TEL-AVIV - Em sua segunda viagem internacional desde que se tornou presidente da Argentina, Javier Milei pousou nesta terça-feira, 6, em Israel, onde confirmou seus planos de transferir a embaixada argentina de Tel-Aviv para Jerusalém. O libertário também anunciou que já tem pronto um decreto para caracterizar o Hamas como grupo terrorista.
“Obviamente que é meu plano mudar a embaixada para Jerusalém ocidental”, disse o mandatário quando o ministro israelense de Relações Exteriores, Israel Katz, o recebeu no aeroporto Ben Gurion, perto de Tel-Aviv. Milei se reuniu com o seu homólogo israelense, Isaac Herzog, nesta terça e deve se encontrar com o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu na quarta, 7.
Segundo o jornal argentino Clarín, citando pessoas próximas de Milei, ainda não há uma data definida para a mudança, mas o presidente espera, com o gesto, demonstrar “apoio ao povo de Israel e defender a legítima defesa do Estado israelense frente aos terroristas do Hamas”.
O gabinete de Netanyahu recebeu com satisfação o anúncio, que é considerado um apoio diplomático à reivindicação israelense sobre Jerusalém como sua capital indivisível.
O Hamas, mergulhado desde outubro em um guerra contra Israel em Gaza, território que governa desde 2007, reagiu ao anúncio condenando “energicamente” os planos do presidente argentino. “Seria um desrespeito aos direitos humanos do nosso povo palestino à sua terra, e uma violação às normas do direito internacional, considerando Jerusalém terra palestina ocupada”, afirmou o Hamas.
Atualmente, a embaixada argentina se encontra em Herzliya, perto de Tel-Aviv, onde se localiza a maioria das representações diplomáticas.
Se Milei cumprir sua promessa, a Argentina se tornaria um dos poucos países que têm sua principal missão diplomática em Jerusalém, ao invés de Tel-Aviv.
Os Estados Unidos mudaram a sua para a cidade em 2018 sob a presidência de Donald Trump após reconhecer a cidade como capital de Israel. Na época, o presidente Jair Bolsonaro sinalizou sua intenção de fazer o mesmo com a embaixada brasileira, mas a mudança nunca ocorreu.
As Nações Unidas concederam em 1947 um status internacional especial para Jerusalém dada a sua importância para judeus, cristãos e muçulmanos. Mas a cidade ficou dividida depois da guerra que ocorreu após a criação do Estado de Israel em 1948.
O país tomou Jerusalém Oriental da Jordânia durante a Guerra dos Seis Dias de junho de 1967 e depois a anexou, e considera toda a cidade como sua capital indivisível.
Jerusalém está sob autoridade israelense desde então, mas os palestinos reivindicam a parte oriental como capital de seu futuro Estado.
Milei também reforçou sua intenção de incluir o Hamas no Registro de Pessoas e Entidades ligadas a atos de Terrorismo (RePET na siga argentina), uma demanda da comunidade judaica na Argentina - a maior da América Latina - e uma exigência que ele próprio já fez quando era deputado na época do então presidente Alberto Fernández.
O governo argentino, porém, admitiu que ainda há questões burocráticas para a designação. De acordo com o Clarín, Milei instruiu o Ministro da Defesa, Luis Petri, para a elaboração dos termos do decreto que deverá assinar.
Antes de ser assinado pelo presidente, o decreto precisa ser revisado pelos ministérios das Relações Exteriores, Segurança - comandado por Patricia Bullrich - e Justiça, bem como pela agência de inteligência do país.
Após sua chegada, o presidente argentino visitou o Muro das Lamentações, em Jerusalém Oriental, local de oração mais sagrado para judeus, onde foi recebido por uma multidão. Alguns dos presentes gritaram seu lema de campanha “Viva la libertad, carajo!”, outros tremulavam bandeiras argentinas.
Durante sua viagem, Milei terá encontros com empresários e rabinos, visitará o museu do Holocausto, Yad Vashem, e irá a um dos kibutz atacados pelos comandos do Hamas, que, em 7 de outubro, lançaram um ataque surpresa no sul de Israel que deixou 1.160 mortos.
O mandatário argentino prevê se reunir com familiares de pessoas sequestradas pelo Hamas.
Em represália ao ataque do Hamas, Israel começou a bombardear a Faixa de Gaza no mesmo dia, e seus ataques aéreos e terrestres deixaram mais de 27.000 mortos até agora, segundo o Hamas.
De Israel, Milei viajará para a Itália, para se encontrar com o papa Francisco na segunda-feira no Vaticano e se reunir com o presidente italiano, Sergio Matarella, e com a primeira-ministra, Giorgia Meloni./Com AFP