BUENOS AIRES - Milhares de pessoas se reúnem nesta sexta-feira, 2, na Praça de Maio, centro de Buenos Aires, em um ato contra o atentado sofrido pela vice-presidente Cristina Kirchner. O presidente da Argentina, Alberto Fernández, decretou feriado nacional após o ataque para permitir que os argentinos manifestassem apoio à democracia. Cristina saudou seus apoiadores em sua primeira aparição após o episódio.
Na capital, organizações sociais, sindicais e políticas e cidadãos não vinculados a elas fizeram uma passeata por várias ruas em direção à Praça de Maio, para se concentrarem em frente à Casa Rosada, a sede do governo. O ataque ocorreu na noite de quinta-feira, 1º, quando um homem apontou uma arma à queima-roupa e tentou atirar no rosto de Kirchner na porta de sua casa no bairro da Recoleta, em Buenos Aires.
Em pronunciamento após o atentado, Alberto Fernández afirmou que considera o ataque o “acontecimento mais grave” na Argentina desde que o país voltou à democracia, em 1983, e decretou feriado para que os cidadãos do país possam expressar “em paz” sua rejeição à violência.
O governo justificou o feriado porque “a democracia se defende nas ruas”. “O governo decretou o feriado porque somos da geração que sabe que a democracia e a paz se defendem na rua, num grande abraço coletivo à nossa vice-presidente”, disse a porta-voz do governo, Gabriela Cerruti, a uma rádio argentina.
Para entender
Segundo o jornal Clarín, os manifestantes começaram a se reunir em frente à Casa Rosada às 10h da manhã portando bandeiras de apoio à Cristina. “Vou à Praça de Maio em primeiro lugar para apoiar a democracia, em segundo, em apoio a Cristina e em terceiro, para tentar alertar os argentinos para que não sigam este caminho”, disse à AFP manifestante Adriana Spina, professora aposentada de 61 anos.
Sob o lema “com a bandeira para defender a democracia”, manifestações também ocorrem em outras partes do país. O gabinete de Alberto Fernández informou que o presidente não irá comparecer à marcha.
No meio da tarde, Cristina saiu de casa pela primeira vez após o ataque sem fazer declarações, mas dedicando alguns momentos para cumprimentar seus apoiadores. Ela saiu com roupas confortáveis e cumprimentou animadamente seus apoiadores antes de entrar em um veículo preto cercada por ao menos cinco seguranças, segundo os veículos locais.
Marcha em solidariedade a Cristina Kirchner
Fernández foi à residência de Cristina poucas horas antes da vice-presidente fazer sua aparição pública, e lá permaneceu por pouco menos de uma hora antes de sair sem dar declarações.
O presidente convocou mais cedo representantes de sindicatos, entidades sociais, empresariais, de direitos humanos e de diferentes crenças religiosas para a Casa Rosada para uma reunião com o objetivo de “construir um consenso contra a violência”.
Atentado
O ataque ocorreu na noite de quinta-feira, quando Cristina cumprimentava apoiadores em frente à sua casa. O agressor, de nacionalidade brasileira, esgueirou-se entre a multidão de militantes que a esperavam para manifestar sua solidariedade à vice-presidente, em um ato que se repete todas as noites desde 22 de agosto, quando o Ministério Público pediu doze anos de prisão para ela em um julgamento em que é acusada de fraude e corrupção.
O homem apontou uma pistola para o rosto de Cristina, mas não houve disparo - a arma teria falhado, segundo a polícia. Autoridades argentinas identificaram esse homem, que foi preso, como o brasileiro Fernando Andrés Sabag Montiel, de 35 anos. Nascido em São Paulo, filho de um argentino e uma chilena, ele tem residência na Argentina desde a década de 1990 e já tinha antecedente criminal por portar armas não convencionais.
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As Nações Unidas ressaltaram nesta sexta-feira que é crucial uma investigação detalhada sobre o ataque à vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner
Promotores encarregados da investigação fizeram uma inspeção na área onde ocorreu o ataque. O tribunal começou a receber as primeiras declarações de testemunhas, além de policiais e membros da segurança da vice-presidente. Mais tarde, a juíza foi à casa de Kirchner para ouvi-la.
A polícia federal invadiu um apartamento nos arredores de Buenos Aires, alugado pelo agressor há oito meses, segundo o proprietário. Duas caixas de 50 balas cada foram encontradas no local, disse uma fonte policial à imprensa./AFP e EFE