Militares de Israel vão às ruas contra plano de Netanyahu de diminuir independência do Judiciário


Processo provoca resistência sem precedentes dentro das Forças Armadas, um dos pilares da sociedade israelense na qual a maioria é obrigada a servir aos 18 anos

Por Redação
Atualização:

JERUSALÉM - Cem soldados da ativa, da reserva e veteranos das unidades de combate de elite de Israel protestaram agitando bandeiras israelenses na manhã desta quinta-feira, 9, em frente aos escritórios, em Jerusalém, do Kohelet Policy Forum, a organização de extrema direita que é a principal arquiteta do contencioso plano do governo para enfraquecer o Tribunal Supremo.

A polícia prendeu sete participantes, incluindo um comandante encarregado da seleção de soldados para a prestigiosa unidade de reconhecimento Sayeret Matkal – a mesma em que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu serviu.

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Eshel Kleinhaus, ex-comandante da unidade militar de operações especiais Sayeret Shaldag de Israel, estava entre os participantes do protesto. Ele lutou contra atiradores do Hezbollah no Líbano e militantes palestinos na Cisjordânia.

Mas nada o preparou para sua missão atual: impedir que o novo governo de extrema direita de Israel reformule o Judiciário para diminuir sua independência, uma medida que ele diz que colocará seu país no caminho da autocracia. “Essa luta é muito, muito mais difícil porque, no final, ninguém vai para casa”, disse ele.

Manifestantes com bandeiras de Israel bloqueiam a via Ayalon em Tel-Aviv em protesto contra o governo Foto: Abir Sultan/EFE - 9/3/2023
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Velhos amigos do Exército se abraçaram. Alto-falantes gritavam slogans de solidariedade. Os manifestantes empilharam sacos de lixo cheios de dinheiro falso e cartazes dizendo “Kohelet está fechado” nas principais portas do escritório.

O evento pela manhã deu início a mais um dia de manifestações em todo o país, com dezenas de milhares inundando as ruas e paralisando o tráfego em Tel-Aviv. Milhares de policiais foram mobilizados perto do aeroporto internacional, onde os manifestantes pretendiam interromper a viagem de Netanyahu a Roma, uma de suas primeiras visitas internacionais desde que assumiu o cargo no fim de dezembro.

Netanyahu foi forçado a viajar de helicóptero até o aeroporto para evitar os manifestantes e se encontrar com o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, dentro do aeroporto, em vez de no Ministério da Defesa em Tel-Aviv, como planejado originalmente.

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Crise dupla

A visita de Austin ocorreu em um momento de uma crise dupla para Netanyahu, que enfrenta protestos crescentes sobre seus planos de reestruturar radicalmente os tribunais israelenses e aumentar a violência na Cisjordânia.

Na manhã de quinta-feira, pelo menos três militantes palestinos foram mortos em um tiroteio com tropas israelenses na cidade de Jenin, na Cisjordânia, elevando o número de palestinos mortos para pelo menos 74 desde o início do ano. Quatorze israelenses foram mortos por palestinos no mesmo período.

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Pela noite, ainda nesta quinta-feira, três pessoas foram feridas a tiros em Tel-Aviv, em um suposto “ataque terrorista”, como informou uma nota da polícia israelense. O incidente ocorreu quando “um suspeito abriu fogo contra um pedestre antes de ser neutralizado” pelos agentes, segundo o comunicado. Os três feridos foram levados para um hospital.

Na reunião de uma hora, Austin pediu medidas imediatas para reduzir a violência e trabalhar para uma “paz justa e duradoura”, de acordo com o Pentágono.

Em uma declaração transmitida do aeroporto, Netanyahu não disse nada sobre a deterioração da situação na Cisjordânia e acusou a oposição de tentar mergulhar o país na “anarquia” por se recusar a negociar a reforma judicial.

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Manifestantes jogam dinheiro falso em frente ao escritório do Kohelet Policy Forum, em Jerusalém  Foto: Abir Sultan/EFE - 9/3/2023

Eran Gal, de 44 anos, um reservista do Sayeret Shaldag que compareceu ao protesto de Kohelet, disse que o Dia da Oposição de quinta-feira foi uma das únicas ferramentas de resistência que restaram para obrigar o governo de Netanyahu a recuar.

