Opinião|Manifestantes em universidades americanas não estão ajudando a por um fim ao sofrimento em Gaza


Ações mais agressivas podem estar prejudicando os palestinos de Gaza que jovens americanos dizem querer ajudar

Por Nicholas Kristof
Atualização:

Estudantes em protesto: eu admiro sua empatia pelos palestinos de Gaza, sua preocupação com o mundo, sua ambição moral de fazer a diferença.

Mas me preocupo sobre a maneira que manifestações pacíficas transformaram-se em ocupações de edifícios, riscos para formaturas e o que eu vejo como uma tolerância indevida a antissemitismo, caos, vandalismo e extremismo. E temo que as ações mais agressivas possam estar prejudicando os palestinos de Gaza que vocês estão tentando ajudar.

Meu pensamento é moldado pelos protestos contra a Guerra do Vietnã, nos anos 60. Os estudantes que protestaram naquela época foram dignos de mérito: a guerra era impossível de vencer e vinha sendo conduzida de maneiras irresponsáveis e imorais.

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Mas aqueles estudantes não encurtaram aquela guerra terrível; em vez disso, provavelmente a prolongaram. Os ativistas de esquerda em 1968 não alcançaram seu objetivo de eleger o candidato pacifista Gene McCarthy; em vez disso, as turbulências e os protestos mais violentos ajudaram a eleger Richard Nixon, que prometia restaurar a ordem — e então prolongou a guerra e a expandiu para o Camboja.

Protesto contra a guerra em Gaza em Vancouver Foto: Ethan Cairns/AP

Boas intenções

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Acho que vale a pena nos recordarmos da história hoje. Boas intenções não são suficiente. Empatia não é suficiente. Estou certo de que todos concordamos que os resultados são que importa. Portanto, a pergunta que eu gostaria de lhes fazer é a seguinte: Seus acampamentos e sacrifícios — mais de mil manifestantes foram presos até aqui, e números desconhecidos de alunos foram suspensos ou expulsos — estão realmente ajudando os palestinos de Gaza?

Tenho criticado fortemente a conduta de Israel em Gaza desde o outono passado (Hemisfério Norte), assim como o apoio incondicional do presidente Joe Biden à guerra. Então, ainda que meu coração apoie sua causa, as convulsões nas universidades furtaram atenção da crise em Gaza, em vez de chamar atenção para o problema.

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Afinal, do que estamos falando aqui, neste momento? Não é da fome em Gaza. Nem da possível invasão a Rafah, que o subsecretário da ONU para assuntos humanitários afirmou esta semana que seria “uma tragédia inenarrável”.

Em vez disso, estamos falando do líder estudantil de Columbia que afirmou em janeiro que “sionistas não merecem viver”. Que se excedeu e depois se desculpou — mas desacreditou gravemente a causa. Temo que o fanatismo que ecoa pelos protestos pode levar ativistas a fazer esses tipos de comentários deploráveis e criar desculpas, o que afasta as pessoas.

Polícia prende manifestantes em universidade na Califórnia Foto: Ethan Swope/AP
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Humildade é essencial

Um pensamento: humildade é uma ferramenta essencial na persuasão (não que eu sempre seja correto nesse sentido!). O desafio é adotar uma posição moral inflexível ao mesmo tempo reconhecendo a possibilidade de estar errado. Admitir essa contradição refreia tendências a presunções de autorretidão e ao impulso de gritar mais alto que os demais — que nunca persuadiram absolutamente ninguém.

Muitos estudantes estão chamando atenção para as injustiças em Gaza pacificamente, combinando ardor com humildade, e acredito que o uso desnecessário de violência policial também é indesculpável e dificulta a resolução da crise nas universidades.

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Ainda assim, em Yale os manifestantes armaram barracas e bloquearam uma “área libertada”, num espaço público, à qual as pessoas só tinham acesso permitido quando se comprometiam com “a libertação da Palestina” e princípios relacionados, de acordo com The Yale Daily News. Impressionou-me a ironia de um desses princípios ser tolerância zero a discriminações de qualquer tipo.

