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Opinião|Maduro alega vitória na contestada eleição na Venezuela. O que farão Lula e Biden?


Fiadores do acordo de Barbados, Brasil e EUA terão de lidar com um ditador ainda mais descontrolado após indícios de fraude

Por Luiz Raatz
Atualização:

De todos os cenários previstos para a eleição venezuelana, deu o mais óbvio. Nicolás Maduro aparentemente foi derrotado, mas não quer largar o osso. A ilusão de uma saída similar a do plebiscito do Chile no final da ditadura Pinochet foi por água abaixo quando o Conselho Nacional Eleitoral, nesta madrugada, declarou o ditador o vencedor da eleição, com direito a mais seis anos de mandato.

Mais uma vez, a oposição venezuelana apostou na via eleitoral para derrotar o chavismo, como fez em 2010, 2012, 2013 e 2015. Mais uma vez, não deu certo. Mas, ao contrário das oportunidades anteriores, a fraude deste ano dá sinais de ter sido muito mais descarada.

Se na época de Chávez, a trapaça era feita antes da eleição, com a cessão de benefícios a famílias de baixa renda e redesenho de distritos, com Maduro foi se tornando cada vez menos discreta.

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Maduro manda beijo em comícios: Acordos de Barbados não foram cumpridos Foto: Yuri Cortez/ AFP

Em 2013, a Justiça chavista estendeu os horários para atrair mais eleitores governistas e assim derrotar Henrique Capriles. Em 2015, a vitória opositora na eleição legislativa foi anulada por um decreto judicial. Em 2024, pelo que tudo indica, os números foram obra de ficção.

Sinais de fraude

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O CNE passou seis horas sem oferecer parciais do resultado. 7 milhões de pessoas que moram no exterior, e por isso tendem a votar contra Maduro, não puderam ir às urnas. A principal candidata opositora, María Corina Machado, foi impedida de concorrer. Sua substituta e xará, Corina Yoris, também.

Além disso, a oposição denunciou não ter tido acesso a 70% das atas eleitorais, que comprovariam as pesquisas que indicavam uma vitória de Edmundo Gonzalez.. As longas filas ao longo do dia contrastaram com a última votação organizada pelos chavistas, a do plebiscito do Essequibo, amplamente boicotada pela população.

Por tudo isso, os números podem muito bem ter saído de uma eleição em Nárnia.

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Um acordo falido

A votação de ontem só ocorreu por causa do acordo assinado entre oposição e chavismo em Barbados, em outubro do ano passado, que previa o levantamento de sanções americanas em troca de eleições livres e justas. Esse acordo teve três patrocinadores: O Brasil, os Estados Unidos e a União Europeia.

Cada um deles tinha um interesse específico na Venezuela. Os europeus, com problemas energéticos desde a invasão da Ucrânia, querem comprar o petróleo chavista. Os americanos precisavam estancar a sangria na fronteira, por onde dezenas de milhares de venezuelanos entraram por ano, além de também precisar baixar o preço da gasolina.

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E o Brasil tinha planos de saldar as dívidas chavistas com empresas nacionais, que somam mais de R$ 5 bilhões, e projetar uma força diplomática lulista no continente que já não existe mais.

Prejuízo petista

De outubro para cá, os sinais que Maduro vinha dando, sobretudo para o Brasil, eram péssimos, apesar de toda camaradagem de Lula em relação a ele desde que voltou ao Planalto.

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O escarcéu do Essequibo, quando Maduro ameaçou tomar uma área da Guiana, por exemplo foi mais uma dor de cabeça desnecessária para o Itamaraty.

Quando Lula finalmente percebeu que bancar Maduro incondicionalmente era ( e sempre foi) uma cilada daquelas, resolveu mudar de discurso, e passou a criticar pontualmente o aliado. A última dessas falas foi sobre o risco de banho de sangue na Venezuela. O ditador mandou o petista tomar um chá de camomila.

