Maduro vai visitar Putin na Rússia em meio à crise da Venezuela com Guiana


Visita deve acontecer nos próximos dias e sinaliza aliança entre os dois países em momento que tensões em torno do Essequibo crescem; Guiana recorre aos EUA para defesa do território

Por Luiz Henrique Gomes
Atualização:

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, vai visitar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, nos próximos dias, em meio à disputa da região do Essequibo com a Guiana. A visita deve acontecer até o fim deste mês e sinaliza a aliança entre as duas nações enquanto a Guiana recorre aos Estados Unidos e outros aliados sul-americanos para defender o território, rico em petróleo, caso haja uma invasão militar.

Articulada em outubro, quando as tensões em torno da região do Essequibo haviam começado a crescer, a viagem de Maduro tem o objetivo oficial de aprofundar a “cooperação” e “os investimentos” russos no setor petrolífero venezuelano, nas palavras do vice-primeiro-ministro da Rússia, Alexander Novak.

“[Tais esforços] são especialmente importantes no contexto das tentativas dos países ocidentais de usar a demanda por recursos energéticos como um instrumento de pressão política”, disse Novak durante uma reunião com representantes venezuelanos em Moscou no dia 16 de outubro. Quatro dias depois, a Venezuela marcou o plebiscito para decidir sobre a região do Essequibo.

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Os dois países estão entre os maiores produtores de petróleo do mundo. O interesse da Rússia em aprofundar os laços com a Venezuela acontece no momento em que a ditadura chavista anunciou a anexação da região do Essequibo, hoje pertencente à Guiana, com planos de exploração de petróleo. Estima-se que a área tenha uma reserva de 11 bilhões de barris.

Imagem de 2019 mostra encontro entre ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Moscou. Maduro vai visitar Rússia neste mês para 'aprofundar laços' Foto: Alexei Druzhinin / via Reuters

Hoje, o recurso é explorado pela gigante americana ExxonMobil, que opera na Guiana desde 2008 e descobriu a reserva em 2015. A presença da empresa americana ajudou o país de apenas 800 mil habitantes a se aproximar dos Estados Unidos na área de segurança. Desde o ano passado, unidades do Exército americano realizam diversos treinamentos conjuntos com as Forças Armadas da Guiana (GDF, na sigla em inglês) para capacitar as tropas em nível tático e operacional.

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Esta semana, após o plebiscito venezuelano considerar que a região do Essequibo é parte da Venezuela, o temor de uma invasão militar para anexar a região cresceu e levou o presidente guianense, Mohamed Arfaan Ali, a procurar os aliados da região para assegurar a defesa do território. Na quinta-feira, 7, os EUA anunciaram exercícios militares em parceria com a GDF com presença de aeronaves, movimento visto como incomum por analistas e que demonstra a disposição dos americanos em defender a Guiana.

“Exercícios com meios militares efetivos (aéreos no caso) não eram realizados com a Guiana”, disse o diretor do instituto de segurança Cetris e professor-visitante da National Defense University, Salvador Raza. “Nesse momento, carrega em si a mensagem de presença, alinhamento de interesses e determinação dos EUA na segurança da Guiana.”

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Sozinhas, as forças guianenses são inferiores a da Venezuela, tanto em pessoal quanto em equipamentos. O país conta com apenas 3,4 mil soldados, dos quais metade estão em funções na segurança pública. Os equipamentos militares também são escassos. São seis blindados brasileiros Cascavel-EE9, fabricados pela extinta Engesa em 1984. A Venezuela, por outro lado, tem 123 mil militares na ativa, mais 220 mil paramilitares e equipamentos obtidos da Rússia e da China, duas potências militares globais.

A viagem de Maduro a Rússia demonstra que o ditador venezuelano mantém contato com aliados que rivalizam com os EUA. Analistas avaliam, no entanto, que a Rússia tem poucas condições de auxiliar o país militarmente por causa da concentração de tropas na invasão à Ucrânia. “É algo que precisa ser considerado quando se pensa no conflito por todas as partes, sem dúvidas”, disse o analista em segurança internacional Gunther Rudzit, professor da ESPM, em entrevista ao Estadão no dia 4.