Também temos de reconhecer que o Hamas é uma organização terrorista, misógina, homofóbica e antissemita que mantém atualmente reféns americanos e israelenses. O Hamas tem sido uma catástrofe para os palestinos de Gaza, e para mim é difícil perceber por que qualquer um que apoie a causa palestina aprovaria o grupo ou a violência.

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Sectarismo estudantil

O gabinete distrital do deputado republicano John Carter, do Texas, foi vandalizado por pessoas que espalharam sangue falso pelo recinto e picharam “Gaza Livre” nas paredes — o que certamente não ajudou os palestinos de Gaza e provavelmente diminuiu o apoio com que contavam. Mas fiquei impressionado com o número de comentaristas online que simpatizaram com o vandalismo. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu deverá vibrar ao saber que essas pessoas existem.

Os manifestantes têm demandas que incluem desinvestimento e rompimento de laços com Israel. Mas romper relações com Israel não ajudará os palestinos de Gaza e, pelo contrário, é útil para universidades manter intercâmbios com instituições de uma ampla gama de países, incluindo aqueles cujas políticas não concordamos.

Além disso, desinvestimento não prejudicará Netanyahu nem ajudará os palestinos de Gaza — mas poderá ocasionar uma queda nos retornos das dotações. Então, os estudantes preferem mensalidades mais altas para cobrir esse lapso ou menos ajudas acadêmicas para alunos marginalizados? E as universidades desinvestirem todos os instrumentos financeiros ligados a Israel significa que devem também vender todos os seus títulos do Tesouro dos Estados Unidos, já que o governo americano manda ajuda para Israel?

Não quero que isso soe tão amargo quanto provavelmente soa. Protestem, por favor!

Protestar, em si, é uma coisa boa: estudantes podem escrever cartas para editores, circular petições, organizar comícios pacíficos e entrar em contato com seus congressistas (ou inundar de comentários a seção de comentários desta coluna!). Sou totalmente a favor de exigir mais ajuda humanitária para Gaza e uma suspensão no envio de armas ofensivas para Israel até que o país atenda ao direito humanitário internacional e dê um grande impulso para o Estado palestino.

Finalmente, permitam-me oferecer duas sugestões concretas sobre como ajudar os palestinos significativamente sem envolver ocupações de campus, ser expulsos da faculdade e arriscar um prolongamento da guerra.

Como ajudar Gaza

Primeiro, arrecadem fundos para organizações que ajudam ativamente os palestinos de Gaza, como Save the Children, Gisha e Comitê Internacional de Resgate. Pode parecer modesto e desanimador, mas ajudará pessoas reais desesperadamente necessitadas.

Em segundo lugar, pode soar engraçado, mas que tal arrecadar dinheiro para mandar o máximo possível de seus líderes estudantis passar o próximo verão na Cisjordânia e aprender com os palestinos de lá (ao mesmo tempo que se relacionam com israelenses ao entrar e sair do enclave)? Observadores da Cisjordânia afirmam que um endurecimento recente de Israel sobre estrangeiros tentando ajudar palestinos, negando sua entrada ao território ou deportando pessoas, dificultou mais as coisas, mas não impossibilitou totalmente o acesso.

Os estudantes em visita devem ser prudentes e cautelosos, mas poderiam estudar árabe, dar aulas de inglês e se voluntariar para trabalhar com as organizações de direitos humanos em campo. Em certas regiões da Cisjordânia, palestinos vivem sitiados, sob ataques periódicos de colonos e precisando de observadores e defensores de direitos.

Ao retornar das férias de verão os estudantes teriam um entendimento muito mais profundo a respeito dos problemas e das maneiras de ajudar a resolvê-los. Seria uma experiência transformadora, um aprendizado mais rico do que qualquer coisa vocês teriam no campus.

