Maior desafio de Biden não é mostrar que não está velho; é convencer geração Z a votar


Eleitores millennials e mais jovens têm aparecido em pesquisas como figuras decisivas na disputa, mas não estão entusiasmados com a possibilidade de eleger o democrata de novo

Por Isabel Gomes
Atualização:

Cerca de 60 anos separam Joe Biden de muitos dos eleitores que vão às urnas pela primeira vez em novembro. Competindo na corrida do segundo mandato à Casa Branca aos 81 anos, o democrata tem idade para ser avô de parte do grupo eleitoral que o ajudou a alcançar a vitória há quatro anos e hoje representa uma das maiores pedras em seu sapato.

Os jovens americanos, bem como a maioria de todos os grupos demográficos consultados em pesquisas, não estão convencidos da aptidão de Biden para uma segunda rodada de governo, especialmente após o primeiro debate contra Donald Trump em 27 de junho, quando o democrata pareceu diversas vezes confuso e chegou a trocar informações durante as respostas.

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Mas em um contexto em que a distância geracional é um problema para os jovens seja com Biden ou com Trump — que é só quatro anos mais novo —, a insatisfação com questões como inflação e emprego aparecem como motivadores primários na perda do apoio do eleitorado jovem ao democrata. E, caso permaneça na disputa eleitoral, Biden terá de correr para que tais insatisfações não se convertam em uma grande abstenção nas urnas em novembro.

“As pesquisas também não mostram Trump indo bem com eleitores com menos de 30 anos, mas Trump pode vencer a eleição se esses eleitores não comparecerem para Biden em números comparáveis à participação dos jovens em 2020″, pontua Stephen Farnsworth, professor de Ciência Política e Assuntos Internacionais da Universidade de Mary Washington.

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Uma pesquisa feita pelo The New York Times e do Siena College, divulgada no começo de julho revelou que 76% dos eleitores entre 18 e 29 anos acreditam que o país está caminhando na direção errada. Essa mesma faixa etária foi a que mais demonstrou tendência à abstenção em novembro: 36% deles responderam que é “quase certo” que irão votar, em comparação a 51% (30 a 44 anos), 59% (45 a 64 anos) e 65% (65 anos ou mais).

A pesquisa revelou ainda que apenas 29% dos eleitores na faixa etária de 18 a 29 anos estão prestando bastante atenção à próxima eleição presidencial, a menor porcentagem entre todas as faixas etárias. Além disso, 44% dos jovens eleitores dizem que estão prestando “alguma” atenção, enquanto 18% afirmam não estar prestando “muita” atenção, e 9% não estão prestando “nenhuma” atenção.

Os dados evidenciam o baixo engajamento político da faixa etária, indicando o grande desafio que Biden tem em captar a participação deste grupo, que pode ser decisivo em uma competição tão acirrada.

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Eleitores de 18 a 29 anos representaram aproximadamente 1 em cada 6 eleitores em 2020, e o presidente Biden os venceu por mais de 20 pontos. Em um confronto direto com Trump, em uma pesquisa realizada pela NPR/PBS com Marist divulgada no início de junho, ambos tiveram um empate técnico, com Biden à frente com 50% em relação a 48%. O democrata liderou por apenas 4 pontos com eleitores abaixo de 45 anos e por 6 com a geração Z e millennials.

Mas quando os independentes Robert F. Kennedy Jr. e Cornel West, assim como a candidata do Partido Verde Jill Stein são colocados para jogo, Biden fica trás de Trump por 4 pontos. Nesse cenário, o republicano lidera por 6 pontos com a geração Z e millennials.

Joe Biden em uma cerimônia de medalha de honra na Casa Branca. Em um momento de crise na corrida presidencial sobre sua idade, democrata ainda lida com a falta de apoio do eleitorado jovem. Foto: Jim Watson/AFP
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“A discussão sobre os eleitores jovens precisa incluir seu tradicional menor entusiasmo como um grupo para a política e as eleições. Como outros eleitores, os eleitores jovens se sentem desconectados da política, e Biden sofre com essa falta de conexão”, avalia Lee Miringoff, diretor do Marist College Institute for Public Opinion.

