Medo de Daniel Ortega faz líderes religiosos da Nicarágua fugirem para o exílio


Organizações de direitos humanos estimam que mais de 50 líderes religiosos fugiram desde 2018 por temor de perseguição do regime ditatorial do ex-guerrilheiro

Por María Teresa Hernández, Associated Press
Atualização:

SAN JOSÉ, COSTA RICA - Durante duas horas todas as tardes, o padre católico ouve confissões atrás de uma parede de vidro onde qualquer pessoa próxima pode localizá-lo. Mas essa visibilidade é enganosa; ele deseja manter seu nome e paradeiro exato em segredo para o mundo.

Ele começou a ouvir confissões poucos dias depois de fugir da Nicarágua para a Costa Rica, onde o governo prendeu líderes religiosos, ativistas e vários críticos do ditador nicaraguense presidente Daniel Ortega.

O padre concordou em uma entrevista com a condição de que seu nome e localização fossem omitidos. Ele teme por seus entes queridos, que ainda vivem na Nicarágua, e espera que eles estejam seguros enquanto ele permanecer discreto.

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Ele não está sozinho. Muitos padres e freiras no exílio se preocupam com represálias de Ortega e temem tornar suas histórias públicas. “Há perseguição à igreja porque a igreja é a voz do povo”, disse o padre.

Procissão de abertura de missa em Igreja em San José, na Costa Rica, que abrigou muitos dos católicos que fugiram da perseguição na vizinha Nicarágua  Foto: Carlos González/AP

Uma organização de direitos humanos, Nicaragua Nunca Más, estima que mais de 50 líderes religiosos fugiram desde 2018, quando uma reforma da previdência social desencadeou protestos em massa.

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No ano passado, duas congregações de freiras – inclusive da ordem das Missionárias da Caridade fundada por Madre Teresa – foram expulsas do país.

Outros funcionários da igreja - incluindo padres, seminaristas e funcionários leigos - estavam entre os 222 nicaraguenses libertados da detenção e expulsos à força para os Estados Unidos em 9 de fevereiro.

Irmã da Ordem das Missionárias da Caridade, de Madre Teresa de Calcutá, em um refúgio em Las Canas, na Costa Rica: grupo foi expulso da Nicarágua pelo regime de Daniel Ortega  Foto: Carlos González/AP
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O padre entrevistado na Costa Rica deixou sua cidade natal na Nicarágua com tanta pressa que não houve tempo para despedidas. Na companhia exclusiva de um motorista, ele viajou de carro, depois de moto. Uma vez perto da fronteira com a Costa Rica, ele caminhou. “Sinto falta do meu povo, da minha nação”, disse ele, com a voz embargada.

Ortega inicialmente pediu à Igreja Católica que desempenhasse um papel de mediador à medida que as tensões políticas aumentavam nos últimos cinco anos, mas a primeira rodada de diálogo não durou muito.

Depois que os padres abrigaram os manifestantes dentro de suas paróquias e expressaram preocupação com o uso excessivo da força, Ortega os chamou de “terroristas” que apoiaram os esforços da oposição para miná-lo ou derrubá-lo.

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Nicaragua Nunca Más e CSW, uma organização com sede no reino Unido que defende a liberdade religiosa em todo o mundo, dizem que o governo de Ortega tem como alvo pastores evangélicos, bem como padres católicos. Yader Valdivia, da Nicarágua Nunca Más, disse que pelo menos 50 igrejas evangélicas foram fechadas.

As duas organizações reuniram testemunhos de dezenas de pessoas – algumas no exílio e outras ainda na Nicarágua – que descreveram assédio, ameaças, violência física e detenção arbitrária contra vários trabalhadores religiosos.

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Existem vários relatos de homens mascarados invadindo igrejas, roubo ou destruição de objetos religiosos e a proibição de procissões religiosas.

A CSW disse que os paroquianos são advertidos a não exibir símbolos sagrados fora de suas casas, enquanto os detidos são impedidos de receber visitas do clero e de manter uma Bíblia na prisão.

Entre os prisioneiros restantes, o clérigo católico de maior destaque é o bispo Rolando Álvarez, de Matagalpa. Antes de sua prisão no ano passado, sua imagem foi vista em todo o mundo quando ele se ajoelhou diante das forças de segurança depois de ser impedido de celebrar a missa dentro de sua igreja e decidiu rezar nas ruas.

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O Monsenhor Rolando Álvarez desafia os policiais de Daniel Ortega na porta da sua igreja, em Matagalpa, na Nicarágua: ele foi preso e condenado pelo regime  Foto: Diocese de Matagalpa/Arquivo pessoal

Crítico ferrenho do governo, Álvarez foi condenado a 26 anos de prisão e teve cassada sua cidadania nicaraguense em 10 de fevereiro, um dia depois de Ortega libertar e enviar aos Estados Unidos o avião carregado de figuras da oposição.

Na Nicarágua, a resposta dos líderes católicos à repressão do governo foi silenciada, aparentemente em uma tentativa de não inflamar as tensões. Comentando no mês passado sobre a prisão de Álvarez, o cardeal Leopoldo Brenes, de Manágua – capital da Nicarágua – disse: “Reze para que o Senhor lhe dê forças”.

