LONDRES - Em um sinal de que reconhece ser mais impopular que o próprio plano apresentado por ela para tirar o Reino Unido da União Europeia, uma proposta rejeitada duas vezes pelo Parlamento, a primeira-ministra Theresa May aceitou nesta quarta-feira, 27, renunciar se seu texto for aprovado. A oferta dela foi aceita por parte dos conservadores que advogam por um Brexit sem acordo, uma ruptura radical com a UE, mas não encontrou respaldo no DUP, partido unionista da Irlanda do Norte.
Com isso, May não tem os votos para aprovar o acordo, caso ele vá para uma terceira votação na Câmara dos Comuns. Nem mesmo a nova votação do acordo é dada como certa, uma vez que o presidente da Casa, John Bercow, levantou impedimentos regimentais contra a manobra.
A oferta de renúncia foi feita dias depois de May conseguir com representantes da UE em Bruxelas um adiamento do prazo para o Reino Unido deixar o bloco para 12 de abril e de os membros da Câmara dos Comuns terem tirado do Executivo o comando do processo do Brexit.
Desde janeiro, May não consegue a maioria dentro de sua coalizão para aprovar o acordo em virtude de uma cláusula que prevê a manutenção do Reino Unido nas regras da UE caso não haja uma solução para a fronteira entre as duas Irlandas.
Em virtude do Tratado da Sexta-Feira Santa, que pacificou a região em 1998, não pode haver fronteira física na ilha. Os conservadores mais radicais pró-Brexit e o DUP não aceitam que a Irlanda do Norte fique separada de alguma forma do restante do Reino Unido.
Apesar disso, o acordo negociado por May com Bruxelas prevê todos os termos exigidos pela campanha pela saída da União Europeia, como o fim do fluxo livre de pessoas no país, a jurisdição da Corte Europeia de Justiça sobre o Reino Unido e as contribuições financeiras do Estado britânico a Bruxelas.
Ontem, o Parlamento britânico votou oito possíveis opções ao Brexit, após tomar o controle sobre o processo de saída das mãos do governo na segunda-feira. Nenhuma das propostas obteve maioria. Após a divulgação dos resultados, os parlamentares iniciaram um debate sobre seus próximos passos. Hoje eles devem definir se votam novamente o plano proposto por May amanhã, ou se avaliam novas propostas na segunda-feira.
“Ouvi com clareza a vontade do Partido Conservador”, disse May na reunião. “Sei que há o desejo de novos líderes na segunda fase do Brexit e não serei um obstáculo para isso.”
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Após mais uma estrondosa derrota do acordo para o Brexit, a primeira-ministra britânica, Theresa May, fez um apelo à Câmara dos Comuns para que o Reino Unido não deixe a União Europeia sem um acordo. Os deputados vão ter que votar nos próximos dias se a separação vai acontecer sem aprovação do tratado de May e se a data inicial, marcada para 29 de março, vai ser mantida.
Segundo comunicado divulgado por seu gabinete, a premiê disse estar preparada para deixar o cargo antes do previsto, após forte pressão do próprio partido diante de seu desgaste para negociar o Brexit . “Farei o que é correto para nosso país e nosso partido”, acrescentou May.
A oferta de May foi bem recebida pelo ex-secretário do Exterior Boris Johnson, um dos líderes pela campanha do “não”, que almeja substituí-la no cargo. Um dos principais aliados de May, Jacob Rees-Mogg, que liderava a campanha contra o acordo, agora diz que pretende votar a favor do texto.
Apesar disso, não é garantido que May consiga o apoio de toda a bancada conservadora. O DUP, com dez votos cruciais para garantir a maioria de May no Parlamento, afirmou que segue contra o acordo e não se absterá da votação. “Não concordamos com nada que ameace a integridade do Reino Unido”, disse a líder do partido, Arlene Foster.
O líder trabalhista Jeremy Corbyn criticou a decisão de May e não deu sinais de que vá votar a favor do acordo. Segundo ele, a barganha oferecida pela primeira-ministra mostra que o impasse no Brexit se deve a uma disputa pela liderança do Partido Conservador e do cargo de premiê.
Caso o acordo não seja aprovado até 12 de abril, o Reino Unido pode pedir uma prorrogação do prazo até maio, desde que participe das eleições europeias de junho. / BLOOMBERG e NYT
Veja abaixo um gráfico interativo que mostra as renúncias de ministros nos governos britânicos desde 1979: