É escritor venezuelano e membro do Carnegie Endowment. Escreve quinzenalmente

Opinião|ChatGPT, Brexit, Donald Trump, pandemia, Guerra na Ucrânia: Qual será o marco do século 21?


O século 21 não trouxe apenas tecnologia: nos trouxe crises políticas, uma pandemia e guerras parecidas com as do século passado

Por Moisés Naim
Atualização:

Há anos que definem épocas. Basta mencionar 1789 (a Revolução Francesa), 1945 (o fim da 2.ª Guerra) ou 1989 (a queda do Muro de Berlim) para denotar profundas transformações. Assim sendo, cabe perguntar-se: qual será o primeiro ano icônico do nosso acidentado século 21?

Até pouco tempo atrás, 2016 era o candidato mais claro: ano do Brexit (em 23 de junho); e a eleição de Donald Trump (em 8 de novembro) foi o ponto de partida de uma nova onda de populismo, polarização e pós-verdade que ameaça acabar com a democracia em muitos países.

Mas também ocupa um lugar importante na lista de datas históricas aquele fatídico 13 de março de 2020, no qual o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA declarou oficialmente que estamos sendo atacados pela covid. Será esta pandemia a precursora de muitas outras? Será o começo de um planeta permanentemente sacudido por algum tipo de pandemia? Pode ser.

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Manifestantes anti-vacina se reúnem em Nova York, em 2021, para protestar contra o 'novo normal' da pandemia ' Foto: David 'Dee' Delgado/Reuters

Outra data que simboliza as mudanças revolucionárias que se apresentam é do Prêmio Nobel em química de 2020 outorgado a Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna por elas terem desenvolvido a tecnologia de modificação de genoma chamada CRISPR-Cas9.

A manipulação dos nossos genes utilizando esta nova técnica não apenas promete enormes progressos no sentido da cura de doenças até agora letais, mas também cria graves ameaças. O CRISPR em mãos erradas é uma ameaça para a humanidade.

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Assim como o desenvolvimento e disseminação das novas técnicas de inteligência artificial. Em 30 de novembro de 2022, a empresa OpenAI lançou seu ChatGPT, uma tecnologia que finalmente passa no Teste de Turing: um robô que pronuncia o idioma natural com tal fluidez que suas respostas são indistinguíveis das de um ser humano. É isso que o fundador da computação moderna, Alan Turing, definiu como “inteligência artificial em um longínquo ensaio publicado em 1950.

A partir de 2022, essa elucubração amalucada se torna uma realidade inelutável. Porque o ChatGPT não é apenas mais um software ou plataforma como os que nos anunciam regularmente os magos das indústrias. A inteligência artificial surtirá um impacto transformador sobre as indústrias do conhecimento equiparável ao da introdução das máquinas durante a Revolução Industrial. Ou talvez maior.

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Mas o Século 21 não trouxe somente mudanças tecnológicas importantes, nos trouxe também guerras parecidas com as do século passado — ou do anterior. Em 24 de fevereiro de 2022, Vladimir Putin ordenou que seus generais invadissem a Ucrânia.

A essa surpresa se seguiram outras: em vez de durar poucos dias, a guerra de Putin está prestes a completar um ano; a Europa descobre que é capaz de atuar unificadamente e que essa capacidade recém-descoberta faz com que, em vez de se limitar a discursos e exortações, ela possa atuar como potência militar de primeira ordem.

Os ferozes ataques cibernéticos que se esperavam da Rússia não se materializaram nem foram neutralizados. E a inépcia dos militares russos só é superada pela selvageria medieval com a qual eles agem. Os ataques cotidianos contra a população civil da Ucrânia e a infraestrutura do país parecem ser a única resposta do Kremlin.

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Tanques destruídos em cidade perto de Kiev: invasão de Putin na Ucrânia relembra os terrores das guerras territoriais do século 20  

Isso faz com que, em setembro de 2022, Putin tenha voltado a introduzir uma opção que se pensava superada: o uso de armas nucleares. “Se a integridade territorial do nosso país for ameaçada, sem dúvida usaremos todos os meios disponíveis para proteger a Rússia e o nosso povo”, disse o líder russo. “Isso é o que deve dizer todo líder que veja a soberania de seu país em perigo. Aqui, o detalhe importante é que o líder que diz o óbvio tem à sua disposição o maior arsenal do mundo. “Isto não é um blefe”, alertou Putin. Claramente o que está em jogo na Ucrânia não afeta somente esse país, mas também possui ramificações geopolíticas de todo tipo, muitas delas inesperadas.