Trump tem pouco a ganhar

O cuidado de Biden com a possibilidade de uma alta abstenção ganha ainda mais importância ao se levar em conta que a vulnerabilidade do democrata com os eleitores jovens não se baseia em pautas que podem converter votos ao seu rival, dizem os especialistas. Uma pesquisa recente feita pela YouGov apontou que a maioria das políticas preferidas pelos jovens democratas e independentes são apoiadas por Biden e rejeitadas por Trump. Mas o democrata precisa saber usá-las a seu favor.

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Um exemplo é o projeto de lei de infraestrutura recentemente aprovado por Biden, que promete criar empregos e é uma das iniciativas legislativas mais pró-ambientais da história dos EUA. Segundo Farnsworth, “essas são coisas que devem tornar os jovens mais positivamente dispostos em relação a Biden”, mas até agora não parece ter havido um impacto significativo.

A mesma tendência é observada em suas posições pró-escolha sobre aborto, direitos LGBT+ e esforços para aliviar o fardo dos empréstimos universitários — todas questões populares entre jovens adultos. No entanto, “Biden é muito mais eficaz em aprovar legislação do que em comercializar seus sucessos políticos”, diz o especialista.

O mesmo se repete com a guerra em Gaza. Em abril deste ano, milhares de universitários — um grupo que tradicionalmente pende ao lado democrata — manifestaram contra a continuidade do conflito entre Israel e Hamas e o apoio de Biden dado a Israel.

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Eleitores de 18 a 29 anos representaram aproximadamente 1 em cada 6 eleitores em 2020, e o presidente Biden os venceu por mais de 20 pontos.  Foto: Evan Vucci/AP

A situação emergiu como uma grande preocupação para muitos representantes democratas. Mas embora possa retirar votos do presidente americano, segundo os especialistas, dificilmente beneficiará Trump, que já prometeu ser muito mais linha-dura contra o Hamas.

“Biden deveria ser mais eficaz em lembrar aos eleitores que se importam muito com Gaza que Trump seria muito mais pró-Netanyahu se ele se tornasse presidente novamente”, opina Farnsworth.

O ‘sonho americano’ interrompido

Mesmo assim, apesar de frequentemente apontada pela mídia internacional como um dos motivos para o distanciamento dos millennials e da geração Z de Biden, a guerra em Gaza não é a principal prioridade aos jovens americanos. Na verdade, está longe disso.

Na edição de abril de 2024 da Harvard Youth Poll, jovens de 18 a 29 anos classificaram o conflito Israel-Palestina como 15º de 16 prioridades possíveis, ficando à frente, somente, da divida estudantil. A maior dor de cabeça para Biden, tratando-se do eleitorado jovem, é a economia. Inflação, assistência médica, moradia e empregos apareceram entre as preocupações mais proeminentes deste grupo no estudo.

Nessas questões, os eleitores millennials e da geração Z não são tão diferentes de todos os outros grupos. Essas são prioridades para todos os eleitores. Mas a questão se torna mais sensível no momento de vida que essa faixa etária vive: enquanto eleitores mais velhos, em sua maioria, podem estar mais seguros economicamente, com um trabalho de longa carreira e uma casa própria já adquirida, por exemplo, os jovens estão tentando a independência financeira e buscando seus primeiros empregos. O sonho americano esbarra na inflação.

“Os jovens estão muito preocupados com a economia. Muitos jovens adultos se formam na faculdade com altos níveis de dívida estudantil, e aqueles que não vão para a faculdade geralmente acham difícil encontrar um emprego seguro e de tempo integral que pague o suficiente para cobrir o aluguel e outras despesas de subsistência” sintetiza Farnsworth.

Assim, para Biden, o desafio agora — para além de convencer de que é capaz de seguir na disputa — é reconquistar a confiança dos jovens eleitores. Para os especialistas, a eficácia de sua campanha dependerá de sua capacidade de se conectar com as preocupações econômicas e sociais dos jovens e de provar que, apesar da distância geracional, suas políticas oferecem um caminho seguro para o futuro.

