MOSCOU - O Ministério da Defesa da Rússia acusou neste sábado, 29, a Ucrânia e a inteligência do Reino Unido de lançarem um ataque com drones contra a Frota do Mar Negro na Crimeia, a península ocupada pela Rússia que tem sido um palco chave para a invasão da Ucrânia promovida pelo presidente Vladimir Putin. Um ataque anterior a uma ponte da Crimeia provocou uma resposta agressiva de Moscou em toda a Ucrânia.
Uma forte explosão foi ouvida nesta madrugada (horário local, noite do Brasil) sobre a baía de Sebastopol, a maior cidade da Crimeia e onde a frota russa do Mar Negro está sediada, de acordo com a agência de notícias estatal russa Tass. O governador da região indicado pela Rússia, Mikhail Razvozhaev, disse em um post do Telegram que os navios da Frota do Mar Negro “repeliram” o ataque. Suas alegações de ataque e a resposta russa não puderam ser verificadas de forma independente, e ele não atribuiu culpa.
Mas o Ministério da Defesa da Rússia culpou “o regime de Kiev”, dizendo em comunicado que os navios da Frota do Mar Negro eram o alvo e que pequenos danos foram sofridos por pelo menos um navio russo. Acrescentou que 16 drones estavam envolvidos e que “todos os alvos aéreos” foram destruídos. O ministério ainda disse que os navios alvos estavam envolvidos no acordo mediado pela ONU para permitir a exportação de grãos ucranianos. Não houve comentários imediatos de autoridades ucranianas.
“A preparação deste ato terrorista e o treinamento dos militares do 73º centro de operações marítimas especiais da Ucrânia foram realizados por especialistas britânicos”, disse o Ministério da Defesa russo, acrescentando que um de seus navios, o Ivan Golubets, registrou danos menores. Este ataque de drones às instalações da frota russa do Mar Negro na Crimeia foi o mais intenso do conflito na Ucrânia, disse Mikhail Razvojayev.
O governador regional pediu à população que se abstenha de comentar e publicar vídeos nas redes sociais sobre o ataque, porque, segundo ele, essas informações podem ser úteis ao inimigo, isto é, a Ucrânia, para entender como está organizada a defesa da cidade.
A Crimeia, que está sob controle do Kremlin desde que Moscou anexou ilegalmente a península em 2014, tem imensa importância simbólica para Putin. Uma explosão no início deste mês na ponte que liga a península à Rússia levou Putin a retaliar com ataques em massa na Ucrânia que mataram dezenas de pessoas e atingiram infraestruturas críticas.
Os líderes da Ucrânia mantêm uma política de ambiguidade oficial sobre ataques muito atrás das linhas de frente e não reivindicaram a responsabilidade por essa explosão, que ocorreu após uma série de ataques na península do Mar Negro durante os meses anteriores que interrompeu a sensação de segurança e distância da guerra na Crimeia.
O anúncio do novo ataque de drone em Sebastopol ocorre no momento em que as forças ucranianas realizam uma contraofensiva para retomar territórios no sul do país. Na quinta-feira, 27, o governador pró-russo Mikhail Razvozhayev informou que a usina termelétrica de Balaclava foi atingida por um ataque de drones que não deixou grandes danos à infraestrutura nem vítimas.
Em agosto, ele denunciou também um ataque de drone contra a sede da frota russa no Mar Negro em Sebastopol, um incidente que não deixou feridos e foi o segundo em um mês. Em 31 de julho, um drone pousou no pátio do Estado-Maior da Frota, ferindo cinco funcionários e causando o cancelamento de todas as comemorações planejadas por ocasião do Dia da Frota Russa.
Explosão de gasodutos
Também neste sábado, o Exército russo acusou Londres de envolvimento nas explosões que causaram vazamentos em setembro nos oleodutos Nord Stream 1 e 2 no Mar Báltico, construídos para transportar gás russo para a Europa.
“Representantes de uma unidade da Marinha britânica participaram do planejamento, fornecimento e execução do ato terrorista no Mar Báltico em 26 de setembro para danificar os gasodutos Nord Stream 1 e Nord Stream 2″, disse o Ministério da Defesa russo no Telegram.
A Defesa britânica denunciou no Twitter falsas alegações russas para desviar a atenção. “Para desviar a atenção de seu desastroso manejo da invasão ilegal da Ucrânia, o Ministério da Defesa russo recorre à divulgação de falsas alegações de dimensão épica”, tuitou.
A Rússia reclamou repetidamente que não foi incluída na investigação internacional sobre os vazamentos do Nord Stream que se seguiram à suposta sabotagem.
A Justiça sueca anunciou na sexta-feira a intenção de realizar uma nova inspeção dos gasodutos, assim como o consórcio Nord Stream, que enviou um navio civil sob bandeira russa.
Em 26 de setembro, quatro grandes vazamentos foram detectados nos gasodutos Nord Stream 1 e 2 na ilha dinamarquesa de Bornholm, dois na zona econômica sueca e dois na zona econômica dinamarquesa. As inspeções submarinas preliminares reforçaram as suspeitas de sabotagem, pois os vazamentos foram precedidos por explosões.
Desde o conflito na Ucrânia, os dois gasodutos, que ligam a Rússia à Alemanha, estão no centro de tensões geopolíticas, alimentadas pela decisão de Moscou de cortar o fornecimento de gás para a Europa em suposta retaliação às sanções ocidentais. /EFE, AFP e NYT