‘Mano’ Trump e seus parças: como o republicano busca o apoio do eleitorado jovem masculino


Uma constelação de YouTubers, comediantes de pegadinhas e apresentadores de streaming que influenciam homens jovens está ajudando Trump a conquistar o voto dos parças.

Por John Branch

Em um sábado escaldante nos subúrbios de Las Vegas, dentro de um cassino refrescante a quilômetros da Vegas Strip, cerca de 100 pessoas faziam fila para ver os Nelk Boys. A maioria dos fãs era de homens jovens, na faixa dos 20 anos, que estavam lá para conhecer sua turma favorita de brincalhões do YouTube e podcasters. Duas jovens, de shorts curtos e regatas justas, distribuíam refrigerantes Happy Dad, parte da crescente linha de produtos dos Nelk Boys.

Horas depois, os Nelk Boys estavam dentro de uma T-Mobile Arena lotada, no coração da cidade, enquanto Dana White, presidente executivo do Ultimate Fighting Championship, dava as boas-vindas a uma multidão lotada para o mais recente evento do UFC. Donald Trump Jr. estava sentado ao lado do octógono.

Cerca de duas semanas depois, White apresentou o ex-presidente Donald Trump na Convenção Nacional Republicana, onde o senador JD Vance, de Ohio, foi anunciado como companheiro de chapa de Trump. Os Nelk Boys também apareceram lá. Logo, eles entrevistaram Vance em seu podcast Full Send.

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Essas repetidas colisões de órbitas alimentadas por testosterona são uma estratégia de campanha, não uma coincidência.

Em um momento em que se observa nos jovens uma imensa lacuna política entre os gêneros — mulheres inclinando-se para a esquerda, homens inclinando-se para a direita — a campanha de Trump tem cortejado agressivamente o que pode ser chamado de “voto dos parças”, a turma dos universitários das fraternidades. É uma fatia de jovens de 18 a 29 anos que há muito tempo é considerada não confiável e inalcançável, mas que os republicanos acreditam que pode influenciar a eleição este ano.

Apoiadores de Donald Trump, que busca o "voto dos parças" para as eleições, Pensilvânia, 17 de agosto. Foto: Doug Mills/The New York Times
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Para encontrá-los, Trump e seus aliados têm explorado profundamente o universo — um manoverso — das estrelas das redes sociais com públicos essencialmente masculinos: os Nelk Boys, White e o UFC, Dave Portnoy e sua rede de mídia Barstool Sports, YouTubers como Jake e Logan Paul, podcasters como Theo Von e streamers como Adin Ross.

Essas figuras assumiram para essa geração os papéis que já foram de Hannity, Carlson e Limbaugh, mas sem o óbvio revestimento político. Eles são apenas caras se divertindo, falando de esportes, apostas, festas — e, mais do que nunca, política presidencial.

Os Nelk Boys jogaram golfe com Trump, estiveram no Air Force One e visitaram Mar-a-Lago. Eles receberam o ex-presidente em seu podcast em duas ocasiões. Às vezes, eles são mencionados por Trump em seus discursos de campanha — uma referência que provavelmente passará despercebida pelos participantes mais velhos, mas não pelos jovens na plateia.

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“Sinto que precisamos que você volte agora”, disse a Trump o rosto público dos Nelk Boys, Kyle Forgeard, de 30 anos, perto do início de uma entrevista diante das câmeras em 2023. “Tipo, precisamos de você de volta ao cargo.”

Trump, livre de filtros ou refutações, falou na loucura das turbinas eólicas e dos carros elétricos, na “invasão” de rejeitados estrangeiros saídos de “hospícios”, em Hannibal Lecter, em OVNIs, no presidente Vladimir Putin, da Rússia, e em Kim Jong-un, da Coreia do Norte, na perspectiva de uma guerra nuclear. E falou dos democratas.

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“É quase como se eles realmente odiassem nosso país”, disse Trump. Forgeard e Aaron Steinberg, os dois membros dos Nelk Boys que conduziram a entrevista, concordaram. Depois que Trump saiu, eles e uma equipe de apoio riram e se abraçaram, aparentemente encantados pela proximidade e pelo acesso.

Talvez você não tenha ouvido o podcast ou visto no YouTube. Talvez você nunca tenha ouvido falar dos Nelk Boys, ou dos irmãos Paul ou de Portnoy.

Mas milhões de outros já ouviram. A maioria deles é de jovens que podem votar e, se o fizerem, podem ter uma grande influência no resultado.

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Louis Wagner-Lang e Van Ricker, da Montana State University, exibem bandeira de Donald Trump, que conta apoio de youtubers, podcasters e streamers para atrair público jovem.  Foto: Louise Johns/The New York Times

O voto dos parças

Na cidade universitária de Bozeman, Montana, milhares de pessoas com camisetas e bonés de Trump fizeram fila para participar de um comício do ex-presidente em 9 de agosto. Muitos deles eram homens jovens. E a maioria abriu sorrisos de reconhecimento quando o assunto dos Nelk Boys foi mencionado.

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Entre eles estavam Louis Wagner-Lang e Van Ricker, ambos veteranos de 21 anos da Universidade Montana State, e o irmão de 23 anos de Ricker, Charlie Ricker.

“Os Nelk Boys e a política andam de mãos dadas”, disse Van Ricker. “As redes sociais explodiram no mesmo momento em que a política está explodindo.”

Eles notaram o Tesla Cybertruck que Ross, uma celebridade da internet com milhões de seguidores, havia dado a Trump durante uma transmissão ao vivo alguns dias antes. Eles disseram que acompanhavam os acontecimentos políticos por meio dos Nelk Boys e outros.

“Mais ou menos como as pessoas mais velhas fazem com as notícias”, disse Charlie Ricker. Eles apreciam o formato informal dos podcasts, disseram, sem o verniz dos comentaristas de emissora.

“Eles são muito diretos”, disse Wagner-Lang. “Eles dizem algo, e você pensa: ‘Isso faz muito sentido.’”

Os três jovens detalharam suas preocupações em relação ao país: custo da moradia, preço dos alimentos, a fronteira. Eles disseram que Trump alimentou a sensação de que os homens, especialmente os homens brancos como eles, foram escalados como vilões, quando na verdade tudo que eles queriam era poder sustentar suas futuras famílias.

“Os democratas dizem que querem que pessoas de todas as cores sejam bem-sucedidas, mas nós também”, disse Charlie Ricker. “Sinto que os democratas estão nos fazendo parecer o lado racista.”

Os três seguiram os Nelk Boys por meio de acrobacias e pegadinhas no YouTube (e, recentemente, uma paródia habilmente produzida de “The Bachelor”) e seus passeios por campi universitários. Os Nelk Boys se formaram perto de Toronto quando adolescentes, mas a trupe em constante mudança agora está sediada no sul da Califórnia. Nelk é uma sigla que representa os membros originais — K de Kyle, o principal nome e último membro original.

Eles são atrevidos e irreverentes. As mulheres são pouco mais do que adornos para serem cobiçados e provocados. É um pouco como um cruzamento entre “Girls Gone Wild” e “Impractical Jokers”, posteriormente adotado pela família Trump.

Esse perfil dá às suas brincadeiras uma ousadia despretensiosa. Em um vídeo recente, os Nelk Boys estão assistindo ao discurso de aceitação de Kamala Harris na Convenção Nacional Democrata em uma televisão grande quando um deles de repente se levanta e bate no rosto na tela repetidamente com uma marreta.

Ex-presidente Donald Trump assiste luta de UFC. Foto: Scott Mcintyre/The New York Times

Não mais limitados aos esportes

No verão de 2016, outro ano eleitoral com Trump, a política estava se infiltrando nos esportes e na cultura pop de outras maneiras. Colin Kaepernick, um quarterback da NFL, começou a se ajoelhar durante o hino nacional para protestar contra a brutalidade policial contra homens negros. Trump e seus apoiadores atacaram, dando voz à crítica “anti-lacração” do tipo “limite-se aos esportes” frequentemente ouvida hoje para reclamar quando atletas ou celebridades endossam causas democratas.

No entanto, celebridades da internet como os Nelk Boys e líderes esportivos como White agora mergulham nas profundezas da política americana, por princípio ou lucro. Eles também devem se ater ao que os tornou famosos?

“Eu costumava pensar isso”, disse Charlie Ricker. “Mas [o que] eles [dizem] faz sentido. E eu realmente quero que Trump vença.”

A primeira aparição pública de Trump depois que um júri de Nova York o condenou por 34 acusações criminais foi em um evento da UFC em Newark. Ele entrou na arena ao som de “American Bad Ass”, de Kid Rock, e usou o evento, ao lado de White, para lançar sua conta no TikTok.