“A maior deficiência de Biden é sua idade, sobre a qual ele não pode fazer nada. Acho que ele precisa levar para casa a mensagem sobre a disponibilidade de empregos e as políticas de Trump, que podem afetar negativamente os eleitores mais jovens”, finaliza Miringoff.

Cerca de 60 anos separam Joe Biden de muitos dos eleitores que vão às urnas pela primeira vez em novembro. Competindo na corrida do segundo mandato à Casa Branca aos 81 anos, o democrata tem idade para ser avô de parte do grupo eleitoral que o ajudou a alcançar a vitória há quatro anos e hoje representa uma das maiores pedras em seu sapato.

Os jovens americanos, bem como a maioria de todos os grupos demográficos consultados em pesquisas, não estão convencidos da aptidão de Biden para uma segunda rodada de governo, especialmente após o primeiro debate contra Donald Trump em 27 de junho, quando o democrata pareceu diversas vezes confuso e chegou a trocar informações durante as respostas.

Mas em um contexto em que a distância geracional é um problema para os jovens seja com Biden ou com Trump — que é só quatro anos mais novo —, a insatisfação com questões como inflação e emprego aparecem como motivadores primários na perda do apoio do eleitorado jovem ao democrata. E, caso permaneça na disputa eleitoral, Biden terá de correr para que tais insatisfações não se convertam em uma grande abstenção nas urnas em novembro.

“As pesquisas também não mostram Trump indo bem com eleitores com menos de 30 anos, mas Trump pode vencer a eleição se esses eleitores não comparecerem para Biden em números comparáveis à participação dos jovens em 2020″, pontua Stephen Farnsworth, professor de Ciência Política e Assuntos Internacionais da Universidade de Mary Washington.

Uma pesquisa feita pelo The New York Times e do Siena College, divulgada no começo de julho revelou que 76% dos eleitores entre 18 e 29 anos acreditam que o país está caminhando na direção errada. Essa mesma faixa etária foi a que mais demonstrou tendência à abstenção em novembro: 36% deles responderam que é “quase certo” que irão votar, em comparação a 51% (30 a 44 anos), 59% (45 a 64 anos) e 65% (65 anos ou mais).

A pesquisa revelou ainda que apenas 29% dos eleitores na faixa etária de 18 a 29 anos estão prestando bastante atenção à próxima eleição presidencial, a menor porcentagem entre todas as faixas etárias. Além disso, 44% dos jovens eleitores dizem que estão prestando “alguma” atenção, enquanto 18% afirmam não estar prestando “muita” atenção, e 9% não estão prestando “nenhuma” atenção.

Os dados evidenciam o baixo engajamento político da faixa etária, indicando o grande desafio que Biden tem em captar a participação deste grupo, que pode ser decisivo em uma competição tão acirrada.

Eleitores de 18 a 29 anos representaram aproximadamente 1 em cada 6 eleitores em 2020, e o presidente Biden os venceu por mais de 20 pontos. Em um confronto direto com Trump, em uma pesquisa realizada pela NPR/PBS com Marist divulgada no início de junho, ambos tiveram um empate técnico, com Biden à frente com 50% em relação a 48%. O democrata liderou por apenas 4 pontos com eleitores abaixo de 45 anos e por 6 com a geração Z e millennials.

Mas quando os independentes Robert F. Kennedy Jr. e Cornel West, assim como a candidata do Partido Verde Jill Stein são colocados para jogo, Biden fica trás de Trump por 4 pontos. Nesse cenário, o republicano lidera por 6 pontos com a geração Z e millennials.

Joe Biden em uma cerimônia de medalha de honra na Casa Branca. Em um momento de crise na corrida presidencial sobre sua idade, democrata ainda lida com a falta de apoio do eleitorado jovem. Foto: Jim Watson/AFP

“A discussão sobre os eleitores jovens precisa incluir seu tradicional menor entusiasmo como um grupo para a política e as eleições. Como outros eleitores, os eleitores jovens se sentem desconectados da política, e Biden sofre com essa falta de conexão”, avalia Lee Miringoff, diretor do Marist College Institute for Public Opinion.

