É escritor venezuelano e membro do Carnegie Endowment. Escreve quinzenalmente

Opinião|SpaceX, Blue Origin, Virgin Galactica: corrida espacial vive apogeu, movida por lucro e curiosidade


Enquanto o mundo está preocupado com guerras, mudanças climáticas e inteligência artificial, busca pelo espaço está em seu auge

Por Moisés Naim
Atualização:

Enquanto o mundo está preocupado com guerras, mudanças climáticas e inteligência artificial, outro fenômeno profundamente transformador está em pleno apogeu: a exploração espacial.

Há aspectos dessa exploração que são antigos. Em 1957, o programa espacial da União Soviética lançou um foguete ao espaço carregando uma esfera de metal polido de 58 centímetros de diâmetro, pesando 84 quilos, e equipada com três antenas. Este primeiro satélite artificial, o Sputnik, provocou uma competição acirrada entre os Estados Unidos e a URSS pelo domínio tecnológico no espaço.

Mas, desde então, muita coisa mudou.

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Na semana passada, a SpaceX, empresa aeroespacial de Elon Musk, lançou quatro passageiros particulares em um de seus foguetes para passar alguns dias na Estação Espacial Internacional. Ao mesmo tempo em que isso acontecia, a Blue Origin, empresa de Jeff Bezos, finalizou um contrato de US$ 3,4 bilhões com a NASA para desenvolver uma espaçonave capaz de transportar passageiros à Lua. E a Virgin Galactica, de Richard Branson, enviou um foguete com uma tripulação de seis funcionários da empresa para o espaço suborbital.

Foguete da SpaceX é preparado para decolagem em Brownsville, no Texas Foto: Joe Skipper/Reuters

Esses são apenas três dos esforços ousados, caros e contínuos para alcançar papéis decisivos na exploração do universo. Antes, os principais adversários na corrida pelo espaço eram as duas superpotências, EUA e URSS. Agora, são uma multidão de empresas privadas. Além da privatização e da comercialização, a corrida pelo espaço também está sendo influenciada pela militarização, pela poluição causada pelos milhares de satélites inoperantes flutuando sem controle no espaço e pela paixão humana inata pela exploração.

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As empresas privadas estão assumindo a liderança na exploração espacial e desenvolvendo as novas tecnologias necessárias para conquistar esse mercado. O setor espacial movimentou um total de US$ 469 bilhões em 2021. SpaceX e Blue Origin são as principais concorrentes nesse setor.

Mas essas gigantes não estão sozinhas: são apoiados por um vasto ecossistema formado por cerca de 10.000 pequenas e médias empresas no que é conhecido como indústria do ‘Novo Espaço’. Esta constelação abrange desde a produção de componentes para satélites e sistemas de controle terrestre até o projeto e fabricação de foguetes, bem como a crescente promessa do turismo espacial.

Outra tendência importante é a militarização do espaço. As grandes potências mundiais estão desenvolvendo sistemas espaciais militares e, ao mesmo tempo, sistemas de defesa contra esse tipo de ataque. Armas anti-satélite e sistemas de vigilância são apenas alguns exemplos de como o espaço está se tornando um teatro de conflitos geopolíticos.

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De forma incipiente, parte disso já está acontecendo. O surpreendente sucesso da resistência ucraniana à invasão russa deve muito ao seu acesso a tecnologias de satélite para dominar o campo de batalha, apontar suas armas com precisão e atacar as linhas de abastecimento inimigas.

E embora ainda não tenhamos testemunhado a primeira guerra em grande escala em que a infraestrutura orbital de um adversário seja atacada diretamente, esse dia inevitavelmente chegará. E quando isso acontecer, o sistema internacional pode ser seriamente desestabilizado.

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Um terceiro elemento desse boom espacial é a crescente poluição criada pelo lixo espacial. São detritos de lançamentos anteriores de satélites que não desempenham mais nenhuma função, mas continuam a flutuar sem controle no espaço. Isso criou uma espessa camada de detritos que ninguém sabe como remover. É um problema crescente, porque muitas das novas tecnologias requerem um grande número de satélites para funcionar.