Logo, Trump apareceu no podcast de Logan Paul, um lutador profissional e estrela das redes sociais. Sua primeira pergunta: por que Trump dedicaria seu tempo a um país que está tentando derrubá-lo? Respondendo à deixa, Trump passou a maior parte de uma hora discutindo teorias de fraude eleitoral, as injustiças da mídia e um mundo em chamas. “Este país está indo para o inferno”, disse ele.

Semanas antes, Logan Paul recebeu o quarterback Patrick Mahomes em seu programa. Naquela época, a conversa envolveu Travis Kelce e o Super Bowl; agora o assunto era a perspectiva da Terceira Guerra Mundial.

“Estou lhe dizendo, teríamos uma guerra nuclear se Hillary Clinton tivesse vencido”, disse Trump.

Eles também falaram sobre OVNIs. Trump disse que uma chave para a segurança da fronteira eram mais pastores alemães. Questionado se ele já tinha se envolvido em uma troca de socos, Trump gaguejou. “Provavelmente não”, ele disse, finalmente brincando, “Eu adoraria dizer que lutei para passar pela faculdade de finanças Wharton”.

No fim, os homens apertaram as mãos. “Ah, eles terão uma grande audiência neste programa”, disse Trump. Ele estava certo. A entrevista obteve mais de seis milhões de visualizações no YouTube, em comparação com um milhão para o episódio centrado em esportes com Mahomes.

Jake Paul, irmão de Logan Paul, um lutador do UFC e outro gigante das redes sociais (agora esperando lutar contra Mike Tyson), também apoia Trump abertamente.

“Quando você tenta matar os anjos de Deus e salvadores do mundo, isso só os torna maiores”, ele postou no X logo após a tentativa de assassinato de Trump em 13 de julho. “O bem sempre vence o mal. #Trump2024″

Semanas depois, ele postou um clipe no Instagram dele com o ex-presidente, se exibindo, como se estivesse em uma pesagem de lutadores durões. “Precisamos que Trump derrote todos os seus oponentes no dia da eleição para salvar os Estados Unidos”, escreveu ele. Trump repostou o conteúdo para seus 26 milhões de seguidores no Instagram, quase tantos quanto Paul.

O Barstool Sports e seu líder, Portnoy, estavam entre os primeiros a capturar o grupo demográfico masculino nas redes sociais que Trump está explorando agora. Portnoy encontrou grandes públicos para cobertura esportiva, jogos de azar e pizza, apesar de um histórico de comportamento misógino e alegações de má conduta sexual feitas contra ele.

Ele também entrevistou Trump na Casa Branca em 2020, e cumprimentou o ex-presidente em um evento do UFC na primavera passada. Quando o presidente Biden saiu da disputa e Harris ficou com a nomeação democrata, Portnoy estava entre os críticos mais loquazes.

“Ok, ok, preciso fazer outro desabafo aqui”, disse Portnoy em uma publicação no Instagram. Ele antecipou que receberia mensagens dizendo: “Ei, pizzaiolo, limite-se às pizzas, ou ei, esportista, limite-se aos esportes”. Então ele chamou a troca de candidato de “o ponto mais baixo para a democracia em, toda a minha vida”.

“Há muitas coisas na direita das quais discordo”, disse ele, acrescentando, com um palavrão, que odiava a esquerda.

A publicação política recebeu mais de 250 mil curtidas, enquanto sua próxima publicação sobre pizza recebeu cerca de 20 mil.

Trabalhadores carregam quadro de Donald Trump, do artista Scott LoBaido em comício.  Foto: Doug Mills/The New York Times

Política da masculinidade

A cada quatro anos, campanhas e analistas políticos dividem o eleitorado em pequenos subgrupos que eles acreditam serem capazes de influenciar a votação. Mães suburbanas em Michigan. Aposentados no Arizona. Latinos em Nevada. Eleitores negros na Geórgia.

Mas a disparidade de gênero é uma megatendência que abrange estados indecisos e grupos raciais. E é mais proeminente entre os eleitores jovens. Em uma série de pesquisas do New York Times/Siena College em seis estados indecisos neste mês, os homens jovens favoreceram Trump por 13 pontos, enquanto as mulheres jovens favoreceram Harris por 38 pontos, uma diferença de 51 pontos.

John Della Volpe, diretor de pesquisas do Instituto de Política da Harvard Kennedy School, encontrou uma divisão semelhante em suas pesquisas.

“Os jovens me dizem que estão pensando no que significa ser masculino, o que significa ser adulto”, disse Della Volpe. “Muitos deles viam Trump como alguém que poderia ser sua versão de masculinidade.”

Esses eleitores em potencial, alguns votando pela primeira vez, seguem Trump mais por sua personalidade do que por suas políticas, disse Della Volpe. Eles o veem falando contra o politicamente correto e absorvendo ondas de ataques, de críticas nobres e processos judiciais até uma tentativa de assassinato.

A questão é se Trump pode atrair os jovens para as urnas. Há motivos para ceticismo: pesquisas do New York Times/Siena College mostram que cerca de um terço dos jovens que dizem que planejam votar em Trump não votaram em 2020. Os jovens também relatam que têm menos probabilidade de votar do que os eleitores mais velhos.

Dos jovens que comparecem para votar, Della Volpe observou que os mais jovens deles — eleitores de primeira viagem — parecem mais propensos a votar em Trump.

“O eleitor de primeira viagem estava no ensino médio quando Trump entrou em cena em 2015, 2016″, disse Della Volpe. “Eles o veem mais como um anti-herói do que como um vilão.”

Os Nelk Boys estão estimulando o engajamento. Eles abriram sua entrevista recente com Vance anunciando uma campanha de registro eleitoral de US$ 20 milhões para fazer com que mais jovens votem.

Os democratas talvez esperem conter o domínio de Trump no voto masculino jovem com o governador Tim Walz, de Minnesota, companheiro de chapa de Harris. Walz foi criado no meio-oeste rural e é um professor e treinador de futebol de longa data que serviu 24 anos na Guarda Nacional. Ele viveu cercado por jovens e liderou a maior parte de sua vida.

Antes de aceitar sua nomeação na Convenção Nacional Democrata, seus ex-jogadores de futebol, agora homens de meia-idade espremidos em camisas de ensino médio, encheram o palco.

Nelk Boys, celebridades da internet que apoiam Donald Trump, brincam na piscina na Califórnia.  Foto: Michelle Groskopf/The New York Times

Voando alto com Trump

Logo depois de ser nomeado vice-presidente, Vance sentou-se entre caixas de refrigerantes Happy Dad. As perguntas foram fáceis.

“Quais são as coisas mais assustadoras na possibilidade de Kamala Harris se tornar presidente?” Forgeard perguntou a Vance.

Como muitos outros na manosfera, a incursão dos Nelk Boys na política foi uma guinada inesperada para a direita. Eles habitavam um nicho juvenil de redes sociais quando, em 2020, durante a pandemia de Covid-19, chamaram a atenção de White, o líder do UFC. Ele puxou os Nelk Boys para sua órbita, e logo eles conheceram Trump. Entrevistaram o ex-presidente em 2022, mas o YouTube retirou o vídeo por causa das mentiras eleitorais de Trump. Trump divulgou uma declaração que serviu como um comercial.

“Incrivelmente, mas não surpreendentemente, os lunáticos das empresas de tecnologia tiraram do ar minha entrevista com os muito populares Nelk Boys”, ele escreveu.

O podcast “Full Send” dos Nelk Boys se tornou uma parada regular para outras figuras mundiais de Trump, incluindo Donald Trump Jr. (duas vezes), Tucker Carlson, Ben Shapiro e Elon Musk. Alguns atletas e artistas também foram entrevistados, como Will Smith, Jelly Roll, Don Lemon e Deion Sanders.

Os Nelk Boys também cruzam o continente, construindo sua base de fãs por meio de eventos. No final de junho, horas antes do evento do UFC em Las Vegas, eles estavam no Sunset Station Hotel and Casino em Henderson, Nevada. Sob um céu falso parcialmente nublado pintado no teto, em meio aos ruídos eletrônicos e zumbidos de máquinas, fãs devotados expressaram sua afinidade compartilhada pelos Nelk Boys e seu apoio a Trump.

“Esses caras têm uma influência sobre nós, jovens: queremos ser como eles quando crescermos”, disse Rylan Bogue, 22, após conhecer Forgeard. “Eles estão dominando agora.”