Reynald Gaitán, ex-seminarista que conheceu Álvarez em Matagalpa e atualmente estuda teologia na Costa Rica, acredita que a prisão do bispo pode ser problemática para Ortega. “Se o monsenhor morresse, sua causa continuaria viva, porque sempre o lembraremos como um mártir”, disse Gaitán.

Dois padres que foram libertados e exilados em 9 de fevereiro - depois de passar vários meses em uma prisão na Nicarágua - compartilharam algumas de suas experiências com fiéis católicos em uma missa recente em Miami.

Eles descreveram como não tinham ideia de sua próxima libertação até que, de repente, foram instruídos a trocar os uniformes da prisão por suas roupas normais e entrar nos ônibus em direção ao aeroporto.

Os padres relataram a emocionante fuga para os EUA, com ex-prisioneiros se abraçando e chorando de alívio e tristeza por deixar para trás famílias que ainda correm risco caso falem publicamente sobre suas provações.

Em foto de 2018, o bispo César Bosco Vivas Robelo (à esq), o cardeal Leopoldo Brenes (centro), e o bispo Rolando Álvarez, oram ao fim do terceiro dia de negociações com o governo após série de protestos contra Ortega  Foto: Alfredo Zúñiga/AP

“Quando a igreja aparentemente estava tentando ser uma voz para os que não tinham voz, ... o regime ditatorial de Ortega foi atrás da igreja”, disse o arcebispo de Miami, Thomas Wenski, que se reuniu com alguns dos clérigos e seminaristas exilados.

Nicarágua mais pobre com Ortega

A Nicarágua é o segundo país mais pobre das Américas depois do Haiti, de acordo com o Banco Mundial. Enfrentando a pobreza, o desemprego e a repressão, a maioria dos nicaraguenses anseia por segurança espiritual. Cerca de 42% da população é católica e 35% evangélica.

“A Igreja na Nicarágua desempenha um papel muito importante”, disse o padre entrevistado pela Associated Press na Costa Rica. “É aquele que se preocupa com os pobres, que sempre diz a verdade e permanece próximo ao seu povo”.

Em imagem de arquivo, o então presidente venezuelano Hugo Chávez recebe Daniel Ortega em Cumana, Venezuela Foto: STRINGER / REUTERS - 3/2/2009

Ele lembra de sua cidade natal como um lugar humilde, onde os paroquianos são profundamente religiosos. Ameaças contra ele surgiram, disse ele, quando começou a se referir durante a missa à difícil situação que a igreja enfrenta.

Os polícias patrulhavam as paróquias e assistiam às missas vestidos como civis para vigiar o que era dito durante a homilia, recordou. Os paroquianos eram frequentemente interrogados sobre os discursos de seus padres.

“Há muito medo, mesmo entre os leigos que se manifestam”, disse ele. “Não podemos dizer nada e, se o fizermos, sabemos que há um preço a pagar.”

Em imagem de arquivo, presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, discursa em Manágua Foto: INTI OCON / AFP - 13/10/2018

Em outra parte da Costa Rica, a AP conversou com uma das freiras nicaraguenses que foi expulsa no ano passado. Como o padre, ela pediu anonimato porque sua família ficou no país dominado pela ditadura de Ortega.

Ela continua perplexa com a ordem de expulsão, dizendo que seu trabalho era dedicado a crianças e idosos. “Onde quer que as pessoas nos vissem, elas nos cumprimentavam. Eles nos recebiam em suas casas”, disse ela.

Sua fé continua forte. “Eu rezo pelo meu país”, disse ela. “Acho que todo mundo, não só eu. Rezamos para que possamos viver tranquilos, em paz”.

SAN JOSÉ, COSTA RICA - Durante duas horas todas as tardes, o padre católico ouve confissões atrás de uma parede de vidro onde qualquer pessoa próxima pode localizá-lo. Mas essa visibilidade é enganosa; ele deseja manter seu nome e paradeiro exato em segredo para o mundo.

Ele começou a ouvir confissões poucos dias depois de fugir da Nicarágua para a Costa Rica, onde o governo prendeu líderes religiosos, ativistas e vários críticos do ditador nicaraguense presidente Daniel Ortega.

O padre concordou em uma entrevista com a condição de que seu nome e localização fossem omitidos. Ele teme por seus entes queridos, que ainda vivem na Nicarágua, e espera que eles estejam seguros enquanto ele permanecer discreto.

Ele não está sozinho. Muitos padres e freiras no exílio se preocupam com represálias de Ortega e temem tornar suas histórias públicas. “Há perseguição à igreja porque a igreja é a voz do povo”, disse o padre.

Procissão de abertura de missa em Igreja em San José, na Costa Rica, que abrigou muitos dos católicos que fugiram da perseguição na vizinha Nicarágua  Foto: Carlos González/AP

Uma organização de direitos humanos, Nicaragua Nunca Más, estima que mais de 50 líderes religiosos fugiram desde 2018, quando uma reforma da previdência social desencadeou protestos em massa.

No ano passado, duas congregações de freiras – inclusive da ordem das Missionárias da Caridade fundada por Madre Teresa – foram expulsas do país.

Outros funcionários da igreja - incluindo padres, seminaristas e funcionários leigos - estavam entre os 222 nicaraguenses libertados da detenção e expulsos à força para os Estados Unidos em 9 de fevereiro.