Com a fraude de domingo, Maduro dá outro tapa na cara da diplomacia petista. O custo-benefício de dar guarida diplomática aos bolivarianos já não compensa há tempos, mas o governo parece insistir por pura simpatia ideológica, por mais que Maduro às vezes se inspire em Jair Bolsonaro para criticar o sistema eleitoral brasileiro.

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Danos eleitorais

Do lado americano, no entanto, o prejuízo em termos práticos de Biden, e agora da vice, Kamala Harris pode ser até maior. Se o período pós-eleitoral for violento, o fluxo de venezuelanos para os EUA pode voltar a aumentar. Além disso, em Estados como Flórida, Texas e Arizona, os republicanos podem ampliar a vantagem entre o eleitorado hispânico, depois do fracasso do plano de Biden numa transição democrática.

Trump já vem apontando uma suposta fraqueza de Kamala Harris na questão migratória, uma vez que ela foi indicada por Biden para tratar a questão com líderes da América Central. Se souber explorar a questão venezuelana, o republicano pode infligir mais danos, num momento em que a candidatura democrata começa a se levantar.

De todos os cenários previstos para a eleição venezuelana, deu o mais óbvio. Nicolás Maduro aparentemente foi derrotado, mas não quer largar o osso. A ilusão de uma saída similar a do plebiscito do Chile no final da ditadura Pinochet foi por água abaixo quando o Conselho Nacional Eleitoral, nesta madrugada, declarou o ditador o vencedor da eleição, com direito a mais seis anos de mandato.

Mais uma vez, a oposição venezuelana apostou na via eleitoral para derrotar o chavismo, como fez em 2010, 2012, 2013 e 2015. Mais uma vez, não deu certo. Mas, ao contrário das oportunidades anteriores, a fraude deste ano dá sinais de ter sido muito mais descarada.

Se na época de Chávez, a trapaça era feita antes da eleição, com a cessão de benefícios a famílias de baixa renda e redesenho de distritos, com Maduro foi se tornando cada vez menos discreta.

Maduro manda beijo em comícios: Acordos de Barbados não foram cumpridos Foto: Yuri Cortez/ AFP

Em 2013, a Justiça chavista estendeu os horários para atrair mais eleitores governistas e assim derrotar Henrique Capriles. Em 2015, a vitória opositora na eleição legislativa foi anulada por um decreto judicial. Em 2024, pelo que tudo indica, os números foram obra de ficção.

Sinais de fraude

O CNE passou seis horas sem oferecer parciais do resultado. 7 milhões de pessoas que moram no exterior, e por isso tendem a votar contra Maduro, não puderam ir às urnas. A principal candidata opositora, María Corina Machado, foi impedida de concorrer. Sua substituta e xará, Corina Yoris, também.

Além disso, a oposição denunciou não ter tido acesso a 70% das atas eleitorais, que comprovariam as pesquisas que indicavam uma vitória de Edmundo Gonzalez.. As longas filas ao longo do dia contrastaram com a última votação organizada pelos chavistas, a do plebiscito do Essequibo, amplamente boicotada pela população.

Por tudo isso, os números podem muito bem ter saído de uma eleição em Nárnia.

Um acordo falido

A votação de ontem só ocorreu por causa do acordo assinado entre oposição e chavismo em Barbados, em outubro do ano passado, que previa o levantamento de sanções americanas em troca de eleições livres e justas. Esse acordo teve três patrocinadores: O Brasil, os Estados Unidos e a União Europeia.

Cada um deles tinha um interesse específico na Venezuela. Os europeus, com problemas energéticos desde a invasão da Ucrânia, querem comprar o petróleo chavista. Os americanos precisavam estancar a sangria na fronteira, por onde dezenas de milhares de venezuelanos entraram por ano, além de também precisar baixar o preço da gasolina.

E o Brasil tinha planos de saldar as dívidas chavistas com empresas nacionais, que somam mais de R$ 5 bilhões, e projetar uma força diplomática lulista no continente que já não existe mais.

Prejuízo petista

De outubro para cá, os sinais que Maduro vinha dando, sobretudo para o Brasil, eram péssimos, apesar de toda camaradagem de Lula em relação a ele desde que voltou ao Planalto.