Seu pai, Derek Bogue, 48 anos, estava por perto. Como seu filho, ele usava um boné “Make America Great Again”, mas não sabia muito sobre os Nelk Boys.

“Eu apenas o sigo”, disse Bogue acenando para o filho. “Para mim, se eles apoiam Trump, eu os apoio.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Em um sábado escaldante nos subúrbios de Las Vegas, dentro de um cassino refrescante a quilômetros da Vegas Strip, cerca de 100 pessoas faziam fila para ver os Nelk Boys. A maioria dos fãs era de homens jovens, na faixa dos 20 anos, que estavam lá para conhecer sua turma favorita de brincalhões do YouTube e podcasters. Duas jovens, de shorts curtos e regatas justas, distribuíam refrigerantes Happy Dad, parte da crescente linha de produtos dos Nelk Boys.

Horas depois, os Nelk Boys estavam dentro de uma T-Mobile Arena lotada, no coração da cidade, enquanto Dana White, presidente executivo do Ultimate Fighting Championship, dava as boas-vindas a uma multidão lotada para o mais recente evento do UFC. Donald Trump Jr. estava sentado ao lado do octógono.

Cerca de duas semanas depois, White apresentou o ex-presidente Donald Trump na Convenção Nacional Republicana, onde o senador JD Vance, de Ohio, foi anunciado como companheiro de chapa de Trump. Os Nelk Boys também apareceram lá. Logo, eles entrevistaram Vance em seu podcast Full Send.

Essas repetidas colisões de órbitas alimentadas por testosterona são uma estratégia de campanha, não uma coincidência.

Em um momento em que se observa nos jovens uma imensa lacuna política entre os gêneros — mulheres inclinando-se para a esquerda, homens inclinando-se para a direita — a campanha de Trump tem cortejado agressivamente o que pode ser chamado de “voto dos parças”, a turma dos universitários das fraternidades. É uma fatia de jovens de 18 a 29 anos que há muito tempo é considerada não confiável e inalcançável, mas que os republicanos acreditam que pode influenciar a eleição este ano.

Apoiadores de Donald Trump, que busca o "voto dos parças" para as eleições, Pensilvânia, 17 de agosto. Foto: Doug Mills/The New York Times

Para encontrá-los, Trump e seus aliados têm explorado profundamente o universo — um manoverso — das estrelas das redes sociais com públicos essencialmente masculinos: os Nelk Boys, White e o UFC, Dave Portnoy e sua rede de mídia Barstool Sports, YouTubers como Jake e Logan Paul, podcasters como Theo Von e streamers como Adin Ross.

Essas figuras assumiram para essa geração os papéis que já foram de Hannity, Carlson e Limbaugh, mas sem o óbvio revestimento político. Eles são apenas caras se divertindo, falando de esportes, apostas, festas — e, mais do que nunca, política presidencial.

Os Nelk Boys jogaram golfe com Trump, estiveram no Air Force One e visitaram Mar-a-Lago. Eles receberam o ex-presidente em seu podcast em duas ocasiões. Às vezes, eles são mencionados por Trump em seus discursos de campanha — uma referência que provavelmente passará despercebida pelos participantes mais velhos, mas não pelos jovens na plateia.

“Sinto que precisamos que você volte agora”, disse a Trump o rosto público dos Nelk Boys, Kyle Forgeard, de 30 anos, perto do início de uma entrevista diante das câmeras em 2023. “Tipo, precisamos de você de volta ao cargo.”

Trump, livre de filtros ou refutações, falou na loucura das turbinas eólicas e dos carros elétricos, na “invasão” de rejeitados estrangeiros saídos de “hospícios”, em Hannibal Lecter, em OVNIs, no presidente Vladimir Putin, da Rússia, e em Kim Jong-un, da Coreia do Norte, na perspectiva de uma guerra nuclear. E falou dos democratas.

“É quase como se eles realmente odiassem nosso país”, disse Trump. Forgeard e Aaron Steinberg, os dois membros dos Nelk Boys que conduziram a entrevista, concordaram. Depois que Trump saiu, eles e uma equipe de apoio riram e se abraçaram, aparentemente encantados pela proximidade e pelo acesso.

Talvez você não tenha ouvido o podcast ou visto no YouTube. Talvez você nunca tenha ouvido falar dos Nelk Boys, ou dos irmãos Paul ou de Portnoy.

Mas milhões de outros já ouviram. A maioria deles é de jovens que podem votar e, se o fizerem, podem ter uma grande influência no resultado.

Louis Wagner-Lang e Van Ricker, da Montana State University, exibem bandeira de Donald Trump, que conta apoio de youtubers, podcasters e streamers para atrair público jovem.  Foto: Louise Johns/The New York Times

O voto dos parças

Na cidade universitária de Bozeman, Montana, milhares de pessoas com camisetas e bonés de Trump fizeram fila para participar de um comício do ex-presidente em 9 de agosto. Muitos deles eram homens jovens. E a maioria abriu sorrisos de reconhecimento quando o assunto dos Nelk Boys foi mencionado.

Entre eles estavam Louis Wagner-Lang e Van Ricker, ambos veteranos de 21 anos da Universidade Montana State, e o irmão de 23 anos de Ricker, Charlie Ricker.

“Os Nelk Boys e a política andam de mãos dadas”, disse Van Ricker. “As redes sociais explodiram no mesmo momento em que a política está explodindo.”

Eles notaram o Tesla Cybertruck que Ross, uma celebridade da internet com milhões de seguidores, havia dado a Trump durante uma transmissão ao vivo alguns dias antes. Eles disseram que acompanhavam os acontecimentos políticos por meio dos Nelk Boys e outros.

“Mais ou menos como as pessoas mais velhas fazem com as notícias”, disse Charlie Ricker. Eles apreciam o formato informal dos podcasts, disseram, sem o verniz dos comentaristas de emissora.

“Eles são muito diretos”, disse Wagner-Lang. “Eles dizem algo, e você pensa: ‘Isso faz muito sentido.’”

Os três jovens detalharam suas preocupações em relação ao país: custo da moradia, preço dos alimentos, a fronteira. Eles disseram que Trump alimentou a sensação de que os homens, especialmente os homens brancos como eles, foram escalados como vilões, quando na verdade tudo que eles queriam era poder sustentar suas futuras famílias.

“Os democratas dizem que querem que pessoas de todas as cores sejam bem-sucedidas, mas nós também”, disse Charlie Ricker. “Sinto que os democratas estão nos fazendo parecer o lado racista.”

Os três seguiram os Nelk Boys por meio de acrobacias e pegadinhas no YouTube (e, recentemente, uma paródia habilmente produzida de “The Bachelor”) e seus passeios por campi universitários. Os Nelk Boys se formaram perto de Toronto quando adolescentes, mas a trupe em constante mudança agora está sediada no sul da Califórnia. Nelk é uma sigla que representa os membros originais — K de Kyle, o principal nome e último membro original.

Eles são atrevidos e irreverentes. As mulheres são pouco mais do que adornos para serem cobiçados e provocados. É um pouco como um cruzamento entre “Girls Gone Wild” e “Impractical Jokers”, posteriormente adotado pela família Trump.

Esse perfil dá às suas brincadeiras uma ousadia despretensiosa. Em um vídeo recente, os Nelk Boys estão assistindo ao discurso de aceitação de Kamala Harris na Convenção Nacional Democrata em uma televisão grande quando um deles de repente se levanta e bate no rosto na tela repetidamente com uma marreta.

Ex-presidente Donald Trump assiste luta de UFC. Foto: Scott Mcintyre/The New York Times

Não mais limitados aos esportes

No verão de 2016, outro ano eleitoral com Trump, a política estava se infiltrando nos esportes e na cultura pop de outras maneiras. Colin Kaepernick, um quarterback da NFL, começou a se ajoelhar durante o hino nacional para protestar contra a brutalidade policial contra homens negros. Trump e seus apoiadores atacaram, dando voz à crítica “anti-lacração” do tipo “limite-se aos esportes” frequentemente ouvida hoje para reclamar quando atletas ou celebridades endossam causas democratas.

No entanto, celebridades da internet como os Nelk Boys e líderes esportivos como White agora mergulham nas profundezas da política americana, por princípio ou lucro. Eles também devem se ater ao que os tornou famosos?

“Eu costumava pensar isso”, disse Charlie Ricker. “Mas [o que] eles [dizem] faz sentido. E eu realmente quero que Trump vença.”

A primeira aparição pública de Trump depois que um júri de Nova York o condenou por 34 acusações criminais foi em um evento da UFC em Newark. Ele entrou na arena ao som de “American Bad Ass”, de Kid Rock, e usou o evento, ao lado de White, para lançar sua conta no TikTok.