Mas ele e muitos outros parecem preparados para dar outro passo que nunca teriam considerado antes: recusar-se a servir na reserva militar da qual depende o relativamente pequeno Exército de Israel.

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“O Exército não é sacrossanto”, disse Gal, com lágrimas nos olhos. “É a casa pela qual estamos lutando, isso é sacrossanto. É por isso que estamos dispostos a sair e ser mortos, e para matar, o que não é uma coisa simples.”

A ameaça de perder militares em um momento de violência crescente estimulou raras declarações públicas de oficiais militares que antes aderiam estritamente a uma política de não intervenção na política israelense. Eles estão agora no modo de controle de danos, reunindo-se com grupos de reservistas esta semana em um esforço para manter sua confiança.

“Os reservistas são uma parte inseparável das IDFs [Forças de Defesa de Israel]”, disse seu chefe de gabinete, Herzi Halevy, a dezenas de comandantes de reserva das Forças Terrestres de Israel, do Diretório de Inteligência Militar, da Força Aérea de Israel e da Marinha de Israel na quarta-feira. “Certas divisões podem se formar e serão irreparáveis no futuro.”

A revisão judicial de Netanyahu visa enfraquecer a Suprema Corte, conceder poder virtualmente desenfreado à coalizão governante e potencialmente livrar o primeiro-ministro da acusação em seu julgamento por corrupção em andamento.

O processo provocou uma resistência sem precedentes dentro das Forças Armadas, um dos pilares da sociedade israelense – a maioria da população é obrigada a servir aos 18 anos e como reservistas por décadas depois.

Tehilla Shwartz Altshuler, membro sênior do Instituto de Democracia de Israel, disse que os elementos básicos da revisão judicial foram emprestados da Hungria e da Polônia, dois países que passaram a ser não liberais - com governos populistas que desmontam os sistemas de freios e contrapesos.

“Mas há um sentimento entre os israelenses de que o governo espera que doemos nosso tempo e arrisquemos nossas vidas durante o próximo conflito com nossos vizinhos”, acrescentou ela, “e isso lhes dá a capacidade moral de dizer coisas que não poderiam ser ditas em Hungria e Polônia”.

Risco às Forças Armadas

Na quarta-feira, 37 dos 40 pilotos reservas do 69º esquadrão de caça de elite da Força Aérea se recusaram a participar de um treinamento de combate programado. Outras centenas, incluindo membros da unidade de inteligência de elite 8200 de Israel, pessoal médico e outros combatentes, também prometeram resistir ao serviço de reserva.

Ophir Bear, de 51 anos, que serviu como piloto de combate por 30 anos, disse que a tentativa do governo de enfraquecer os tribunais pode acabar enfraquecendo as Forças Armadas.

Em muitas missões precárias, incluindo contra alvos militantes localizados entre populações civis, “o Judiciário sempre esteve presente – para nos moderar, para garantir que obedecêssemos aos critérios exigidos pelos padrões internacionais, que não cometêssemos crimes de guerra”, afirmou. “Perder isso é o risco central.”

Ele também teme que, se a Suprema Corte – que aconselha oficiais sobre o direito internacional e investiga atividades militares – for vista como ilegítima, isso poderia sujeitar os soldados ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, que grupos de direitos humanos e autoridades palestinas há muito defendem.

Bear se juntará a outros dois ex-líderes militares em uma viagem aos EUA na próxima semana, onde esperam ganhar o apoio de líderes da comunidade judaica e membros do Congresso.

Shlomo Karhi, ministro das comunicações do partido Likud de Netanyahu, disse aos opositores militares na segunda-feira: “Israel não precisa de vocês e vocês podem ir para o inferno”.

Na semana passada, Netanyahu comparou os quase 200 mil manifestantes que inundaram as ruas de Tel-Aviv com as centenas de colonos que embarcaram em um ataque vingativo pela cidade palestina de Huwara no início da semana, incendiando carros, empresas e casas, incluindo muitos com crianças dentro, e atacando moradores.

“Não aceitaremos violência em Huwara e não aceitaremos violência em Tel-Aviv”, disse Netanyahu. Dias depois, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, que também supervisiona a segurança na Cisjordânia ocupada, disse: “Huwara deveria ser exterminada. Acho que o Estado de Israel deveria fazer isso”.