O escarcéu do Essequibo, quando Maduro ameaçou tomar uma área da Guiana, por exemplo foi mais uma dor de cabeça desnecessária para o Itamaraty.

Quando Lula finalmente percebeu que bancar Maduro incondicionalmente era ( e sempre foi) uma cilada daquelas, resolveu mudar de discurso, e passou a criticar pontualmente o aliado. A última dessas falas foi sobre o risco de banho de sangue na Venezuela. O ditador mandou o petista tomar um chá de camomila.

Com a fraude de domingo, Maduro dá outro tapa na cara da diplomacia petista. O custo-benefício de dar guarida diplomática aos bolivarianos já não compensa há tempos, mas o governo parece insistir por pura simpatia ideológica, por mais que Maduro às vezes se inspire em Jair Bolsonaro para criticar o sistema eleitoral brasileiro.

Danos eleitorais

Do lado americano, no entanto, o prejuízo em termos práticos de Biden, e agora da vice, Kamala Harris pode ser até maior. Se o período pós-eleitoral for violento, o fluxo de venezuelanos para os EUA pode voltar a aumentar. Além disso, em Estados como Flórida, Texas e Arizona, os republicanos podem ampliar a vantagem entre o eleitorado hispânico, depois do fracasso do plano de Biden numa transição democrática.

Trump já vem apontando uma suposta fraqueza de Kamala Harris na questão migratória, uma vez que ela foi indicada por Biden para tratar a questão com líderes da América Central. Se souber explorar a questão venezuelana, o republicano pode infligir mais danos, num momento em que a candidatura democrata começa a se levantar.

De todos os cenários previstos para a eleição venezuelana, deu o mais óbvio. Nicolás Maduro aparentemente foi derrotado, mas não quer largar o osso. A ilusão de uma saída similar a do plebiscito do Chile no final da ditadura Pinochet foi por água abaixo quando o Conselho Nacional Eleitoral, nesta madrugada, declarou o ditador o vencedor da eleição, com direito a mais seis anos de mandato.

Mais uma vez, a oposição venezuelana apostou na via eleitoral para derrotar o chavismo, como fez em 2010, 2012, 2013 e 2015. Mais uma vez, não deu certo. Mas, ao contrário das oportunidades anteriores, a fraude deste ano dá sinais de ter sido muito mais descarada.

Se na época de Chávez, a trapaça era feita antes da eleição, com a cessão de benefícios a famílias de baixa renda e redesenho de distritos, com Maduro foi se tornando cada vez menos discreta.

Maduro manda beijo em comícios: Acordos de Barbados não foram cumpridos Foto: Yuri Cortez/ AFP

Em 2013, a Justiça chavista estendeu os horários para atrair mais eleitores governistas e assim derrotar Henrique Capriles. Em 2015, a vitória opositora na eleição legislativa foi anulada por um decreto judicial. Em 2024, pelo que tudo indica, os números foram obra de ficção.

Sinais de fraude

O CNE passou seis horas sem oferecer parciais do resultado. 7 milhões de pessoas que moram no exterior, e por isso tendem a votar contra Maduro, não puderam ir às urnas. A principal candidata opositora, María Corina Machado, foi impedida de concorrer. Sua substituta e xará, Corina Yoris, também.

Além disso, a oposição denunciou não ter tido acesso a 70% das atas eleitorais, que comprovariam as pesquisas que indicavam uma vitória de Edmundo Gonzalez.. As longas filas ao longo do dia contrastaram com a última votação organizada pelos chavistas, a do plebiscito do Essequibo, amplamente boicotada pela população.

Por tudo isso, os números podem muito bem ter saído de uma eleição em Nárnia.

Um acordo falido

A votação de ontem só ocorreu por causa do acordo assinado entre oposição e chavismo em Barbados, em outubro do ano passado, que previa o levantamento de sanções americanas em troca de eleições livres e justas. Esse acordo teve três patrocinadores: O Brasil, os Estados Unidos e a União Europeia.