Logo, Trump apareceu no podcast de Logan Paul, um lutador profissional e estrela das redes sociais. Sua primeira pergunta: por que Trump dedicaria seu tempo a um país que está tentando derrubá-lo? Respondendo à deixa, Trump passou a maior parte de uma hora discutindo teorias de fraude eleitoral, as injustiças da mídia e um mundo em chamas. “Este país está indo para o inferno”, disse ele.

Semanas antes, Logan Paul recebeu o quarterback Patrick Mahomes em seu programa. Naquela época, a conversa envolveu Travis Kelce e o Super Bowl; agora o assunto era a perspectiva da Terceira Guerra Mundial.

“Estou lhe dizendo, teríamos uma guerra nuclear se Hillary Clinton tivesse vencido”, disse Trump.

Eles também falaram sobre OVNIs. Trump disse que uma chave para a segurança da fronteira eram mais pastores alemães. Questionado se ele já tinha se envolvido em uma troca de socos, Trump gaguejou. “Provavelmente não”, ele disse, finalmente brincando, “Eu adoraria dizer que lutei para passar pela faculdade de finanças Wharton”.

No fim, os homens apertaram as mãos. “Ah, eles terão uma grande audiência neste programa”, disse Trump. Ele estava certo. A entrevista obteve mais de seis milhões de visualizações no YouTube, em comparação com um milhão para o episódio centrado em esportes com Mahomes.

Jake Paul, irmão de Logan Paul, um lutador do UFC e outro gigante das redes sociais (agora esperando lutar contra Mike Tyson), também apoia Trump abertamente.

“Quando você tenta matar os anjos de Deus e salvadores do mundo, isso só os torna maiores”, ele postou no X logo após a tentativa de assassinato de Trump em 13 de julho. “O bem sempre vence o mal. #Trump2024″

Semanas depois, ele postou um clipe no Instagram dele com o ex-presidente, se exibindo, como se estivesse em uma pesagem de lutadores durões. “Precisamos que Trump derrote todos os seus oponentes no dia da eleição para salvar os Estados Unidos”, escreveu ele. Trump repostou o conteúdo para seus 26 milhões de seguidores no Instagram, quase tantos quanto Paul.

O Barstool Sports e seu líder, Portnoy, estavam entre os primeiros a capturar o grupo demográfico masculino nas redes sociais que Trump está explorando agora. Portnoy encontrou grandes públicos para cobertura esportiva, jogos de azar e pizza, apesar de um histórico de comportamento misógino e alegações de má conduta sexual feitas contra ele.

Ele também entrevistou Trump na Casa Branca em 2020, e cumprimentou o ex-presidente em um evento do UFC na primavera passada. Quando o presidente Biden saiu da disputa e Harris ficou com a nomeação democrata, Portnoy estava entre os críticos mais loquazes.

“Ok, ok, preciso fazer outro desabafo aqui”, disse Portnoy em uma publicação no Instagram. Ele antecipou que receberia mensagens dizendo: “Ei, pizzaiolo, limite-se às pizzas, ou ei, esportista, limite-se aos esportes”. Então ele chamou a troca de candidato de “o ponto mais baixo para a democracia em, toda a minha vida”.

“Há muitas coisas na direita das quais discordo”, disse ele, acrescentando, com um palavrão, que odiava a esquerda.

A publicação política recebeu mais de 250 mil curtidas, enquanto sua próxima publicação sobre pizza recebeu cerca de 20 mil.

Trabalhadores carregam quadro de Donald Trump, do artista Scott LoBaido em comício.  Foto: Doug Mills/The New York Times

Política da masculinidade

A cada quatro anos, campanhas e analistas políticos dividem o eleitorado em pequenos subgrupos que eles acreditam serem capazes de influenciar a votação. Mães suburbanas em Michigan. Aposentados no Arizona. Latinos em Nevada. Eleitores negros na Geórgia.

Mas a disparidade de gênero é uma megatendência que abrange estados indecisos e grupos raciais. E é mais proeminente entre os eleitores jovens. Em uma série de pesquisas do New York Times/Siena College em seis estados indecisos neste mês, os homens jovens favoreceram Trump por 13 pontos, enquanto as mulheres jovens favoreceram Harris por 38 pontos, uma diferença de 51 pontos.

John Della Volpe, diretor de pesquisas do Instituto de Política da Harvard Kennedy School, encontrou uma divisão semelhante em suas pesquisas.

“Os jovens me dizem que estão pensando no que significa ser masculino, o que significa ser adulto”, disse Della Volpe. “Muitos deles viam Trump como alguém que poderia ser sua versão de masculinidade.”

Esses eleitores em potencial, alguns votando pela primeira vez, seguem Trump mais por sua personalidade do que por suas políticas, disse Della Volpe. Eles o veem falando contra o politicamente correto e absorvendo ondas de ataques, de críticas nobres e processos judiciais até uma tentativa de assassinato.

A questão é se Trump pode atrair os jovens para as urnas. Há motivos para ceticismo: pesquisas do New York Times/Siena College mostram que cerca de um terço dos jovens que dizem que planejam votar em Trump não votaram em 2020. Os jovens também relatam que têm menos probabilidade de votar do que os eleitores mais velhos.

Dos jovens que comparecem para votar, Della Volpe observou que os mais jovens deles — eleitores de primeira viagem — parecem mais propensos a votar em Trump.

“O eleitor de primeira viagem estava no ensino médio quando Trump entrou em cena em 2015, 2016″, disse Della Volpe. “Eles o veem mais como um anti-herói do que como um vilão.”

Os Nelk Boys estão estimulando o engajamento. Eles abriram sua entrevista recente com Vance anunciando uma campanha de registro eleitoral de US$ 20 milhões para fazer com que mais jovens votem.

Os democratas talvez esperem conter o domínio de Trump no voto masculino jovem com o governador Tim Walz, de Minnesota, companheiro de chapa de Harris. Walz foi criado no meio-oeste rural e é um professor e treinador de futebol de longa data que serviu 24 anos na Guarda Nacional. Ele viveu cercado por jovens e liderou a maior parte de sua vida.

Antes de aceitar sua nomeação na Convenção Nacional Democrata, seus ex-jogadores de futebol, agora homens de meia-idade espremidos em camisas de ensino médio, encheram o palco.

Nelk Boys, celebridades da internet que apoiam Donald Trump, brincam na piscina na Califórnia.  Foto: Michelle Groskopf/The New York Times

Voando alto com Trump

Logo depois de ser nomeado vice-presidente, Vance sentou-se entre caixas de refrigerantes Happy Dad. As perguntas foram fáceis.

“Quais são as coisas mais assustadoras na possibilidade de Kamala Harris se tornar presidente?” Forgeard perguntou a Vance.

Como muitos outros na manosfera, a incursão dos Nelk Boys na política foi uma guinada inesperada para a direita. Eles habitavam um nicho juvenil de redes sociais quando, em 2020, durante a pandemia de Covid-19, chamaram a atenção de White, o líder do UFC. Ele puxou os Nelk Boys para sua órbita, e logo eles conheceram Trump. Entrevistaram o ex-presidente em 2022, mas o YouTube retirou o vídeo por causa das mentiras eleitorais de Trump. Trump divulgou uma declaração que serviu como um comercial.

“Incrivelmente, mas não surpreendentemente, os lunáticos das empresas de tecnologia tiraram do ar minha entrevista com os muito populares Nelk Boys”, ele escreveu.

O podcast “Full Send” dos Nelk Boys se tornou uma parada regular para outras figuras mundiais de Trump, incluindo Donald Trump Jr. (duas vezes), Tucker Carlson, Ben Shapiro e Elon Musk. Alguns atletas e artistas também foram entrevistados, como Will Smith, Jelly Roll, Don Lemon e Deion Sanders.

Os Nelk Boys também cruzam o continente, construindo sua base de fãs por meio de eventos. No final de junho, horas antes do evento do UFC em Las Vegas, eles estavam no Sunset Station Hotel and Casino em Henderson, Nevada. Sob um céu falso parcialmente nublado pintado no teto, em meio aos ruídos eletrônicos e zumbidos de máquinas, fãs devotados expressaram sua afinidade compartilhada pelos Nelk Boys e seu apoio a Trump.

“Esses caras têm uma influência sobre nós, jovens: queremos ser como eles quando crescermos”, disse Rylan Bogue, 22, após conhecer Forgeard. “Eles estão dominando agora.”

Seu pai, Derek Bogue, 48 anos, estava por perto. Como seu filho, ele usava um boné “Make America Great Again”, mas não sabia muito sobre os Nelk Boys.