Yoav Rosenberg, que serviu no Exército israelense por 25 anos, disse que a declaração de Smotrich foi “um presente” porque mostrou que os ministros de mais alto escalão de Israel apoiam crimes de guerra. “Não se trata de lei”, disse ele. “Trata-se de mudar as regras do jogo.”/ COM AFP

JERUSALÉM - Cem soldados da ativa, da reserva e veteranos das unidades de combate de elite de Israel protestaram agitando bandeiras israelenses na manhã desta quinta-feira, 9, em frente aos escritórios, em Jerusalém, do Kohelet Policy Forum, a organização de extrema direita que é a principal arquiteta do contencioso plano do governo para enfraquecer o Tribunal Supremo.

A polícia prendeu sete participantes, incluindo um comandante encarregado da seleção de soldados para a prestigiosa unidade de reconhecimento Sayeret Matkal – a mesma em que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu serviu.

Eshel Kleinhaus, ex-comandante da unidade militar de operações especiais Sayeret Shaldag de Israel, estava entre os participantes do protesto. Ele lutou contra atiradores do Hezbollah no Líbano e militantes palestinos na Cisjordânia.

Mas nada o preparou para sua missão atual: impedir que o novo governo de extrema direita de Israel reformule o Judiciário para diminuir sua independência, uma medida que ele diz que colocará seu país no caminho da autocracia. “Essa luta é muito, muito mais difícil porque, no final, ninguém vai para casa”, disse ele.

Manifestantes com bandeiras de Israel bloqueiam a via Ayalon em Tel-Aviv em protesto contra o governo Foto: Abir Sultan/EFE - 9/3/2023

Velhos amigos do Exército se abraçaram. Alto-falantes gritavam slogans de solidariedade. Os manifestantes empilharam sacos de lixo cheios de dinheiro falso e cartazes dizendo “Kohelet está fechado” nas principais portas do escritório.

O evento pela manhã deu início a mais um dia de manifestações em todo o país, com dezenas de milhares inundando as ruas e paralisando o tráfego em Tel-Aviv. Milhares de policiais foram mobilizados perto do aeroporto internacional, onde os manifestantes pretendiam interromper a viagem de Netanyahu a Roma, uma de suas primeiras visitas internacionais desde que assumiu o cargo no fim de dezembro.

Netanyahu foi forçado a viajar de helicóptero até o aeroporto para evitar os manifestantes e se encontrar com o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, dentro do aeroporto, em vez de no Ministério da Defesa em Tel-Aviv, como planejado originalmente.

Crise dupla

A visita de Austin ocorreu em um momento de uma crise dupla para Netanyahu, que enfrenta protestos crescentes sobre seus planos de reestruturar radicalmente os tribunais israelenses e aumentar a violência na Cisjordânia.

Na manhã de quinta-feira, pelo menos três militantes palestinos foram mortos em um tiroteio com tropas israelenses na cidade de Jenin, na Cisjordânia, elevando o número de palestinos mortos para pelo menos 74 desde o início do ano. Quatorze israelenses foram mortos por palestinos no mesmo período.

Pela noite, ainda nesta quinta-feira, três pessoas foram feridas a tiros em Tel-Aviv, em um suposto “ataque terrorista”, como informou uma nota da polícia israelense. O incidente ocorreu quando “um suspeito abriu fogo contra um pedestre antes de ser neutralizado” pelos agentes, segundo o comunicado. Os três feridos foram levados para um hospital.

Na reunião de uma hora, Austin pediu medidas imediatas para reduzir a violência e trabalhar para uma “paz justa e duradoura”, de acordo com o Pentágono.

Em uma declaração transmitida do aeroporto, Netanyahu não disse nada sobre a deterioração da situação na Cisjordânia e acusou a oposição de tentar mergulhar o país na “anarquia” por se recusar a negociar a reforma judicial.

Manifestantes jogam dinheiro falso em frente ao escritório do Kohelet Policy Forum, em Jerusalém  Foto: Abir Sultan/EFE - 9/3/2023

Eran Gal, de 44 anos, um reservista do Sayeret Shaldag que compareceu ao protesto de Kohelet, disse que o Dia da Oposição de quinta-feira foi uma das únicas ferramentas de resistência que restaram para obrigar o governo de Netanyahu a recuar.

Mas ele e muitos outros parecem preparados para dar outro passo que nunca teriam considerado antes: recusar-se a servir na reserva militar da qual depende o relativamente pequeno Exército de Israel.