Trump tem pouco a ganhar

O cuidado de Biden com a possibilidade de uma alta abstenção ganha ainda mais importância ao se levar em conta que a vulnerabilidade do democrata com os eleitores jovens não se baseia em pautas que podem converter votos ao seu rival, dizem os especialistas. Uma pesquisa recente feita pela YouGov apontou que a maioria das políticas preferidas pelos jovens democratas e independentes são apoiadas por Biden e rejeitadas por Trump. Mas o democrata precisa saber usá-las a seu favor.

Um exemplo é o projeto de lei de infraestrutura recentemente aprovado por Biden, que promete criar empregos e é uma das iniciativas legislativas mais pró-ambientais da história dos EUA. Segundo Farnsworth, “essas são coisas que devem tornar os jovens mais positivamente dispostos em relação a Biden”, mas até agora não parece ter havido um impacto significativo.

A mesma tendência é observada em suas posições pró-escolha sobre aborto, direitos LGBT+ e esforços para aliviar o fardo dos empréstimos universitários — todas questões populares entre jovens adultos. No entanto, “Biden é muito mais eficaz em aprovar legislação do que em comercializar seus sucessos políticos”, diz o especialista.

O mesmo se repete com a guerra em Gaza. Em abril deste ano, milhares de universitários — um grupo que tradicionalmente pende ao lado democrata — manifestaram contra a continuidade do conflito entre Israel e Hamas e o apoio de Biden dado a Israel.

Eleitores de 18 a 29 anos representaram aproximadamente 1 em cada 6 eleitores em 2020, e o presidente Biden os venceu por mais de 20 pontos.  Foto: Evan Vucci/AP

A situação emergiu como uma grande preocupação para muitos representantes democratas. Mas embora possa retirar votos do presidente americano, segundo os especialistas, dificilmente beneficiará Trump, que já prometeu ser muito mais linha-dura contra o Hamas.

“Biden deveria ser mais eficaz em lembrar aos eleitores que se importam muito com Gaza que Trump seria muito mais pró-Netanyahu se ele se tornasse presidente novamente”, opina Farnsworth.

O ‘sonho americano’ interrompido

Mesmo assim, apesar de frequentemente apontada pela mídia internacional como um dos motivos para o distanciamento dos millennials e da geração Z de Biden, a guerra em Gaza não é a principal prioridade aos jovens americanos. Na verdade, está longe disso.

Na edição de abril de 2024 da Harvard Youth Poll, jovens de 18 a 29 anos classificaram o conflito Israel-Palestina como 15º de 16 prioridades possíveis, ficando à frente, somente, da divida estudantil. A maior dor de cabeça para Biden, tratando-se do eleitorado jovem, é a economia. Inflação, assistência médica, moradia e empregos apareceram entre as preocupações mais proeminentes deste grupo no estudo.

Nessas questões, os eleitores millennials e da geração Z não são tão diferentes de todos os outros grupos. Essas são prioridades para todos os eleitores. Mas a questão se torna mais sensível no momento de vida que essa faixa etária vive: enquanto eleitores mais velhos, em sua maioria, podem estar mais seguros economicamente, com um trabalho de longa carreira e uma casa própria já adquirida, por exemplo, os jovens estão tentando a independência financeira e buscando seus primeiros empregos. O sonho americano esbarra na inflação.

“Os jovens estão muito preocupados com a economia. Muitos jovens adultos se formam na faculdade com altos níveis de dívida estudantil, e aqueles que não vão para a faculdade geralmente acham difícil encontrar um emprego seguro e de tempo integral que pague o suficiente para cobrir o aluguel e outras despesas de subsistência” sintetiza Farnsworth.

Assim, para Biden, o desafio agora — para além de convencer de que é capaz de seguir na disputa — é reconquistar a confiança dos jovens eleitores. Para os especialistas, a eficácia de sua campanha dependerá de sua capacidade de se conectar com as preocupações econômicas e sociais dos jovens e de provar que, apesar da distância geracional, suas políticas oferecem um caminho seguro para o futuro.

“A maior deficiência de Biden é sua idade, sobre a qual ele não pode fazer nada. Acho que ele precisa levar para casa a mensagem sobre a disponibilidade de empregos e as políticas de Trump, que podem afetar negativamente os eleitores mais jovens”, finaliza Miringoff.