Entenda o conflito

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A Venezuela e a Guiana lutam há mais de um século pelo território de Essequibo, uma região de 160 mil quilômetros quadrados rica em petróleo e minerais, administrada pela Guiana. O território de Essequibo corresponde hoje a 75% do país.

O Essequibo é considerado parte do território venezuelano porque esteve dentro de suas fronteiras durante o período colonial espanhol. Após declarar independência da Espanha, em 1811, o país avançou em direção ao rio Essequibo, mas perdeu o território três anos depois após o Império Britânico assumir o controle do que hoje é a Guiana. A definição das fronteiras ficou em aberto, e a coroa britânica ficou então com o território. Em 1899, um acordo considerado arbitrário concedeu as terras à Guiana, então colônia do Reino Unido.

Cinco décadas mais tarde, a Venezuela voltou a contestar o território. Em 1966, a Venezuela e o Reino Unido (que comandava a Guiana) assinaram o Acordo de Genebra, para buscar uma solução para o conflito fronteiriço, reconhecendo a existência de uma controvérsia decorrente da sentença de 1899. A Venezuela defende que o assunto seja tratado segundo os termos do acordo, que estabeleceu uma comissão mista com a tarefa de buscar soluções satisfatórias para as questões de fronteira, mas nunca chegou a uma resolução.

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Em 2018, a Guiana procurou a CIJ para julgar o caso e pôr um ponto final na disputa. A princípio, a CIJ apenas reconheceu que tem jurisdição para julgá-lo, mas a Venezuela não reconhece a jurisdição da corte. O caso segue em aberto.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, vai visitar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, nos próximos dias, em meio à disputa da região do Essequibo com a Guiana. A visita deve acontecer até o fim deste mês e sinaliza a aliança entre as duas nações enquanto a Guiana recorre aos Estados Unidos e outros aliados sul-americanos para defender o território, rico em petróleo, caso haja uma invasão militar.

Articulada em outubro, quando as tensões em torno da região do Essequibo haviam começado a crescer, a viagem de Maduro tem o objetivo oficial de aprofundar a “cooperação” e “os investimentos” russos no setor petrolífero venezuelano, nas palavras do vice-primeiro-ministro da Rússia, Alexander Novak.

“[Tais esforços] são especialmente importantes no contexto das tentativas dos países ocidentais de usar a demanda por recursos energéticos como um instrumento de pressão política”, disse Novak durante uma reunião com representantes venezuelanos em Moscou no dia 16 de outubro. Quatro dias depois, a Venezuela marcou o plebiscito para decidir sobre a região do Essequibo.

Os dois países estão entre os maiores produtores de petróleo do mundo. O interesse da Rússia em aprofundar os laços com a Venezuela acontece no momento em que a ditadura chavista anunciou a anexação da região do Essequibo, hoje pertencente à Guiana, com planos de exploração de petróleo. Estima-se que a área tenha uma reserva de 11 bilhões de barris.

Imagem de 2019 mostra encontro entre ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Moscou. Maduro vai visitar Rússia neste mês para 'aprofundar laços' Foto: Alexei Druzhinin / via Reuters

Hoje, o recurso é explorado pela gigante americana ExxonMobil, que opera na Guiana desde 2008 e descobriu a reserva em 2015. A presença da empresa americana ajudou o país de apenas 800 mil habitantes a se aproximar dos Estados Unidos na área de segurança. Desde o ano passado, unidades do Exército americano realizam diversos treinamentos conjuntos com as Forças Armadas da Guiana (GDF, na sigla em inglês) para capacitar as tropas em nível tático e operacional.

Esta semana, após o plebiscito venezuelano considerar que a região do Essequibo é parte da Venezuela, o temor de uma invasão militar para anexar a região cresceu e levou o presidente guianense, Mohamed Arfaan Ali, a procurar os aliados da região para assegurar a defesa do território. Na quinta-feira, 7, os EUA anunciaram exercícios militares em parceria com a GDF com presença de aeronaves, movimento visto como incomum por analistas e que demonstra a disposição dos americanos em defender a Guiana.

