Argentinos demonstram esperança em primeiro dia de Javier Milei como presidente


Nas ruas de Buenos Aires, clima é de espera pelas primeiras medidas econômicas do novo presidente, e corte de ministérios é visto com bons olhos

Por Carolina Marins

ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES - A vendedora Elvira Troncoso, 50, levou a sério o alerta que fez o novo presidente da Argentina, Javier Milei, de que os próximos meses serão muito duros. Mas está esperançosa que depois do aperto virá a bonança e o recém empossado presidente poderá finalmente tirar a Argentina da crise eterna.

“Teremos de nos preparar. Os aumentos já estão acontecendo e só devem piorar, enquanto os salários ficarão congelados. Precisamos nos planejar para cortar custos”, disse. A argentina trabalha em um kiosko - pequenas lojas de conveniência espalhadas por toda a Argentina - e diz que ali o aumento de preços ainda não se sentiu tão dramaticamente. Mas nos mercados a situação já começou a apertar, observa.

Um pouco depois do segundo turno das eleições presidenciais, que consagrou a vitória esmagadora de Milei sobre o então ministro da Economia Sergio Massa, o governo abriu mão de manter o programa que limitava os valores de alimentos e artigos essenciais. Sem os limites do programa, e consequente aumento de preços, muitos argentinos correram para os supermercados para estocar alimentos. O maior movimento foi registrado durante o fim de semana, antes da posse presidencial, momento em que se esperava que seria o início das subidas. Nesta segunda-feira, 11, porém, havia maior tranquilidade.

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Elvira Troncoso diz ter esperança de ver Javier Milei mudando a situação econômica da Argentina Foto: Carolina Marins/Estadão

Sandra Prado, 47, que trabalha em uma loja de produtos eletrônicos perto da Praça do Congresso - onde ocorreu a posse ontem - concorda que nos próximos meses os argentinos terão de se preparar para a política de choque, “mas se é para melhor, então teremos de ter paciência”, disse. “Ele [Milei] falou que os próximos dois anos serão brutais, isso me preocupa, mas temos de confiar nele”.

No geral, o sentimento dos argentinos nas ruas é de que algo finalmente mude, ainda que o caminho seja árduo. “Tem que haver alguma mudança, continuar do jeito que estava não dava mais”, afirma o jovem Nahuel Onofrillo, 21. Em sua opinião, a situação já é ruim atualmente, então mais alguns meses de ajustes nas contas não seria novidade para o argentino.

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Para o jovem, os argentinos terão a paciência de esperar para ver os resultados econômicos contanto que Milei mostre que já começará desde agora a fazer outras pequenas mudanças que prometeu. “Por exemplo, ele já cortou os ministérios. Ele falou que ia fazer isso e fez. É isso que vai fazer as pessoas confiarem nele”, diz.

Em seu primeiro decreto presidencial - chamado de DNU - Milei reduziu de 18 para 9 o número de ministérios, tendo unificado alguns deles em uma pasta ou reduzido para a categoria de secretaria. A medida era parte das suas promessas de campanha de “passar a motosserra” nos gastos e cargos públicos. Nesta segunda, em sua primeira reunião de gabinete, Milei pediu um “inventário” dos cargos públicos, que pretende reduzir, rever contratos vigentes principalmente com as universidades e exigiu o trabalho 100% presencial dos funcionários do Estado.

Nahuel Onofrillo diz estar feliz com a vitória de Milei enquanto organiza arranjos de flores Foto: Carolina Marins/Estadão
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Em estado de espera

Mas o clima ainda é de espera pelo que vai anunciar o novo presidente em questões econômicas. A expectativa era de que Milei anunciasse hoje qual será seu plano econômico de governo. Mas já nas primeiras horas da manhã, seu porta-voz Manuel Adorni avisou em uma coletiva de imprensa que as medidas serão informadas apenas amanhã em uma coletiva conduzida pelo ministro da Economia, Luis Caputo.

A decisão decepcionou quem se preparava para planejar desde já a vida, mas não é de todo estranha já que este é apenas o primeiro dia do governo, opina o cientista político Facundo Galván. “Eles ainda precisam fazer um diagnóstico da situação, e pode ser até que descubram que a situação é pior do que imaginavam”, diz.

