Mesmo em um ano movimentado de eleições ao longo do ano, os próximos dias serão diferenciados. Ao longo da próxima semana, eleitores irão às urnas em jovens democracias, como Mauritânia e Mongôlia, a República Islâmica do Irã e em democracias mais consolidadas — antigas potências imperiais —, como Reino Unido e França.
Enquanto nos Estados Unidos o presidente Joe Biden e seu antecessor Donald Trump realizaram o primeiro de seus dois debates televisivos antes das eleições de novembro nesta quinta-feira, 27, outros países estão encarando escolhas difícieis. Os votos podem redirecionar o mundo em um momento de guerra na Europa, no Oriente Médio e na África, suspeita mútua entre grandes potências e uma crescente ansiedade do público sobre questões como emprego, mudanças climáticas, inflação e a ascensão da inteligência artificial.
Mais de 50 países realizam eleições nacionais este ano. Índia, México e África do Sul inauguraram mudanças políticas ou tiveram surpresas nas urnas. A Rússia não.
Veja o que é preciso saber sobre a maratona eleitoral ao longo dos próximos dias em países que, juntos, somam mais de 225 milhões de pessoas na Europa, na África e na Ásia.
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Irã
Na sexta-feira, 28, no Irã, o líder supremo Ayatollah Ali Khamenei buscará o sucessor para o seu protegido linha-dura, presidente Ebrahim Raisi, que morreu no mês passado em uma queda de helicóptero.
Dois linhas-duras — o ex-negociador nuclear Saeed Jalili e o presidente parlamentar Mohammad Bagher Qalibaf — estão entre os candidatos. Masoud Pezeshkian, um cirurgião cardíaco visto como um reformista que se alinhou com os apoiadores do ex-presidente relativamente moderado Hassan Rouhani, e Mostafa Purmohammadi, ex-ministro do Interior e da Justiça, também concorrem ao cargo.
Em meio a sinais de uma apatia generalizada entre os eleitores, Khamenei pediu aos eleitores para o mácio de participação e fez um aviso velado a Pezeshkian e seus aliados sobre a dependência dos Estados Unidos.
O Irã tem enfrentado problemas econômicos, em parte devido a sanções internacionais depois que Trump, em 2018, destruíu o acordo nuclear do Irã alcançado três vezes com potências mundiais. Desde então, o Irã aumentou o enriquecimento de urânio e agora tem o suficiente para ser capaz de produzir várias armas nucleares.
A República Islâmica tem buscado posicionar a si mesma como líder do ressentimento do mundo muçulmano contra o Ocidente e contra Israel, que Irã atacou diretamente pela primeira vez este ano. Por anos, o Irã apoiou uma série de grupos radicais, como Hamas, Hezbollah e Houthi.
França
A França não iria realizar eleições nacionais este ano. Mas uma surra ao partido moderado pró-negócios de Emanuel Macron nas eleições da União Europeia (UE) este mês fizeram com que o presidente francês dissolvesse o Parlamento e convocasse eleições legislativas antecipadas, que irão acontecer em duas rodadas nos próximos dois domingos.
O resultado poderia mandar a nação com armas nucelares a um território político desconhecido em um momento turbulento para a Europa. Uma vitória do partido anti-imigração Reunião Nacional (RN) poderia gerar o primeiro governo de direita radical desde a ocupação nazista na Segunda Guerra.
O RN apareceu em primeiro lugar entre os partidos franceses na votação da UE, e pesquisas sugerem que poderia conquistar o maior bloco de assentos na Assembleia. Se vencer com uma maioria absoluta, poderá nomear o seu presidente Jordan Bardella como primeiro-ministro.
Macron, cujo mandato termina em 2027, permanecerá no seu posto, mas terá que compartilhar o poder com um partido historicamente associado a racismo e a antissemitismo e que se opõe firmemente a muito de seus posicionamentos, incluindo ajuda militar à Ucrânia.
O resultado da votação francesa permanece muito incerto devido ao complexo sistema de duas voltas e às alianças que os partidos poderiam formar entre as duas voltas.
Reino Unido
Outra potência nuclear da Europa Ocidental, o Reino Unido realizará eleições parlamentares na próxima terça-feira, 4. Assim como a França, britânicos parecem prontos para tirar o partido atual do comando: pesquisas sugerem que os conservadores estão caminhando para uma derrota histórica na Câmara dos Comuns após 14 anos no poder.
Na quarta-feira, 26, o primeiro-ministro Rishi Sunak e o líder do Partido Trabalhista Keir Starmer lutaram para transmitir suas mensagens, mas manifestantes abafaram suas respostas no início de um debate televisivo aquecido. Eles trocaram provocações e farpas sobre questões de ética, impostos e migração.
O Reino Unido, com os conservadores no poder, tem sido um dos apoiadores mais fortes da Ucrânia em sua defesa nacional contra a Rússia, e não se espera que um possível governo Trabalhista vacile em tal apoio a Kiev.
Starmer pode estar inclinado a consertar as relações do Reino Unido com a UE depois do Brexit, mais de quatro anos atrás, mas ele tem sido inflexível em relação ao fato de que um governo Trabalhista não tentaria reverter referendo.
Mauritânia
Quase 2 milhões de pessoas vão às urnas no sábado, 29, na Mauritânia, um vasto país deserto no Leste da África que posiciona a si mesmo como um aliado estratégico do Ocidente, mas que foi denunciada por violação de direitos.
O presidente Mohamed Ould Ghazouani, um ex-chefe do exército que subiu ao poder na primeira transição democrática em 2019, enfrenta sete rivais. Entre eles estão Biram Dah Abeid, um ativista contra a escravidão e candidato pela terceira vez, bem como vários líderes de partidos da oposição, bem como um neurocirurgião.
Um dos mais estáveis países na África e na região árida Sahel, Mauritânia tem visto alguns de seus vizinhos serem abalados por golpes militares e violência jihadista.
A União Europeia este ano anunciou um fundo para ajudar a Mauritânia a reprimir o tráfico humano, deter migrantes de embarcar em travessias perigosas no Atlânico da África para a Europa — cujo número tem aumentado drasticamente — e patrulhar sua fronteira com Mali.
Em 1980, Mauritânia se tornou o último país do mundo a proibir escravidão. Mas quase 150 mil pessoas — em um país com 5 milhões de habitantes — permanece afetada pela escravidão moderna, de acordo com o relatório Global Slavery Index de 2023.
Mongólia
Sexta-feira também é o dia de eleição parlamentar na Mongólia, um país de 3,4 milhões de pessoas que emergiu de seis décadas de comando comunista para se tornar uma democracia em 1990, e está encravado entre dois países autoritários: Rússia e China.
Eleitores irão escolher representantes para um órgão que foi expandido a 126 assentos, 50 a mais do que a atual legislatura. O governante Partido Popular da Mongólia, que comandou o país durante a era comunista mas se transformou em um partido centrista de tendência esquerdista, é o favorito para vencer.
Mas outros partidos podem ter ganhos, possivelmente até mesmo suficiente para obrigar o Partido Popular da Mongólia a formar um governo de coalizão com o Partido Democrático ou o Partido Hun, um jogador iniciante na política da Mongólia.
O descontentamento com o governo foi inflamado por acusações de corrupção e amplos protestos romperam nos últimos dois anos. O governo da Mongólia tem tentado manter laços com Rússia e China enquanto também tenta construir novos com Estados Unidos e seus aliados democráticos — uma tarefa delicada já que os dois lados estão cada vez mais em desacordo.