“O Exército não é sacrossanto”, disse Gal, com lágrimas nos olhos. “É a casa pela qual estamos lutando, isso é sacrossanto. É por isso que estamos dispostos a sair e ser mortos, e para matar, o que não é uma coisa simples.”

A ameaça de perder militares em um momento de violência crescente estimulou raras declarações públicas de oficiais militares que antes aderiam estritamente a uma política de não intervenção na política israelense. Eles estão agora no modo de controle de danos, reunindo-se com grupos de reservistas esta semana em um esforço para manter sua confiança.

“Os reservistas são uma parte inseparável das IDFs [Forças de Defesa de Israel]”, disse seu chefe de gabinete, Herzi Halevy, a dezenas de comandantes de reserva das Forças Terrestres de Israel, do Diretório de Inteligência Militar, da Força Aérea de Israel e da Marinha de Israel na quarta-feira. “Certas divisões podem se formar e serão irreparáveis no futuro.”

A revisão judicial de Netanyahu visa enfraquecer a Suprema Corte, conceder poder virtualmente desenfreado à coalizão governante e potencialmente livrar o primeiro-ministro da acusação em seu julgamento por corrupção em andamento.

O processo provocou uma resistência sem precedentes dentro das Forças Armadas, um dos pilares da sociedade israelense – a maioria da população é obrigada a servir aos 18 anos e como reservistas por décadas depois.

Tehilla Shwartz Altshuler, membro sênior do Instituto de Democracia de Israel, disse que os elementos básicos da revisão judicial foram emprestados da Hungria e da Polônia, dois países que passaram a ser não liberais - com governos populistas que desmontam os sistemas de freios e contrapesos.

“Mas há um sentimento entre os israelenses de que o governo espera que doemos nosso tempo e arrisquemos nossas vidas durante o próximo conflito com nossos vizinhos”, acrescentou ela, “e isso lhes dá a capacidade moral de dizer coisas que não poderiam ser ditas em Hungria e Polônia”.

Risco às Forças Armadas

Na quarta-feira, 37 dos 40 pilotos reservas do 69º esquadrão de caça de elite da Força Aérea se recusaram a participar de um treinamento de combate programado. Outras centenas, incluindo membros da unidade de inteligência de elite 8200 de Israel, pessoal médico e outros combatentes, também prometeram resistir ao serviço de reserva.

Ophir Bear, de 51 anos, que serviu como piloto de combate por 30 anos, disse que a tentativa do governo de enfraquecer os tribunais pode acabar enfraquecendo as Forças Armadas.

Em muitas missões precárias, incluindo contra alvos militantes localizados entre populações civis, “o Judiciário sempre esteve presente – para nos moderar, para garantir que obedecêssemos aos critérios exigidos pelos padrões internacionais, que não cometêssemos crimes de guerra”, afirmou. “Perder isso é o risco central.”

Ele também teme que, se a Suprema Corte – que aconselha oficiais sobre o direito internacional e investiga atividades militares – for vista como ilegítima, isso poderia sujeitar os soldados ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, que grupos de direitos humanos e autoridades palestinas há muito defendem.

Bear se juntará a outros dois ex-líderes militares em uma viagem aos EUA na próxima semana, onde esperam ganhar o apoio de líderes da comunidade judaica e membros do Congresso.

Shlomo Karhi, ministro das comunicações do partido Likud de Netanyahu, disse aos opositores militares na segunda-feira: “Israel não precisa de vocês e vocês podem ir para o inferno”.

Na semana passada, Netanyahu comparou os quase 200 mil manifestantes que inundaram as ruas de Tel-Aviv com as centenas de colonos que embarcaram em um ataque vingativo pela cidade palestina de Huwara no início da semana, incendiando carros, empresas e casas, incluindo muitos com crianças dentro, e atacando moradores.

“Não aceitaremos violência em Huwara e não aceitaremos violência em Tel-Aviv”, disse Netanyahu. Dias depois, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, que também supervisiona a segurança na Cisjordânia ocupada, disse: “Huwara deveria ser exterminada. Acho que o Estado de Israel deveria fazer isso”.

