A Malásia anunciou que doará orangotangos para países que comprarem o seu óleo de palma. O anúncio foi feito por Johari Abdul Ghani, ministro das plantações e commodities do país nesta quarta-feira, 8, durante um fórum de biodiversidade promovido pela Fundação para a Conservação Verde do Óleo de Palma da Malásia. O país é um dos maiores produtores do óleo, ao lado da Indonésia. Juntos, os dois somam quase 90% da produção mundial.
Orangotangos são uma espécie em extinção. A medida foi criticada pelo grupo ambientalista Justice for Wildlife Malaysia, segundo o jornal “The Guardian”. Eles defendem a adoção de medidas diplomáticas alternativas, informa a publicação.
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O óleo de palma é o óleo vegetal mais produzido e consumido no mundo. Conhecido no Brasil como azeite de dendê, é o produto usado em muitos produtos, sobretudo em alimentos industrializados, margarinas e até em sorvetes. A gama de sua aplicação é grande também nas indústrias química, cosmética, farmacêutica e na produção de biocombustíveis. Porém, especialistas criticam o alto custo ambiental, apontamento que o plantio e cultivo da planta que produz o óleo provoca desmatamentos e degradação.
Em postagem feita nas redes sociais (confira post abaixo em língua malaia), o ministro diz que “muitos dos parceiros comerciais do mundo estão cada vez mais preocupados com o impacto dos produtos agrícolas no clima”. Segundo o texto, a “diplomacia do orangotango” provará à comunidade mundial que a Malásia mantém sempre um equilíbrio entre a satisfação das necessidades de segurança alimentar e a proteção do ambiente.
“Diplomacia do orangotango”
Ghani afirma que essa estratégia é uma “dádiva” para os parceiros comerciais e para as relações externas, especialmente com os principais países importadores, tais como China, Índia e nações integrantes da União Europeia. O bloco adotou uma lei antidesmatamento que veta compra de produtos de empresas responsáveis por danos ambientais, medida que é alvo de críticas do país asiático.
“A Malásia não deve adotar uma abordagem defensiva em relação à questão do óleo de palma; em vez disso, temos de mostrar ao mundo que a Malásia é um produtor de óleo de palma capaz e empenhado em proteger as florestas e a preservação natural”, diz a postagem do ministro.
Ele fez um apelo para que as principais empresas produtoras de óleo de palma colaborem com organizações não governamentais (ONG) para “proteger, nutrir e educar os nossos vizinhos de todo o mundo”, fornecendo simultaneamente conhecimentos técnicos sobre as espécies selvagens emblemáticas da Malásia.
“Esta será uma manifestação da forma como a Malásia preserva as espécies selvagens e mantém a resiliência das nossas florestas, especialmente na paisagem das plantações de óleo de palma”, diz o texto.
A postagem não diz como essa “diplomacia do orangotango” será adotada, e nem quantos animais serão dados de presente para os importadores do produto.
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O óleo de palma
O óleo de palma é usado em muitos produtos, sobretudo em alimentos industrializados, margarinas e até em sorvetes. Ele tem um perfil único de gordura e é muito utilizado em frituras em escala industrial. No Brasil, ele é conhecido como óleo de dendê e é muito utilizado em receitas, sobretudo em iguarias da culinária baiana tais como vatapás e acarajés. O óleo de palma pode ser usado ainda nas indústrias química, cosmética, farmacêutica e na produção de biocombustíveis.
As críticas em relação à Malásia dão conta de que o produto é um dos maiores responsáveis por desmatamento local, o que pode gerar impactos significativos na biodiversidade.
Uma das ações mais contundentes veio da União Europeia, que aprovou uma lei para combater o risco de desmatamento e degradação florestal associados a produtos importados ou exportados da União Europeia, mais conhecida como lei antidesmatamento. Ela entrou em vigor em 29 de junho de 2023.
A lei preconiza que a empresas europeias são obrigadas a fiscalizar suas cadeias de suprimento para garantir que os insumos usados na produção de seus produtos não estejam ligados às ações de desmatamento, medida que afeta não somente a Malásia mas vários países, inclusive o Brasil.
Os países afetados –incluindo o Brasil– afirmam que a medida tem caráter punitivo e discriminatório. Em setembro de 2023, foi encaminhada uma carta conjunta de 17 países em desenvolvimento a respeito da medida.
A Malásia chegou a entrar com uma queixa na OMC (Organização Mundial do Comércio) em uma disputa sobre biocombustíveis. Em março deste ano, a OMC emitiu um relatório final sobre a contenda e ambos os lados (União Europeia e Malásia) consideram que saíram vitoriosos da disputa. “Esta decisão da OMC demonstra que as alegações de discriminação da Malásia são de fato justificadas. Isto justifica a busca da Malásia por justiça para os nossos comerciantes, empresas e funcionários de biodiesel”, afirma o governo da Malásia em nota.