Outra mudança importante na política mundial ocorreu em 21 de setembro, quando Xi Jinping, o líder chinês, conseguiu romper com a norma que o obrigaria a deixar o poder ao término de seu mandato, como haviam feito seus antecessores desde Mao. Nesse dia de setembro, Xi foi eleito presidente da China e secretário-geral do Partido Comunista pela terceira vez, superando todos os obstáculos para se tornar o primeiro ditador vitalício da China desde a morte de Mao.

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Finalmente, no que já sucedeu deste século, a mudança climática se manifestou ferozmente. A frequência e a intensidade dos fenômenos, os danos materiais e o massivo sofrimento humano que ocorreram este ano em razão da mudança climática estão alterando nosso planeta profundamente e rapidamente. Não há uma data simbólica para isso: as catástrofes climáticas se tornaram normais. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Há anos que definem épocas. Basta mencionar 1789 (a Revolução Francesa), 1945 (o fim da 2.ª Guerra) ou 1989 (a queda do Muro de Berlim) para denotar profundas transformações. Assim sendo, cabe perguntar-se: qual será o primeiro ano icônico do nosso acidentado século 21?

Até pouco tempo atrás, 2016 era o candidato mais claro: ano do Brexit (em 23 de junho); e a eleição de Donald Trump (em 8 de novembro) foi o ponto de partida de uma nova onda de populismo, polarização e pós-verdade que ameaça acabar com a democracia em muitos países.

Mas também ocupa um lugar importante na lista de datas históricas aquele fatídico 13 de março de 2020, no qual o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA declarou oficialmente que estamos sendo atacados pela covid. Será esta pandemia a precursora de muitas outras? Será o começo de um planeta permanentemente sacudido por algum tipo de pandemia? Pode ser.

Manifestantes anti-vacina se reúnem em Nova York, em 2021, para protestar contra o 'novo normal' da pandemia ' Foto: David 'Dee' Delgado/Reuters

Outra data que simboliza as mudanças revolucionárias que se apresentam é do Prêmio Nobel em química de 2020 outorgado a Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna por elas terem desenvolvido a tecnologia de modificação de genoma chamada CRISPR-Cas9.

A manipulação dos nossos genes utilizando esta nova técnica não apenas promete enormes progressos no sentido da cura de doenças até agora letais, mas também cria graves ameaças. O CRISPR em mãos erradas é uma ameaça para a humanidade.

Assim como o desenvolvimento e disseminação das novas técnicas de inteligência artificial. Em 30 de novembro de 2022, a empresa OpenAI lançou seu ChatGPT, uma tecnologia que finalmente passa no Teste de Turing: um robô que pronuncia o idioma natural com tal fluidez que suas respostas são indistinguíveis das de um ser humano. É isso que o fundador da computação moderna, Alan Turing, definiu como “inteligência artificial em um longínquo ensaio publicado em 1950.

A partir de 2022, essa elucubração amalucada se torna uma realidade inelutável. Porque o ChatGPT não é apenas mais um software ou plataforma como os que nos anunciam regularmente os magos das indústrias. A inteligência artificial surtirá um impacto transformador sobre as indústrias do conhecimento equiparável ao da introdução das máquinas durante a Revolução Industrial. Ou talvez maior.

Mas o Século 21 não trouxe somente mudanças tecnológicas importantes, nos trouxe também guerras parecidas com as do século passado — ou do anterior. Em 24 de fevereiro de 2022, Vladimir Putin ordenou que seus generais invadissem a Ucrânia.

A essa surpresa se seguiram outras: em vez de durar poucos dias, a guerra de Putin está prestes a completar um ano; a Europa descobre que é capaz de atuar unificadamente e que essa capacidade recém-descoberta faz com que, em vez de se limitar a discursos e exortações, ela possa atuar como potência militar de primeira ordem.