Irmã da Ordem das Missionárias da Caridade, de Madre Teresa de Calcutá, em um refúgio em Las Canas, na Costa Rica: grupo foi expulso da Nicarágua pelo regime de Daniel Ortega  Foto: Carlos González/AP

O padre entrevistado na Costa Rica deixou sua cidade natal na Nicarágua com tanta pressa que não houve tempo para despedidas. Na companhia exclusiva de um motorista, ele viajou de carro, depois de moto. Uma vez perto da fronteira com a Costa Rica, ele caminhou. “Sinto falta do meu povo, da minha nação”, disse ele, com a voz embargada.

Ortega inicialmente pediu à Igreja Católica que desempenhasse um papel de mediador à medida que as tensões políticas aumentavam nos últimos cinco anos, mas a primeira rodada de diálogo não durou muito.

Depois que os padres abrigaram os manifestantes dentro de suas paróquias e expressaram preocupação com o uso excessivo da força, Ortega os chamou de “terroristas” que apoiaram os esforços da oposição para miná-lo ou derrubá-lo.

Nicaragua Nunca Más e CSW, uma organização com sede no reino Unido que defende a liberdade religiosa em todo o mundo, dizem que o governo de Ortega tem como alvo pastores evangélicos, bem como padres católicos. Yader Valdivia, da Nicarágua Nunca Más, disse que pelo menos 50 igrejas evangélicas foram fechadas.

As duas organizações reuniram testemunhos de dezenas de pessoas – algumas no exílio e outras ainda na Nicarágua – que descreveram assédio, ameaças, violência física e detenção arbitrária contra vários trabalhadores religiosos.

Existem vários relatos de homens mascarados invadindo igrejas, roubo ou destruição de objetos religiosos e a proibição de procissões religiosas.

A CSW disse que os paroquianos são advertidos a não exibir símbolos sagrados fora de suas casas, enquanto os detidos são impedidos de receber visitas do clero e de manter uma Bíblia na prisão.

Entre os prisioneiros restantes, o clérigo católico de maior destaque é o bispo Rolando Álvarez, de Matagalpa. Antes de sua prisão no ano passado, sua imagem foi vista em todo o mundo quando ele se ajoelhou diante das forças de segurança depois de ser impedido de celebrar a missa dentro de sua igreja e decidiu rezar nas ruas.

O Monsenhor Rolando Álvarez desafia os policiais de Daniel Ortega na porta da sua igreja, em Matagalpa, na Nicarágua: ele foi preso e condenado pelo regime  Foto: Diocese de Matagalpa/Arquivo pessoal

Crítico ferrenho do governo, Álvarez foi condenado a 26 anos de prisão e teve cassada sua cidadania nicaraguense em 10 de fevereiro, um dia depois de Ortega libertar e enviar aos Estados Unidos o avião carregado de figuras da oposição.

Na Nicarágua, a resposta dos líderes católicos à repressão do governo foi silenciada, aparentemente em uma tentativa de não inflamar as tensões. Comentando no mês passado sobre a prisão de Álvarez, o cardeal Leopoldo Brenes, de Manágua – capital da Nicarágua – disse: “Reze para que o Senhor lhe dê forças”.

Reynald Gaitán, ex-seminarista que conheceu Álvarez em Matagalpa e atualmente estuda teologia na Costa Rica, acredita que a prisão do bispo pode ser problemática para Ortega. “Se o monsenhor morresse, sua causa continuaria viva, porque sempre o lembraremos como um mártir”, disse Gaitán.

Dois padres que foram libertados e exilados em 9 de fevereiro - depois de passar vários meses em uma prisão na Nicarágua - compartilharam algumas de suas experiências com fiéis católicos em uma missa recente em Miami.

Eles descreveram como não tinham ideia de sua próxima libertação até que, de repente, foram instruídos a trocar os uniformes da prisão por suas roupas normais e entrar nos ônibus em direção ao aeroporto.

Os padres relataram a emocionante fuga para os EUA, com ex-prisioneiros se abraçando e chorando de alívio e tristeza por deixar para trás famílias que ainda correm risco caso falem publicamente sobre suas provações.

Em foto de 2018, o bispo César Bosco Vivas Robelo (à esq), o cardeal Leopoldo Brenes (centro), e o bispo Rolando Álvarez, oram ao fim do terceiro dia de negociações com o governo após série de protestos contra Ortega  Foto: Alfredo Zúñiga/AP

“Quando a igreja aparentemente estava tentando ser uma voz para os que não tinham voz, ... o regime ditatorial de Ortega foi atrás da igreja”, disse o arcebispo de Miami, Thomas Wenski, que se reuniu com alguns dos clérigos e seminaristas exilados.

Nicarágua mais pobre com Ortega

A Nicarágua é o segundo país mais pobre das Américas depois do Haiti, de acordo com o Banco Mundial. Enfrentando a pobreza, o desemprego e a repressão, a maioria dos nicaraguenses anseia por segurança espiritual. Cerca de 42% da população é católica e 35% evangélica.

“A Igreja na Nicarágua desempenha um papel muito importante”, disse o padre entrevistado pela Associated Press na Costa Rica. “É aquele que se preocupa com os pobres, que sempre diz a verdade e permanece próximo ao seu povo”.

Em imagem de arquivo, o então presidente venezuelano Hugo Chávez recebe Daniel Ortega em Cumana, Venezuela Foto: STRINGER / REUTERS - 3/2/2009

Ele lembra de sua cidade natal como um lugar humilde, onde os paroquianos são profundamente religiosos. Ameaças contra ele surgiram, disse ele, quando começou a se referir durante a missa à difícil situação que a igreja enfrenta.