Cada um deles tinha um interesse específico na Venezuela. Os europeus, com problemas energéticos desde a invasão da Ucrânia, querem comprar o petróleo chavista. Os americanos precisavam estancar a sangria na fronteira, por onde dezenas de milhares de venezuelanos entraram por ano, além de também precisar baixar o preço da gasolina.

E o Brasil tinha planos de saldar as dívidas chavistas com empresas nacionais, que somam mais de R$ 5 bilhões, e projetar uma força diplomática lulista no continente que já não existe mais.

Prejuízo petista

De outubro para cá, os sinais que Maduro vinha dando, sobretudo para o Brasil, eram péssimos, apesar de toda camaradagem de Lula em relação a ele desde que voltou ao Planalto.

O escarcéu do Essequibo, quando Maduro ameaçou tomar uma área da Guiana, por exemplo foi mais uma dor de cabeça desnecessária para o Itamaraty.

Quando Lula finalmente percebeu que bancar Maduro incondicionalmente era ( e sempre foi) uma cilada daquelas, resolveu mudar de discurso, e passou a criticar pontualmente o aliado. A última dessas falas foi sobre o risco de banho de sangue na Venezuela. O ditador mandou o petista tomar um chá de camomila.

Com a fraude de domingo, Maduro dá outro tapa na cara da diplomacia petista. O custo-benefício de dar guarida diplomática aos bolivarianos já não compensa há tempos, mas o governo parece insistir por pura simpatia ideológica, por mais que Maduro às vezes se inspire em Jair Bolsonaro para criticar o sistema eleitoral brasileiro.

Danos eleitorais

Do lado americano, no entanto, o prejuízo em termos práticos de Biden, e agora da vice, Kamala Harris pode ser até maior. Se o período pós-eleitoral for violento, o fluxo de venezuelanos para os EUA pode voltar a aumentar. Além disso, em Estados como Flórida, Texas e Arizona, os republicanos podem ampliar a vantagem entre o eleitorado hispânico, depois do fracasso do plano de Biden numa transição democrática.

Trump já vem apontando uma suposta fraqueza de Kamala Harris na questão migratória, uma vez que ela foi indicada por Biden para tratar a questão com líderes da América Central. Se souber explorar a questão venezuelana, o republicano pode infligir mais danos, num momento em que a candidatura democrata começa a se levantar.

De todos os cenários previstos para a eleição venezuelana, deu o mais óbvio. Nicolás Maduro aparentemente foi derrotado, mas não quer largar o osso. A ilusão de uma saída similar a do plebiscito do Chile no final da ditadura Pinochet foi por água abaixo quando o Conselho Nacional Eleitoral, nesta madrugada, declarou o ditador o vencedor da eleição, com direito a mais seis anos de mandato.

Mais uma vez, a oposição venezuelana apostou na via eleitoral para derrotar o chavismo, como fez em 2010, 2012, 2013 e 2015. Mais uma vez, não deu certo. Mas, ao contrário das oportunidades anteriores, a fraude deste ano dá sinais de ter sido muito mais descarada.

Se na época de Chávez, a trapaça era feita antes da eleição, com a cessão de benefícios a famílias de baixa renda e redesenho de distritos, com Maduro foi se tornando cada vez menos discreta.

Maduro manda beijo em comícios: Acordos de Barbados não foram cumpridos Foto: Yuri Cortez/ AFP

Em 2013, a Justiça chavista estendeu os horários para atrair mais eleitores governistas e assim derrotar Henrique Capriles. Em 2015, a vitória opositora na eleição legislativa foi anulada por um decreto judicial. Em 2024, pelo que tudo indica, os números foram obra de ficção.

Sinais de fraude

O CNE passou seis horas sem oferecer parciais do resultado. 7 milhões de pessoas que moram no exterior, e por isso tendem a votar contra Maduro, não puderam ir às urnas. A principal candidata opositora, María Corina Machado, foi impedida de concorrer. Sua substituta e xará, Corina Yoris, também.