“Eu apenas o sigo”, disse Bogue acenando para o filho. “Para mim, se eles apoiam Trump, eu os apoio.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Em um sábado escaldante nos subúrbios de Las Vegas, dentro de um cassino refrescante a quilômetros da Vegas Strip, cerca de 100 pessoas faziam fila para ver os Nelk Boys. A maioria dos fãs era de homens jovens, na faixa dos 20 anos, que estavam lá para conhecer sua turma favorita de brincalhões do YouTube e podcasters. Duas jovens, de shorts curtos e regatas justas, distribuíam refrigerantes Happy Dad, parte da crescente linha de produtos dos Nelk Boys.

Horas depois, os Nelk Boys estavam dentro de uma T-Mobile Arena lotada, no coração da cidade, enquanto Dana White, presidente executivo do Ultimate Fighting Championship, dava as boas-vindas a uma multidão lotada para o mais recente evento do UFC. Donald Trump Jr. estava sentado ao lado do octógono.

Cerca de duas semanas depois, White apresentou o ex-presidente Donald Trump na Convenção Nacional Republicana, onde o senador JD Vance, de Ohio, foi anunciado como companheiro de chapa de Trump. Os Nelk Boys também apareceram lá. Logo, eles entrevistaram Vance em seu podcast Full Send.

Essas repetidas colisões de órbitas alimentadas por testosterona são uma estratégia de campanha, não uma coincidência.

Em um momento em que se observa nos jovens uma imensa lacuna política entre os gêneros — mulheres inclinando-se para a esquerda, homens inclinando-se para a direita — a campanha de Trump tem cortejado agressivamente o que pode ser chamado de “voto dos parças”, a turma dos universitários das fraternidades. É uma fatia de jovens de 18 a 29 anos que há muito tempo é considerada não confiável e inalcançável, mas que os republicanos acreditam que pode influenciar a eleição este ano.

Apoiadores de Donald Trump, que busca o "voto dos parças" para as eleições, Pensilvânia, 17 de agosto. Foto: Doug Mills/The New York Times

Para encontrá-los, Trump e seus aliados têm explorado profundamente o universo — um manoverso — das estrelas das redes sociais com públicos essencialmente masculinos: os Nelk Boys, White e o UFC, Dave Portnoy e sua rede de mídia Barstool Sports, YouTubers como Jake e Logan Paul, podcasters como Theo Von e streamers como Adin Ross.

Essas figuras assumiram para essa geração os papéis que já foram de Hannity, Carlson e Limbaugh, mas sem o óbvio revestimento político. Eles são apenas caras se divertindo, falando de esportes, apostas, festas — e, mais do que nunca, política presidencial.

Os Nelk Boys jogaram golfe com Trump, estiveram no Air Force One e visitaram Mar-a-Lago. Eles receberam o ex-presidente em seu podcast em duas ocasiões. Às vezes, eles são mencionados por Trump em seus discursos de campanha — uma referência que provavelmente passará despercebida pelos participantes mais velhos, mas não pelos jovens na plateia.

“Sinto que precisamos que você volte agora”, disse a Trump o rosto público dos Nelk Boys, Kyle Forgeard, de 30 anos, perto do início de uma entrevista diante das câmeras em 2023. “Tipo, precisamos de você de volta ao cargo.”

Trump, livre de filtros ou refutações, falou na loucura das turbinas eólicas e dos carros elétricos, na “invasão” de rejeitados estrangeiros saídos de “hospícios”, em Hannibal Lecter, em OVNIs, no presidente Vladimir Putin, da Rússia, e em Kim Jong-un, da Coreia do Norte, na perspectiva de uma guerra nuclear. E falou dos democratas.

“É quase como se eles realmente odiassem nosso país”, disse Trump. Forgeard e Aaron Steinberg, os dois membros dos Nelk Boys que conduziram a entrevista, concordaram. Depois que Trump saiu, eles e uma equipe de apoio riram e se abraçaram, aparentemente encantados pela proximidade e pelo acesso.

Talvez você não tenha ouvido o podcast ou visto no YouTube. Talvez você nunca tenha ouvido falar dos Nelk Boys, ou dos irmãos Paul ou de Portnoy.

Mas milhões de outros já ouviram. A maioria deles é de jovens que podem votar e, se o fizerem, podem ter uma grande influência no resultado.

Louis Wagner-Lang e Van Ricker, da Montana State University, exibem bandeira de Donald Trump, que conta apoio de youtubers, podcasters e streamers para atrair público jovem.  Foto: Louise Johns/The New York Times

O voto dos parças

Na cidade universitária de Bozeman, Montana, milhares de pessoas com camisetas e bonés de Trump fizeram fila para participar de um comício do ex-presidente em 9 de agosto. Muitos deles eram homens jovens. E a maioria abriu sorrisos de reconhecimento quando o assunto dos Nelk Boys foi mencionado.

Entre eles estavam Louis Wagner-Lang e Van Ricker, ambos veteranos de 21 anos da Universidade Montana State, e o irmão de 23 anos de Ricker, Charlie Ricker.

“Os Nelk Boys e a política andam de mãos dadas”, disse Van Ricker. “As redes sociais explodiram no mesmo momento em que a política está explodindo.”

Eles notaram o Tesla Cybertruck que Ross, uma celebridade da internet com milhões de seguidores, havia dado a Trump durante uma transmissão ao vivo alguns dias antes. Eles disseram que acompanhavam os acontecimentos políticos por meio dos Nelk Boys e outros.

“Mais ou menos como as pessoas mais velhas fazem com as notícias”, disse Charlie Ricker. Eles apreciam o formato informal dos podcasts, disseram, sem o verniz dos comentaristas de emissora.

“Eles são muito diretos”, disse Wagner-Lang. “Eles dizem algo, e você pensa: ‘Isso faz muito sentido.’”

Os três jovens detalharam suas preocupações em relação ao país: custo da moradia, preço dos alimentos, a fronteira. Eles disseram que Trump alimentou a sensação de que os homens, especialmente os homens brancos como eles, foram escalados como vilões, quando na verdade tudo que eles queriam era poder sustentar suas futuras famílias.

“Os democratas dizem que querem que pessoas de todas as cores sejam bem-sucedidas, mas nós também”, disse Charlie Ricker. “Sinto que os democratas estão nos fazendo parecer o lado racista.”

Os três seguiram os Nelk Boys por meio de acrobacias e pegadinhas no YouTube (e, recentemente, uma paródia habilmente produzida de “The Bachelor”) e seus passeios por campi universitários. Os Nelk Boys se formaram perto de Toronto quando adolescentes, mas a trupe em constante mudança agora está sediada no sul da Califórnia. Nelk é uma sigla que representa os membros originais — K de Kyle, o principal nome e último membro original.

Eles são atrevidos e irreverentes. As mulheres são pouco mais do que adornos para serem cobiçados e provocados. É um pouco como um cruzamento entre “Girls Gone Wild” e “Impractical Jokers”, posteriormente adotado pela família Trump.

Esse perfil dá às suas brincadeiras uma ousadia despretensiosa. Em um vídeo recente, os Nelk Boys estão assistindo ao discurso de aceitação de Kamala Harris na Convenção Nacional Democrata em uma televisão grande quando um deles de repente se levanta e bate no rosto na tela repetidamente com uma marreta.

Ex-presidente Donald Trump assiste luta de UFC. Foto: Scott Mcintyre/The New York Times

Não mais limitados aos esportes

No verão de 2016, outro ano eleitoral com Trump, a política estava se infiltrando nos esportes e na cultura pop de outras maneiras. Colin Kaepernick, um quarterback da NFL, começou a se ajoelhar durante o hino nacional para protestar contra a brutalidade policial contra homens negros. Trump e seus apoiadores atacaram, dando voz à crítica “anti-lacração” do tipo “limite-se aos esportes” frequentemente ouvida hoje para reclamar quando atletas ou celebridades endossam causas democratas.

No entanto, celebridades da internet como os Nelk Boys e líderes esportivos como White agora mergulham nas profundezas da política americana, por princípio ou lucro. Eles também devem se ater ao que os tornou famosos?

“Eu costumava pensar isso”, disse Charlie Ricker. “Mas [o que] eles [dizem] faz sentido. E eu realmente quero que Trump vença.”

A primeira aparição pública de Trump depois que um júri de Nova York o condenou por 34 acusações criminais foi em um evento da UFC em Newark. Ele entrou na arena ao som de “American Bad Ass”, de Kid Rock, e usou o evento, ao lado de White, para lançar sua conta no TikTok.