Jeff Bezos dentro da espaçonave da Blue Origin  Foto: Isaiah J. Downing/Reuters

Propostas como a da empresa OneWeb, liderada pelo empresário Greg Weiler, que tem planos de lançar 100 mil satélites no espaço até 2030, suscitam sérias preocupações. Como a própria OneWeb reconheceu, já existe quase 1.000.000 de fragmentos de lixo orbital orbitando a Terra a 27.000 km/hora, e as tecnologias para recuperar detritos ainda estão engatinhando. Embora esses satélites sejam pequenos, seus números são enormes e, quando saírem de serviço, ainda estarão em órbita, colocando em risco os sistemas que vierem depois.

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Por que tudo isso está acontecendo? Dois motivos: lucro e curiosidade. Muitas tecnologias, como sistemas de posicionamento global por satélite (GPS) e projetos como a Starlink de Elon Musk, só podem ser comercializados com uma vasta presença espacial. No Vale do Silício, todos sentem que há grandes fortunas a serem ganhas em órbita, o que está alimentando essa corrida do ouro no espaço.

Por outro lado, os seres humanos são naturalmente curiosos. O espaço representa um horizonte desconhecido, um desafio irresistível para a nossa espécie. Nosso desejo de descobrir, de explorar fronteiras desconhecidas, continuará a impulsionar o interesse pelo espaço como mercado e como campo de batalha.

Dizem que, quando perguntaram ao grande explorador britânico George Mallory por que ele queria escalar o Everest, ele respondeu, “porque está lá”. Parece bobo, mas o desafio daquilo que está lá e que ainda não conseguimos conquistar sempre terá um encanto especial para os humanos. A sede de ser o primeiro a vencer um desafio nos define como espécie. E o espaço... está lá. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Enquanto o mundo está preocupado com guerras, mudanças climáticas e inteligência artificial, outro fenômeno profundamente transformador está em pleno apogeu: a exploração espacial.

Há aspectos dessa exploração que são antigos. Em 1957, o programa espacial da União Soviética lançou um foguete ao espaço carregando uma esfera de metal polido de 58 centímetros de diâmetro, pesando 84 quilos, e equipada com três antenas. Este primeiro satélite artificial, o Sputnik, provocou uma competição acirrada entre os Estados Unidos e a URSS pelo domínio tecnológico no espaço.

Mas, desde então, muita coisa mudou.

Na semana passada, a SpaceX, empresa aeroespacial de Elon Musk, lançou quatro passageiros particulares em um de seus foguetes para passar alguns dias na Estação Espacial Internacional. Ao mesmo tempo em que isso acontecia, a Blue Origin, empresa de Jeff Bezos, finalizou um contrato de US$ 3,4 bilhões com a NASA para desenvolver uma espaçonave capaz de transportar passageiros à Lua. E a Virgin Galactica, de Richard Branson, enviou um foguete com uma tripulação de seis funcionários da empresa para o espaço suborbital.

Foguete da SpaceX é preparado para decolagem em Brownsville, no Texas Foto: Joe Skipper/Reuters

Esses são apenas três dos esforços ousados, caros e contínuos para alcançar papéis decisivos na exploração do universo. Antes, os principais adversários na corrida pelo espaço eram as duas superpotências, EUA e URSS. Agora, são uma multidão de empresas privadas. Além da privatização e da comercialização, a corrida pelo espaço também está sendo influenciada pela militarização, pela poluição causada pelos milhares de satélites inoperantes flutuando sem controle no espaço e pela paixão humana inata pela exploração.

As empresas privadas estão assumindo a liderança na exploração espacial e desenvolvendo as novas tecnologias necessárias para conquistar esse mercado. O setor espacial movimentou um total de US$ 469 bilhões em 2021. SpaceX e Blue Origin são as principais concorrentes nesse setor.