Yoav Rosenberg, que serviu no Exército israelense por 25 anos, disse que a declaração de Smotrich foi “um presente” porque mostrou que os ministros de mais alto escalão de Israel apoiam crimes de guerra. “Não se trata de lei”, disse ele. “Trata-se de mudar as regras do jogo.”/ COM AFP

JERUSALÉM - Cem soldados da ativa, da reserva e veteranos das unidades de combate de elite de Israel protestaram agitando bandeiras israelenses na manhã desta quinta-feira, 9, em frente aos escritórios, em Jerusalém, do Kohelet Policy Forum, a organização de extrema direita que é a principal arquiteta do contencioso plano do governo para enfraquecer o Tribunal Supremo.

A polícia prendeu sete participantes, incluindo um comandante encarregado da seleção de soldados para a prestigiosa unidade de reconhecimento Sayeret Matkal – a mesma em que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu serviu.

Eshel Kleinhaus, ex-comandante da unidade militar de operações especiais Sayeret Shaldag de Israel, estava entre os participantes do protesto. Ele lutou contra atiradores do Hezbollah no Líbano e militantes palestinos na Cisjordânia.

Mas nada o preparou para sua missão atual: impedir que o novo governo de extrema direita de Israel reformule o Judiciário para diminuir sua independência, uma medida que ele diz que colocará seu país no caminho da autocracia. “Essa luta é muito, muito mais difícil porque, no final, ninguém vai para casa”, disse ele.

Manifestantes com bandeiras de Israel bloqueiam a via Ayalon em Tel-Aviv em protesto contra o governo Foto: Abir Sultan/EFE - 9/3/2023

Velhos amigos do Exército se abraçaram. Alto-falantes gritavam slogans de solidariedade. Os manifestantes empilharam sacos de lixo cheios de dinheiro falso e cartazes dizendo “Kohelet está fechado” nas principais portas do escritório.

O evento pela manhã deu início a mais um dia de manifestações em todo o país, com dezenas de milhares inundando as ruas e paralisando o tráfego em Tel-Aviv. Milhares de policiais foram mobilizados perto do aeroporto internacional, onde os manifestantes pretendiam interromper a viagem de Netanyahu a Roma, uma de suas primeiras visitas internacionais desde que assumiu o cargo no fim de dezembro.

Netanyahu foi forçado a viajar de helicóptero até o aeroporto para evitar os manifestantes e se encontrar com o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, dentro do aeroporto, em vez de no Ministério da Defesa em Tel-Aviv, como planejado originalmente.

Crise dupla

A visita de Austin ocorreu em um momento de uma crise dupla para Netanyahu, que enfrenta protestos crescentes sobre seus planos de reestruturar radicalmente os tribunais israelenses e aumentar a violência na Cisjordânia.

Na manhã de quinta-feira, pelo menos três militantes palestinos foram mortos em um tiroteio com tropas israelenses na cidade de Jenin, na Cisjordânia, elevando o número de palestinos mortos para pelo menos 74 desde o início do ano. Quatorze israelenses foram mortos por palestinos no mesmo período.

Pela noite, ainda nesta quinta-feira, três pessoas foram feridas a tiros em Tel-Aviv, em um suposto “ataque terrorista”, como informou uma nota da polícia israelense. O incidente ocorreu quando “um suspeito abriu fogo contra um pedestre antes de ser neutralizado” pelos agentes, segundo o comunicado. Os três feridos foram levados para um hospital.

Na reunião de uma hora, Austin pediu medidas imediatas para reduzir a violência e trabalhar para uma “paz justa e duradoura”, de acordo com o Pentágono.

Em uma declaração transmitida do aeroporto, Netanyahu não disse nada sobre a deterioração da situação na Cisjordânia e acusou a oposição de tentar mergulhar o país na “anarquia” por se recusar a negociar a reforma judicial.

Manifestantes jogam dinheiro falso em frente ao escritório do Kohelet Policy Forum, em Jerusalém  Foto: Abir Sultan/EFE - 9/3/2023

Eran Gal, de 44 anos, um reservista do Sayeret Shaldag que compareceu ao protesto de Kohelet, disse que o Dia da Oposição de quinta-feira foi uma das únicas ferramentas de resistência que restaram para obrigar o governo de Netanyahu a recuar.

Mas ele e muitos outros parecem preparados para dar outro passo que nunca teriam considerado antes: recusar-se a servir na reserva militar da qual depende o relativamente pequeno Exército de Israel.

