O prefeito de Maracaibo, Manuel Rosales, um dos principais líderes da oposição venezuelana, pediu ontem asilo político ao governo do Peru, informou o advogado peruano Javier Valle-Riestra, redator do pedido. Rosales, que está na clandestinidade desde o fim de março, fugiu para o Peru para escapar de acusações de corrupção na Venezuela que, segundo ele, têm motivação política. "A solicitação de asilo foi apresentada às 12h20 (14h20 de Brasília) à chancelaria. Agora nos resta esperar a resposta do governo peruano, que tem dois meses de prazo", afirmou Valle-Riestra. Cabe ao presidente peruano, Alan García, aceitar ou recusar o pedido de asilo. A Constituição peruana determina que, caso o asilo seja negado, o governo deve expulsar o solicitante, mas não pode entregá-lo ao país que supostamente o persegue. Horas mais cedo, o chanceler peruano, José Antonio García Belaúnde, havia confirmado que Rosales estava no país, mas na condição de turista. "Ele entrou no país como qualquer turista estrangeiro", disse a uma TV local. Belaúnde não soube informar quando o líder do partido Um Novo Tempo (UNT), de oposição ao presidente Hugo Chávez, chegou à capital peruana, mas disse que Rosales teve a entrada permitida pois não foi condenado na Venezuela e, portanto, não é considerado foragido da Justiça. Belaúnde minimizou uma possível crise com Caracas por causa do caso de Rosales. "Acredito que a relação entre Venezuela e Peru marcha por um caminho muito bom e assim vai seguir." As relações entre Caracas e Lima sofreram um forte abalo no começo de 2006 , após Chávez e García discutirem sobre as relações comerciais com os EUA e o líder venezuelano apoiar Ollanta Humala, o candidato rival de García, nas eleições daquele ano. A crise diplomática chegou ao ponto de os governos chamarem de volta seus embaixadores, mas, desde então, a tensão tem diminuído. ASSÉDIO Na segunda-feira, líderes do UNT na Venezuela afirmaram que Rosales, acusado de ter um aumento patrimonial de US$ 60 mil não justificado, procuraria asilo em algum "país amigo" por não acreditar que terá um julgamento justo na Venezuela. Após dez anos no poder, aliados de Chávez controlam o Congresso, a Suprema Corte e vários tribunais do país. Em entrevista à rede CNN, a mulher de Rosales, Evelyn, disse estar "tranquila" por saber que o marido havia chegado ao Peru e voltou a alegar razões políticas para as acusações. "Ele não é um perseguido judicial, mas sim político", disse. Evelyn reiterou que entre hoje e amanhã Rosales vai emitir uma nota explicando as razões que o levaram a sair do país. Segundo fontes ligadas ao político, Rosales teria chegado a Lima na semana passada, com um grupo de outros 20 opositores de Chávez. Apesar da fuga, Rosales continua sendo oficialmente o prefeito de Maracaibo, pois obteve licença para afastar-se temporariamente de suas funções. Há mais de 30 anos na política, Rosales já foi duas vezes governador de Zulia, Estado mais rico e populoso da Venezuela. Em 2006, perdeu para Chávez a disputa pela presidência do país. As investigações contra ele começaram no fim do ano passado, durante a campanha para as eleições regionais. Na época, Chávez chamou Rosales de "ladrão" e "mafioso" e afirmou que estava decidido a "metê-lo na cadeia". PEDIDO DE PRISÃO O ministro do Interior da Venezuela, Tarek el-Aissami, anunciou ontem que solicitará a captura internacional de Rosales, caso ele não se apresente ao tribunal que julga o processo contra ele. "Ao não se apresentar aos tribunais competentes, torna-se um foragido e, em consequência, se ativarão os mecanismos para sua captura internacional", disse. O prefeito de Maracaibo não se apresentou à audiência de segunda-feira que determinaria se aguardaria o julgamento em liberdade. Uma nova audiência foi marcada para o dia 11. OPOSIÇÃO NA MIRA Manuel Rosales: Foi candidato presidencial, duas vezes governador de Zulia e hoje é prefeito de Maracaibo. Acusado de corrupção, fugiu para o Peru Raúl Isaias Baduel: Ministro da Defesa entre 2006 e 2007, deixou o governo criticando Chávez. Foi detido por suposto desvio de dinheiro Teodoro Petkoff: Fundador do partido socialista MAS e candidato presidencial em 2006, dirige jornal de oposição. É investigado por suposta fraude Repressão ampla: 272 opositores ou dissidentes foram impedidos de participar de eleições por 15 anos; desde 2002, 20 opositores e dissidentes ficaram detidos por até 6 anos sem sentença Judicial