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A vendedora de flores Patricia Kernol, 50, protestou contra o atraso. “As pessoas ficam inseguras, sem saber o que vai acontecer e vão lá e aumentam os preços”, lamenta. Sua pequena banca de flores na Avenida Santa Fé, perto da Praça San Martin, no bairro de Retiro, sente bem os efeitos de uma economia instável. Segundo ela, até ontem o preço de um arranjo de tulipas amarelas era de 500 pesos. Hoje já tinha de vender a 800. “As flores não param de subir, viraram artigos de luxo”. Outro arranjo aumentou mil pesos de uma semana para outra, conta.

“Ninguém mais está comprando flores porque as pessoas têm que comprar comida. É isso que elas priorizam agora. A situação econômica de um prejudica a do outro e vira essa bola de neve”, suspira.

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A vendedora confessa que não votou em Javier Milei, optou por Massa por uma questão de “menos pior”, mas deseja que o novo presidente consiga tirar a Argentina da crise. “No fim, é bom para todos nós que ele faça as coisas bem. Não acho que vai conseguir, mas Deus queira que eu esteja errada”.

Patricia Kernol espera que Milei consiga mudar a realidade econômica, mas tem medo do que pode acontecer com a Saúde e a Educação Foto: Carolina Marins/Estadão

Ela, porém, não compartilha da esperança positiva dos outros argentinos ouvidos pela reportagem, é mais uma resignação. Espera que dê certo, mas tem medo. “Tenho medo que ele acabe com a Saúde e a Educação públicas. Minha filha estuda na UBA e eu não teria condições de pagar os seus estudos se não fosse uma universidade pública”.

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Ela também compartilha a história de um sobrinho, que estuda em uma escola particular de qualidade mediana, porém que tem 80% da mensalidade subsidiada pelo governo. “Se param de subsidiar, ele e vários outros alunos terão de sair. As famílias argentinas não têm condições de pagar as mensalidades absurdas”.

Confusão no câmbio

Não foram só os preços que reagiram a um futuro de incertezas. No mercado cambiário houve confusão com o que determinou o Banco Central nesta segunda. Em meio à troca das autoridades, o Banco Central argentino anunciou uma espécie de “feriado cambiário”, limitando a compra de dólares a “necessidades”.

Na prática, a medida determinava que as transações em dólar oficial deveriam passar por uma autorização do conselho diretivo do banco. Em nota o banco justificou a decisão alegando que daria mais tempo ao governo para nomear suas autoridades e definir suas próximas políticas. Não é a primeira vez que um feriado cambiário é decretado nos últimos meses.

A limitação, em tese, não afeta as operações financeiras e nem as exportações, mas impactam nas importações e na compra do dólar mais barato, chamado de “dólar poupança” que tem sua venda limitada naturalmente. Porém, a medida deixou muitos bancos confusos sobre como vender os demais tipos de dólares e até como cobrar os vencimentos dos cartões de crédito com transações na moeda estrangeira, o “dólar cartão”.

Fachada do Banco Central da Argentina nesta segunda-feira, 11 Foto: Luis Robayo/AFP

Sem saber o que fazer, muitos bancos aumentaram o valor da moeda americana, se preparando para uma possível desvalorização que o governo Milei possa estar planejando, segundo o jornal La Nacion.

No mercado paralelo, porém, era como se nada tivesse mudado. Na famosa rua Florida, muito turística e conhecida pela presença constante de “arbolitos” que vendem dólar paralelo, as vendas seguiam normalmente.

A Argentina tem mais de um tipo de câmbio em circulação, uma medida adotada pelo governo de Alberto Fernández para tentar manter o valor do dólar artificialmente baixo. Enquanto o dólar oficial negociado pelo Banco Central vale um pouco mais de 400 pesos, o paralelo mais utilizado, chamado “blue” opera acima dos 900.

A rua Florida, que atravessa a Avenida de Mayo entre a Casa Rosada e o Congresso Nacional, serve como um termômetro de como a situação cambiária está reagindo às medidas do governo.

Para hoje, esperava-se um aumento acentuado do blue frente às medidas que o governo deveria anunciar. Mas, como não ocorreu, os gritos de “câmbio, câmbio” seguiam normalmente, e o valor do dólar continuava pouco acima dos 900 pesos. Durante o dia, a cotação chegou a baixar levemente, mas já perto do fechamento saltou e voltou a ultrapassar os mil pesos.

Quando questionados pela reportagem, alguns arbolitos admitiam que nem haviam ficado sabendo do feriado cambiário.

