TBILISI - Milhares de manifestantes marcharam em direção ao Parlamento da Geórgia nesta quarta-feira, 8, protestando contra um projeto de lei sobre “agentes estrangeiros” que, segundo críticos, destaca o retrocesso democrático do país e o aproxima da Rússia. A votação ocorre em meio à guerra movida por Vladimir Putin contra a Ucrânia e as declarações do líder russo sobre afastar ex-repúblicas soviéticas da influência da União Europeia e dos EUA.
À medida que a noite avançava, um grupo de manifestantes tentou invadir o prédio do governo, mas foi repelido por policiais que usaram canhões de água, granadas de efeito moral e gás lacrimogêneo para afastar a multidão. As manifestações ocorreram um dia depois que policiais dispersaram outro grande ato no local.
A Geórgia, um país montanhoso de 3,6 milhões de habitantes, está estrategicamente posicionada no meio do Cáucaso, uma região que há séculos é palco de um cabo de guerra geopolítico entre Rússia, Turquia, Estados ocidentais e Irã. A guerra na Ucrânia exacerbou a política interna já polarizada na Geórgia, onde a oposição abertamente pró-Ocidente acusou o partido governista de estar do lado da Rússia.
Os manifestantes se concentraram em frente ao Parlamento, no centro da capital, e exibiram bandeiras da Geórgia e da União Europeia, bloco ao qual o país pretende aderir um dia.
O movimento se opõe a um projeto de lei que obriga organizações com mais de 20% da renda proveniente do exterior a se registrarem como “agentes estrangeiros”, sob pena de sanções. O texto foi aprovado pelos deputados em primeira votação.
A proposta é semelhante a uma lei aprovada em 2012 na Rússia, que silenciou vozes críticas, incluindo veículos e organizações de oposição.
“Esta lei é absolutamente inconstitucional e vai contra a vontade do povo georgiano de se tornar membro da UE”, disse o historiador Badri Okujava, de 26 anos.
“A ideologia deste governo está desconectada da civilização ocidental”, lamentou outro manifestante, Giorgi Labuchidze, de 33 anos.
Zelenski apoia oposição
Os manifestantes receberam o apoio do presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, que em seu discurso diário desejou “sucesso democrático” aos opositores georgianos.
Na terça-feira, um protesto contra esta medida terminou com a detenção de 77 pessoas. “Quase 50 policiais” foram feridos nestes protestos, dispersados com gás lacrimogêneo e canhões d’água, segundo o Ministério do Interior.
Segundo a pasta, na noite de terça-feira, os manifestantes lançaram pedras e coquetéis molotov contra a polícia em uma tentativa de “ataque organizado” ao Parlamento.
O principal partido de oposição incentivou a realização de novos protestos.
A presidente da Geórgia, Salomé Zourabichvili, disse que apoia os manifestantes, e o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, considerou que a lei é “incompatível com os valores e padrões” da UE.
A Geórgia apresentou sua candidatura à UE dias após o início da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022./AFP e NYT