Mas essas gigantes não estão sozinhas: são apoiados por um vasto ecossistema formado por cerca de 10.000 pequenas e médias empresas no que é conhecido como indústria do ‘Novo Espaço’. Esta constelação abrange desde a produção de componentes para satélites e sistemas de controle terrestre até o projeto e fabricação de foguetes, bem como a crescente promessa do turismo espacial.

Outra tendência importante é a militarização do espaço. As grandes potências mundiais estão desenvolvendo sistemas espaciais militares e, ao mesmo tempo, sistemas de defesa contra esse tipo de ataque. Armas anti-satélite e sistemas de vigilância são apenas alguns exemplos de como o espaço está se tornando um teatro de conflitos geopolíticos.

De forma incipiente, parte disso já está acontecendo. O surpreendente sucesso da resistência ucraniana à invasão russa deve muito ao seu acesso a tecnologias de satélite para dominar o campo de batalha, apontar suas armas com precisão e atacar as linhas de abastecimento inimigas.

E embora ainda não tenhamos testemunhado a primeira guerra em grande escala em que a infraestrutura orbital de um adversário seja atacada diretamente, esse dia inevitavelmente chegará. E quando isso acontecer, o sistema internacional pode ser seriamente desestabilizado.

Um terceiro elemento desse boom espacial é a crescente poluição criada pelo lixo espacial. São detritos de lançamentos anteriores de satélites que não desempenham mais nenhuma função, mas continuam a flutuar sem controle no espaço. Isso criou uma espessa camada de detritos que ninguém sabe como remover. É um problema crescente, porque muitas das novas tecnologias requerem um grande número de satélites para funcionar.

Jeff Bezos dentro da espaçonave da Blue Origin  Foto: Isaiah J. Downing/Reuters

Propostas como a da empresa OneWeb, liderada pelo empresário Greg Weiler, que tem planos de lançar 100 mil satélites no espaço até 2030, suscitam sérias preocupações. Como a própria OneWeb reconheceu, já existe quase 1.000.000 de fragmentos de lixo orbital orbitando a Terra a 27.000 km/hora, e as tecnologias para recuperar detritos ainda estão engatinhando. Embora esses satélites sejam pequenos, seus números são enormes e, quando saírem de serviço, ainda estarão em órbita, colocando em risco os sistemas que vierem depois.

Por que tudo isso está acontecendo? Dois motivos: lucro e curiosidade. Muitas tecnologias, como sistemas de posicionamento global por satélite (GPS) e projetos como a Starlink de Elon Musk, só podem ser comercializados com uma vasta presença espacial. No Vale do Silício, todos sentem que há grandes fortunas a serem ganhas em órbita, o que está alimentando essa corrida do ouro no espaço.

Por outro lado, os seres humanos são naturalmente curiosos. O espaço representa um horizonte desconhecido, um desafio irresistível para a nossa espécie. Nosso desejo de descobrir, de explorar fronteiras desconhecidas, continuará a impulsionar o interesse pelo espaço como mercado e como campo de batalha.

Dizem que, quando perguntaram ao grande explorador britânico George Mallory por que ele queria escalar o Everest, ele respondeu, “porque está lá”. Parece bobo, mas o desafio daquilo que está lá e que ainda não conseguimos conquistar sempre terá um encanto especial para os humanos. A sede de ser o primeiro a vencer um desafio nos define como espécie. E o espaço... está lá. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Enquanto o mundo está preocupado com guerras, mudanças climáticas e inteligência artificial, outro fenômeno profundamente transformador está em pleno apogeu: a exploração espacial.

Há aspectos dessa exploração que são antigos. Em 1957, o programa espacial da União Soviética lançou um foguete ao espaço carregando uma esfera de metal polido de 58 centímetros de diâmetro, pesando 84 quilos, e equipada com três antenas. Este primeiro satélite artificial, o Sputnik, provocou uma competição acirrada entre os Estados Unidos e a URSS pelo domínio tecnológico no espaço.