Seria também um ativismo não performático, mas capaz de ajudar verdadeiramente os palestinos a viver vidas melhores e mais seguras. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Estudantes em protesto: eu admiro sua empatia pelos palestinos de Gaza, sua preocupação com o mundo, sua ambição moral de fazer a diferença.

Mas me preocupo sobre a maneira que manifestações pacíficas transformaram-se em ocupações de edifícios, riscos para formaturas e o que eu vejo como uma tolerância indevida a antissemitismo, caos, vandalismo e extremismo. E temo que as ações mais agressivas possam estar prejudicando os palestinos de Gaza que vocês estão tentando ajudar.

Meu pensamento é moldado pelos protestos contra a Guerra do Vietnã, nos anos 60. Os estudantes que protestaram naquela época foram dignos de mérito: a guerra era impossível de vencer e vinha sendo conduzida de maneiras irresponsáveis e imorais.

Mas aqueles estudantes não encurtaram aquela guerra terrível; em vez disso, provavelmente a prolongaram. Os ativistas de esquerda em 1968 não alcançaram seu objetivo de eleger o candidato pacifista Gene McCarthy; em vez disso, as turbulências e os protestos mais violentos ajudaram a eleger Richard Nixon, que prometia restaurar a ordem — e então prolongou a guerra e a expandiu para o Camboja.

Protesto contra a guerra em Gaza em Vancouver Foto: Ethan Cairns/AP

Boas intenções

Acho que vale a pena nos recordarmos da história hoje. Boas intenções não são suficiente. Empatia não é suficiente. Estou certo de que todos concordamos que os resultados são que importa. Portanto, a pergunta que eu gostaria de lhes fazer é a seguinte: Seus acampamentos e sacrifícios — mais de mil manifestantes foram presos até aqui, e números desconhecidos de alunos foram suspensos ou expulsos — estão realmente ajudando os palestinos de Gaza?

Tenho criticado fortemente a conduta de Israel em Gaza desde o outono passado (Hemisfério Norte), assim como o apoio incondicional do presidente Joe Biden à guerra. Então, ainda que meu coração apoie sua causa, as convulsões nas universidades furtaram atenção da crise em Gaza, em vez de chamar atenção para o problema.

Afinal, do que estamos falando aqui, neste momento? Não é da fome em Gaza. Nem da possível invasão a Rafah, que o subsecretário da ONU para assuntos humanitários afirmou esta semana que seria “uma tragédia inenarrável”.

Em vez disso, estamos falando do líder estudantil de Columbia que afirmou em janeiro que “sionistas não merecem viver”. Que se excedeu e depois se desculpou — mas desacreditou gravemente a causa. Temo que o fanatismo que ecoa pelos protestos pode levar ativistas a fazer esses tipos de comentários deploráveis e criar desculpas, o que afasta as pessoas.

Polícia prende manifestantes em universidade na Califórnia Foto: Ethan Swope/AP

Humildade é essencial

Um pensamento: humildade é uma ferramenta essencial na persuasão (não que eu sempre seja correto nesse sentido!). O desafio é adotar uma posição moral inflexível ao mesmo tempo reconhecendo a possibilidade de estar errado. Admitir essa contradição refreia tendências a presunções de autorretidão e ao impulso de gritar mais alto que os demais — que nunca persuadiram absolutamente ninguém.

Muitos estudantes estão chamando atenção para as injustiças em Gaza pacificamente, combinando ardor com humildade, e acredito que o uso desnecessário de violência policial também é indesculpável e dificulta a resolução da crise nas universidades.

Ainda assim, em Yale os manifestantes armaram barracas e bloquearam uma “área libertada”, num espaço público, à qual as pessoas só tinham acesso permitido quando se comprometiam com “a libertação da Palestina” e princípios relacionados, de acordo com The Yale Daily News. Impressionou-me a ironia de um desses princípios ser tolerância zero a discriminações de qualquer tipo.

