A Espanha vai retirar “definitivamente” a sua embaixadora na Argentina, depois que o presidente do país, Javier Milei, se recusou a pedir desculpas após acusar Begoña Gómez, esposa do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, de ser “corrupta”, segundo o chanceler espanhol, José Manuel Albares.
“Anuncio que retiramos a nossa embaixadora em Buenos Aires, que já havia sido convocada para consultas no domingo, 19, e que ficará definitivamente em Madri, portanto a Argentina continuará sem embaixadora”, afirmou o ministro das Relações Exteriores da Espanha em uma coletiva de imprensa nesta terça-feira, 21.
Perguntado explicitamente sobre romper relações diplomáticas, o chanceler afirmou na rádio Cadena Ser que esta é uma possibilidade. “Se não houver um pedido público de desculpas, vamos fazer”, declarou Albares.
Na segunda-feira, 20, Sánchez havia acusado o presidente argentino de não estar “à altura” de seu cargo ao acusar a sua esposa de “corrupta”.
“Entre os governos, os afetos são livres, mas o respeito é irrenunciável, por isso pedimos ao atual presidente de Governo da República Argentina uma retificação pública”, disse Sánchez em um encontro empresarial em Madri.
Por sua vez, o porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, minimizou o episódio ao defini-lo como uma questão “entre pessoas e não entre países”.
Sem pedido de desculpas
Contudo, Milei se recusou a pedir desculpas. Ao desembarcar em Buenos Aires, o presidente argentino prosseguiu com as críticas a Sánchez, que chamou de “covarde”. “Não vou pedir desculpas de nenhum ponto de vista”, disse em entrevista ao canal TN. “Eu fui agredido”, afirmou, ao recordar que autoridades do governo espanhol o chamaram de “xenófobo, racista, ultradireitista, negacionista da ciência e misógino”.
O Governo argentino considera que Sánchez deveria pedir desculpas.
“Nenhum pedido de desculpas é necessário. Nenhuma desculpa. Pelo contrário, acredito que deveria haver vários pedidos de desculpas do governo espanhol pelas coisas que disseram sobre o presidente Milei”, declarou o ministro do Interior argentino, Guillermo Francos.
Desentendimento
Os desentendimentos entre Buenos Aires e Madri começaram no inicio deste mes, quando o ministro dos Transportes da Espanha, Oscar Puentes, afirmou que Milei poderia ser usuário de drogas.
“Vi Milei na TV. Não sei se foi antes ou depois de ingerir substâncias”, declarou o ministro em conferência organizada pelo Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). “Eu disse: ‘É impossível que ganhe as eleições.’”
O gabinete de Javier Milei reagiu de imediato e questionou as acusações de corrupção contra Begoña Gómez. Em um evento organizado pelo partido espanhol Vox no domingo, o libertário foi ainda mais enfático. “As elites globais não percebem o quão destrutivo pode ser implementar as ideias do socialismo, mesmo que você tenha a esposa corrupta, tire cinco dias para pensar sobre isso”, disse ele.
Saiba mais
Denúncias
Gómez está sendo investigada por sua suposta relação comercial com empresas que receberam ajuda do governo. O Ministério Público da Espanha pediu no mês passado que a investigação contra Begoña Gómez fosse arquivada. A denúncia levou o líder socialista a cancelar compromissos públicos e anunciar que estava considerando renunciar ao cargo.
A investigação foi motivada por denúncia da organização anticorrupção Mãos Limpas, cujo presidente, Miguel Bernad, tem vínculos com a extrema direita espanhola.
De acordo com o portal El Confidencial, o tribunal investigava as ligações de Gómez com o grupo espanhol Globalia, dono da aérea Air Europa, que negociava um socorro do governo durante a pandemia. A companhia recebeu uma linha de ajuda de 475 milhões de euros (R$ 2,7 bilhões na cotação da época), proveniente do fundo de 10 bilhões de euros destinado a apoiar empresas estratégicas em dificuldades durante a pandemia.
Após considerar a renúncia, Sánchez anunciou a permanência no cargo./com AFP