Na 'Calle Florida', os arbolitos vendiam e compravam dólares normalmente sem saber do feriado cambiário do dólar oficial decretado pelo Banco Central Foto: Carolina Marins/Estadão

ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES - A vendedora Elvira Troncoso, 50, levou a sério o alerta que fez o novo presidente da Argentina, Javier Milei, de que os próximos meses serão muito duros. Mas está esperançosa que depois do aperto virá a bonança e o recém empossado presidente poderá finalmente tirar a Argentina da crise eterna.

“Teremos de nos preparar. Os aumentos já estão acontecendo e só devem piorar, enquanto os salários ficarão congelados. Precisamos nos planejar para cortar custos”, disse. A argentina trabalha em um kiosko - pequenas lojas de conveniência espalhadas por toda a Argentina - e diz que ali o aumento de preços ainda não se sentiu tão dramaticamente. Mas nos mercados a situação já começou a apertar, observa.

Um pouco depois do segundo turno das eleições presidenciais, que consagrou a vitória esmagadora de Milei sobre o então ministro da Economia Sergio Massa, o governo abriu mão de manter o programa que limitava os valores de alimentos e artigos essenciais. Sem os limites do programa, e consequente aumento de preços, muitos argentinos correram para os supermercados para estocar alimentos. O maior movimento foi registrado durante o fim de semana, antes da posse presidencial, momento em que se esperava que seria o início das subidas. Nesta segunda-feira, 11, porém, havia maior tranquilidade.

Elvira Troncoso diz ter esperança de ver Javier Milei mudando a situação econômica da Argentina Foto: Carolina Marins/Estadão

Sandra Prado, 47, que trabalha em uma loja de produtos eletrônicos perto da Praça do Congresso - onde ocorreu a posse ontem - concorda que nos próximos meses os argentinos terão de se preparar para a política de choque, “mas se é para melhor, então teremos de ter paciência”, disse. “Ele [Milei] falou que os próximos dois anos serão brutais, isso me preocupa, mas temos de confiar nele”.

No geral, o sentimento dos argentinos nas ruas é de que algo finalmente mude, ainda que o caminho seja árduo. “Tem que haver alguma mudança, continuar do jeito que estava não dava mais”, afirma o jovem Nahuel Onofrillo, 21. Em sua opinião, a situação já é ruim atualmente, então mais alguns meses de ajustes nas contas não seria novidade para o argentino.

Para o jovem, os argentinos terão a paciência de esperar para ver os resultados econômicos contanto que Milei mostre que já começará desde agora a fazer outras pequenas mudanças que prometeu. “Por exemplo, ele já cortou os ministérios. Ele falou que ia fazer isso e fez. É isso que vai fazer as pessoas confiarem nele”, diz.

Em seu primeiro decreto presidencial - chamado de DNU - Milei reduziu de 18 para 9 o número de ministérios, tendo unificado alguns deles em uma pasta ou reduzido para a categoria de secretaria. A medida era parte das suas promessas de campanha de “passar a motosserra” nos gastos e cargos públicos. Nesta segunda, em sua primeira reunião de gabinete, Milei pediu um “inventário” dos cargos públicos, que pretende reduzir, rever contratos vigentes principalmente com as universidades e exigiu o trabalho 100% presencial dos funcionários do Estado.

Nahuel Onofrillo diz estar feliz com a vitória de Milei enquanto organiza arranjos de flores Foto: Carolina Marins/Estadão

Em estado de espera

Mas o clima ainda é de espera pelo que vai anunciar o novo presidente em questões econômicas. A expectativa era de que Milei anunciasse hoje qual será seu plano econômico de governo. Mas já nas primeiras horas da manhã, seu porta-voz Manuel Adorni avisou em uma coletiva de imprensa que as medidas serão informadas apenas amanhã em uma coletiva conduzida pelo ministro da Economia, Luis Caputo.

A decisão decepcionou quem se preparava para planejar desde já a vida, mas não é de todo estranha já que este é apenas o primeiro dia do governo, opina o cientista político Facundo Galván. “Eles ainda precisam fazer um diagnóstico da situação, e pode ser até que descubram que a situação é pior do que imaginavam”, diz.