Os polícias patrulhavam as paróquias e assistiam às missas vestidos como civis para vigiar o que era dito durante a homilia, recordou. Os paroquianos eram frequentemente interrogados sobre os discursos de seus padres.

“Há muito medo, mesmo entre os leigos que se manifestam”, disse ele. “Não podemos dizer nada e, se o fizermos, sabemos que há um preço a pagar.”

Em imagem de arquivo, presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, discursa em Manágua Foto: INTI OCON / AFP - 13/10/2018

Em outra parte da Costa Rica, a AP conversou com uma das freiras nicaraguenses que foi expulsa no ano passado. Como o padre, ela pediu anonimato porque sua família ficou no país dominado pela ditadura de Ortega.

Ela continua perplexa com a ordem de expulsão, dizendo que seu trabalho era dedicado a crianças e idosos. “Onde quer que as pessoas nos vissem, elas nos cumprimentavam. Eles nos recebiam em suas casas”, disse ela.

Sua fé continua forte. “Eu rezo pelo meu país”, disse ela. “Acho que todo mundo, não só eu. Rezamos para que possamos viver tranquilos, em paz”.

SAN JOSÉ, COSTA RICA - Durante duas horas todas as tardes, o padre católico ouve confissões atrás de uma parede de vidro onde qualquer pessoa próxima pode localizá-lo. Mas essa visibilidade é enganosa; ele deseja manter seu nome e paradeiro exato em segredo para o mundo.

Ele começou a ouvir confissões poucos dias depois de fugir da Nicarágua para a Costa Rica, onde o governo prendeu líderes religiosos, ativistas e vários críticos do ditador nicaraguense presidente Daniel Ortega.

O padre concordou em uma entrevista com a condição de que seu nome e localização fossem omitidos. Ele teme por seus entes queridos, que ainda vivem na Nicarágua, e espera que eles estejam seguros enquanto ele permanecer discreto.

Ele não está sozinho. Muitos padres e freiras no exílio se preocupam com represálias de Ortega e temem tornar suas histórias públicas. “Há perseguição à igreja porque a igreja é a voz do povo”, disse o padre.

Procissão de abertura de missa em Igreja em San José, na Costa Rica, que abrigou muitos dos católicos que fugiram da perseguição na vizinha Nicarágua  Foto: Carlos González/AP

Uma organização de direitos humanos, Nicaragua Nunca Más, estima que mais de 50 líderes religiosos fugiram desde 2018, quando uma reforma da previdência social desencadeou protestos em massa.

No ano passado, duas congregações de freiras – inclusive da ordem das Missionárias da Caridade fundada por Madre Teresa – foram expulsas do país.

Outros funcionários da igreja - incluindo padres, seminaristas e funcionários leigos - estavam entre os 222 nicaraguenses libertados da detenção e expulsos à força para os Estados Unidos em 9 de fevereiro.

Irmã da Ordem das Missionárias da Caridade, de Madre Teresa de Calcutá, em um refúgio em Las Canas, na Costa Rica: grupo foi expulso da Nicarágua pelo regime de Daniel Ortega  Foto: Carlos González/AP

O padre entrevistado na Costa Rica deixou sua cidade natal na Nicarágua com tanta pressa que não houve tempo para despedidas. Na companhia exclusiva de um motorista, ele viajou de carro, depois de moto. Uma vez perto da fronteira com a Costa Rica, ele caminhou. “Sinto falta do meu povo, da minha nação”, disse ele, com a voz embargada.

Ortega inicialmente pediu à Igreja Católica que desempenhasse um papel de mediador à medida que as tensões políticas aumentavam nos últimos cinco anos, mas a primeira rodada de diálogo não durou muito.

Depois que os padres abrigaram os manifestantes dentro de suas paróquias e expressaram preocupação com o uso excessivo da força, Ortega os chamou de “terroristas” que apoiaram os esforços da oposição para miná-lo ou derrubá-lo.

Nicaragua Nunca Más e CSW, uma organização com sede no reino Unido que defende a liberdade religiosa em todo o mundo, dizem que o governo de Ortega tem como alvo pastores evangélicos, bem como padres católicos. Yader Valdivia, da Nicarágua Nunca Más, disse que pelo menos 50 igrejas evangélicas foram fechadas.

As duas organizações reuniram testemunhos de dezenas de pessoas – algumas no exílio e outras ainda na Nicarágua – que descreveram assédio, ameaças, violência física e detenção arbitrária contra vários trabalhadores religiosos.

Existem vários relatos de homens mascarados invadindo igrejas, roubo ou destruição de objetos religiosos e a proibição de procissões religiosas.

A CSW disse que os paroquianos são advertidos a não exibir símbolos sagrados fora de suas casas, enquanto os detidos são impedidos de receber visitas do clero e de manter uma Bíblia na prisão.

Entre os prisioneiros restantes, o clérigo católico de maior destaque é o bispo Rolando Álvarez, de Matagalpa. Antes de sua prisão no ano passado, sua imagem foi vista em todo o mundo quando ele se ajoelhou diante das forças de segurança depois de ser impedido de celebrar a missa dentro de sua igreja e decidiu rezar nas ruas.