Cerca de 60 anos separam Joe Biden de muitos dos eleitores que vão às urnas pela primeira vez em novembro. Competindo na corrida do segundo mandato à Casa Branca aos 81 anos, o democrata tem idade para ser avô de parte do grupo eleitoral que o ajudou a alcançar a vitória há quatro anos e hoje representa uma das maiores pedras em seu sapato.

Os jovens americanos, bem como a maioria de todos os grupos demográficos consultados em pesquisas, não estão convencidos da aptidão de Biden para uma segunda rodada de governo, especialmente após o primeiro debate contra Donald Trump em 27 de junho, quando o democrata pareceu diversas vezes confuso e chegou a trocar informações durante as respostas.

Mas em um contexto em que a distância geracional é um problema para os jovens seja com Biden ou com Trump — que é só quatro anos mais novo —, a insatisfação com questões como inflação e emprego aparecem como motivadores primários na perda do apoio do eleitorado jovem ao democrata. E, caso permaneça na disputa eleitoral, Biden terá de correr para que tais insatisfações não se convertam em uma grande abstenção nas urnas em novembro.

“As pesquisas também não mostram Trump indo bem com eleitores com menos de 30 anos, mas Trump pode vencer a eleição se esses eleitores não comparecerem para Biden em números comparáveis à participação dos jovens em 2020″, pontua Stephen Farnsworth, professor de Ciência Política e Assuntos Internacionais da Universidade de Mary Washington.

Uma pesquisa feita pelo The New York Times e do Siena College, divulgada no começo de julho revelou que 76% dos eleitores entre 18 e 29 anos acreditam que o país está caminhando na direção errada. Essa mesma faixa etária foi a que mais demonstrou tendência à abstenção em novembro: 36% deles responderam que é “quase certo” que irão votar, em comparação a 51% (30 a 44 anos), 59% (45 a 64 anos) e 65% (65 anos ou mais).

A pesquisa revelou ainda que apenas 29% dos eleitores na faixa etária de 18 a 29 anos estão prestando bastante atenção à próxima eleição presidencial, a menor porcentagem entre todas as faixas etárias. Além disso, 44% dos jovens eleitores dizem que estão prestando “alguma” atenção, enquanto 18% afirmam não estar prestando “muita” atenção, e 9% não estão prestando “nenhuma” atenção.

Os dados evidenciam o baixo engajamento político da faixa etária, indicando o grande desafio que Biden tem em captar a participação deste grupo, que pode ser decisivo em uma competição tão acirrada.

Eleitores de 18 a 29 anos representaram aproximadamente 1 em cada 6 eleitores em 2020, e o presidente Biden os venceu por mais de 20 pontos. Em um confronto direto com Trump, em uma pesquisa realizada pela NPR/PBS com Marist divulgada no início de junho, ambos tiveram um empate técnico, com Biden à frente com 50% em relação a 48%. O democrata liderou por apenas 4 pontos com eleitores abaixo de 45 anos e por 6 com a geração Z e millennials.

Mas quando os independentes Robert F. Kennedy Jr. e Cornel West, assim como a candidata do Partido Verde Jill Stein são colocados para jogo, Biden fica trás de Trump por 4 pontos. Nesse cenário, o republicano lidera por 6 pontos com a geração Z e millennials.

Joe Biden em uma cerimônia de medalha de honra na Casa Branca. Em um momento de crise na corrida presidencial sobre sua idade, democrata ainda lida com a falta de apoio do eleitorado jovem. Foto: Jim Watson/AFP

“A discussão sobre os eleitores jovens precisa incluir seu tradicional menor entusiasmo como um grupo para a política e as eleições. Como outros eleitores, os eleitores jovens se sentem desconectados da política, e Biden sofre com essa falta de conexão”, avalia Lee Miringoff, diretor do Marist College Institute for Public Opinion.

