TÓQUIO - A Coreia do Norte teve um mês de janeiro movimentado, com seu ápice no domingo com o sétimo teste de míssil - o de maior alcance lançado em anos - à medida que país busca consolidar um arsenal sofisticado. A Coreia do Norte anunciou nesta segunda-feira, 31, que testou o Hwasong-12, um míssil balístico de alcance intermediário, para “verificar a precisão geral do sistema de armas”. Foi o primeiro teste desde 2017 do projétil capaz de atingir o território americano de Guam, localizado no Oceano Pacífico ocidental.
Os testes podem desacelerar em fevereiro, com alguns analistas esperando que a Coreia do Norte faça uma pausa com o início dos Jogos de Inverno de Pequim no fim de semana, para evitar cruzar a China, seu principal aliado econômico e de segurança.
Desde setembro passado, Pyongyang realizou uma enxurrada de testes destinados a diversificar e expandir seu arsenal com uma variedade de novos sistemas de mísseis, como parte do plano de cinco anos do líder Kim Jong-un de expandir seu arsenal nuclear.
Esses testes se tornaram tão rotineiros que raramente aparecem na primeira página dos jornais estatais hoje em dia. De acordo com a NK News, janeiro empatou o recorde estabelecido em meados de 2019 para o maior número de lançamentos de teste em um período de 30 dias.
Testes de mísseis podem servir a muitos propósitos, desde melhorar as capacidades técnicas de novos mísseis ou fazer o controle de qualidade de sistemas existentes, até enviar uma mensagem política doméstica de que o regime está cuidando de seu povo – apesar da deterioração da economia causada por sua política rígida e pelo bloqueio de fronteira estabelecido por causa da pandemia que prejudicou o fluxo de alimentos e de caixa.
Os testes também servem como um lembrete da falta de progresso no início das negociações diplomáticas com o regime – após o colapso das negociações nucleares EUA-Coreia do Norte em 2019 – e como o progresso de Pyongyang em melhorar suas capacidades militares evoluiu nos três anos desde então.
“Esta série de lançamentos de vários projéteis é uma grande preocupação para nós e mais uma vez outro lembrete de que é preciso renovar o processo diplomático e as conversações para levar ao que queremos como resultado final, que é a desnuclearização completa e verificável da Península Coreana”, disse Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, em comunicado à imprensa.
Mas a perspectiva de Pyongyang retornar às negociações em breve permanece pequena, mesmo que os negociadores dos EUA e da Coreia do Sul afirmem que não têm pré-condições para as negociações.
Defensiva
O governo Biden, no entanto, não mostrou estar disposto a conceder o alívio das sanções que Kim busca. Enquanto isso, a Coreia do Sul continuou a aumentar suas capacidades militares, que descreve como uma medida defensiva em relação ao Norte com armas nucleares.
A Coreia do Norte permanece em um bloqueio de fronteira estrito e auto-imposto. O regime vê as sanções, o acúmulo de armas da Coreia do Sul e os exercícios militares conjuntos EUA-Coreia do Sul como políticas “hostis” que são inconsistentes com a retórica nas negociações.
Este mês, a Coreia do Norte anunciou que testou mísseis hipersônicos, mísseis balísticos de curto alcance e um novo sistema de mísseis de cruzeiro.
Esses testes ocorrem durante um período de transição na península, enquanto a Coreia do Sul se prepara para sua eleição presidencial de março. O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, concluirá seu mandato único de cinco anos em maio, e a corrida por seu sucessor continua acirrada, entre um candidato liberal relativamente pró-engajamento e o candidato da oposição, que prometeu ser mais duro com o Norte.
Além disso, o governo Biden teria selecionado Philip Goldberg, diplomata de carreira e ex-coordenador de sanções da ONU contra a Coreia do Norte, como seu indicado para embaixador dos EUA na Coreia do Sul.
A escolha de um ex-oficial de sanções levantou questões na Coreia do Sul sobre possíveis implicações para o futuro da política dos EUA em relação à Coreia do Norte. Washington emitiu novas sanções sobre o programa de armas da Coreia do Norte depois que Pyongyang disse que testou mísseis hipersônicos.
“É provocativo e é algo que condenamos muito, muito fortemente no Conselho de Segurança”, disse Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, durante uma aparição em um talk show político no domingo na ABC. “Nós pressionamos por sanções dentro do Conselho de Segurança. E vou me envolver com nossos aliados, os coreanos, assim como os japoneses, que também estão ameaçados por isso, para procurar outras opções de resposta.”
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A ação foi condenada pelos Estados Unidos e pelo Japão; sanções foram impostas ao país por violar resoluções que proíbem testes de mísseis balísticos. A Coreia do Nortedisparou o que pareciam ser dois mísseis balísticos de curto alcance no mar de sua costa leste, disseram militares sul-coreanos nesta quinta-feira, 27. Essa é a sexta rodada de testes de mísseis realizados neste mês. O Conjunto de Chefes doEstado Maior da Coreia do Sul disse ter detectado o lançamento do que se supunha serem dois mísseis balísticos por volta das 8h, horário local, próximo a Hamhung, na costa leste da Coreia do Norte. Os mísseis viajaram por cerca de 190 km até uma altitude máxima de 20 km, acrescentou o Conjunto.
Como demonstrado no mês passado, Kim continuou a testar mísseis balísticos, apesar das várias resoluções das Nações Unidas que proíbem todas as atividades relacionadas a mísseis balísticos e armas nucleares.
A China e a Rússia, membros do Conselho de Segurança da ONU, não apenas rejeitaram a tentativa dos EUA de impor novas sanções, mas promoveram o alívio das sanções para a Coreia do Norte, observando que Pyongyang não testou nenhum dispositivo nuclear ou míssil balístico intercontinental capaz de atingir os Estados Unidos.
Analistas dizem que a Coreia do Norte está aproveitando a divisão entre a visão dos EUA sobre os testes balísticos e a da China e da Rússia, para melhorar seu programa de mísseis balísticos sem provocar uma ação de repressão punitiva unificada do Conselho de Segurança da ONU.