Também temos de reconhecer que o Hamas é uma organização terrorista, misógina, homofóbica e antissemita que mantém atualmente reféns americanos e israelenses. O Hamas tem sido uma catástrofe para os palestinos de Gaza, e para mim é difícil perceber por que qualquer um que apoie a causa palestina aprovaria o grupo ou a violência.

Sectarismo estudantil

O gabinete distrital do deputado republicano John Carter, do Texas, foi vandalizado por pessoas que espalharam sangue falso pelo recinto e picharam “Gaza Livre” nas paredes — o que certamente não ajudou os palestinos de Gaza e provavelmente diminuiu o apoio com que contavam. Mas fiquei impressionado com o número de comentaristas online que simpatizaram com o vandalismo. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu deverá vibrar ao saber que essas pessoas existem.

Os manifestantes têm demandas que incluem desinvestimento e rompimento de laços com Israel. Mas romper relações com Israel não ajudará os palestinos de Gaza e, pelo contrário, é útil para universidades manter intercâmbios com instituições de uma ampla gama de países, incluindo aqueles cujas políticas não concordamos.

Além disso, desinvestimento não prejudicará Netanyahu nem ajudará os palestinos de Gaza — mas poderá ocasionar uma queda nos retornos das dotações. Então, os estudantes preferem mensalidades mais altas para cobrir esse lapso ou menos ajudas acadêmicas para alunos marginalizados? E as universidades desinvestirem todos os instrumentos financeiros ligados a Israel significa que devem também vender todos os seus títulos do Tesouro dos Estados Unidos, já que o governo americano manda ajuda para Israel?

Não quero que isso soe tão amargo quanto provavelmente soa. Protestem, por favor!

Protestar, em si, é uma coisa boa: estudantes podem escrever cartas para editores, circular petições, organizar comícios pacíficos e entrar em contato com seus congressistas (ou inundar de comentários a seção de comentários desta coluna!). Sou totalmente a favor de exigir mais ajuda humanitária para Gaza e uma suspensão no envio de armas ofensivas para Israel até que o país atenda ao direito humanitário internacional e dê um grande impulso para o Estado palestino.

Finalmente, permitam-me oferecer duas sugestões concretas sobre como ajudar os palestinos significativamente sem envolver ocupações de campus, ser expulsos da faculdade e arriscar um prolongamento da guerra.

Como ajudar Gaza

Primeiro, arrecadem fundos para organizações que ajudam ativamente os palestinos de Gaza, como Save the Children, Gisha e Comitê Internacional de Resgate. Pode parecer modesto e desanimador, mas ajudará pessoas reais desesperadamente necessitadas.

Em segundo lugar, pode soar engraçado, mas que tal arrecadar dinheiro para mandar o máximo possível de seus líderes estudantis passar o próximo verão na Cisjordânia e aprender com os palestinos de lá (ao mesmo tempo que se relacionam com israelenses ao entrar e sair do enclave)? Observadores da Cisjordânia afirmam que um endurecimento recente de Israel sobre estrangeiros tentando ajudar palestinos, negando sua entrada ao território ou deportando pessoas, dificultou mais as coisas, mas não impossibilitou totalmente o acesso.

Os estudantes em visita devem ser prudentes e cautelosos, mas poderiam estudar árabe, dar aulas de inglês e se voluntariar para trabalhar com as organizações de direitos humanos em campo. Em certas regiões da Cisjordânia, palestinos vivem sitiados, sob ataques periódicos de colonos e precisando de observadores e defensores de direitos.

Ao retornar das férias de verão os estudantes teriam um entendimento muito mais profundo a respeito dos problemas e das maneiras de ajudar a resolvê-los. Seria uma experiência transformadora, um aprendizado mais rico do que qualquer coisa vocês teriam no campus.