A vendedora de flores Patricia Kernol, 50, protestou contra o atraso. “As pessoas ficam inseguras, sem saber o que vai acontecer e vão lá e aumentam os preços”, lamenta. Sua pequena banca de flores na Avenida Santa Fé, perto da Praça San Martin, no bairro de Retiro, sente bem os efeitos de uma economia instável. Segundo ela, até ontem o preço de um arranjo de tulipas amarelas era de 500 pesos. Hoje já tinha de vender a 800. “As flores não param de subir, viraram artigos de luxo”. Outro arranjo aumentou mil pesos de uma semana para outra, conta.

“Ninguém mais está comprando flores porque as pessoas têm que comprar comida. É isso que elas priorizam agora. A situação econômica de um prejudica a do outro e vira essa bola de neve”, suspira.

A vendedora confessa que não votou em Javier Milei, optou por Massa por uma questão de “menos pior”, mas deseja que o novo presidente consiga tirar a Argentina da crise. “No fim, é bom para todos nós que ele faça as coisas bem. Não acho que vai conseguir, mas Deus queira que eu esteja errada”.

Patricia Kernol espera que Milei consiga mudar a realidade econômica, mas tem medo do que pode acontecer com a Saúde e a Educação Foto: Carolina Marins/Estadão

Ela, porém, não compartilha da esperança positiva dos outros argentinos ouvidos pela reportagem, é mais uma resignação. Espera que dê certo, mas tem medo. “Tenho medo que ele acabe com a Saúde e a Educação públicas. Minha filha estuda na UBA e eu não teria condições de pagar os seus estudos se não fosse uma universidade pública”.

Ela também compartilha a história de um sobrinho, que estuda em uma escola particular de qualidade mediana, porém que tem 80% da mensalidade subsidiada pelo governo. “Se param de subsidiar, ele e vários outros alunos terão de sair. As famílias argentinas não têm condições de pagar as mensalidades absurdas”.

Confusão no câmbio

Não foram só os preços que reagiram a um futuro de incertezas. No mercado cambiário houve confusão com o que determinou o Banco Central nesta segunda. Em meio à troca das autoridades, o Banco Central argentino anunciou uma espécie de “feriado cambiário”, limitando a compra de dólares a “necessidades”.

Na prática, a medida determinava que as transações em dólar oficial deveriam passar por uma autorização do conselho diretivo do banco. Em nota o banco justificou a decisão alegando que daria mais tempo ao governo para nomear suas autoridades e definir suas próximas políticas. Não é a primeira vez que um feriado cambiário é decretado nos últimos meses.

A limitação, em tese, não afeta as operações financeiras e nem as exportações, mas impactam nas importações e na compra do dólar mais barato, chamado de “dólar poupança” que tem sua venda limitada naturalmente. Porém, a medida deixou muitos bancos confusos sobre como vender os demais tipos de dólares e até como cobrar os vencimentos dos cartões de crédito com transações na moeda estrangeira, o “dólar cartão”.

Fachada do Banco Central da Argentina nesta segunda-feira, 11 Foto: Luis Robayo/AFP

Sem saber o que fazer, muitos bancos aumentaram o valor da moeda americana, se preparando para uma possível desvalorização que o governo Milei possa estar planejando, segundo o jornal La Nacion.

No mercado paralelo, porém, era como se nada tivesse mudado. Na famosa rua Florida, muito turística e conhecida pela presença constante de “arbolitos” que vendem dólar paralelo, as vendas seguiam normalmente.

A Argentina tem mais de um tipo de câmbio em circulação, uma medida adotada pelo governo de Alberto Fernández para tentar manter o valor do dólar artificialmente baixo. Enquanto o dólar oficial negociado pelo Banco Central vale um pouco mais de 400 pesos, o paralelo mais utilizado, chamado “blue” opera acima dos 900.

A rua Florida, que atravessa a Avenida de Mayo entre a Casa Rosada e o Congresso Nacional, serve como um termômetro de como a situação cambiária está reagindo às medidas do governo.

Para hoje, esperava-se um aumento acentuado do blue frente às medidas que o governo deveria anunciar. Mas, como não ocorreu, os gritos de “câmbio, câmbio” seguiam normalmente, e o valor do dólar continuava pouco acima dos 900 pesos. Durante o dia, a cotação chegou a baixar levemente, mas já perto do fechamento saltou e voltou a ultrapassar os mil pesos.

Quando questionados pela reportagem, alguns arbolitos admitiam que nem haviam ficado sabendo do feriado cambiário.