Logo, Trump apareceu no podcast de Logan Paul, um lutador profissional e estrela das redes sociais. Sua primeira pergunta: por que Trump dedicaria seu tempo a um país que está tentando derrubá-lo? Respondendo à deixa, Trump passou a maior parte de uma hora discutindo teorias de fraude eleitoral, as injustiças da mídia e um mundo em chamas. “Este país está indo para o inferno”, disse ele.

Semanas antes, Logan Paul recebeu o quarterback Patrick Mahomes em seu programa. Naquela época, a conversa envolveu Travis Kelce e o Super Bowl; agora o assunto era a perspectiva da Terceira Guerra Mundial.

“Estou lhe dizendo, teríamos uma guerra nuclear se Hillary Clinton tivesse vencido”, disse Trump.

Eles também falaram sobre OVNIs. Trump disse que uma chave para a segurança da fronteira eram mais pastores alemães. Questionado se ele já tinha se envolvido em uma troca de socos, Trump gaguejou. “Provavelmente não”, ele disse, finalmente brincando, “Eu adoraria dizer que lutei para passar pela faculdade de finanças Wharton”.

No fim, os homens apertaram as mãos. “Ah, eles terão uma grande audiência neste programa”, disse Trump. Ele estava certo. A entrevista obteve mais de seis milhões de visualizações no YouTube, em comparação com um milhão para o episódio centrado em esportes com Mahomes.

Jake Paul, irmão de Logan Paul, um lutador do UFC e outro gigante das redes sociais (agora esperando lutar contra Mike Tyson), também apoia Trump abertamente.

“Quando você tenta matar os anjos de Deus e salvadores do mundo, isso só os torna maiores”, ele postou no X logo após a tentativa de assassinato de Trump em 13 de julho. “O bem sempre vence o mal. #Trump2024″

Semanas depois, ele postou um clipe no Instagram dele com o ex-presidente, se exibindo, como se estivesse em uma pesagem de lutadores durões. “Precisamos que Trump derrote todos os seus oponentes no dia da eleição para salvar os Estados Unidos”, escreveu ele. Trump repostou o conteúdo para seus 26 milhões de seguidores no Instagram, quase tantos quanto Paul.

O Barstool Sports e seu líder, Portnoy, estavam entre os primeiros a capturar o grupo demográfico masculino nas redes sociais que Trump está explorando agora. Portnoy encontrou grandes públicos para cobertura esportiva, jogos de azar e pizza, apesar de um histórico de comportamento misógino e alegações de má conduta sexual feitas contra ele.

Ele também entrevistou Trump na Casa Branca em 2020, e cumprimentou o ex-presidente em um evento do UFC na primavera passada. Quando o presidente Biden saiu da disputa e Harris ficou com a nomeação democrata, Portnoy estava entre os críticos mais loquazes.

“Ok, ok, preciso fazer outro desabafo aqui”, disse Portnoy em uma publicação no Instagram. Ele antecipou que receberia mensagens dizendo: “Ei, pizzaiolo, limite-se às pizzas, ou ei, esportista, limite-se aos esportes”. Então ele chamou a troca de candidato de “o ponto mais baixo para a democracia em, toda a minha vida”.

“Há muitas coisas na direita das quais discordo”, disse ele, acrescentando, com um palavrão, que odiava a esquerda.

A publicação política recebeu mais de 250 mil curtidas, enquanto sua próxima publicação sobre pizza recebeu cerca de 20 mil.

Trabalhadores carregam quadro de Donald Trump, do artista Scott LoBaido em comício.  Foto: Doug Mills/The New York Times

Política da masculinidade

A cada quatro anos, campanhas e analistas políticos dividem o eleitorado em pequenos subgrupos que eles acreditam serem capazes de influenciar a votação. Mães suburbanas em Michigan. Aposentados no Arizona. Latinos em Nevada. Eleitores negros na Geórgia.

Mas a disparidade de gênero é uma megatendência que abrange estados indecisos e grupos raciais. E é mais proeminente entre os eleitores jovens. Em uma série de pesquisas do New York Times/Siena College em seis estados indecisos neste mês, os homens jovens favoreceram Trump por 13 pontos, enquanto as mulheres jovens favoreceram Harris por 38 pontos, uma diferença de 51 pontos.

John Della Volpe, diretor de pesquisas do Instituto de Política da Harvard Kennedy School, encontrou uma divisão semelhante em suas pesquisas.

“Os jovens me dizem que estão pensando no que significa ser masculino, o que significa ser adulto”, disse Della Volpe. “Muitos deles viam Trump como alguém que poderia ser sua versão de masculinidade.”

Esses eleitores em potencial, alguns votando pela primeira vez, seguem Trump mais por sua personalidade do que por suas políticas, disse Della Volpe. Eles o veem falando contra o politicamente correto e absorvendo ondas de ataques, de críticas nobres e processos judiciais até uma tentativa de assassinato.

A questão é se Trump pode atrair os jovens para as urnas. Há motivos para ceticismo: pesquisas do New York Times/Siena College mostram que cerca de um terço dos jovens que dizem que planejam votar em Trump não votaram em 2020. Os jovens também relatam que têm menos probabilidade de votar do que os eleitores mais velhos.

Dos jovens que comparecem para votar, Della Volpe observou que os mais jovens deles — eleitores de primeira viagem — parecem mais propensos a votar em Trump.

“O eleitor de primeira viagem estava no ensino médio quando Trump entrou em cena em 2015, 2016″, disse Della Volpe. “Eles o veem mais como um anti-herói do que como um vilão.”

Os Nelk Boys estão estimulando o engajamento. Eles abriram sua entrevista recente com Vance anunciando uma campanha de registro eleitoral de US$ 20 milhões para fazer com que mais jovens votem.

Os democratas talvez esperem conter o domínio de Trump no voto masculino jovem com o governador Tim Walz, de Minnesota, companheiro de chapa de Harris. Walz foi criado no meio-oeste rural e é um professor e treinador de futebol de longa data que serviu 24 anos na Guarda Nacional. Ele viveu cercado por jovens e liderou a maior parte de sua vida.

Antes de aceitar sua nomeação na Convenção Nacional Democrata, seus ex-jogadores de futebol, agora homens de meia-idade espremidos em camisas de ensino médio, encheram o palco.

Nelk Boys, celebridades da internet que apoiam Donald Trump, brincam na piscina na Califórnia.  Foto: Michelle Groskopf/The New York Times

Voando alto com Trump

Logo depois de ser nomeado vice-presidente, Vance sentou-se entre caixas de refrigerantes Happy Dad. As perguntas foram fáceis.

“Quais são as coisas mais assustadoras na possibilidade de Kamala Harris se tornar presidente?” Forgeard perguntou a Vance.

Como muitos outros na manosfera, a incursão dos Nelk Boys na política foi uma guinada inesperada para a direita. Eles habitavam um nicho juvenil de redes sociais quando, em 2020, durante a pandemia de Covid-19, chamaram a atenção de White, o líder do UFC. Ele puxou os Nelk Boys para sua órbita, e logo eles conheceram Trump. Entrevistaram o ex-presidente em 2022, mas o YouTube retirou o vídeo por causa das mentiras eleitorais de Trump. Trump divulgou uma declaração que serviu como um comercial.

“Incrivelmente, mas não surpreendentemente, os lunáticos das empresas de tecnologia tiraram do ar minha entrevista com os muito populares Nelk Boys”, ele escreveu.

O podcast “Full Send” dos Nelk Boys se tornou uma parada regular para outras figuras mundiais de Trump, incluindo Donald Trump Jr. (duas vezes), Tucker Carlson, Ben Shapiro e Elon Musk. Alguns atletas e artistas também foram entrevistados, como Will Smith, Jelly Roll, Don Lemon e Deion Sanders.

Os Nelk Boys também cruzam o continente, construindo sua base de fãs por meio de eventos. No final de junho, horas antes do evento do UFC em Las Vegas, eles estavam no Sunset Station Hotel and Casino em Henderson, Nevada. Sob um céu falso parcialmente nublado pintado no teto, em meio aos ruídos eletrônicos e zumbidos de máquinas, fãs devotados expressaram sua afinidade compartilhada pelos Nelk Boys e seu apoio a Trump.

“Esses caras têm uma influência sobre nós, jovens: queremos ser como eles quando crescermos”, disse Rylan Bogue, 22, após conhecer Forgeard. “Eles estão dominando agora.”

Seu pai, Derek Bogue, 48 anos, estava por perto. Como seu filho, ele usava um boné “Make America Great Again”, mas não sabia muito sobre os Nelk Boys.