O Monsenhor Rolando Álvarez desafia os policiais de Daniel Ortega na porta da sua igreja, em Matagalpa, na Nicarágua: ele foi preso e condenado pelo regime  Foto: Diocese de Matagalpa/Arquivo pessoal

Crítico ferrenho do governo, Álvarez foi condenado a 26 anos de prisão e teve cassada sua cidadania nicaraguense em 10 de fevereiro, um dia depois de Ortega libertar e enviar aos Estados Unidos o avião carregado de figuras da oposição.

Na Nicarágua, a resposta dos líderes católicos à repressão do governo foi silenciada, aparentemente em uma tentativa de não inflamar as tensões. Comentando no mês passado sobre a prisão de Álvarez, o cardeal Leopoldo Brenes, de Manágua – capital da Nicarágua – disse: “Reze para que o Senhor lhe dê forças”.

Reynald Gaitán, ex-seminarista que conheceu Álvarez em Matagalpa e atualmente estuda teologia na Costa Rica, acredita que a prisão do bispo pode ser problemática para Ortega. “Se o monsenhor morresse, sua causa continuaria viva, porque sempre o lembraremos como um mártir”, disse Gaitán.

Dois padres que foram libertados e exilados em 9 de fevereiro - depois de passar vários meses em uma prisão na Nicarágua - compartilharam algumas de suas experiências com fiéis católicos em uma missa recente em Miami.

Eles descreveram como não tinham ideia de sua próxima libertação até que, de repente, foram instruídos a trocar os uniformes da prisão por suas roupas normais e entrar nos ônibus em direção ao aeroporto.

Os padres relataram a emocionante fuga para os EUA, com ex-prisioneiros se abraçando e chorando de alívio e tristeza por deixar para trás famílias que ainda correm risco caso falem publicamente sobre suas provações.

Em foto de 2018, o bispo César Bosco Vivas Robelo (à esq), o cardeal Leopoldo Brenes (centro), e o bispo Rolando Álvarez, oram ao fim do terceiro dia de negociações com o governo após série de protestos contra Ortega  Foto: Alfredo Zúñiga/AP

“Quando a igreja aparentemente estava tentando ser uma voz para os que não tinham voz, ... o regime ditatorial de Ortega foi atrás da igreja”, disse o arcebispo de Miami, Thomas Wenski, que se reuniu com alguns dos clérigos e seminaristas exilados.

Nicarágua mais pobre com Ortega

A Nicarágua é o segundo país mais pobre das Américas depois do Haiti, de acordo com o Banco Mundial. Enfrentando a pobreza, o desemprego e a repressão, a maioria dos nicaraguenses anseia por segurança espiritual. Cerca de 42% da população é católica e 35% evangélica.

“A Igreja na Nicarágua desempenha um papel muito importante”, disse o padre entrevistado pela Associated Press na Costa Rica. “É aquele que se preocupa com os pobres, que sempre diz a verdade e permanece próximo ao seu povo”.

Em imagem de arquivo, o então presidente venezuelano Hugo Chávez recebe Daniel Ortega em Cumana, Venezuela Foto: STRINGER / REUTERS - 3/2/2009

Ele lembra de sua cidade natal como um lugar humilde, onde os paroquianos são profundamente religiosos. Ameaças contra ele surgiram, disse ele, quando começou a se referir durante a missa à difícil situação que a igreja enfrenta.

Os polícias patrulhavam as paróquias e assistiam às missas vestidos como civis para vigiar o que era dito durante a homilia, recordou. Os paroquianos eram frequentemente interrogados sobre os discursos de seus padres.

“Há muito medo, mesmo entre os leigos que se manifestam”, disse ele. “Não podemos dizer nada e, se o fizermos, sabemos que há um preço a pagar.”

Em imagem de arquivo, presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, discursa em Manágua Foto: INTI OCON / AFP - 13/10/2018

Em outra parte da Costa Rica, a AP conversou com uma das freiras nicaraguenses que foi expulsa no ano passado. Como o padre, ela pediu anonimato porque sua família ficou no país dominado pela ditadura de Ortega.

Ela continua perplexa com a ordem de expulsão, dizendo que seu trabalho era dedicado a crianças e idosos. “Onde quer que as pessoas nos vissem, elas nos cumprimentavam. Eles nos recebiam em suas casas”, disse ela.

Sua fé continua forte. “Eu rezo pelo meu país”, disse ela. “Acho que todo mundo, não só eu. Rezamos para que possamos viver tranquilos, em paz”.

SAN JOSÉ, COSTA RICA - Durante duas horas todas as tardes, o padre católico ouve confissões atrás de uma parede de vidro onde qualquer pessoa próxima pode localizá-lo. Mas essa visibilidade é enganosa; ele deseja manter seu nome e paradeiro exato em segredo para o mundo.

Ele começou a ouvir confissões poucos dias depois de fugir da Nicarágua para a Costa Rica, onde o governo prendeu líderes religiosos, ativistas e vários críticos do ditador nicaraguense presidente Daniel Ortega.

O padre concordou em uma entrevista com a condição de que seu nome e localização fossem omitidos. Ele teme por seus entes queridos, que ainda vivem na Nicarágua, e espera que eles estejam seguros enquanto ele permanecer discreto.

Ele não está sozinho. Muitos padres e freiras no exílio se preocupam com represálias de Ortega e temem tornar suas histórias públicas. “Há perseguição à igreja porque a igreja é a voz do povo”, disse o padre.