Na 'Calle Florida', os arbolitos vendiam e compravam dólares normalmente sem saber do feriado cambiário do dólar oficial decretado pelo Banco Central Foto: Carolina Marins/Estadão

ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES - A vendedora Elvira Troncoso, 50, levou a sério o alerta que fez o novo presidente da Argentina, Javier Milei, de que os próximos meses serão muito duros. Mas está esperançosa que depois do aperto virá a bonança e o recém empossado presidente poderá finalmente tirar a Argentina da crise eterna.

“Teremos de nos preparar. Os aumentos já estão acontecendo e só devem piorar, enquanto os salários ficarão congelados. Precisamos nos planejar para cortar custos”, disse. A argentina trabalha em um kiosko - pequenas lojas de conveniência espalhadas por toda a Argentina - e diz que ali o aumento de preços ainda não se sentiu tão dramaticamente. Mas nos mercados a situação já começou a apertar, observa.

Um pouco depois do segundo turno das eleições presidenciais, que consagrou a vitória esmagadora de Milei sobre o então ministro da Economia Sergio Massa, o governo abriu mão de manter o programa que limitava os valores de alimentos e artigos essenciais. Sem os limites do programa, e consequente aumento de preços, muitos argentinos correram para os supermercados para estocar alimentos. O maior movimento foi registrado durante o fim de semana, antes da posse presidencial, momento em que se esperava que seria o início das subidas. Nesta segunda-feira, 11, porém, havia maior tranquilidade.

Elvira Troncoso diz ter esperança de ver Javier Milei mudando a situação econômica da Argentina Foto: Carolina Marins/Estadão

Sandra Prado, 47, que trabalha em uma loja de produtos eletrônicos perto da Praça do Congresso - onde ocorreu a posse ontem - concorda que nos próximos meses os argentinos terão de se preparar para a política de choque, “mas se é para melhor, então teremos de ter paciência”, disse. “Ele [Milei] falou que os próximos dois anos serão brutais, isso me preocupa, mas temos de confiar nele”.

No geral, o sentimento dos argentinos nas ruas é de que algo finalmente mude, ainda que o caminho seja árduo. “Tem que haver alguma mudança, continuar do jeito que estava não dava mais”, afirma o jovem Nahuel Onofrillo, 21. Em sua opinião, a situação já é ruim atualmente, então mais alguns meses de ajustes nas contas não seria novidade para o argentino.

Para o jovem, os argentinos terão a paciência de esperar para ver os resultados econômicos contanto que Milei mostre que já começará desde agora a fazer outras pequenas mudanças que prometeu. “Por exemplo, ele já cortou os ministérios. Ele falou que ia fazer isso e fez. É isso que vai fazer as pessoas confiarem nele”, diz.

Em seu primeiro decreto presidencial - chamado de DNU - Milei reduziu de 18 para 9 o número de ministérios, tendo unificado alguns deles em uma pasta ou reduzido para a categoria de secretaria. A medida era parte das suas promessas de campanha de “passar a motosserra” nos gastos e cargos públicos. Nesta segunda, em sua primeira reunião de gabinete, Milei pediu um “inventário” dos cargos públicos, que pretende reduzir, rever contratos vigentes principalmente com as universidades e exigiu o trabalho 100% presencial dos funcionários do Estado.

Nahuel Onofrillo diz estar feliz com a vitória de Milei enquanto organiza arranjos de flores Foto: Carolina Marins/Estadão

Em estado de espera

Mas o clima ainda é de espera pelo que vai anunciar o novo presidente em questões econômicas. A expectativa era de que Milei anunciasse hoje qual será seu plano econômico de governo. Mas já nas primeiras horas da manhã, seu porta-voz Manuel Adorni avisou em uma coletiva de imprensa que as medidas serão informadas apenas amanhã em uma coletiva conduzida pelo ministro da Economia, Luis Caputo.

A decisão decepcionou quem se preparava para planejar desde já a vida, mas não é de todo estranha já que este é apenas o primeiro dia do governo, opina o cientista político Facundo Galván. “Eles ainda precisam fazer um diagnóstico da situação, e pode ser até que descubram que a situação é pior do que imaginavam”, diz.