Seria também um ativismo não performático, mas capaz de ajudar verdadeiramente os palestinos a viver vidas melhores e mais seguras. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Estudantes em protesto: eu admiro sua empatia pelos palestinos de Gaza, sua preocupação com o mundo, sua ambição moral de fazer a diferença.

Mas me preocupo sobre a maneira que manifestações pacíficas transformaram-se em ocupações de edifícios, riscos para formaturas e o que eu vejo como uma tolerância indevida a antissemitismo, caos, vandalismo e extremismo. E temo que as ações mais agressivas possam estar prejudicando os palestinos de Gaza que vocês estão tentando ajudar.

Meu pensamento é moldado pelos protestos contra a Guerra do Vietnã, nos anos 60. Os estudantes que protestaram naquela época foram dignos de mérito: a guerra era impossível de vencer e vinha sendo conduzida de maneiras irresponsáveis e imorais.

Mas aqueles estudantes não encurtaram aquela guerra terrível; em vez disso, provavelmente a prolongaram. Os ativistas de esquerda em 1968 não alcançaram seu objetivo de eleger o candidato pacifista Gene McCarthy; em vez disso, as turbulências e os protestos mais violentos ajudaram a eleger Richard Nixon, que prometia restaurar a ordem — e então prolongou a guerra e a expandiu para o Camboja.

Protesto contra a guerra em Gaza em Vancouver Foto: Ethan Cairns/AP

Boas intenções

Acho que vale a pena nos recordarmos da história hoje. Boas intenções não são suficiente. Empatia não é suficiente. Estou certo de que todos concordamos que os resultados são que importa. Portanto, a pergunta que eu gostaria de lhes fazer é a seguinte: Seus acampamentos e sacrifícios — mais de mil manifestantes foram presos até aqui, e números desconhecidos de alunos foram suspensos ou expulsos — estão realmente ajudando os palestinos de Gaza?

Tenho criticado fortemente a conduta de Israel em Gaza desde o outono passado (Hemisfério Norte), assim como o apoio incondicional do presidente Joe Biden à guerra. Então, ainda que meu coração apoie sua causa, as convulsões nas universidades furtaram atenção da crise em Gaza, em vez de chamar atenção para o problema.

Afinal, do que estamos falando aqui, neste momento? Não é da fome em Gaza. Nem da possível invasão a Rafah, que o subsecretário da ONU para assuntos humanitários afirmou esta semana que seria “uma tragédia inenarrável”.

Em vez disso, estamos falando do líder estudantil de Columbia que afirmou em janeiro que “sionistas não merecem viver”. Que se excedeu e depois se desculpou — mas desacreditou gravemente a causa. Temo que o fanatismo que ecoa pelos protestos pode levar ativistas a fazer esses tipos de comentários deploráveis e criar desculpas, o que afasta as pessoas.

Polícia prende manifestantes em universidade na Califórnia Foto: Ethan Swope/AP

Humildade é essencial

Um pensamento: humildade é uma ferramenta essencial na persuasão (não que eu sempre seja correto nesse sentido!). O desafio é adotar uma posição moral inflexível ao mesmo tempo reconhecendo a possibilidade de estar errado. Admitir essa contradição refreia tendências a presunções de autorretidão e ao impulso de gritar mais alto que os demais — que nunca persuadiram absolutamente ninguém.

Muitos estudantes estão chamando atenção para as injustiças em Gaza pacificamente, combinando ardor com humildade, e acredito que o uso desnecessário de violência policial também é indesculpável e dificulta a resolução da crise nas universidades.

Ainda assim, em Yale os manifestantes armaram barracas e bloquearam uma “área libertada”, num espaço público, à qual as pessoas só tinham acesso permitido quando se comprometiam com “a libertação da Palestina” e princípios relacionados, de acordo com The Yale Daily News. Impressionou-me a ironia de um desses princípios ser tolerância zero a discriminações de qualquer tipo.

Também temos de reconhecer que o Hamas é uma organização terrorista, misógina, homofóbica e antissemita que mantém atualmente reféns americanos e israelenses. O Hamas tem sido uma catástrofe para os palestinos de Gaza, e para mim é difícil perceber por que qualquer um que apoie a causa palestina aprovaria o grupo ou a violência.

Sectarismo estudantil

O gabinete distrital do deputado republicano John Carter, do Texas, foi vandalizado por pessoas que espalharam sangue falso pelo recinto e picharam “Gaza Livre” nas paredes — o que certamente não ajudou os palestinos de Gaza e provavelmente diminuiu o apoio com que contavam. Mas fiquei impressionado com o número de comentaristas online que simpatizaram com o vandalismo. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu deverá vibrar ao saber que essas pessoas existem.

Os manifestantes têm demandas que incluem desinvestimento e rompimento de laços com Israel. Mas romper relações com Israel não ajudará os palestinos de Gaza e, pelo contrário, é útil para universidades manter intercâmbios com instituições de uma ampla gama de países, incluindo aqueles cujas políticas não concordamos.

Além disso, desinvestimento não prejudicará Netanyahu nem ajudará os palestinos de Gaza — mas poderá ocasionar uma queda nos retornos das dotações. Então, os estudantes preferem mensalidades mais altas para cobrir esse lapso ou menos ajudas acadêmicas para alunos marginalizados? E as universidades desinvestirem todos os instrumentos financeiros ligados a Israel significa que devem também vender todos os seus títulos do Tesouro dos Estados Unidos, já que o governo americano manda ajuda para Israel?

Não quero que isso soe tão amargo quanto provavelmente soa. Protestem, por favor!

Protestar, em si, é uma coisa boa: estudantes podem escrever cartas para editores, circular petições, organizar comícios pacíficos e entrar em contato com seus congressistas (ou inundar de comentários a seção de comentários desta coluna!). Sou totalmente a favor de exigir mais ajuda humanitária para Gaza e uma suspensão no envio de armas ofensivas para Israel até que o país atenda ao direito humanitário internacional e dê um grande impulso para o Estado palestino.

Finalmente, permitam-me oferecer duas sugestões concretas sobre como ajudar os palestinos significativamente sem envolver ocupações de campus, ser expulsos da faculdade e arriscar um prolongamento da guerra.

Como ajudar Gaza

Primeiro, arrecadem fundos para organizações que ajudam ativamente os palestinos de Gaza, como Save the Children, Gisha e Comitê Internacional de Resgate. Pode parecer modesto e desanimador, mas ajudará pessoas reais desesperadamente necessitadas.

Em segundo lugar, pode soar engraçado, mas que tal arrecadar dinheiro para mandar o máximo possível de seus líderes estudantis passar o próximo verão na Cisjordânia e aprender com os palestinos de lá (ao mesmo tempo que se relacionam com israelenses ao entrar e sair do enclave)? Observadores da Cisjordânia afirmam que um endurecimento recente de Israel sobre estrangeiros tentando ajudar palestinos, negando sua entrada ao território ou deportando pessoas, dificultou mais as coisas, mas não impossibilitou totalmente o acesso.

Os estudantes em visita devem ser prudentes e cautelosos, mas poderiam estudar árabe, dar aulas de inglês e se voluntariar para trabalhar com as organizações de direitos humanos em campo. Em certas regiões da Cisjordânia, palestinos vivem sitiados, sob ataques periódicos de colonos e precisando de observadores e defensores de direitos.

Ao retornar das férias de verão os estudantes teriam um entendimento muito mais profundo a respeito dos problemas e das maneiras de ajudar a resolvê-los. Seria uma experiência transformadora, um aprendizado mais rico do que qualquer coisa vocês teriam no campus.

Seria também um ativismo não performático, mas capaz de ajudar verdadeiramente os palestinos a viver vidas melhores e mais seguras. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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