Procissão de abertura de missa em Igreja em San José, na Costa Rica, que abrigou muitos dos católicos que fugiram da perseguição na vizinha Nicarágua  Foto: Carlos González/AP

Uma organização de direitos humanos, Nicaragua Nunca Más, estima que mais de 50 líderes religiosos fugiram desde 2018, quando uma reforma da previdência social desencadeou protestos em massa.

No ano passado, duas congregações de freiras – inclusive da ordem das Missionárias da Caridade fundada por Madre Teresa – foram expulsas do país.

Outros funcionários da igreja - incluindo padres, seminaristas e funcionários leigos - estavam entre os 222 nicaraguenses libertados da detenção e expulsos à força para os Estados Unidos em 9 de fevereiro.

Irmã da Ordem das Missionárias da Caridade, de Madre Teresa de Calcutá, em um refúgio em Las Canas, na Costa Rica: grupo foi expulso da Nicarágua pelo regime de Daniel Ortega  Foto: Carlos González/AP

O padre entrevistado na Costa Rica deixou sua cidade natal na Nicarágua com tanta pressa que não houve tempo para despedidas. Na companhia exclusiva de um motorista, ele viajou de carro, depois de moto. Uma vez perto da fronteira com a Costa Rica, ele caminhou. “Sinto falta do meu povo, da minha nação”, disse ele, com a voz embargada.

Ortega inicialmente pediu à Igreja Católica que desempenhasse um papel de mediador à medida que as tensões políticas aumentavam nos últimos cinco anos, mas a primeira rodada de diálogo não durou muito.

Depois que os padres abrigaram os manifestantes dentro de suas paróquias e expressaram preocupação com o uso excessivo da força, Ortega os chamou de “terroristas” que apoiaram os esforços da oposição para miná-lo ou derrubá-lo.

Nicaragua Nunca Más e CSW, uma organização com sede no reino Unido que defende a liberdade religiosa em todo o mundo, dizem que o governo de Ortega tem como alvo pastores evangélicos, bem como padres católicos. Yader Valdivia, da Nicarágua Nunca Más, disse que pelo menos 50 igrejas evangélicas foram fechadas.

As duas organizações reuniram testemunhos de dezenas de pessoas – algumas no exílio e outras ainda na Nicarágua – que descreveram assédio, ameaças, violência física e detenção arbitrária contra vários trabalhadores religiosos.

Existem vários relatos de homens mascarados invadindo igrejas, roubo ou destruição de objetos religiosos e a proibição de procissões religiosas.

A CSW disse que os paroquianos são advertidos a não exibir símbolos sagrados fora de suas casas, enquanto os detidos são impedidos de receber visitas do clero e de manter uma Bíblia na prisão.

Entre os prisioneiros restantes, o clérigo católico de maior destaque é o bispo Rolando Álvarez, de Matagalpa. Antes de sua prisão no ano passado, sua imagem foi vista em todo o mundo quando ele se ajoelhou diante das forças de segurança depois de ser impedido de celebrar a missa dentro de sua igreja e decidiu rezar nas ruas.

O Monsenhor Rolando Álvarez desafia os policiais de Daniel Ortega na porta da sua igreja, em Matagalpa, na Nicarágua: ele foi preso e condenado pelo regime  Foto: Diocese de Matagalpa/Arquivo pessoal

Crítico ferrenho do governo, Álvarez foi condenado a 26 anos de prisão e teve cassada sua cidadania nicaraguense em 10 de fevereiro, um dia depois de Ortega libertar e enviar aos Estados Unidos o avião carregado de figuras da oposição.

Na Nicarágua, a resposta dos líderes católicos à repressão do governo foi silenciada, aparentemente em uma tentativa de não inflamar as tensões. Comentando no mês passado sobre a prisão de Álvarez, o cardeal Leopoldo Brenes, de Manágua – capital da Nicarágua – disse: “Reze para que o Senhor lhe dê forças”.

Reynald Gaitán, ex-seminarista que conheceu Álvarez em Matagalpa e atualmente estuda teologia na Costa Rica, acredita que a prisão do bispo pode ser problemática para Ortega. “Se o monsenhor morresse, sua causa continuaria viva, porque sempre o lembraremos como um mártir”, disse Gaitán.

Dois padres que foram libertados e exilados em 9 de fevereiro - depois de passar vários meses em uma prisão na Nicarágua - compartilharam algumas de suas experiências com fiéis católicos em uma missa recente em Miami.

Eles descreveram como não tinham ideia de sua próxima libertação até que, de repente, foram instruídos a trocar os uniformes da prisão por suas roupas normais e entrar nos ônibus em direção ao aeroporto.

Os padres relataram a emocionante fuga para os EUA, com ex-prisioneiros se abraçando e chorando de alívio e tristeza por deixar para trás famílias que ainda correm risco caso falem publicamente sobre suas provações.

Em foto de 2018, o bispo César Bosco Vivas Robelo (à esq), o cardeal Leopoldo Brenes (centro), e o bispo Rolando Álvarez, oram ao fim do terceiro dia de negociações com o governo após série de protestos contra Ortega  Foto: Alfredo Zúñiga/AP

“Quando a igreja aparentemente estava tentando ser uma voz para os que não tinham voz, ... o regime ditatorial de Ortega foi atrás da igreja”, disse o arcebispo de Miami, Thomas Wenski, que se reuniu com alguns dos clérigos e seminaristas exilados.