A vendedora de flores Patricia Kernol, 50, protestou contra o atraso. “As pessoas ficam inseguras, sem saber o que vai acontecer e vão lá e aumentam os preços”, lamenta. Sua pequena banca de flores na Avenida Santa Fé, perto da Praça San Martin, no bairro de Retiro, sente bem os efeitos de uma economia instável. Segundo ela, até ontem o preço de um arranjo de tulipas amarelas era de 500 pesos. Hoje já tinha de vender a 800. “As flores não param de subir, viraram artigos de luxo”. Outro arranjo aumentou mil pesos de uma semana para outra, conta.

“Ninguém mais está comprando flores porque as pessoas têm que comprar comida. É isso que elas priorizam agora. A situação econômica de um prejudica a do outro e vira essa bola de neve”, suspira.

A vendedora confessa que não votou em Javier Milei, optou por Massa por uma questão de “menos pior”, mas deseja que o novo presidente consiga tirar a Argentina da crise. “No fim, é bom para todos nós que ele faça as coisas bem. Não acho que vai conseguir, mas Deus queira que eu esteja errada”.

Patricia Kernol espera que Milei consiga mudar a realidade econômica, mas tem medo do que pode acontecer com a Saúde e a Educação Foto: Carolina Marins/Estadão

Ela, porém, não compartilha da esperança positiva dos outros argentinos ouvidos pela reportagem, é mais uma resignação. Espera que dê certo, mas tem medo. “Tenho medo que ele acabe com a Saúde e a Educação públicas. Minha filha estuda na UBA e eu não teria condições de pagar os seus estudos se não fosse uma universidade pública”.

Ela também compartilha a história de um sobrinho, que estuda em uma escola particular de qualidade mediana, porém que tem 80% da mensalidade subsidiada pelo governo. “Se param de subsidiar, ele e vários outros alunos terão de sair. As famílias argentinas não têm condições de pagar as mensalidades absurdas”.

Confusão no câmbio

Não foram só os preços que reagiram a um futuro de incertezas. No mercado cambiário houve confusão com o que determinou o Banco Central nesta segunda. Em meio à troca das autoridades, o Banco Central argentino anunciou uma espécie de “feriado cambiário”, limitando a compra de dólares a “necessidades”.

Na prática, a medida determinava que as transações em dólar oficial deveriam passar por uma autorização do conselho diretivo do banco. Em nota o banco justificou a decisão alegando que daria mais tempo ao governo para nomear suas autoridades e definir suas próximas políticas. Não é a primeira vez que um feriado cambiário é decretado nos últimos meses.

A limitação, em tese, não afeta as operações financeiras e nem as exportações, mas impactam nas importações e na compra do dólar mais barato, chamado de “dólar poupança” que tem sua venda limitada naturalmente. Porém, a medida deixou muitos bancos confusos sobre como vender os demais tipos de dólares e até como cobrar os vencimentos dos cartões de crédito com transações na moeda estrangeira, o “dólar cartão”.

Fachada do Banco Central da Argentina nesta segunda-feira, 11 Foto: Luis Robayo/AFP

Sem saber o que fazer, muitos bancos aumentaram o valor da moeda americana, se preparando para uma possível desvalorização que o governo Milei possa estar planejando, segundo o jornal La Nacion.

No mercado paralelo, porém, era como se nada tivesse mudado. Na famosa rua Florida, muito turística e conhecida pela presença constante de “arbolitos” que vendem dólar paralelo, as vendas seguiam normalmente.

A Argentina tem mais de um tipo de câmbio em circulação, uma medida adotada pelo governo de Alberto Fernández para tentar manter o valor do dólar artificialmente baixo. Enquanto o dólar oficial negociado pelo Banco Central vale um pouco mais de 400 pesos, o paralelo mais utilizado, chamado “blue” opera acima dos 900.

A rua Florida, que atravessa a Avenida de Mayo entre a Casa Rosada e o Congresso Nacional, serve como um termômetro de como a situação cambiária está reagindo às medidas do governo.

Para hoje, esperava-se um aumento acentuado do blue frente às medidas que o governo deveria anunciar. Mas, como não ocorreu, os gritos de “câmbio, câmbio” seguiam normalmente, e o valor do dólar continuava pouco acima dos 900 pesos. Durante o dia, a cotação chegou a baixar levemente, mas já perto do fechamento saltou e voltou a ultrapassar os mil pesos.

Quando questionados pela reportagem, alguns arbolitos admitiam que nem haviam ficado sabendo do feriado cambiário.