Além disso, a oposição denunciou não ter tido acesso a 70% das atas eleitorais, que comprovariam as pesquisas que indicavam uma vitória de Edmundo Gonzalez.. As longas filas ao longo do dia contrastaram com a última votação organizada pelos chavistas, a do plebiscito do Essequibo, amplamente boicotada pela população.

Por tudo isso, os números podem muito bem ter saído de uma eleição em Nárnia.

Um acordo falido

A votação de ontem só ocorreu por causa do acordo assinado entre oposição e chavismo em Barbados, em outubro do ano passado, que previa o levantamento de sanções americanas em troca de eleições livres e justas. Esse acordo teve três patrocinadores: O Brasil, os Estados Unidos e a União Europeia.

Cada um deles tinha um interesse específico na Venezuela. Os europeus, com problemas energéticos desde a invasão da Ucrânia, querem comprar o petróleo chavista. Os americanos precisavam estancar a sangria na fronteira, por onde dezenas de milhares de venezuelanos entraram por ano, além de também precisar baixar o preço da gasolina.

E o Brasil tinha planos de saldar as dívidas chavistas com empresas nacionais, que somam mais de R$ 5 bilhões, e projetar uma força diplomática lulista no continente que já não existe mais.

Prejuízo petista

De outubro para cá, os sinais que Maduro vinha dando, sobretudo para o Brasil, eram péssimos, apesar de toda camaradagem de Lula em relação a ele desde que voltou ao Planalto.

O escarcéu do Essequibo, quando Maduro ameaçou tomar uma área da Guiana, por exemplo foi mais uma dor de cabeça desnecessária para o Itamaraty.

Quando Lula finalmente percebeu que bancar Maduro incondicionalmente era ( e sempre foi) uma cilada daquelas, resolveu mudar de discurso, e passou a criticar pontualmente o aliado. A última dessas falas foi sobre o risco de banho de sangue na Venezuela. O ditador mandou o petista tomar um chá de camomila.

Com a fraude de domingo, Maduro dá outro tapa na cara da diplomacia petista. O custo-benefício de dar guarida diplomática aos bolivarianos já não compensa há tempos, mas o governo parece insistir por pura simpatia ideológica, por mais que Maduro às vezes se inspire em Jair Bolsonaro para criticar o sistema eleitoral brasileiro.

Danos eleitorais

Do lado americano, no entanto, o prejuízo em termos práticos de Biden, e agora da vice, Kamala Harris pode ser até maior. Se o período pós-eleitoral for violento, o fluxo de venezuelanos para os EUA pode voltar a aumentar. Além disso, em Estados como Flórida, Texas e Arizona, os republicanos podem ampliar a vantagem entre o eleitorado hispânico, depois do fracasso do plano de Biden numa transição democrática.

Trump já vem apontando uma suposta fraqueza de Kamala Harris na questão migratória, uma vez que ela foi indicada por Biden para tratar a questão com líderes da América Central. Se souber explorar a questão venezuelana, o republicano pode infligir mais danos, num momento em que a candidatura democrata começa a se levantar.

De todos os cenários previstos para a eleição venezuelana, deu o mais óbvio. Nicolás Maduro aparentemente foi derrotado, mas não quer largar o osso. A ilusão de uma saída similar a do plebiscito do Chile no final da ditadura Pinochet foi por água abaixo quando o Conselho Nacional Eleitoral, nesta madrugada, declarou o ditador o vencedor da eleição, com direito a mais seis anos de mandato.

Mais uma vez, a oposição venezuelana apostou na via eleitoral para derrotar o chavismo, como fez em 2010, 2012, 2013 e 2015. Mais uma vez, não deu certo. Mas, ao contrário das oportunidades anteriores, a fraude deste ano dá sinais de ter sido muito mais descarada.

Se na época de Chávez, a trapaça era feita antes da eleição, com a cessão de benefícios a famílias de baixa renda e redesenho de distritos, com Maduro foi se tornando cada vez menos discreta.