Nicarágua mais pobre com Ortega

A Nicarágua é o segundo país mais pobre das Américas depois do Haiti, de acordo com o Banco Mundial. Enfrentando a pobreza, o desemprego e a repressão, a maioria dos nicaraguenses anseia por segurança espiritual. Cerca de 42% da população é católica e 35% evangélica.

“A Igreja na Nicarágua desempenha um papel muito importante”, disse o padre entrevistado pela Associated Press na Costa Rica. “É aquele que se preocupa com os pobres, que sempre diz a verdade e permanece próximo ao seu povo”.

Em imagem de arquivo, o então presidente venezuelano Hugo Chávez recebe Daniel Ortega em Cumana, Venezuela Foto: STRINGER / REUTERS - 3/2/2009

Ele lembra de sua cidade natal como um lugar humilde, onde os paroquianos são profundamente religiosos. Ameaças contra ele surgiram, disse ele, quando começou a se referir durante a missa à difícil situação que a igreja enfrenta.

Os polícias patrulhavam as paróquias e assistiam às missas vestidos como civis para vigiar o que era dito durante a homilia, recordou. Os paroquianos eram frequentemente interrogados sobre os discursos de seus padres.

“Há muito medo, mesmo entre os leigos que se manifestam”, disse ele. “Não podemos dizer nada e, se o fizermos, sabemos que há um preço a pagar.”

Em imagem de arquivo, presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, discursa em Manágua Foto: INTI OCON / AFP - 13/10/2018

Em outra parte da Costa Rica, a AP conversou com uma das freiras nicaraguenses que foi expulsa no ano passado. Como o padre, ela pediu anonimato porque sua família ficou no país dominado pela ditadura de Ortega.

Ela continua perplexa com a ordem de expulsão, dizendo que seu trabalho era dedicado a crianças e idosos. “Onde quer que as pessoas nos vissem, elas nos cumprimentavam. Eles nos recebiam em suas casas”, disse ela.

Sua fé continua forte. “Eu rezo pelo meu país”, disse ela. “Acho que todo mundo, não só eu. Rezamos para que possamos viver tranquilos, em paz”.

SAN JOSÉ, COSTA RICA - Durante duas horas todas as tardes, o padre católico ouve confissões atrás de uma parede de vidro onde qualquer pessoa próxima pode localizá-lo. Mas essa visibilidade é enganosa; ele deseja manter seu nome e paradeiro exato em segredo para o mundo.

Ele começou a ouvir confissões poucos dias depois de fugir da Nicarágua para a Costa Rica, onde o governo prendeu líderes religiosos, ativistas e vários críticos do ditador nicaraguense presidente Daniel Ortega.

O padre concordou em uma entrevista com a condição de que seu nome e localização fossem omitidos. Ele teme por seus entes queridos, que ainda vivem na Nicarágua, e espera que eles estejam seguros enquanto ele permanecer discreto.

Ele não está sozinho. Muitos padres e freiras no exílio se preocupam com represálias de Ortega e temem tornar suas histórias públicas. “Há perseguição à igreja porque a igreja é a voz do povo”, disse o padre.

Procissão de abertura de missa em Igreja em San José, na Costa Rica, que abrigou muitos dos católicos que fugiram da perseguição na vizinha Nicarágua  Foto: Carlos González/AP

Uma organização de direitos humanos, Nicaragua Nunca Más, estima que mais de 50 líderes religiosos fugiram desde 2018, quando uma reforma da previdência social desencadeou protestos em massa.

No ano passado, duas congregações de freiras – inclusive da ordem das Missionárias da Caridade fundada por Madre Teresa – foram expulsas do país.

Outros funcionários da igreja - incluindo padres, seminaristas e funcionários leigos - estavam entre os 222 nicaraguenses libertados da detenção e expulsos à força para os Estados Unidos em 9 de fevereiro.

Irmã da Ordem das Missionárias da Caridade, de Madre Teresa de Calcutá, em um refúgio em Las Canas, na Costa Rica: grupo foi expulso da Nicarágua pelo regime de Daniel Ortega  Foto: Carlos González/AP

O padre entrevistado na Costa Rica deixou sua cidade natal na Nicarágua com tanta pressa que não houve tempo para despedidas. Na companhia exclusiva de um motorista, ele viajou de carro, depois de moto. Uma vez perto da fronteira com a Costa Rica, ele caminhou. “Sinto falta do meu povo, da minha nação”, disse ele, com a voz embargada.

Ortega inicialmente pediu à Igreja Católica que desempenhasse um papel de mediador à medida que as tensões políticas aumentavam nos últimos cinco anos, mas a primeira rodada de diálogo não durou muito.

Depois que os padres abrigaram os manifestantes dentro de suas paróquias e expressaram preocupação com o uso excessivo da força, Ortega os chamou de “terroristas” que apoiaram os esforços da oposição para miná-lo ou derrubá-lo.

Nicaragua Nunca Más e CSW, uma organização com sede no reino Unido que defende a liberdade religiosa em todo o mundo, dizem que o governo de Ortega tem como alvo pastores evangélicos, bem como padres católicos. Yader Valdivia, da Nicarágua Nunca Más, disse que pelo menos 50 igrejas evangélicas foram fechadas.

