BUENOS AIRES - O governo da Argentina comprou 24 caças F-16 da Dinamarca na última terça-feira, 16, e oficializou nesta quinta, 18, seu interesse em se tornar um parceiro global da Otan em meio à aproximação do governo de Javier Milei aos países ocidentais da Europa e os Estados Unidos. O país comprou os aviões por 300 milhões de dólares (R$ 1,5 bilhão) para “ter uma resposta imediata diante de qualquer ameaça”.
O valor foi criticado nas redes sociais por alguns argentinos que lidam com aumento da pobreza e forte ajuste em meio à meta de Milei de reduzir em 5 pontos percentuais o PIB do país em nome do equilíbrio das contas.
O contrato, que segue a declaração de intenção de compra feita em março, foi formalizado durante uma visita do ministro da Defesa argentino, Luis Petri, à base aérea dinamarquesa de Skrydstrup. Com essa compra, a “Argentina vai recuperar depois de muitos anos a capacidade de interceptação supersônica”, assinalou o Ministério da Defesa em um comunicado.
“Os aviões serão a coluna vertebral do sistema de defesa aérea na Argentina, missão que, durante mais de 40 anos, foi desempenhada pelos aviões Mirage”, acrescentou a pasta. Os últimos Mirage foram aposentados em 2017, após quatro décadas de serviço.
A Dinamarca está modernizando sua frota aérea com caças F-35, um modelo muito mais moderno que os F-16, dos quais tem cerca de 40, incluídos cerca de 30 que continuam operacionais, segundo a imprensa local. O país escandinavo também se comprometeu a enviar um número indeterminado desses aparelhos à Ucrânia, invadida pela Rússia em fevereiro de 2022.
“Estou feliz que os aviões F-16 dinamarqueses, que nos prestaram serviços inestimáveis ao longo dos anos e que foram cuidadosamente mantidos e modernizados, possam beneficiar a Força Aérea Argentina”, declarou o ministro de Defesa dinamarquês, Troels Lund Poulsen, em nota.
Nenhuma data foi informada para a entrega, que inclui motores, peças de reposição, simuladores e equipamentos de treinamento, mas espera-se que ocorra nos próximos anos.
Por sua vez, o porta-voz do presidente Milei, Manuel Adorni, destacou que se trata da “aquisição militar mais importante dos últimos 50 anos de história argentina”.
Aval americano
O presidente Javier Milei participou da assinatura do contrato por videoconferência, pois suspendeu de última hora sua visita oficial à Dinamarca por razões de segurança, depois do ataque iraniano a Israel no último sábado. Milei reafirmou, na noite de sábado, o alinhamento geopolítico da Argentina com Estados Unidos e Israel e ofereceu sua solidariedade “inabalável” a esse último.
A compra teve o aval dos Estados Unidos, onde os F-16 foram fabricados. Nas redes sociais, o responsável pelas Américas do Departamento de Estado dos EUA, Brian Nichols, deus as boas vindas à Argentina na “família F16″. “Parabéns por este significante passo na modernização das capacidades de defesa da Argentina e no aprofundamento dos laços com a Otan e os EUA”, escreveu na rede social X (antigo Twitter).
A medida faz parte da política de Milei de resgatar a atuação das Forças Armadas argentinas, colocadas em escanteio desde o fim da última ditadura militar argentina. Em discurso recente no aniversário da guerra das Malvinas, o presidente falou em “reconciliação com as Forças Armadas”, tema sensível na Argentina.
A compra dos aviões também acontece no âmbito de um drástico ajuste fiscal por parte do governo libertário argentino que compreende, entre outras medidas, cortes de gastos e derretimento de salários, pensões e dotações orçamentárias em um contexto de inflação muito elevada. Nas redes, alguns argentinos criticaram a compra em um contexto em que o próprio presidente afirmou “não haver dinheiro”.
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Parceiro da Otan
Em outro movimento de alinhamento com os países ocidental, Luis Petri também viajou à Bruxelas nesta quinta, onde se reuniu com secretários da Otan e entregou uma carta de intenção para que o país se torne um “parceiro global” da aliança militar.
“Continuaremos trabalhando em recuperar vínculos que permitam modernizar e capacitar nossas forças ao padrão da Otan”, escreveu Petri no X.
A Argentina é uma aliada extra-Otan desde 1998, mas desde o começo o governo Milei manifestava interesse em se tornar um parceiro global. Atualmente, a aliança militar transatlântica conta com um restrito grupo de nove países considerados parceiros globais, sendo a Colômbia a única nação latino-americana a alcançar esta condição em 2018.
Ao jornal argentino La Nacion, um membro da aliança Juntos pela Mudança comemorou o que pode ser a entrada do país ao “clube”, o que permitiria a incorporação de um adido militar argentino à sede da Otan em Bruxelas, com a vantagem de permitir intercâmbios com soldados de outros países.
No entanto, é possível que o Reino Unido, que faz parte da Otan com quem a Argentina mantém a disputa pela soberania das Ilhas Malvinas, bloqueie qualquer avanço do país na aliança.
Londres também já foi um empecilho para que a Argentina modernizasse as suas Forças Armadas, impedindo a compra dos caças suecos Gripen no ano passado e outros aviões durante a administração de Mauricio Macri. Luis Petri, no entanto, havia afirmado que o Reino Unido não bloquearia os F-16 por não haver componentes britânicos./Com AFP