“Exercícios com meios militares efetivos (aéreos no caso) não eram realizados com a Guiana”, disse o diretor do instituto de segurança Cetris e professor-visitante da National Defense University, Salvador Raza. “Nesse momento, carrega em si a mensagem de presença, alinhamento de interesses e determinação dos EUA na segurança da Guiana.”

Sozinhas, as forças guianenses são inferiores a da Venezuela, tanto em pessoal quanto em equipamentos. O país conta com apenas 3,4 mil soldados, dos quais metade estão em funções na segurança pública. Os equipamentos militares também são escassos. São seis blindados brasileiros Cascavel-EE9, fabricados pela extinta Engesa em 1984. A Venezuela, por outro lado, tem 123 mil militares na ativa, mais 220 mil paramilitares e equipamentos obtidos da Rússia e da China, duas potências militares globais.

A viagem de Maduro a Rússia demonstra que o ditador venezuelano mantém contato com aliados que rivalizam com os EUA. Analistas avaliam, no entanto, que a Rússia tem poucas condições de auxiliar o país militarmente por causa da concentração de tropas na invasão à Ucrânia. “É algo que precisa ser considerado quando se pensa no conflito por todas as partes, sem dúvidas”, disse o analista em segurança internacional Gunther Rudzit, professor da ESPM, em entrevista ao Estadão no dia 4.

Entenda o conflito

A Venezuela e a Guiana lutam há mais de um século pelo território de Essequibo, uma região de 160 mil quilômetros quadrados rica em petróleo e minerais, administrada pela Guiana. O território de Essequibo corresponde hoje a 75% do país.

O Essequibo é considerado parte do território venezuelano porque esteve dentro de suas fronteiras durante o período colonial espanhol. Após declarar independência da Espanha, em 1811, o país avançou em direção ao rio Essequibo, mas perdeu o território três anos depois após o Império Britânico assumir o controle do que hoje é a Guiana. A definição das fronteiras ficou em aberto, e a coroa britânica ficou então com o território. Em 1899, um acordo considerado arbitrário concedeu as terras à Guiana, então colônia do Reino Unido.

Cinco décadas mais tarde, a Venezuela voltou a contestar o território. Em 1966, a Venezuela e o Reino Unido (que comandava a Guiana) assinaram o Acordo de Genebra, para buscar uma solução para o conflito fronteiriço, reconhecendo a existência de uma controvérsia decorrente da sentença de 1899. A Venezuela defende que o assunto seja tratado segundo os termos do acordo, que estabeleceu uma comissão mista com a tarefa de buscar soluções satisfatórias para as questões de fronteira, mas nunca chegou a uma resolução.

Em 2018, a Guiana procurou a CIJ para julgar o caso e pôr um ponto final na disputa. A princípio, a CIJ apenas reconheceu que tem jurisdição para julgá-lo, mas a Venezuela não reconhece a jurisdição da corte. O caso segue em aberto.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, vai visitar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, nos próximos dias, em meio à disputa da região do Essequibo com a Guiana. A visita deve acontecer até o fim deste mês e sinaliza a aliança entre as duas nações enquanto a Guiana recorre aos Estados Unidos e outros aliados sul-americanos para defender o território, rico em petróleo, caso haja uma invasão militar.

Articulada em outubro, quando as tensões em torno da região do Essequibo haviam começado a crescer, a viagem de Maduro tem o objetivo oficial de aprofundar a “cooperação” e “os investimentos” russos no setor petrolífero venezuelano, nas palavras do vice-primeiro-ministro da Rússia, Alexander Novak.

“[Tais esforços] são especialmente importantes no contexto das tentativas dos países ocidentais de usar a demanda por recursos energéticos como um instrumento de pressão política”, disse Novak durante uma reunião com representantes venezuelanos em Moscou no dia 16 de outubro. Quatro dias depois, a Venezuela marcou o plebiscito para decidir sobre a região do Essequibo.

Os dois países estão entre os maiores produtores de petróleo do mundo. O interesse da Rússia em aprofundar os laços com a Venezuela acontece no momento em que a ditadura chavista anunciou a anexação da região do Essequibo, hoje pertencente à Guiana, com planos de exploração de petróleo. Estima-se que a área tenha uma reserva de 11 bilhões de barris.