Na 'Calle Florida', os arbolitos vendiam e compravam dólares normalmente sem saber do feriado cambiário do dólar oficial decretado pelo Banco Central Foto: Carolina Marins/Estadão

ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES - A vendedora Elvira Troncoso, 50, levou a sério o alerta que fez o novo presidente da Argentina, Javier Milei, de que os próximos meses serão muito duros. Mas está esperançosa que depois do aperto virá a bonança e o recém empossado presidente poderá finalmente tirar a Argentina da crise eterna.

“Teremos de nos preparar. Os aumentos já estão acontecendo e só devem piorar, enquanto os salários ficarão congelados. Precisamos nos planejar para cortar custos”, disse. A argentina trabalha em um kiosko - pequenas lojas de conveniência espalhadas por toda a Argentina - e diz que ali o aumento de preços ainda não se sentiu tão dramaticamente. Mas nos mercados a situação já começou a apertar, observa.

Um pouco depois do segundo turno das eleições presidenciais, que consagrou a vitória esmagadora de Milei sobre o então ministro da Economia Sergio Massa, o governo abriu mão de manter o programa que limitava os valores de alimentos e artigos essenciais. Sem os limites do programa, e consequente aumento de preços, muitos argentinos correram para os supermercados para estocar alimentos. O maior movimento foi registrado durante o fim de semana, antes da posse presidencial, momento em que se esperava que seria o início das subidas. Nesta segunda-feira, 11, porém, havia maior tranquilidade.

Elvira Troncoso diz ter esperança de ver Javier Milei mudando a situação econômica da Argentina Foto: Carolina Marins/Estadão

Sandra Prado, 47, que trabalha em uma loja de produtos eletrônicos perto da Praça do Congresso - onde ocorreu a posse ontem - concorda que nos próximos meses os argentinos terão de se preparar para a política de choque, “mas se é para melhor, então teremos de ter paciência”, disse. “Ele [Milei] falou que os próximos dois anos serão brutais, isso me preocupa, mas temos de confiar nele”.

No geral, o sentimento dos argentinos nas ruas é de que algo finalmente mude, ainda que o caminho seja árduo. “Tem que haver alguma mudança, continuar do jeito que estava não dava mais”, afirma o jovem Nahuel Onofrillo, 21. Em sua opinião, a situação já é ruim atualmente, então mais alguns meses de ajustes nas contas não seria novidade para o argentino.

Para o jovem, os argentinos terão a paciência de esperar para ver os resultados econômicos contanto que Milei mostre que já começará desde agora a fazer outras pequenas mudanças que prometeu. “Por exemplo, ele já cortou os ministérios. Ele falou que ia fazer isso e fez. É isso que vai fazer as pessoas confiarem nele”, diz.

Em seu primeiro decreto presidencial - chamado de DNU - Milei reduziu de 18 para 9 o número de ministérios, tendo unificado alguns deles em uma pasta ou reduzido para a categoria de secretaria. A medida era parte das suas promessas de campanha de “passar a motosserra” nos gastos e cargos públicos. Nesta segunda, em sua primeira reunião de gabinete, Milei pediu um “inventário” dos cargos públicos, que pretende reduzir, rever contratos vigentes principalmente com as universidades e exigiu o trabalho 100% presencial dos funcionários do Estado.

Nahuel Onofrillo diz estar feliz com a vitória de Milei enquanto organiza arranjos de flores Foto: Carolina Marins/Estadão

Em estado de espera

Mas o clima ainda é de espera pelo que vai anunciar o novo presidente em questões econômicas. A expectativa era de que Milei anunciasse hoje qual será seu plano econômico de governo. Mas já nas primeiras horas da manhã, seu porta-voz Manuel Adorni avisou em uma coletiva de imprensa que as medidas serão informadas apenas amanhã em uma coletiva conduzida pelo ministro da Economia, Luis Caputo.

A decisão decepcionou quem se preparava para planejar desde já a vida, mas não é de todo estranha já que este é apenas o primeiro dia do governo, opina o cientista político Facundo Galván. “Eles ainda precisam fazer um diagnóstico da situação, e pode ser até que descubram que a situação é pior do que imaginavam”, diz.

