BRASÍLIA - O embaixador norte-americano Brian A. Nichols, secretário-adjunto de Estado para as Américas, afirmou nesta quinta-feira, dia 7, que está claro que o ditador venezuelano Nicolás Maduro falhou em cumprir o acordo eleitoral firmado com a oposição em Barbados, no ano passado, ao desqualificar a principal candidata adversária, María Corina Machado. Após a ditadura chavista marcar as eleições para 28 de julho, Nichols disse que o cronograma é “apertado” e que os desdobramentos recentes de repressão a dissidentes são “preocupantes” na Venezuela.
“Agora está muito claro que Maduro está falhando em cumprir os compromissos que assumiu nos Acordos de Barbados, de permitir que a oposição escolhesse seu próprio candidato, a perseguição a funcionários de campanha, a prisão de pelo menos 37 pessoas desde então, todos esses são sinais claros”, afirmou Nichols. “Os prazos são apertados e, não queremos pré-julgar como as coisas irão acontecer, mas vão em direção profundamente preocupante”, acrescentou o embaixador.
Nichols não citou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas seu posicionamento ocorre um dia após o petista manifestar “felicidade” com o agendamento das eleições fora do calendário tradicional e sugerir que a oposição venezuelana “não deveria ficar chorando” pela impugnação de candidatos, tampouco questionar a lisura do pleito antecipadamente. Corina Machado reagiu ao petista e disse que ele chancelou abusos do regime chavista, de quem é aliado histórico.
“Espero que pessoas que estão disputando eleições na Venezuela não tenham o hábito do ex-presidente desse País de negar durante todo o processo eleitoral a lisura”, afirmou Lula, sobre os questionamentos de Bolsonaro a respeito da integridade das urnas eletrônicas - também usadas na Venezuela - e sobre a neutralidade da Justiça Eleitoral. “A gente não pode já começar a jogar dúvida antes de as eleições acontecerem. Temos que garantir a presunção de inocência até que haja eleições para que possamos julgar se foram democráticas.”
A Venezuela é controlada desde 1999 pelo partido de Hugo Chávez, ditador que morreu em 2013 e travou uma guerra contra as instituições venezuelanas e a sociedade civil, esvaziando a democracia de seu país. Ele recorreu ao clientelismo e à imprensa estatal para manter seus apoiadores e aliados cruciais, como os militares. Maduro, que era vice-presidente do país, assumiu o cargo após a morte de Chávez, em 2013, e desde então segue a mesma cartilha, proibindo a participação de opositores e sufocando adversários pelas mais diversas razões, contando com ajuda de um Judiciário ocupado por chavistas.
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos na América Latina afirmou que a Casa Branca espera dos líderes políticos regionais, entre eles o Brasil, a defesa do direito livre de escolha por parte do povo vezenuelano. Segundo ele, todos os presidentes de países da América do Sul e do Caribe defendem a realização de eleições transparentes com a participação de observadores internacionais.
“Os líderes dessas nações deveriam continuar a transmitir a mensagem de que o povo venezuelano merece a mesma oportunidade de fazer uma escolha e que um verdadeiro líder defende as eleições e respeita a decisão do povo”, afirmou Nichols.
Sanções fracassaram
Nichols admitiu que a suspensão de sanções econômicas, um benefício oferecido pelo governo Joe Biden aos chavistas no âmbito do acordo de Barbados, não funcionou. Ele, no entanto, não deixou claro qual será a decisão da Casa Branca em abril, quando vence o prazo e o governo ameaça retomar a maior parte das sanções contra a Venezuela, que impactam setores estratégicos como o do petróleo.
“Temos de ser claros. Os incentivos que nós e outros na comunidade internacional colocamos sobre a mesa para avançarmos em direção a eleições competitivas na Venezuela não foram suficientes para motivar as reformas e a abertura,que Maduro acredita que colocariam em risco seu governo”, reconheceu o diplomata.
Nichols disse que o acordo permitiu a libertação de cidadãos americanos detidos “injustamente” na Venezuela.
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“Assumimos um risco calculado, tendo clareza sobre com quem estávamos lindando e a probabilidade de os herdeiros do legado de Hugo Chávez permitirem uma eleição que não controlariam o resultado. Concluíamos que o status quo era ruim para os Estados Unidos, bom para os nossos adversários e não promoveria a democracia”, afirmou o diplomata.
Nichols comparou a votação de María Carina Machado nas primárias da oposição, quando recebeu 93% dos votos, com a participação no plebiscito convocado sob medida pelo regime para decidir sobre a anexação do Essequibo, atualmente parte do território da Guiana rica em recursos minerais. Segundo o regime a participação teria sido de 50%. Para Nichols, o chavismo recebeu uma “mensagem assustadora” com os resultados e as pesquisas eleitorais mostram ainda que o país tem “fome de mudança”.
“A recusa de Maduro em restabelecer os direitos políticos dos candidatos, como a vencedora da oposição nas primárias, María Corina Machado, e a perseguição e a prisão de muitos de seus apoiantes são passos na direção errada. Apesar dessas transgressões recentes, continuamos empenhados em apoiar o processo democrático da Venezuela e, juntamente com os membros da comunidade internacional, em insistir no direito da oposição venezuelana de escolher o seu candidato e no direito do povo venezuelano de escolher o seu próximo presidente.”
Brian A. Nichols participou de um seminário promovido pelo Conselho das Américas. Ele também reagiu à expansão da China na América Latina, e afirmou que o governo comunista de Pequim tenta minar a democracia na região e promover outro tipo de governança. Para fazer frente, disse ele, os EUA trabalham em prol de financiamentos e investimentos em países latino-americanos e caribenhos.
O embaixador falou sobre preocupações democráticas em ditaduras como Cuba e Nicarágua e no apoio dos Estados Unidos a instituições no Brasil, em 2022, diante da ameaça de golpe de Estado. Nichols disse que todos os países na região enfrentam desafios democráticos - inclusive os Estados Unidos - e fez uma analogia entre o 6 de janeiro nos Estados Unidos e o 8 de janeiro no Brasil, datas de ataques antidemocráticos perpetrados, respectivamente, por partidários dos ex-presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro.
Acelerar envio de policiais ao Haiti
Nichols disse também que os EUA advogam em favor da promoção de eleições no Haiti junto ao premiê Ariel Henry. O diplomata disse ser necessária a formação de um governo mais inclusivo e que a crise de segurança no país caribenho é motivo de preocupação. Segundo ele, a proporção da crise humanitária deveria merecer uma resposta comum e envolver toda a comunidade internacional, assim como ocorre com as guerras em Gaza e na Ucrânia.
Ele reiterou o compromisso do governo Biden de aportar US$ 200 milhões para reforço de segurança no Haiti. Diante de novas ameaças de líderes de gangues que controlam parte relevante do território haitiano e exigem a renúncia de Henry, Nichols afirmou ser “crucial” mandar mais equipamentos para a polícia local e acelerar o desdobramento das tropas de segurança prevista na missão autorizada pelas Nações Unidas, liderada pelo Quênia.