com La Paz, que concluiu o processo de adesão ao Mercosul, contudo, ocorre no momento em que a disputa entre Luis Arce e Evo Morales cria mais um ponto de instabilidade política no continente.

A viagem, que já estava programada, ocorre duas semanas após o cerco militar à Praça Murillo, sede do governo boliviano. Luis Arce, que apareceu em vídeos da televisão local confrontando o então comandante do Exército Juan José Zúñiga, afirma ter sido vítima de uma tentativa de golpe, sufocada com a troca no alto comando das Forças Armadas.

Mas com a prisão de Zúñiga, uma nova versão surgiu. O militar acusou o presidente de armar a quartelada para aumentar a própria popularidade. “O presidente me disse que a situação estava muito difícil, com muitas críticas”, disse o general ao relatar a suposta conversa com Arce. “Tiramos os blindados?”, teria perguntado o militar.

A versão foi reforçada pelo ex-presidente Evo Morales. “Eu achava que era um golpe, mas agora estou confuso: parece autogolpe”, disse em seu programa de rádio após ter convocado manifestações e bloqueios em defesa da democracia.

O governo boliviano nega as acusações. “Não se engane mais uma vez. O que aconteceu no dia 26 de junho foi um golpe militar fracassado”, rebateu o presidente.

Arce foi ministro de Evo e disputou a eleição de 2020 pelo Movimento ao Socialismo (MAS) com a sua benção. O líder indígena havia sido deposto um ano antes por policiais e militares em meio ao tumulto que se seguiu à sua reeleição sob acusações de fraude, e estava exilado no México.

De volta à Bolívia, Evo Morales quer se candidatar à presidência em 2025, apesar de estar inelegível por decisão da Justiça. A insistência em tentar voltar ao poder abriu uma cisão no MAS que levou a expulsão de Luis Arce das fileiras do partido.

A tese de autogolpe forjado também foi reforçada pelo presidente argentino Javier Milei, que tem travado embates com líderes sul-americanos, expondo o tensionamento político na região. “Vejam o que está acontecendo na Bolívia agora mesmo. Estão dispostas a encenar um falso golpe de Estado para ganhar uns pontos a mais na eleição.”

Desde o primeiro momento, Buenos Aires destoou da firme condenação da quartelada em La Paz. Enquanto os tanques cercavam a Praça Murillo, a chanceler Diana Mondino disse que “governos, sejam bons ou ruins, se trocam unicamente nas urnas, não se trocam com violentos golpes de Estado”, sem citar diretamente a Bolívia ou expressar apoio a Luis Arce.

Para além do discurso, representantes do governo argentino na Cúpula do Mercosul pressionaram para emplacar sua agenda conservadora, dificultando a formação de consensos. Como resultado das disputas internas, o bloco abrandou o tom ao falar sobre a intentona do Exército boliviano.

Outro ponto de tensão na América do Sul são as eleições na Venezuela, marcadas para 28 de julho, marcadas pela inabilitação de opositores e pela ausência de observadores da União Europeia. Sem citar as preocupações com a lisura no processo, Lula disse esperar que a Venezuela, suspensa por violações da cláusula democrática, possa voltar ao Mercosul. “A normalização da vida política venezuelana significa estabilidade para toda a América do Sul”, disse durante a visita à Bolívia.

ENVIADA ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se solidarizou com Luis Arce pela quartelada em La Paz e evitou o seu aliado histórico Evo Morales ao visitar a Bolívia pela primeira vez desde que voltou ao Palácio do Planalto.

O encontro, segundo o governo, marca nova fase da relação Brasil-Bolívia, com foco na maior integração entre os países que compartilham 3.400 quilômetros de fronteiras. Mas coincide com o acirramento da crise política em La Paz, palco de uma intentona do Exército no mês passado.

“Não podemos tolerar devaneios autoritários e golpismos. Temos a enorme responsabilidade de defender a democracia contra as tentativas de retrocesso”, disse Lula, que havia classificado a tentativa de golpe como “imperdoável” ao chegar em Santa Cruz de La Sierra para o encontro com o presidente Luis Arce.

Lula reforçou o apoio ao governo Luis Arce contra a investida militar em meio ao fratricídio da esquerda boliviana, que tem como plano de fundo as eleições do ano que vem. E encerra a visita a Bolívia, a primeira em 15 anos, sem se reunir com Evo Morales, com quem compartilhou a “onda rosa” América Latina.

Ao lado de Arce, o petista declarou: “Em todo o mundo, a desunião das forças democráticas só tem servido à extrema direita”. Ele citou o Reino Unido e a França, onde os conservadores e a direita radical sofreram derrotas nas eleições da semana passada, acrescentando que “é imperativo superar diferenças em prol de um objetivo comum”.

