PARIS - O presidente da França, Emmanuel Macron, nomeou, nesta sexta-feira, 13, o centrista veterano François Bayrou, de 73 anos, como primeiro-ministro. A indicação é uma tentativa de pôr fim à crise provocada pelo voto de desconfiança imposto ao premiê anterior, Michael Barnier. Agora, Macron tem o desafio de reunir uma maioria parlamentar que impeça uma nova queda do governo e agrave ainda mais a crise política.
A França tem um regime semipresidencialista. Isso quer dizer, na prática, que o presidente cuida de temas de política externa e defesa enquanto a política doméstica é tocada no dia a dia pelo premiê.
Após a vitória da extrema direita nas eleições europeias em junho, Macron, numa jogada ousada, antecipou as eleições para o Parlamento, em uma tentativa de ampliar sua base. A aposta deu errado. A extrema direita liderada por Marine Le Pen aumentou de tamanho e só não conseguiu apoio para nomear o premiê porque a Frente Ampla de esquerda se aliou com os centristas de Macron no segundo turno.
Após as eleições, Macron se negou a nomear um premiê de esquerda, temendo que a agenda da Frente Ampla desmontasse sua agenda econômica de reformas. A segunda maior economia da União Europeia tem altos níveis de déficit e dívida públicos para a zona do euro. Por isso, Macron quer aprovar uma redução acentuada nos gastos públicos para tranquilizar os mercados.
Então, ele contou com o apoio de Le Pen e da direita conservadora para nomear Barnier. Só que, no começo de dezembro, Barnier perdeu um voto de confiança no Parlamento, evidenciando a frágil situação política de Macron, refém dos extremos do espectro político.
Na ocasião, durante o processo para aprovar o orçamento de 2025, a extrema direita apoiou uma moção de censura apresentada pela coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP), que dizia que Barnier não respondeu às suas demandas.
Após duas semanas de negociação, Macron agora diz que Bayrou é um nome de consenso que permitirá negociar tanto com a direita quanto com a esquerda moderadas. Mas até mesmo seu indicado sabe do momento político ruim do governo. “Todos estão cientes da dificuldade da tarefa”, disse Bayrou à imprensa antes da posse.
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Quem é François Bayrou
Bayrou é um antigo conhecido da classe política. Sua consagração nacional veio com sua nomeação como ministro da Educação em 1993, em um governo de direita durante a presidência do socialista François Mitterrand.
Desde então, exerceu mandatos como deputado, membro do Parlamento Europeu, prefeito como líder de seu partido centrista chamado Movimento Democrático (MoDem) desde 2007 e se candidatou em 2002, 2007 e 2012 à eleição presidencial francesa, sem sucesso.
Para o pleito de 2017, decidiu apoiar Macron, que irrompeu do centro com um discurso reformista e retribuiu nomeando-o como ministro da Justiça, cargo que ocupou por apenas 34 dias.
Uma investigação judicial sobre o recrutamento fraudulento de assistentes no Parlamento Europeu forçou-o a deixar o cargo. Em fevereiro deste ano, a Justiça condenou o MoDem, mas absolveu seu fundador em nome do “benefício da dúvida”.
Embora o caso continue em aberto depois que a Promotoria recorreu da sentença, isto não impediu a sua nomeação. Resta saber se conseguirá obter uma maioria parlamentar. A composição do futuro governo e suas prioridades serão fundamentais.
Uma dança de alianças
Quase seis meses depois das eleições, socialistas, comunistas e ecologistas, aliados do partido de esquerda radical A França Insubmissa (LFI), abriram-se ao diálogo para discutir um governo com a aliança de Macron. Mas isso pode ameaçar a maioria da Frente Ampla de esquerda no Parlamento.
O LFI já anunciou que apresentará uma moção de censura contra Bayrou, enquanto a extrema direita e os ecologistas expressaram suas condições para não derrubá-lo. Os comunistas classificaram sua nomeação como uma “má notícia”. O LR e os socialistas ainda não se pronunciaram.
Considerando a eleição presidencial de 2027, à qual Macron não poderá concorrer, os partidos não querem ficar presos ao legado de um presidente impopular nem ser responsabilizados pela instabilidade política.
O presidente francês conta com apenas 21% de aprovação no país, seu nível mais baixo desde que chegou ao poder em 2017, de acordo com uma pesquisa da Elabe. / AFP