Os ferozes ataques cibernéticos que se esperavam da Rússia não se materializaram nem foram neutralizados. E a inépcia dos militares russos só é superada pela selvageria medieval com a qual eles agem. Os ataques cotidianos contra a população civil da Ucrânia e a infraestrutura do país parecem ser a única resposta do Kremlin.

Tanques destruídos em cidade perto de Kiev: invasão de Putin na Ucrânia relembra os terrores das guerras territoriais do século 20  

Isso faz com que, em setembro de 2022, Putin tenha voltado a introduzir uma opção que se pensava superada: o uso de armas nucleares. “Se a integridade territorial do nosso país for ameaçada, sem dúvida usaremos todos os meios disponíveis para proteger a Rússia e o nosso povo”, disse o líder russo. “Isso é o que deve dizer todo líder que veja a soberania de seu país em perigo. Aqui, o detalhe importante é que o líder que diz o óbvio tem à sua disposição o maior arsenal do mundo. “Isto não é um blefe”, alertou Putin. Claramente o que está em jogo na Ucrânia não afeta somente esse país, mas também possui ramificações geopolíticas de todo tipo, muitas delas inesperadas.

Outra mudança importante na política mundial ocorreu em 21 de setembro, quando Xi Jinping, o líder chinês, conseguiu romper com a norma que o obrigaria a deixar o poder ao término de seu mandato, como haviam feito seus antecessores desde Mao. Nesse dia de setembro, Xi foi eleito presidente da China e secretário-geral do Partido Comunista pela terceira vez, superando todos os obstáculos para se tornar o primeiro ditador vitalício da China desde a morte de Mao.

Finalmente, no que já sucedeu deste século, a mudança climática se manifestou ferozmente. A frequência e a intensidade dos fenômenos, os danos materiais e o massivo sofrimento humano que ocorreram este ano em razão da mudança climática estão alterando nosso planeta profundamente e rapidamente. Não há uma data simbólica para isso: as catástrofes climáticas se tornaram normais. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Há anos que definem épocas. Basta mencionar 1789 (a Revolução Francesa), 1945 (o fim da 2.ª Guerra) ou 1989 (a queda do Muro de Berlim) para denotar profundas transformações. Assim sendo, cabe perguntar-se: qual será o primeiro ano icônico do nosso acidentado século 21?

Até pouco tempo atrás, 2016 era o candidato mais claro: ano do Brexit (em 23 de junho); e a eleição de Donald Trump (em 8 de novembro) foi o ponto de partida de uma nova onda de populismo, polarização e pós-verdade que ameaça acabar com a democracia em muitos países.

Mas também ocupa um lugar importante na lista de datas históricas aquele fatídico 13 de março de 2020, no qual o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA declarou oficialmente que estamos sendo atacados pela covid. Será esta pandemia a precursora de muitas outras? Será o começo de um planeta permanentemente sacudido por algum tipo de pandemia? Pode ser.

Manifestantes anti-vacina se reúnem em Nova York, em 2021, para protestar contra o 'novo normal' da pandemia ' Foto: David 'Dee' Delgado/Reuters

Outra data que simboliza as mudanças revolucionárias que se apresentam é do Prêmio Nobel em química de 2020 outorgado a Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna por elas terem desenvolvido a tecnologia de modificação de genoma chamada CRISPR-Cas9.

A manipulação dos nossos genes utilizando esta nova técnica não apenas promete enormes progressos no sentido da cura de doenças até agora letais, mas também cria graves ameaças. O CRISPR em mãos erradas é uma ameaça para a humanidade.

Assim como o desenvolvimento e disseminação das novas técnicas de inteligência artificial. Em 30 de novembro de 2022, a empresa OpenAI lançou seu ChatGPT, uma tecnologia que finalmente passa no Teste de Turing: um robô que pronuncia o idioma natural com tal fluidez que suas respostas são indistinguíveis das de um ser humano. É isso que o fundador da computação moderna, Alan Turing, definiu como “inteligência artificial em um longínquo ensaio publicado em 1950.

A partir de 2022, essa elucubração amalucada se torna uma realidade inelutável. Porque o ChatGPT não é apenas mais um software ou plataforma como os que nos anunciam regularmente os magos das indústrias. A inteligência artificial surtirá um impacto transformador sobre as indústrias do conhecimento equiparável ao da introdução das máquinas durante a Revolução Industrial. Ou talvez maior.