“O Exército não é sacrossanto”, disse Gal, com lágrimas nos olhos. “É a casa pela qual estamos lutando, isso é sacrossanto. É por isso que estamos dispostos a sair e ser mortos, e para matar, o que não é uma coisa simples.”

A ameaça de perder militares em um momento de violência crescente estimulou raras declarações públicas de oficiais militares que antes aderiam estritamente a uma política de não intervenção na política israelense. Eles estão agora no modo de controle de danos, reunindo-se com grupos de reservistas esta semana em um esforço para manter sua confiança.

“Os reservistas são uma parte inseparável das IDFs [Forças de Defesa de Israel]”, disse seu chefe de gabinete, Herzi Halevy, a dezenas de comandantes de reserva das Forças Terrestres de Israel, do Diretório de Inteligência Militar, da Força Aérea de Israel e da Marinha de Israel na quarta-feira. “Certas divisões podem se formar e serão irreparáveis no futuro.”

A revisão judicial de Netanyahu visa enfraquecer a Suprema Corte, conceder poder virtualmente desenfreado à coalizão governante e potencialmente livrar o primeiro-ministro da acusação em seu julgamento por corrupção em andamento.

O processo provocou uma resistência sem precedentes dentro das Forças Armadas, um dos pilares da sociedade israelense – a maioria da população é obrigada a servir aos 18 anos e como reservistas por décadas depois.

Tehilla Shwartz Altshuler, membro sênior do Instituto de Democracia de Israel, disse que os elementos básicos da revisão judicial foram emprestados da Hungria e da Polônia, dois países que passaram a ser não liberais - com governos populistas que desmontam os sistemas de freios e contrapesos.

“Mas há um sentimento entre os israelenses de que o governo espera que doemos nosso tempo e arrisquemos nossas vidas durante o próximo conflito com nossos vizinhos”, acrescentou ela, “e isso lhes dá a capacidade moral de dizer coisas que não poderiam ser ditas em Hungria e Polônia”.

Risco às Forças Armadas

Na quarta-feira, 37 dos 40 pilotos reservas do 69º esquadrão de caça de elite da Força Aérea se recusaram a participar de um treinamento de combate programado. Outras centenas, incluindo membros da unidade de inteligência de elite 8200 de Israel, pessoal médico e outros combatentes, também prometeram resistir ao serviço de reserva.

Ophir Bear, de 51 anos, que serviu como piloto de combate por 30 anos, disse que a tentativa do governo de enfraquecer os tribunais pode acabar enfraquecendo as Forças Armadas.

Em muitas missões precárias, incluindo contra alvos militantes localizados entre populações civis, “o Judiciário sempre esteve presente – para nos moderar, para garantir que obedecêssemos aos critérios exigidos pelos padrões internacionais, que não cometêssemos crimes de guerra”, afirmou. “Perder isso é o risco central.”

Ele também teme que, se a Suprema Corte – que aconselha oficiais sobre o direito internacional e investiga atividades militares – for vista como ilegítima, isso poderia sujeitar os soldados ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, que grupos de direitos humanos e autoridades palestinas há muito defendem.

Bear se juntará a outros dois ex-líderes militares em uma viagem aos EUA na próxima semana, onde esperam ganhar o apoio de líderes da comunidade judaica e membros do Congresso.

Shlomo Karhi, ministro das comunicações do partido Likud de Netanyahu, disse aos opositores militares na segunda-feira: “Israel não precisa de vocês e vocês podem ir para o inferno”.

Na semana passada, Netanyahu comparou os quase 200 mil manifestantes que inundaram as ruas de Tel-Aviv com as centenas de colonos que embarcaram em um ataque vingativo pela cidade palestina de Huwara no início da semana, incendiando carros, empresas e casas, incluindo muitos com crianças dentro, e atacando moradores.

“Não aceitaremos violência em Huwara e não aceitaremos violência em Tel-Aviv”, disse Netanyahu. Dias depois, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, que também supervisiona a segurança na Cisjordânia ocupada, disse: “Huwara deveria ser exterminada. Acho que o Estado de Israel deveria fazer isso”.