Imagem de 2019 mostra encontro entre ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Moscou. Maduro vai visitar Rússia neste mês para 'aprofundar laços' Foto: Alexei Druzhinin / via Reuters

Hoje, o recurso é explorado pela gigante americana ExxonMobil, que opera na Guiana desde 2008 e descobriu a reserva em 2015. A presença da empresa americana ajudou o país de apenas 800 mil habitantes a se aproximar dos Estados Unidos na área de segurança. Desde o ano passado, unidades do Exército americano realizam diversos treinamentos conjuntos com as Forças Armadas da Guiana (GDF, na sigla em inglês) para capacitar as tropas em nível tático e operacional.

Esta semana, após o plebiscito venezuelano considerar que a região do Essequibo é parte da Venezuela, o temor de uma invasão militar para anexar a região cresceu e levou o presidente guianense, Mohamed Arfaan Ali, a procurar os aliados da região para assegurar a defesa do território. Na quinta-feira, 7, os EUA anunciaram exercícios militares em parceria com a GDF com presença de aeronaves, movimento visto como incomum por analistas e que demonstra a disposição dos americanos em defender a Guiana.

“Exercícios com meios militares efetivos (aéreos no caso) não eram realizados com a Guiana”, disse o diretor do instituto de segurança Cetris e professor-visitante da National Defense University, Salvador Raza. “Nesse momento, carrega em si a mensagem de presença, alinhamento de interesses e determinação dos EUA na segurança da Guiana.”

Sozinhas, as forças guianenses são inferiores a da Venezuela, tanto em pessoal quanto em equipamentos. O país conta com apenas 3,4 mil soldados, dos quais metade estão em funções na segurança pública. Os equipamentos militares também são escassos. São seis blindados brasileiros Cascavel-EE9, fabricados pela extinta Engesa em 1984. A Venezuela, por outro lado, tem 123 mil militares na ativa, mais 220 mil paramilitares e equipamentos obtidos da Rússia e da China, duas potências militares globais.

A viagem de Maduro a Rússia demonstra que o ditador venezuelano mantém contato com aliados que rivalizam com os EUA. Analistas avaliam, no entanto, que a Rússia tem poucas condições de auxiliar o país militarmente por causa da concentração de tropas na invasão à Ucrânia. “É algo que precisa ser considerado quando se pensa no conflito por todas as partes, sem dúvidas”, disse o analista em segurança internacional Gunther Rudzit, professor da ESPM, em entrevista ao Estadão no dia 4.

Entenda o conflito

A Venezuela e a Guiana lutam há mais de um século pelo território de Essequibo, uma região de 160 mil quilômetros quadrados rica em petróleo e minerais, administrada pela Guiana. O território de Essequibo corresponde hoje a 75% do país.

O Essequibo é considerado parte do território venezuelano porque esteve dentro de suas fronteiras durante o período colonial espanhol. Após declarar independência da Espanha, em 1811, o país avançou em direção ao rio Essequibo, mas perdeu o território três anos depois após o Império Britânico assumir o controle do que hoje é a Guiana. A definição das fronteiras ficou em aberto, e a coroa britânica ficou então com o território. Em 1899, um acordo considerado arbitrário concedeu as terras à Guiana, então colônia do Reino Unido.

Cinco décadas mais tarde, a Venezuela voltou a contestar o território. Em 1966, a Venezuela e o Reino Unido (que comandava a Guiana) assinaram o Acordo de Genebra, para buscar uma solução para o conflito fronteiriço, reconhecendo a existência de uma controvérsia decorrente da sentença de 1899. A Venezuela defende que o assunto seja tratado segundo os termos do acordo, que estabeleceu uma comissão mista com a tarefa de buscar soluções satisfatórias para as questões de fronteira, mas nunca chegou a uma resolução.

Em 2018, a Guiana procurou a CIJ para julgar o caso e pôr um ponto final na disputa. A princípio, a CIJ apenas reconheceu que tem jurisdição para julgá-lo, mas a Venezuela não reconhece a jurisdição da corte. O caso segue em aberto.

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