Mas o Século 21 não trouxe somente mudanças tecnológicas importantes, nos trouxe também guerras parecidas com as do século passado — ou do anterior. Em 24 de fevereiro de 2022, Vladimir Putin ordenou que seus generais invadissem a Ucrânia.

A essa surpresa se seguiram outras: em vez de durar poucos dias, a guerra de Putin está prestes a completar um ano; a Europa descobre que é capaz de atuar unificadamente e que essa capacidade recém-descoberta faz com que, em vez de se limitar a discursos e exortações, ela possa atuar como potência militar de primeira ordem.

Os ferozes ataques cibernéticos que se esperavam da Rússia não se materializaram nem foram neutralizados. E a inépcia dos militares russos só é superada pela selvageria medieval com a qual eles agem. Os ataques cotidianos contra a população civil da Ucrânia e a infraestrutura do país parecem ser a única resposta do Kremlin.

Tanques destruídos em cidade perto de Kiev: invasão de Putin na Ucrânia relembra os terrores das guerras territoriais do século 20  

Isso faz com que, em setembro de 2022, Putin tenha voltado a introduzir uma opção que se pensava superada: o uso de armas nucleares. “Se a integridade territorial do nosso país for ameaçada, sem dúvida usaremos todos os meios disponíveis para proteger a Rússia e o nosso povo”, disse o líder russo. “Isso é o que deve dizer todo líder que veja a soberania de seu país em perigo. Aqui, o detalhe importante é que o líder que diz o óbvio tem à sua disposição o maior arsenal do mundo. “Isto não é um blefe”, alertou Putin. Claramente o que está em jogo na Ucrânia não afeta somente esse país, mas também possui ramificações geopolíticas de todo tipo, muitas delas inesperadas.

Outra mudança importante na política mundial ocorreu em 21 de setembro, quando Xi Jinping, o líder chinês, conseguiu romper com a norma que o obrigaria a deixar o poder ao término de seu mandato, como haviam feito seus antecessores desde Mao. Nesse dia de setembro, Xi foi eleito presidente da China e secretário-geral do Partido Comunista pela terceira vez, superando todos os obstáculos para se tornar o primeiro ditador vitalício da China desde a morte de Mao.

Finalmente, no que já sucedeu deste século, a mudança climática se manifestou ferozmente. A frequência e a intensidade dos fenômenos, os danos materiais e o massivo sofrimento humano que ocorreram este ano em razão da mudança climática estão alterando nosso planeta profundamente e rapidamente. Não há uma data simbólica para isso: as catástrofes climáticas se tornaram normais. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Há anos que definem épocas. Basta mencionar 1789 (a Revolução Francesa), 1945 (o fim da 2.ª Guerra) ou 1989 (a queda do Muro de Berlim) para denotar profundas transformações. Assim sendo, cabe perguntar-se: qual será o primeiro ano icônico do nosso acidentado século 21?

Até pouco tempo atrás, 2016 era o candidato mais claro: ano do Brexit (em 23 de junho); e a eleição de Donald Trump (em 8 de novembro) foi o ponto de partida de uma nova onda de populismo, polarização e pós-verdade que ameaça acabar com a democracia em muitos países.

Mas também ocupa um lugar importante na lista de datas históricas aquele fatídico 13 de março de 2020, no qual o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA declarou oficialmente que estamos sendo atacados pela covid. Será esta pandemia a precursora de muitas outras? Será o começo de um planeta permanentemente sacudido por algum tipo de pandemia? Pode ser.

Manifestantes anti-vacina se reúnem em Nova York, em 2021, para protestar contra o 'novo normal' da pandemia ' Foto: David 'Dee' Delgado/Reuters

Outra data que simboliza as mudanças revolucionárias que se apresentam é do Prêmio Nobel em química de 2020 outorgado a Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna por elas terem desenvolvido a tecnologia de modificação de genoma chamada CRISPR-Cas9.

A manipulação dos nossos genes utilizando esta nova técnica não apenas promete enormes progressos no sentido da cura de doenças até agora letais, mas também cria graves ameaças. O CRISPR em mãos erradas é uma ameaça para a humanidade.