As duas organizações reuniram testemunhos de dezenas de pessoas – algumas no exílio e outras ainda na Nicarágua – que descreveram assédio, ameaças, violência física e detenção arbitrária contra vários trabalhadores religiosos.

Existem vários relatos de homens mascarados invadindo igrejas, roubo ou destruição de objetos religiosos e a proibição de procissões religiosas.

A CSW disse que os paroquianos são advertidos a não exibir símbolos sagrados fora de suas casas, enquanto os detidos são impedidos de receber visitas do clero e de manter uma Bíblia na prisão.

Entre os prisioneiros restantes, o clérigo católico de maior destaque é o bispo Rolando Álvarez, de Matagalpa. Antes de sua prisão no ano passado, sua imagem foi vista em todo o mundo quando ele se ajoelhou diante das forças de segurança depois de ser impedido de celebrar a missa dentro de sua igreja e decidiu rezar nas ruas.

O Monsenhor Rolando Álvarez desafia os policiais de Daniel Ortega na porta da sua igreja, em Matagalpa, na Nicarágua: ele foi preso e condenado pelo regime  Foto: Diocese de Matagalpa/Arquivo pessoal

Crítico ferrenho do governo, Álvarez foi condenado a 26 anos de prisão e teve cassada sua cidadania nicaraguense em 10 de fevereiro, um dia depois de Ortega libertar e enviar aos Estados Unidos o avião carregado de figuras da oposição.

Na Nicarágua, a resposta dos líderes católicos à repressão do governo foi silenciada, aparentemente em uma tentativa de não inflamar as tensões. Comentando no mês passado sobre a prisão de Álvarez, o cardeal Leopoldo Brenes, de Manágua – capital da Nicarágua – disse: “Reze para que o Senhor lhe dê forças”.

Reynald Gaitán, ex-seminarista que conheceu Álvarez em Matagalpa e atualmente estuda teologia na Costa Rica, acredita que a prisão do bispo pode ser problemática para Ortega. “Se o monsenhor morresse, sua causa continuaria viva, porque sempre o lembraremos como um mártir”, disse Gaitán.

Dois padres que foram libertados e exilados em 9 de fevereiro - depois de passar vários meses em uma prisão na Nicarágua - compartilharam algumas de suas experiências com fiéis católicos em uma missa recente em Miami.

Eles descreveram como não tinham ideia de sua próxima libertação até que, de repente, foram instruídos a trocar os uniformes da prisão por suas roupas normais e entrar nos ônibus em direção ao aeroporto.

Os padres relataram a emocionante fuga para os EUA, com ex-prisioneiros se abraçando e chorando de alívio e tristeza por deixar para trás famílias que ainda correm risco caso falem publicamente sobre suas provações.

Em foto de 2018, o bispo César Bosco Vivas Robelo (à esq), o cardeal Leopoldo Brenes (centro), e o bispo Rolando Álvarez, oram ao fim do terceiro dia de negociações com o governo após série de protestos contra Ortega  Foto: Alfredo Zúñiga/AP

“Quando a igreja aparentemente estava tentando ser uma voz para os que não tinham voz, ... o regime ditatorial de Ortega foi atrás da igreja”, disse o arcebispo de Miami, Thomas Wenski, que se reuniu com alguns dos clérigos e seminaristas exilados.

Nicarágua mais pobre com Ortega

A Nicarágua é o segundo país mais pobre das Américas depois do Haiti, de acordo com o Banco Mundial. Enfrentando a pobreza, o desemprego e a repressão, a maioria dos nicaraguenses anseia por segurança espiritual. Cerca de 42% da população é católica e 35% evangélica.

“A Igreja na Nicarágua desempenha um papel muito importante”, disse o padre entrevistado pela Associated Press na Costa Rica. “É aquele que se preocupa com os pobres, que sempre diz a verdade e permanece próximo ao seu povo”.

Em imagem de arquivo, o então presidente venezuelano Hugo Chávez recebe Daniel Ortega em Cumana, Venezuela Foto: STRINGER / REUTERS - 3/2/2009

Ele lembra de sua cidade natal como um lugar humilde, onde os paroquianos são profundamente religiosos. Ameaças contra ele surgiram, disse ele, quando começou a se referir durante a missa à difícil situação que a igreja enfrenta.

Os polícias patrulhavam as paróquias e assistiam às missas vestidos como civis para vigiar o que era dito durante a homilia, recordou. Os paroquianos eram frequentemente interrogados sobre os discursos de seus padres.

“Há muito medo, mesmo entre os leigos que se manifestam”, disse ele. “Não podemos dizer nada e, se o fizermos, sabemos que há um preço a pagar.”

Em imagem de arquivo, presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, discursa em Manágua Foto: INTI OCON / AFP - 13/10/2018

Em outra parte da Costa Rica, a AP conversou com uma das freiras nicaraguenses que foi expulsa no ano passado. Como o padre, ela pediu anonimato porque sua família ficou no país dominado pela ditadura de Ortega.

Ela continua perplexa com a ordem de expulsão, dizendo que seu trabalho era dedicado a crianças e idosos. “Onde quer que as pessoas nos vissem, elas nos cumprimentavam. Eles nos recebiam em suas casas”, disse ela.

Sua fé continua forte. “Eu rezo pelo meu país”, disse ela. “Acho que todo mundo, não só eu. Rezamos para que possamos viver tranquilos, em paz”.

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