Maduro manda beijo em comícios: Acordos de Barbados não foram cumpridos Foto: Yuri Cortez/ AFP

Em 2013, a Justiça chavista estendeu os horários para atrair mais eleitores governistas e assim derrotar Henrique Capriles. Em 2015, a vitória opositora na eleição legislativa foi anulada por um decreto judicial. Em 2024, pelo que tudo indica, os números foram obra de ficção.

Sinais de fraude

O CNE passou seis horas sem oferecer parciais do resultado. 7 milhões de pessoas que moram no exterior, e por isso tendem a votar contra Maduro, não puderam ir às urnas. A principal candidata opositora, María Corina Machado, foi impedida de concorrer. Sua substituta e xará, Corina Yoris, também.

Além disso, a oposição denunciou não ter tido acesso a 70% das atas eleitorais, que comprovariam as pesquisas que indicavam uma vitória de Edmundo Gonzalez.. As longas filas ao longo do dia contrastaram com a última votação organizada pelos chavistas, a do plebiscito do Essequibo, amplamente boicotada pela população.

Por tudo isso, os números podem muito bem ter saído de uma eleição em Nárnia.

Um acordo falido

A votação de ontem só ocorreu por causa do acordo assinado entre oposição e chavismo em Barbados, em outubro do ano passado, que previa o levantamento de sanções americanas em troca de eleições livres e justas. Esse acordo teve três patrocinadores: O Brasil, os Estados Unidos e a União Europeia.

Cada um deles tinha um interesse específico na Venezuela. Os europeus, com problemas energéticos desde a invasão da Ucrânia, querem comprar o petróleo chavista. Os americanos precisavam estancar a sangria na fronteira, por onde dezenas de milhares de venezuelanos entraram por ano, além de também precisar baixar o preço da gasolina.

E o Brasil tinha planos de saldar as dívidas chavistas com empresas nacionais, que somam mais de R$ 5 bilhões, e projetar uma força diplomática lulista no continente que já não existe mais.

Prejuízo petista

De outubro para cá, os sinais que Maduro vinha dando, sobretudo para o Brasil, eram péssimos, apesar de toda camaradagem de Lula em relação a ele desde que voltou ao Planalto.

O escarcéu do Essequibo, quando Maduro ameaçou tomar uma área da Guiana, por exemplo foi mais uma dor de cabeça desnecessária para o Itamaraty.

Quando Lula finalmente percebeu que bancar Maduro incondicionalmente era ( e sempre foi) uma cilada daquelas, resolveu mudar de discurso, e passou a criticar pontualmente o aliado. A última dessas falas foi sobre o risco de banho de sangue na Venezuela. O ditador mandou o petista tomar um chá de camomila.

Com a fraude de domingo, Maduro dá outro tapa na cara da diplomacia petista. O custo-benefício de dar guarida diplomática aos bolivarianos já não compensa há tempos, mas o governo parece insistir por pura simpatia ideológica, por mais que Maduro às vezes se inspire em Jair Bolsonaro para criticar o sistema eleitoral brasileiro.

Danos eleitorais

Do lado americano, no entanto, o prejuízo em termos práticos de Biden, e agora da vice, Kamala Harris pode ser até maior. Se o período pós-eleitoral for violento, o fluxo de venezuelanos para os EUA pode voltar a aumentar. Além disso, em Estados como Flórida, Texas e Arizona, os republicanos podem ampliar a vantagem entre o eleitorado hispânico, depois do fracasso do plano de Biden numa transição democrática.

Trump já vem apontando uma suposta fraqueza de Kamala Harris na questão migratória, uma vez que ela foi indicada por Biden para tratar a questão com líderes da América Central. Se souber explorar a questão venezuelana, o republicano pode infligir mais danos, num momento em que a candidatura democrata começa a se levantar.

Opinião por Luiz Raatz

É jornalista formado pela PUC-SP. Subeditor de internacional do Estadão, tem 20 anos de experiência em coberturas na América Latina e Oriente Médio.

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