Mas, desde então, muita coisa mudou.

Na semana passada, a SpaceX, empresa aeroespacial de Elon Musk, lançou quatro passageiros particulares em um de seus foguetes para passar alguns dias na Estação Espacial Internacional. Ao mesmo tempo em que isso acontecia, a Blue Origin, empresa de Jeff Bezos, finalizou um contrato de US$ 3,4 bilhões com a NASA para desenvolver uma espaçonave capaz de transportar passageiros à Lua. E a Virgin Galactica, de Richard Branson, enviou um foguete com uma tripulação de seis funcionários da empresa para o espaço suborbital.

Foguete da SpaceX é preparado para decolagem em Brownsville, no Texas Foto: Joe Skipper/Reuters

Esses são apenas três dos esforços ousados, caros e contínuos para alcançar papéis decisivos na exploração do universo. Antes, os principais adversários na corrida pelo espaço eram as duas superpotências, EUA e URSS. Agora, são uma multidão de empresas privadas. Além da privatização e da comercialização, a corrida pelo espaço também está sendo influenciada pela militarização, pela poluição causada pelos milhares de satélites inoperantes flutuando sem controle no espaço e pela paixão humana inata pela exploração.

As empresas privadas estão assumindo a liderança na exploração espacial e desenvolvendo as novas tecnologias necessárias para conquistar esse mercado. O setor espacial movimentou um total de US$ 469 bilhões em 2021. SpaceX e Blue Origin são as principais concorrentes nesse setor.

Mas essas gigantes não estão sozinhas: são apoiados por um vasto ecossistema formado por cerca de 10.000 pequenas e médias empresas no que é conhecido como indústria do ‘Novo Espaço’. Esta constelação abrange desde a produção de componentes para satélites e sistemas de controle terrestre até o projeto e fabricação de foguetes, bem como a crescente promessa do turismo espacial.

Outra tendência importante é a militarização do espaço. As grandes potências mundiais estão desenvolvendo sistemas espaciais militares e, ao mesmo tempo, sistemas de defesa contra esse tipo de ataque. Armas anti-satélite e sistemas de vigilância são apenas alguns exemplos de como o espaço está se tornando um teatro de conflitos geopolíticos.

De forma incipiente, parte disso já está acontecendo. O surpreendente sucesso da resistência ucraniana à invasão russa deve muito ao seu acesso a tecnologias de satélite para dominar o campo de batalha, apontar suas armas com precisão e atacar as linhas de abastecimento inimigas.

E embora ainda não tenhamos testemunhado a primeira guerra em grande escala em que a infraestrutura orbital de um adversário seja atacada diretamente, esse dia inevitavelmente chegará. E quando isso acontecer, o sistema internacional pode ser seriamente desestabilizado.

Um terceiro elemento desse boom espacial é a crescente poluição criada pelo lixo espacial. São detritos de lançamentos anteriores de satélites que não desempenham mais nenhuma função, mas continuam a flutuar sem controle no espaço. Isso criou uma espessa camada de detritos que ninguém sabe como remover. É um problema crescente, porque muitas das novas tecnologias requerem um grande número de satélites para funcionar.

Jeff Bezos dentro da espaçonave da Blue Origin  Foto: Isaiah J. Downing/Reuters

Propostas como a da empresa OneWeb, liderada pelo empresário Greg Weiler, que tem planos de lançar 100 mil satélites no espaço até 2030, suscitam sérias preocupações. Como a própria OneWeb reconheceu, já existe quase 1.000.000 de fragmentos de lixo orbital orbitando a Terra a 27.000 km/hora, e as tecnologias para recuperar detritos ainda estão engatinhando. Embora esses satélites sejam pequenos, seus números são enormes e, quando saírem de serviço, ainda estarão em órbita, colocando em risco os sistemas que vierem depois.