“Eu apenas o sigo”, disse Bogue acenando para o filho. “Para mim, se eles apoiam Trump, eu os apoio.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Em um sábado escaldante nos subúrbios de Las Vegas, dentro de um cassino refrescante a quilômetros da Vegas Strip, cerca de 100 pessoas faziam fila para ver os Nelk Boys. A maioria dos fãs era de homens jovens, na faixa dos 20 anos, que estavam lá para conhecer sua turma favorita de brincalhões do YouTube e podcasters. Duas jovens, de shorts curtos e regatas justas, distribuíam refrigerantes Happy Dad, parte da crescente linha de produtos dos Nelk Boys.

Horas depois, os Nelk Boys estavam dentro de uma T-Mobile Arena lotada, no coração da cidade, enquanto Dana White, presidente executivo do Ultimate Fighting Championship, dava as boas-vindas a uma multidão lotada para o mais recente evento do UFC. Donald Trump Jr. estava sentado ao lado do octógono.

Cerca de duas semanas depois, White apresentou o ex-presidente Donald Trump na Convenção Nacional Republicana, onde o senador JD Vance, de Ohio, foi anunciado como companheiro de chapa de Trump. Os Nelk Boys também apareceram lá. Logo, eles entrevistaram Vance em seu podcast Full Send.

Essas repetidas colisões de órbitas alimentadas por testosterona são uma estratégia de campanha, não uma coincidência.

Em um momento em que se observa nos jovens uma imensa lacuna política entre os gêneros — mulheres inclinando-se para a esquerda, homens inclinando-se para a direita — a campanha de Trump tem cortejado agressivamente o que pode ser chamado de “voto dos parças”, a turma dos universitários das fraternidades. É uma fatia de jovens de 18 a 29 anos que há muito tempo é considerada não confiável e inalcançável, mas que os republicanos acreditam que pode influenciar a eleição este ano.

Apoiadores de Donald Trump, que busca o "voto dos parças" para as eleições, Pensilvânia, 17 de agosto. Foto: Doug Mills/The New York Times

Para encontrá-los, Trump e seus aliados têm explorado profundamente o universo — um manoverso — das estrelas das redes sociais com públicos essencialmente masculinos: os Nelk Boys, White e o UFC, Dave Portnoy e sua rede de mídia Barstool Sports, YouTubers como Jake e Logan Paul, podcasters como Theo Von e streamers como Adin Ross.

Essas figuras assumiram para essa geração os papéis que já foram de Hannity, Carlson e Limbaugh, mas sem o óbvio revestimento político. Eles são apenas caras se divertindo, falando de esportes, apostas, festas — e, mais do que nunca, política presidencial.

Os Nelk Boys jogaram golfe com Trump, estiveram no Air Force One e visitaram Mar-a-Lago. Eles receberam o ex-presidente em seu podcast em duas ocasiões. Às vezes, eles são mencionados por Trump em seus discursos de campanha — uma referência que provavelmente passará despercebida pelos participantes mais velhos, mas não pelos jovens na plateia.

“Sinto que precisamos que você volte agora”, disse a Trump o rosto público dos Nelk Boys, Kyle Forgeard, de 30 anos, perto do início de uma entrevista diante das câmeras em 2023. “Tipo, precisamos de você de volta ao cargo.”

Trump, livre de filtros ou refutações, falou na loucura das turbinas eólicas e dos carros elétricos, na “invasão” de rejeitados estrangeiros saídos de “hospícios”, em Hannibal Lecter, em OVNIs, no presidente Vladimir Putin, da Rússia, e em Kim Jong-un, da Coreia do Norte, na perspectiva de uma guerra nuclear. E falou dos democratas.

“É quase como se eles realmente odiassem nosso país”, disse Trump. Forgeard e Aaron Steinberg, os dois membros dos Nelk Boys que conduziram a entrevista, concordaram. Depois que Trump saiu, eles e uma equipe de apoio riram e se abraçaram, aparentemente encantados pela proximidade e pelo acesso.

Talvez você não tenha ouvido o podcast ou visto no YouTube. Talvez você nunca tenha ouvido falar dos Nelk Boys, ou dos irmãos Paul ou de Portnoy.

Mas milhões de outros já ouviram. A maioria deles é de jovens que podem votar e, se o fizerem, podem ter uma grande influência no resultado.

Louis Wagner-Lang e Van Ricker, da Montana State University, exibem bandeira de Donald Trump, que conta apoio de youtubers, podcasters e streamers para atrair público jovem.  Foto: Louise Johns/The New York Times

O voto dos parças

Na cidade universitária de Bozeman, Montana, milhares de pessoas com camisetas e bonés de Trump fizeram fila para participar de um comício do ex-presidente em 9 de agosto. Muitos deles eram homens jovens. E a maioria abriu sorrisos de reconhecimento quando o assunto dos Nelk Boys foi mencionado.

Entre eles estavam Louis Wagner-Lang e Van Ricker, ambos veteranos de 21 anos da Universidade Montana State, e o irmão de 23 anos de Ricker, Charlie Ricker.

“Os Nelk Boys e a política andam de mãos dadas”, disse Van Ricker. “As redes sociais explodiram no mesmo momento em que a política está explodindo.”

Eles notaram o Tesla Cybertruck que Ross, uma celebridade da internet com milhões de seguidores, havia dado a Trump durante uma transmissão ao vivo alguns dias antes. Eles disseram que acompanhavam os acontecimentos políticos por meio dos Nelk Boys e outros.

“Mais ou menos como as pessoas mais velhas fazem com as notícias”, disse Charlie Ricker. Eles apreciam o formato informal dos podcasts, disseram, sem o verniz dos comentaristas de emissora.

“Eles são muito diretos”, disse Wagner-Lang. “Eles dizem algo, e você pensa: ‘Isso faz muito sentido.’”

Os três jovens detalharam suas preocupações em relação ao país: custo da moradia, preço dos alimentos, a fronteira. Eles disseram que Trump alimentou a sensação de que os homens, especialmente os homens brancos como eles, foram escalados como vilões, quando na verdade tudo que eles queriam era poder sustentar suas futuras famílias.

“Os democratas dizem que querem que pessoas de todas as cores sejam bem-sucedidas, mas nós também”, disse Charlie Ricker. “Sinto que os democratas estão nos fazendo parecer o lado racista.”

Os três seguiram os Nelk Boys por meio de acrobacias e pegadinhas no YouTube (e, recentemente, uma paródia habilmente produzida de “The Bachelor”) e seus passeios por campi universitários. Os Nelk Boys se formaram perto de Toronto quando adolescentes, mas a trupe em constante mudança agora está sediada no sul da Califórnia. Nelk é uma sigla que representa os membros originais — K de Kyle, o principal nome e último membro original.

Eles são atrevidos e irreverentes. As mulheres são pouco mais do que adornos para serem cobiçados e provocados. É um pouco como um cruzamento entre “Girls Gone Wild” e “Impractical Jokers”, posteriormente adotado pela família Trump.

Esse perfil dá às suas brincadeiras uma ousadia despretensiosa. Em um vídeo recente, os Nelk Boys estão assistindo ao discurso de aceitação de Kamala Harris na Convenção Nacional Democrata em uma televisão grande quando um deles de repente se levanta e bate no rosto na tela repetidamente com uma marreta.

Ex-presidente Donald Trump assiste luta de UFC. Foto: Scott Mcintyre/The New York Times

Não mais limitados aos esportes

No verão de 2016, outro ano eleitoral com Trump, a política estava se infiltrando nos esportes e na cultura pop de outras maneiras. Colin Kaepernick, um quarterback da NFL, começou a se ajoelhar durante o hino nacional para protestar contra a brutalidade policial contra homens negros. Trump e seus apoiadores atacaram, dando voz à crítica “anti-lacração” do tipo “limite-se aos esportes” frequentemente ouvida hoje para reclamar quando atletas ou celebridades endossam causas democratas.

No entanto, celebridades da internet como os Nelk Boys e líderes esportivos como White agora mergulham nas profundezas da política americana, por princípio ou lucro. Eles também devem se ater ao que os tornou famosos?

“Eu costumava pensar isso”, disse Charlie Ricker. “Mas [o que] eles [dizem] faz sentido. E eu realmente quero que Trump vença.”

A primeira aparição pública de Trump depois que um júri de Nova York o condenou por 34 acusações criminais foi em um evento da UFC em Newark. Ele entrou na arena ao som de “American Bad Ass”, de Kid Rock, e usou o evento, ao lado de White, para lançar sua conta no TikTok.