Assim como o desenvolvimento e disseminação das novas técnicas de inteligência artificial. Em 30 de novembro de 2022, a empresa OpenAI lançou seu ChatGPT, uma tecnologia que finalmente passa no Teste de Turing: um robô que pronuncia o idioma natural com tal fluidez que suas respostas são indistinguíveis das de um ser humano. É isso que o fundador da computação moderna, Alan Turing, definiu como “inteligência artificial em um longínquo ensaio publicado em 1950.

A partir de 2022, essa elucubração amalucada se torna uma realidade inelutável. Porque o ChatGPT não é apenas mais um software ou plataforma como os que nos anunciam regularmente os magos das indústrias. A inteligência artificial surtirá um impacto transformador sobre as indústrias do conhecimento equiparável ao da introdução das máquinas durante a Revolução Industrial. Ou talvez maior.

Mas o Século 21 não trouxe somente mudanças tecnológicas importantes, nos trouxe também guerras parecidas com as do século passado — ou do anterior. Em 24 de fevereiro de 2022, Vladimir Putin ordenou que seus generais invadissem a Ucrânia.

A essa surpresa se seguiram outras: em vez de durar poucos dias, a guerra de Putin está prestes a completar um ano; a Europa descobre que é capaz de atuar unificadamente e que essa capacidade recém-descoberta faz com que, em vez de se limitar a discursos e exortações, ela possa atuar como potência militar de primeira ordem.

Os ferozes ataques cibernéticos que se esperavam da Rússia não se materializaram nem foram neutralizados. E a inépcia dos militares russos só é superada pela selvageria medieval com a qual eles agem. Os ataques cotidianos contra a população civil da Ucrânia e a infraestrutura do país parecem ser a única resposta do Kremlin.

Tanques destruídos em cidade perto de Kiev: invasão de Putin na Ucrânia relembra os terrores das guerras territoriais do século 20  

Isso faz com que, em setembro de 2022, Putin tenha voltado a introduzir uma opção que se pensava superada: o uso de armas nucleares. “Se a integridade territorial do nosso país for ameaçada, sem dúvida usaremos todos os meios disponíveis para proteger a Rússia e o nosso povo”, disse o líder russo. “Isso é o que deve dizer todo líder que veja a soberania de seu país em perigo. Aqui, o detalhe importante é que o líder que diz o óbvio tem à sua disposição o maior arsenal do mundo. “Isto não é um blefe”, alertou Putin. Claramente o que está em jogo na Ucrânia não afeta somente esse país, mas também possui ramificações geopolíticas de todo tipo, muitas delas inesperadas.

Outra mudança importante na política mundial ocorreu em 21 de setembro, quando Xi Jinping, o líder chinês, conseguiu romper com a norma que o obrigaria a deixar o poder ao término de seu mandato, como haviam feito seus antecessores desde Mao. Nesse dia de setembro, Xi foi eleito presidente da China e secretário-geral do Partido Comunista pela terceira vez, superando todos os obstáculos para se tornar o primeiro ditador vitalício da China desde a morte de Mao.

Finalmente, no que já sucedeu deste século, a mudança climática se manifestou ferozmente. A frequência e a intensidade dos fenômenos, os danos materiais e o massivo sofrimento humano que ocorreram este ano em razão da mudança climática estão alterando nosso planeta profundamente e rapidamente. Não há uma data simbólica para isso: as catástrofes climáticas se tornaram normais. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Há anos que definem épocas. Basta mencionar 1789 (a Revolução Francesa), 1945 (o fim da 2.ª Guerra) ou 1989 (a queda do Muro de Berlim) para denotar profundas transformações. Assim sendo, cabe perguntar-se: qual será o primeiro ano icônico do nosso acidentado século 21?

Até pouco tempo atrás, 2016 era o candidato mais claro: ano do Brexit (em 23 de junho); e a eleição de Donald Trump (em 8 de novembro) foi o ponto de partida de uma nova onda de populismo, polarização e pós-verdade que ameaça acabar com a democracia em muitos países.