Por que tudo isso está acontecendo? Dois motivos: lucro e curiosidade. Muitas tecnologias, como sistemas de posicionamento global por satélite (GPS) e projetos como a Starlink de Elon Musk, só podem ser comercializados com uma vasta presença espacial. No Vale do Silício, todos sentem que há grandes fortunas a serem ganhas em órbita, o que está alimentando essa corrida do ouro no espaço.

Por outro lado, os seres humanos são naturalmente curiosos. O espaço representa um horizonte desconhecido, um desafio irresistível para a nossa espécie. Nosso desejo de descobrir, de explorar fronteiras desconhecidas, continuará a impulsionar o interesse pelo espaço como mercado e como campo de batalha.

Dizem que, quando perguntaram ao grande explorador britânico George Mallory por que ele queria escalar o Everest, ele respondeu, “porque está lá”. Parece bobo, mas o desafio daquilo que está lá e que ainda não conseguimos conquistar sempre terá um encanto especial para os humanos. A sede de ser o primeiro a vencer um desafio nos define como espécie. E o espaço... está lá. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Enquanto o mundo está preocupado com guerras, mudanças climáticas e inteligência artificial, outro fenômeno profundamente transformador está em pleno apogeu: a exploração espacial.

Há aspectos dessa exploração que são antigos. Em 1957, o programa espacial da União Soviética lançou um foguete ao espaço carregando uma esfera de metal polido de 58 centímetros de diâmetro, pesando 84 quilos, e equipada com três antenas. Este primeiro satélite artificial, o Sputnik, provocou uma competição acirrada entre os Estados Unidos e a URSS pelo domínio tecnológico no espaço.

Mas, desde então, muita coisa mudou.

Na semana passada, a SpaceX, empresa aeroespacial de Elon Musk, lançou quatro passageiros particulares em um de seus foguetes para passar alguns dias na Estação Espacial Internacional. Ao mesmo tempo em que isso acontecia, a Blue Origin, empresa de Jeff Bezos, finalizou um contrato de US$ 3,4 bilhões com a NASA para desenvolver uma espaçonave capaz de transportar passageiros à Lua. E a Virgin Galactica, de Richard Branson, enviou um foguete com uma tripulação de seis funcionários da empresa para o espaço suborbital.

Foguete da SpaceX é preparado para decolagem em Brownsville, no Texas Foto: Joe Skipper/Reuters

Esses são apenas três dos esforços ousados, caros e contínuos para alcançar papéis decisivos na exploração do universo. Antes, os principais adversários na corrida pelo espaço eram as duas superpotências, EUA e URSS. Agora, são uma multidão de empresas privadas. Além da privatização e da comercialização, a corrida pelo espaço também está sendo influenciada pela militarização, pela poluição causada pelos milhares de satélites inoperantes flutuando sem controle no espaço e pela paixão humana inata pela exploração.

As empresas privadas estão assumindo a liderança na exploração espacial e desenvolvendo as novas tecnologias necessárias para conquistar esse mercado. O setor espacial movimentou um total de US$ 469 bilhões em 2021. SpaceX e Blue Origin são as principais concorrentes nesse setor.

Mas essas gigantes não estão sozinhas: são apoiados por um vasto ecossistema formado por cerca de 10.000 pequenas e médias empresas no que é conhecido como indústria do ‘Novo Espaço’. Esta constelação abrange desde a produção de componentes para satélites e sistemas de controle terrestre até o projeto e fabricação de foguetes, bem como a crescente promessa do turismo espacial.

Outra tendência importante é a militarização do espaço. As grandes potências mundiais estão desenvolvendo sistemas espaciais militares e, ao mesmo tempo, sistemas de defesa contra esse tipo de ataque. Armas anti-satélite e sistemas de vigilância são apenas alguns exemplos de como o espaço está se tornando um teatro de conflitos geopolíticos.