Trump tem pouco a ganhar

O cuidado de Biden com a possibilidade de uma alta abstenção ganha ainda mais importância ao se levar em conta que a vulnerabilidade do democrata com os eleitores jovens não se baseia em pautas que podem converter votos ao seu rival, dizem os especialistas. Uma pesquisa recente feita pela YouGov apontou que a maioria das políticas preferidas pelos jovens democratas e independentes são apoiadas por Biden e rejeitadas por Trump. Mas o democrata precisa saber usá-las a seu favor.

Um exemplo é o projeto de lei de infraestrutura recentemente aprovado por Biden, que promete criar empregos e é uma das iniciativas legislativas mais pró-ambientais da história dos EUA. Segundo Farnsworth, “essas são coisas que devem tornar os jovens mais positivamente dispostos em relação a Biden”, mas até agora não parece ter havido um impacto significativo.

A mesma tendência é observada em suas posições pró-escolha sobre aborto, direitos LGBT+ e esforços para aliviar o fardo dos empréstimos universitários — todas questões populares entre jovens adultos. No entanto, “Biden é muito mais eficaz em aprovar legislação do que em comercializar seus sucessos políticos”, diz o especialista.

O mesmo se repete com a guerra em Gaza. Em abril deste ano, milhares de universitários — um grupo que tradicionalmente pende ao lado democrata — manifestaram contra a continuidade do conflito entre Israel e Hamas e o apoio de Biden dado a Israel.

Eleitores de 18 a 29 anos representaram aproximadamente 1 em cada 6 eleitores em 2020, e o presidente Biden os venceu por mais de 20 pontos.  Foto: Evan Vucci/AP

A situação emergiu como uma grande preocupação para muitos representantes democratas. Mas embora possa retirar votos do presidente americano, segundo os especialistas, dificilmente beneficiará Trump, que já prometeu ser muito mais linha-dura contra o Hamas.

“Biden deveria ser mais eficaz em lembrar aos eleitores que se importam muito com Gaza que Trump seria muito mais pró-Netanyahu se ele se tornasse presidente novamente”, opina Farnsworth.

O ‘sonho americano’ interrompido

Mesmo assim, apesar de frequentemente apontada pela mídia internacional como um dos motivos para o distanciamento dos millennials e da geração Z de Biden, a guerra em Gaza não é a principal prioridade aos jovens americanos. Na verdade, está longe disso.

Na edição de abril de 2024 da Harvard Youth Poll, jovens de 18 a 29 anos classificaram o conflito Israel-Palestina como 15º de 16 prioridades possíveis, ficando à frente, somente, da divida estudantil. A maior dor de cabeça para Biden, tratando-se do eleitorado jovem, é a economia. Inflação, assistência médica, moradia e empregos apareceram entre as preocupações mais proeminentes deste grupo no estudo.

Nessas questões, os eleitores millennials e da geração Z não são tão diferentes de todos os outros grupos. Essas são prioridades para todos os eleitores. Mas a questão se torna mais sensível no momento de vida que essa faixa etária vive: enquanto eleitores mais velhos, em sua maioria, podem estar mais seguros economicamente, com um trabalho de longa carreira e uma casa própria já adquirida, por exemplo, os jovens estão tentando a independência financeira e buscando seus primeiros empregos. O sonho americano esbarra na inflação.

“Os jovens estão muito preocupados com a economia. Muitos jovens adultos se formam na faculdade com altos níveis de dívida estudantil, e aqueles que não vão para a faculdade geralmente acham difícil encontrar um emprego seguro e de tempo integral que pague o suficiente para cobrir o aluguel e outras despesas de subsistência” sintetiza Farnsworth.

Assim, para Biden, o desafio agora — para além de convencer de que é capaz de seguir na disputa — é reconquistar a confiança dos jovens eleitores. Para os especialistas, a eficácia de sua campanha dependerá de sua capacidade de se conectar com as preocupações econômicas e sociais dos jovens e de provar que, apesar da distância geracional, suas políticas oferecem um caminho seguro para o futuro.

“A maior deficiência de Biden é sua idade, sobre a qual ele não pode fazer nada. Acho que ele precisa levar para casa a mensagem sobre a disponibilidade de empregos e as políticas de Trump, que podem afetar negativamente os eleitores mais jovens”, finaliza Miringoff.

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