Logo, Trump apareceu no podcast de Logan Paul, um lutador profissional e estrela das redes sociais. Sua primeira pergunta: por que Trump dedicaria seu tempo a um país que está tentando derrubá-lo? Respondendo à deixa, Trump passou a maior parte de uma hora discutindo teorias de fraude eleitoral, as injustiças da mídia e um mundo em chamas. “Este país está indo para o inferno”, disse ele.

Semanas antes, Logan Paul recebeu o quarterback Patrick Mahomes em seu programa. Naquela época, a conversa envolveu Travis Kelce e o Super Bowl; agora o assunto era a perspectiva da Terceira Guerra Mundial.

“Estou lhe dizendo, teríamos uma guerra nuclear se Hillary Clinton tivesse vencido”, disse Trump.

Eles também falaram sobre OVNIs. Trump disse que uma chave para a segurança da fronteira eram mais pastores alemães. Questionado se ele já tinha se envolvido em uma troca de socos, Trump gaguejou. “Provavelmente não”, ele disse, finalmente brincando, “Eu adoraria dizer que lutei para passar pela faculdade de finanças Wharton”.

No fim, os homens apertaram as mãos. “Ah, eles terão uma grande audiência neste programa”, disse Trump. Ele estava certo. A entrevista obteve mais de seis milhões de visualizações no YouTube, em comparação com um milhão para o episódio centrado em esportes com Mahomes.

Jake Paul, irmão de Logan Paul, um lutador do UFC e outro gigante das redes sociais (agora esperando lutar contra Mike Tyson), também apoia Trump abertamente.

“Quando você tenta matar os anjos de Deus e salvadores do mundo, isso só os torna maiores”, ele postou no X logo após a tentativa de assassinato de Trump em 13 de julho. “O bem sempre vence o mal. #Trump2024″

Semanas depois, ele postou um clipe no Instagram dele com o ex-presidente, se exibindo, como se estivesse em uma pesagem de lutadores durões. “Precisamos que Trump derrote todos os seus oponentes no dia da eleição para salvar os Estados Unidos”, escreveu ele. Trump repostou o conteúdo para seus 26 milhões de seguidores no Instagram, quase tantos quanto Paul.

O Barstool Sports e seu líder, Portnoy, estavam entre os primeiros a capturar o grupo demográfico masculino nas redes sociais que Trump está explorando agora. Portnoy encontrou grandes públicos para cobertura esportiva, jogos de azar e pizza, apesar de um histórico de comportamento misógino e alegações de má conduta sexual feitas contra ele.

Ele também entrevistou Trump na Casa Branca em 2020, e cumprimentou o ex-presidente em um evento do UFC na primavera passada. Quando o presidente Biden saiu da disputa e Harris ficou com a nomeação democrata, Portnoy estava entre os críticos mais loquazes.

“Ok, ok, preciso fazer outro desabafo aqui”, disse Portnoy em uma publicação no Instagram. Ele antecipou que receberia mensagens dizendo: “Ei, pizzaiolo, limite-se às pizzas, ou ei, esportista, limite-se aos esportes”. Então ele chamou a troca de candidato de “o ponto mais baixo para a democracia em, toda a minha vida”.

“Há muitas coisas na direita das quais discordo”, disse ele, acrescentando, com um palavrão, que odiava a esquerda.

A publicação política recebeu mais de 250 mil curtidas, enquanto sua próxima publicação sobre pizza recebeu cerca de 20 mil.

Trabalhadores carregam quadro de Donald Trump, do artista Scott LoBaido em comício.  Foto: Doug Mills/The New York Times

Política da masculinidade

A cada quatro anos, campanhas e analistas políticos dividem o eleitorado em pequenos subgrupos que eles acreditam serem capazes de influenciar a votação. Mães suburbanas em Michigan. Aposentados no Arizona. Latinos em Nevada. Eleitores negros na Geórgia.

Mas a disparidade de gênero é uma megatendência que abrange estados indecisos e grupos raciais. E é mais proeminente entre os eleitores jovens. Em uma série de pesquisas do New York Times/Siena College em seis estados indecisos neste mês, os homens jovens favoreceram Trump por 13 pontos, enquanto as mulheres jovens favoreceram Harris por 38 pontos, uma diferença de 51 pontos.

John Della Volpe, diretor de pesquisas do Instituto de Política da Harvard Kennedy School, encontrou uma divisão semelhante em suas pesquisas.

“Os jovens me dizem que estão pensando no que significa ser masculino, o que significa ser adulto”, disse Della Volpe. “Muitos deles viam Trump como alguém que poderia ser sua versão de masculinidade.”

Esses eleitores em potencial, alguns votando pela primeira vez, seguem Trump mais por sua personalidade do que por suas políticas, disse Della Volpe. Eles o veem falando contra o politicamente correto e absorvendo ondas de ataques, de críticas nobres e processos judiciais até uma tentativa de assassinato.

A questão é se Trump pode atrair os jovens para as urnas. Há motivos para ceticismo: pesquisas do New York Times/Siena College mostram que cerca de um terço dos jovens que dizem que planejam votar em Trump não votaram em 2020. Os jovens também relatam que têm menos probabilidade de votar do que os eleitores mais velhos.

Dos jovens que comparecem para votar, Della Volpe observou que os mais jovens deles — eleitores de primeira viagem — parecem mais propensos a votar em Trump.

“O eleitor de primeira viagem estava no ensino médio quando Trump entrou em cena em 2015, 2016″, disse Della Volpe. “Eles o veem mais como um anti-herói do que como um vilão.”

Os Nelk Boys estão estimulando o engajamento. Eles abriram sua entrevista recente com Vance anunciando uma campanha de registro eleitoral de US$ 20 milhões para fazer com que mais jovens votem.

Os democratas talvez esperem conter o domínio de Trump no voto masculino jovem com o governador Tim Walz, de Minnesota, companheiro de chapa de Harris. Walz foi criado no meio-oeste rural e é um professor e treinador de futebol de longa data que serviu 24 anos na Guarda Nacional. Ele viveu cercado por jovens e liderou a maior parte de sua vida.

Antes de aceitar sua nomeação na Convenção Nacional Democrata, seus ex-jogadores de futebol, agora homens de meia-idade espremidos em camisas de ensino médio, encheram o palco.

Nelk Boys, celebridades da internet que apoiam Donald Trump, brincam na piscina na Califórnia.  Foto: Michelle Groskopf/The New York Times

Voando alto com Trump

Logo depois de ser nomeado vice-presidente, Vance sentou-se entre caixas de refrigerantes Happy Dad. As perguntas foram fáceis.

“Quais são as coisas mais assustadoras na possibilidade de Kamala Harris se tornar presidente?” Forgeard perguntou a Vance.

Como muitos outros na manosfera, a incursão dos Nelk Boys na política foi uma guinada inesperada para a direita. Eles habitavam um nicho juvenil de redes sociais quando, em 2020, durante a pandemia de Covid-19, chamaram a atenção de White, o líder do UFC. Ele puxou os Nelk Boys para sua órbita, e logo eles conheceram Trump. Entrevistaram o ex-presidente em 2022, mas o YouTube retirou o vídeo por causa das mentiras eleitorais de Trump. Trump divulgou uma declaração que serviu como um comercial.

“Incrivelmente, mas não surpreendentemente, os lunáticos das empresas de tecnologia tiraram do ar minha entrevista com os muito populares Nelk Boys”, ele escreveu.

O podcast “Full Send” dos Nelk Boys se tornou uma parada regular para outras figuras mundiais de Trump, incluindo Donald Trump Jr. (duas vezes), Tucker Carlson, Ben Shapiro e Elon Musk. Alguns atletas e artistas também foram entrevistados, como Will Smith, Jelly Roll, Don Lemon e Deion Sanders.

Os Nelk Boys também cruzam o continente, construindo sua base de fãs por meio de eventos. No final de junho, horas antes do evento do UFC em Las Vegas, eles estavam no Sunset Station Hotel and Casino em Henderson, Nevada. Sob um céu falso parcialmente nublado pintado no teto, em meio aos ruídos eletrônicos e zumbidos de máquinas, fãs devotados expressaram sua afinidade compartilhada pelos Nelk Boys e seu apoio a Trump.

“Esses caras têm uma influência sobre nós, jovens: queremos ser como eles quando crescermos”, disse Rylan Bogue, 22, após conhecer Forgeard. “Eles estão dominando agora.”

Seu pai, Derek Bogue, 48 anos, estava por perto. Como seu filho, ele usava um boné “Make America Great Again”, mas não sabia muito sobre os Nelk Boys.

“Eu apenas o sigo”, disse Bogue acenando para o filho. “Para mim, se eles apoiam Trump, eu os apoio.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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