De forma incipiente, parte disso já está acontecendo. O surpreendente sucesso da resistência ucraniana à invasão russa deve muito ao seu acesso a tecnologias de satélite para dominar o campo de batalha, apontar suas armas com precisão e atacar as linhas de abastecimento inimigas.

E embora ainda não tenhamos testemunhado a primeira guerra em grande escala em que a infraestrutura orbital de um adversário seja atacada diretamente, esse dia inevitavelmente chegará. E quando isso acontecer, o sistema internacional pode ser seriamente desestabilizado.

Um terceiro elemento desse boom espacial é a crescente poluição criada pelo lixo espacial. São detritos de lançamentos anteriores de satélites que não desempenham mais nenhuma função, mas continuam a flutuar sem controle no espaço. Isso criou uma espessa camada de detritos que ninguém sabe como remover. É um problema crescente, porque muitas das novas tecnologias requerem um grande número de satélites para funcionar.

Jeff Bezos dentro da espaçonave da Blue Origin  Foto: Isaiah J. Downing/Reuters

Propostas como a da empresa OneWeb, liderada pelo empresário Greg Weiler, que tem planos de lançar 100 mil satélites no espaço até 2030, suscitam sérias preocupações. Como a própria OneWeb reconheceu, já existe quase 1.000.000 de fragmentos de lixo orbital orbitando a Terra a 27.000 km/hora, e as tecnologias para recuperar detritos ainda estão engatinhando. Embora esses satélites sejam pequenos, seus números são enormes e, quando saírem de serviço, ainda estarão em órbita, colocando em risco os sistemas que vierem depois.

Por que tudo isso está acontecendo? Dois motivos: lucro e curiosidade. Muitas tecnologias, como sistemas de posicionamento global por satélite (GPS) e projetos como a Starlink de Elon Musk, só podem ser comercializados com uma vasta presença espacial. No Vale do Silício, todos sentem que há grandes fortunas a serem ganhas em órbita, o que está alimentando essa corrida do ouro no espaço.

Por outro lado, os seres humanos são naturalmente curiosos. O espaço representa um horizonte desconhecido, um desafio irresistível para a nossa espécie. Nosso desejo de descobrir, de explorar fronteiras desconhecidas, continuará a impulsionar o interesse pelo espaço como mercado e como campo de batalha.

Dizem que, quando perguntaram ao grande explorador britânico George Mallory por que ele queria escalar o Everest, ele respondeu, “porque está lá”. Parece bobo, mas o desafio daquilo que está lá e que ainda não conseguimos conquistar sempre terá um encanto especial para os humanos. A sede de ser o primeiro a vencer um desafio nos define como espécie. E o espaço... está lá. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Enquanto o mundo está preocupado com guerras, mudanças climáticas e inteligência artificial, outro fenômeno profundamente transformador está em pleno apogeu: a exploração espacial.

Há aspectos dessa exploração que são antigos. Em 1957, o programa espacial da União Soviética lançou um foguete ao espaço carregando uma esfera de metal polido de 58 centímetros de diâmetro, pesando 84 quilos, e equipada com três antenas. Este primeiro satélite artificial, o Sputnik, provocou uma competição acirrada entre os Estados Unidos e a URSS pelo domínio tecnológico no espaço.

Mas, desde então, muita coisa mudou.

Na semana passada, a SpaceX, empresa aeroespacial de Elon Musk, lançou quatro passageiros particulares em um de seus foguetes para passar alguns dias na Estação Espacial Internacional. Ao mesmo tempo em que isso acontecia, a Blue Origin, empresa de Jeff Bezos, finalizou um contrato de US$ 3,4 bilhões com a NASA para desenvolver uma espaçonave capaz de transportar passageiros à Lua. E a Virgin Galactica, de Richard Branson, enviou um foguete com uma tripulação de seis funcionários da empresa para o espaço suborbital.