Yoav Rosenberg, que serviu no Exército israelense por 25 anos, disse que a declaração de Smotrich foi “um presente” porque mostrou que os ministros de mais alto escalão de Israel apoiam crimes de guerra. “Não se trata de lei”, disse ele. “Trata-se de mudar as regras do jogo.”/ COM AFP

JERUSALÉM - Cem soldados da ativa, da reserva e veteranos das unidades de combate de elite de Israel protestaram agitando bandeiras israelenses na manhã desta quinta-feira, 9, em frente aos escritórios, em Jerusalém, do Kohelet Policy Forum, a organização de extrema direita que é a principal arquiteta do contencioso plano do governo para enfraquecer o Tribunal Supremo.

A polícia prendeu sete participantes, incluindo um comandante encarregado da seleção de soldados para a prestigiosa unidade de reconhecimento Sayeret Matkal – a mesma em que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu serviu.

Eshel Kleinhaus, ex-comandante da unidade militar de operações especiais Sayeret Shaldag de Israel, estava entre os participantes do protesto. Ele lutou contra atiradores do Hezbollah no Líbano e militantes palestinos na Cisjordânia.

Mas nada o preparou para sua missão atual: impedir que o novo governo de extrema direita de Israel reformule o Judiciário para diminuir sua independência, uma medida que ele diz que colocará seu país no caminho da autocracia. “Essa luta é muito, muito mais difícil porque, no final, ninguém vai para casa”, disse ele.

Manifestantes com bandeiras de Israel bloqueiam a via Ayalon em Tel-Aviv em protesto contra o governo Foto: Abir Sultan/EFE - 9/3/2023

Velhos amigos do Exército se abraçaram. Alto-falantes gritavam slogans de solidariedade. Os manifestantes empilharam sacos de lixo cheios de dinheiro falso e cartazes dizendo “Kohelet está fechado” nas principais portas do escritório.

O evento pela manhã deu início a mais um dia de manifestações em todo o país, com dezenas de milhares inundando as ruas e paralisando o tráfego em Tel-Aviv. Milhares de policiais foram mobilizados perto do aeroporto internacional, onde os manifestantes pretendiam interromper a viagem de Netanyahu a Roma, uma de suas primeiras visitas internacionais desde que assumiu o cargo no fim de dezembro.

Netanyahu foi forçado a viajar de helicóptero até o aeroporto para evitar os manifestantes e se encontrar com o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, dentro do aeroporto, em vez de no Ministério da Defesa em Tel-Aviv, como planejado originalmente.

Crise dupla

A visita de Austin ocorreu em um momento de uma crise dupla para Netanyahu, que enfrenta protestos crescentes sobre seus planos de reestruturar radicalmente os tribunais israelenses e aumentar a violência na Cisjordânia.

Na manhã de quinta-feira, pelo menos três militantes palestinos foram mortos em um tiroteio com tropas israelenses na cidade de Jenin, na Cisjordânia, elevando o número de palestinos mortos para pelo menos 74 desde o início do ano. Quatorze israelenses foram mortos por palestinos no mesmo período.

Pela noite, ainda nesta quinta-feira, três pessoas foram feridas a tiros em Tel-Aviv, em um suposto “ataque terrorista”, como informou uma nota da polícia israelense. O incidente ocorreu quando “um suspeito abriu fogo contra um pedestre antes de ser neutralizado” pelos agentes, segundo o comunicado. Os três feridos foram levados para um hospital.

Na reunião de uma hora, Austin pediu medidas imediatas para reduzir a violência e trabalhar para uma “paz justa e duradoura”, de acordo com o Pentágono.

Em uma declaração transmitida do aeroporto, Netanyahu não disse nada sobre a deterioração da situação na Cisjordânia e acusou a oposição de tentar mergulhar o país na “anarquia” por se recusar a negociar a reforma judicial.

Manifestantes jogam dinheiro falso em frente ao escritório do Kohelet Policy Forum, em Jerusalém  Foto: Abir Sultan/EFE - 9/3/2023

Eran Gal, de 44 anos, um reservista do Sayeret Shaldag que compareceu ao protesto de Kohelet, disse que o Dia da Oposição de quinta-feira foi uma das únicas ferramentas de resistência que restaram para obrigar o governo de Netanyahu a recuar.

Mas ele e muitos outros parecem preparados para dar outro passo que nunca teriam considerado antes: recusar-se a servir na reserva militar da qual depende o relativamente pequeno Exército de Israel.