El presidente brasileño, Luiz Inácio Lula da Silva, a la izquierda, escucha al mandatario boliviano, Luis Arce, en un acto de firma de acuerdos en Santa Cruz, Bolivia, el martes 9 de julio de 2024. (AP Foto/Ipa Ibánez) Foto: Ipa Ibanez/AP

Para a analista Carolina Pavese, doutora em Relações Internacionais pela London School of Economics, a fala reflete a pretensão do petista em se mostrar como liderança do chamado Sul Global. Mas mostra também o nível de divisão na América do Sul, cuja integração foi eleita como prioridade na política externa do governo petista.

“Salvas as devidas proporções na comparação, dialogar com Evo Morales nesse momento na Bolívia seria repetir, de certa forma, o que Milei acaba de fazer ao ir no Brasil e se encontrar com Bolsonaro, o maior oponente político de Lula”, afirma

Ao lado de Luis Arce, o petista bateu na tecla da integração regional após a assinatura de dez atos, entre acordos e memorandos, com foco nos setores de energia, combate ao crime organizado. A lista inclui investimentos na produção de fertilizantes; exploração de minérios como lítio e gás e desenvolvimento da infraestrutura para o comércio por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

“Bolívia e Brasil estão no coração sul-americano. A integração física e energética da região passa necessariamente por nossos países”, declarou presidente brasileiro.

O fortalecimento das relações com La Paz, que concluiu o processo de adesão ao Mercosul, contudo, ocorre no momento em que a disputa entre Luis Arce e Evo Morales cria mais um ponto de instabilidade política no continente.

A viagem, que já estava programada, ocorre duas semanas após o cerco militar à Praça Murillo, sede do governo boliviano. Luis Arce, que apareceu em vídeos da televisão local confrontando o então comandante do Exército Juan José Zúñiga, afirma ter sido vítima de uma tentativa de golpe, sufocada com a troca no alto comando das Forças Armadas.

Mas com a prisão de Zúñiga, uma nova versão surgiu. O militar acusou o presidente de armar a quartelada para aumentar a própria popularidade. “O presidente me disse que a situação estava muito difícil, com muitas críticas”, disse o general ao relatar a suposta conversa com Arce. “Tiramos os blindados?”, teria perguntado o militar.

A versão foi reforçada pelo ex-presidente Evo Morales. “Eu achava que era um golpe, mas agora estou confuso: parece autogolpe”, disse em seu programa de rádio após ter convocado manifestações e bloqueios em defesa da democracia.

O governo boliviano nega as acusações. “Não se engane mais uma vez. O que aconteceu no dia 26 de junho foi um golpe militar fracassado”, rebateu o presidente.

Arce foi ministro de Evo e disputou a eleição de 2020 pelo Movimento ao Socialismo (MAS) com a sua benção. O líder indígena havia sido deposto um ano antes por policiais e militares em meio ao tumulto que se seguiu à sua reeleição sob acusações de fraude, e estava exilado no México.

De volta à Bolívia, Evo Morales quer se candidatar à presidência em 2025, apesar de estar inelegível por decisão da Justiça. A insistência em tentar voltar ao poder abriu uma cisão no MAS que levou a expulsão de Luis Arce das fileiras do partido.

A tese de autogolpe forjado também foi reforçada pelo presidente argentino Javier Milei, que tem travado embates com líderes sul-americanos, expondo o tensionamento político na região. “Vejam o que está acontecendo na Bolívia agora mesmo. Estão dispostas a encenar um falso golpe de Estado para ganhar uns pontos a mais na eleição.”

Desde o primeiro momento, Buenos Aires destoou da firme condenação da quartelada em La Paz. Enquanto os tanques cercavam a Praça Murillo, a chanceler Diana Mondino disse que “governos, sejam bons ou ruins, se trocam unicamente nas urnas, não se trocam com violentos golpes de Estado”, sem citar diretamente a Bolívia ou expressar apoio a Luis Arce.

Para além do discurso, representantes do governo argentino na Cúpula do Mercosul pressionaram para emplacar sua agenda conservadora, dificultando a formação de consensos. Como resultado das disputas internas, o bloco abrandou o tom ao falar sobre a intentona do Exército boliviano.

Outro ponto de tensão na América do Sul são as eleições na Venezuela, marcadas para 28 de julho, marcadas pela inabilitação de opositores e pela ausência de observadores da União Europeia. Sem citar as preocupações com a lisura no processo, Lula disse esperar que a Venezuela, suspensa por violações da cláusula democrática, possa voltar ao Mercosul. “A normalização da vida política venezuelana significa estabilidade para toda a América do Sul”, disse durante a visita à Bolívia.

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