Mas também ocupa um lugar importante na lista de datas históricas aquele fatídico 13 de março de 2020, no qual o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA declarou oficialmente que estamos sendo atacados pela covid. Será esta pandemia a precursora de muitas outras? Será o começo de um planeta permanentemente sacudido por algum tipo de pandemia? Pode ser.

Manifestantes anti-vacina se reúnem em Nova York, em 2021, para protestar contra o 'novo normal' da pandemia ' Foto: David 'Dee' Delgado/Reuters

Outra data que simboliza as mudanças revolucionárias que se apresentam é do Prêmio Nobel em química de 2020 outorgado a Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna por elas terem desenvolvido a tecnologia de modificação de genoma chamada CRISPR-Cas9.

A manipulação dos nossos genes utilizando esta nova técnica não apenas promete enormes progressos no sentido da cura de doenças até agora letais, mas também cria graves ameaças. O CRISPR em mãos erradas é uma ameaça para a humanidade.

Assim como o desenvolvimento e disseminação das novas técnicas de inteligência artificial. Em 30 de novembro de 2022, a empresa OpenAI lançou seu ChatGPT, uma tecnologia que finalmente passa no Teste de Turing: um robô que pronuncia o idioma natural com tal fluidez que suas respostas são indistinguíveis das de um ser humano. É isso que o fundador da computação moderna, Alan Turing, definiu como “inteligência artificial em um longínquo ensaio publicado em 1950.

A partir de 2022, essa elucubração amalucada se torna uma realidade inelutável. Porque o ChatGPT não é apenas mais um software ou plataforma como os que nos anunciam regularmente os magos das indústrias. A inteligência artificial surtirá um impacto transformador sobre as indústrias do conhecimento equiparável ao da introdução das máquinas durante a Revolução Industrial. Ou talvez maior.

Mas o Século 21 não trouxe somente mudanças tecnológicas importantes, nos trouxe também guerras parecidas com as do século passado — ou do anterior. Em 24 de fevereiro de 2022, Vladimir Putin ordenou que seus generais invadissem a Ucrânia.

A essa surpresa se seguiram outras: em vez de durar poucos dias, a guerra de Putin está prestes a completar um ano; a Europa descobre que é capaz de atuar unificadamente e que essa capacidade recém-descoberta faz com que, em vez de se limitar a discursos e exortações, ela possa atuar como potência militar de primeira ordem.

Os ferozes ataques cibernéticos que se esperavam da Rússia não se materializaram nem foram neutralizados. E a inépcia dos militares russos só é superada pela selvageria medieval com a qual eles agem. Os ataques cotidianos contra a população civil da Ucrânia e a infraestrutura do país parecem ser a única resposta do Kremlin.

Tanques destruídos em cidade perto de Kiev: invasão de Putin na Ucrânia relembra os terrores das guerras territoriais do século 20  

Isso faz com que, em setembro de 2022, Putin tenha voltado a introduzir uma opção que se pensava superada: o uso de armas nucleares. “Se a integridade territorial do nosso país for ameaçada, sem dúvida usaremos todos os meios disponíveis para proteger a Rússia e o nosso povo”, disse o líder russo. “Isso é o que deve dizer todo líder que veja a soberania de seu país em perigo. Aqui, o detalhe importante é que o líder que diz o óbvio tem à sua disposição o maior arsenal do mundo. “Isto não é um blefe”, alertou Putin. Claramente o que está em jogo na Ucrânia não afeta somente esse país, mas também possui ramificações geopolíticas de todo tipo, muitas delas inesperadas.

Outra mudança importante na política mundial ocorreu em 21 de setembro, quando Xi Jinping, o líder chinês, conseguiu romper com a norma que o obrigaria a deixar o poder ao término de seu mandato, como haviam feito seus antecessores desde Mao. Nesse dia de setembro, Xi foi eleito presidente da China e secretário-geral do Partido Comunista pela terceira vez, superando todos os obstáculos para se tornar o primeiro ditador vitalício da China desde a morte de Mao.

Finalmente, no que já sucedeu deste século, a mudança climática se manifestou ferozmente. A frequência e a intensidade dos fenômenos, os danos materiais e o massivo sofrimento humano que ocorreram este ano em razão da mudança climática estão alterando nosso planeta profundamente e rapidamente. Não há uma data simbólica para isso: as catástrofes climáticas se tornaram normais. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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