A vendedora de flores Patricia Kernol, 50, protestou contra o atraso. “As pessoas ficam inseguras, sem saber o que vai acontecer e vão lá e aumentam os preços”, lamenta. Sua pequena banca de flores na Avenida Santa Fé, perto da Praça San Martin, no bairro de Retiro, sente bem os efeitos de uma economia instável. Segundo ela, até ontem o preço de um arranjo de tulipas amarelas era de 500 pesos. Hoje já tinha de vender a 800. “As flores não param de subir, viraram artigos de luxo”. Outro arranjo aumentou mil pesos de uma semana para outra, conta.

“Ninguém mais está comprando flores porque as pessoas têm que comprar comida. É isso que elas priorizam agora. A situação econômica de um prejudica a do outro e vira essa bola de neve”, suspira.

A vendedora confessa que não votou em Javier Milei, optou por Massa por uma questão de “menos pior”, mas deseja que o novo presidente consiga tirar a Argentina da crise. “No fim, é bom para todos nós que ele faça as coisas bem. Não acho que vai conseguir, mas Deus queira que eu esteja errada”.

Patricia Kernol espera que Milei consiga mudar a realidade econômica, mas tem medo do que pode acontecer com a Saúde e a Educação Foto: Carolina Marins/Estadão

Ela, porém, não compartilha da esperança positiva dos outros argentinos ouvidos pela reportagem, é mais uma resignação. Espera que dê certo, mas tem medo. “Tenho medo que ele acabe com a Saúde e a Educação públicas. Minha filha estuda na UBA e eu não teria condições de pagar os seus estudos se não fosse uma universidade pública”.

Ela também compartilha a história de um sobrinho, que estuda em uma escola particular de qualidade mediana, porém que tem 80% da mensalidade subsidiada pelo governo. “Se param de subsidiar, ele e vários outros alunos terão de sair. As famílias argentinas não têm condições de pagar as mensalidades absurdas”.

Confusão no câmbio

Não foram só os preços que reagiram a um futuro de incertezas. No mercado cambiário houve confusão com o que determinou o Banco Central nesta segunda. Em meio à troca das autoridades, o Banco Central argentino anunciou uma espécie de “feriado cambiário”, limitando a compra de dólares a “necessidades”.

Na prática, a medida determinava que as transações em dólar oficial deveriam passar por uma autorização do conselho diretivo do banco. Em nota o banco justificou a decisão alegando que daria mais tempo ao governo para nomear suas autoridades e definir suas próximas políticas. Não é a primeira vez que um feriado cambiário é decretado nos últimos meses.

A limitação, em tese, não afeta as operações financeiras e nem as exportações, mas impactam nas importações e na compra do dólar mais barato, chamado de “dólar poupança” que tem sua venda limitada naturalmente. Porém, a medida deixou muitos bancos confusos sobre como vender os demais tipos de dólares e até como cobrar os vencimentos dos cartões de crédito com transações na moeda estrangeira, o “dólar cartão”.

Fachada do Banco Central da Argentina nesta segunda-feira, 11 Foto: Luis Robayo/AFP

Sem saber o que fazer, muitos bancos aumentaram o valor da moeda americana, se preparando para uma possível desvalorização que o governo Milei possa estar planejando, segundo o jornal La Nacion.

No mercado paralelo, porém, era como se nada tivesse mudado. Na famosa rua Florida, muito turística e conhecida pela presença constante de “arbolitos” que vendem dólar paralelo, as vendas seguiam normalmente.

A Argentina tem mais de um tipo de câmbio em circulação, uma medida adotada pelo governo de Alberto Fernández para tentar manter o valor do dólar artificialmente baixo. Enquanto o dólar oficial negociado pelo Banco Central vale um pouco mais de 400 pesos, o paralelo mais utilizado, chamado “blue” opera acima dos 900.

A rua Florida, que atravessa a Avenida de Mayo entre a Casa Rosada e o Congresso Nacional, serve como um termômetro de como a situação cambiária está reagindo às medidas do governo.

Para hoje, esperava-se um aumento acentuado do blue frente às medidas que o governo deveria anunciar. Mas, como não ocorreu, os gritos de “câmbio, câmbio” seguiam normalmente, e o valor do dólar continuava pouco acima dos 900 pesos. Durante o dia, a cotação chegou a baixar levemente, mas já perto do fechamento saltou e voltou a ultrapassar os mil pesos.

Quando questionados pela reportagem, alguns arbolitos admitiam que nem haviam ficado sabendo do feriado cambiário.

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