“O Exército não é sacrossanto”, disse Gal, com lágrimas nos olhos. “É a casa pela qual estamos lutando, isso é sacrossanto. É por isso que estamos dispostos a sair e ser mortos, e para matar, o que não é uma coisa simples.”

A ameaça de perder militares em um momento de violência crescente estimulou raras declarações públicas de oficiais militares que antes aderiam estritamente a uma política de não intervenção na política israelense. Eles estão agora no modo de controle de danos, reunindo-se com grupos de reservistas esta semana em um esforço para manter sua confiança.

“Os reservistas são uma parte inseparável das IDFs [Forças de Defesa de Israel]”, disse seu chefe de gabinete, Herzi Halevy, a dezenas de comandantes de reserva das Forças Terrestres de Israel, do Diretório de Inteligência Militar, da Força Aérea de Israel e da Marinha de Israel na quarta-feira. “Certas divisões podem se formar e serão irreparáveis no futuro.”

A revisão judicial de Netanyahu visa enfraquecer a Suprema Corte, conceder poder virtualmente desenfreado à coalizão governante e potencialmente livrar o primeiro-ministro da acusação em seu julgamento por corrupção em andamento.

O processo provocou uma resistência sem precedentes dentro das Forças Armadas, um dos pilares da sociedade israelense – a maioria da população é obrigada a servir aos 18 anos e como reservistas por décadas depois.

Tehilla Shwartz Altshuler, membro sênior do Instituto de Democracia de Israel, disse que os elementos básicos da revisão judicial foram emprestados da Hungria e da Polônia, dois países que passaram a ser não liberais - com governos populistas que desmontam os sistemas de freios e contrapesos.

“Mas há um sentimento entre os israelenses de que o governo espera que doemos nosso tempo e arrisquemos nossas vidas durante o próximo conflito com nossos vizinhos”, acrescentou ela, “e isso lhes dá a capacidade moral de dizer coisas que não poderiam ser ditas em Hungria e Polônia”.

Risco às Forças Armadas

Na quarta-feira, 37 dos 40 pilotos reservas do 69º esquadrão de caça de elite da Força Aérea se recusaram a participar de um treinamento de combate programado. Outras centenas, incluindo membros da unidade de inteligência de elite 8200 de Israel, pessoal médico e outros combatentes, também prometeram resistir ao serviço de reserva.

Ophir Bear, de 51 anos, que serviu como piloto de combate por 30 anos, disse que a tentativa do governo de enfraquecer os tribunais pode acabar enfraquecendo as Forças Armadas.

Em muitas missões precárias, incluindo contra alvos militantes localizados entre populações civis, “o Judiciário sempre esteve presente – para nos moderar, para garantir que obedecêssemos aos critérios exigidos pelos padrões internacionais, que não cometêssemos crimes de guerra”, afirmou. “Perder isso é o risco central.”

Ele também teme que, se a Suprema Corte – que aconselha oficiais sobre o direito internacional e investiga atividades militares – for vista como ilegítima, isso poderia sujeitar os soldados ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, que grupos de direitos humanos e autoridades palestinas há muito defendem.

Bear se juntará a outros dois ex-líderes militares em uma viagem aos EUA na próxima semana, onde esperam ganhar o apoio de líderes da comunidade judaica e membros do Congresso.

Shlomo Karhi, ministro das comunicações do partido Likud de Netanyahu, disse aos opositores militares na segunda-feira: “Israel não precisa de vocês e vocês podem ir para o inferno”.

Na semana passada, Netanyahu comparou os quase 200 mil manifestantes que inundaram as ruas de Tel-Aviv com as centenas de colonos que embarcaram em um ataque vingativo pela cidade palestina de Huwara no início da semana, incendiando carros, empresas e casas, incluindo muitos com crianças dentro, e atacando moradores.

“Não aceitaremos violência em Huwara e não aceitaremos violência em Tel-Aviv”, disse Netanyahu. Dias depois, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, que também supervisiona a segurança na Cisjordânia ocupada, disse: “Huwara deveria ser exterminada. Acho que o Estado de Israel deveria fazer isso”.

Yoav Rosenberg, que serviu no Exército israelense por 25 anos, disse que a declaração de Smotrich foi “um presente” porque mostrou que os ministros de mais alto escalão de Israel apoiam crimes de guerra. “Não se trata de lei”, disse ele. “Trata-se de mudar as regras do jogo.”/ COM AFP

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