Foguete da SpaceX é preparado para decolagem em Brownsville, no Texas Foto: Joe Skipper/Reuters

Esses são apenas três dos esforços ousados, caros e contínuos para alcançar papéis decisivos na exploração do universo. Antes, os principais adversários na corrida pelo espaço eram as duas superpotências, EUA e URSS. Agora, são uma multidão de empresas privadas. Além da privatização e da comercialização, a corrida pelo espaço também está sendo influenciada pela militarização, pela poluição causada pelos milhares de satélites inoperantes flutuando sem controle no espaço e pela paixão humana inata pela exploração.

As empresas privadas estão assumindo a liderança na exploração espacial e desenvolvendo as novas tecnologias necessárias para conquistar esse mercado. O setor espacial movimentou um total de US$ 469 bilhões em 2021. SpaceX e Blue Origin são as principais concorrentes nesse setor.

Mas essas gigantes não estão sozinhas: são apoiados por um vasto ecossistema formado por cerca de 10.000 pequenas e médias empresas no que é conhecido como indústria do ‘Novo Espaço’. Esta constelação abrange desde a produção de componentes para satélites e sistemas de controle terrestre até o projeto e fabricação de foguetes, bem como a crescente promessa do turismo espacial.

Outra tendência importante é a militarização do espaço. As grandes potências mundiais estão desenvolvendo sistemas espaciais militares e, ao mesmo tempo, sistemas de defesa contra esse tipo de ataque. Armas anti-satélite e sistemas de vigilância são apenas alguns exemplos de como o espaço está se tornando um teatro de conflitos geopolíticos.

De forma incipiente, parte disso já está acontecendo. O surpreendente sucesso da resistência ucraniana à invasão russa deve muito ao seu acesso a tecnologias de satélite para dominar o campo de batalha, apontar suas armas com precisão e atacar as linhas de abastecimento inimigas.

E embora ainda não tenhamos testemunhado a primeira guerra em grande escala em que a infraestrutura orbital de um adversário seja atacada diretamente, esse dia inevitavelmente chegará. E quando isso acontecer, o sistema internacional pode ser seriamente desestabilizado.

Um terceiro elemento desse boom espacial é a crescente poluição criada pelo lixo espacial. São detritos de lançamentos anteriores de satélites que não desempenham mais nenhuma função, mas continuam a flutuar sem controle no espaço. Isso criou uma espessa camada de detritos que ninguém sabe como remover. É um problema crescente, porque muitas das novas tecnologias requerem um grande número de satélites para funcionar.

Jeff Bezos dentro da espaçonave da Blue Origin  Foto: Isaiah J. Downing/Reuters

Propostas como a da empresa OneWeb, liderada pelo empresário Greg Weiler, que tem planos de lançar 100 mil satélites no espaço até 2030, suscitam sérias preocupações. Como a própria OneWeb reconheceu, já existe quase 1.000.000 de fragmentos de lixo orbital orbitando a Terra a 27.000 km/hora, e as tecnologias para recuperar detritos ainda estão engatinhando. Embora esses satélites sejam pequenos, seus números são enormes e, quando saírem de serviço, ainda estarão em órbita, colocando em risco os sistemas que vierem depois.

Por que tudo isso está acontecendo? Dois motivos: lucro e curiosidade. Muitas tecnologias, como sistemas de posicionamento global por satélite (GPS) e projetos como a Starlink de Elon Musk, só podem ser comercializados com uma vasta presença espacial. No Vale do Silício, todos sentem que há grandes fortunas a serem ganhas em órbita, o que está alimentando essa corrida do ouro no espaço.

Por outro lado, os seres humanos são naturalmente curiosos. O espaço representa um horizonte desconhecido, um desafio irresistível para a nossa espécie. Nosso desejo de descobrir, de explorar fronteiras desconhecidas, continuará a impulsionar o interesse pelo espaço como mercado e como campo de batalha.

Dizem que, quando perguntaram ao grande explorador britânico George Mallory por que ele queria escalar o Everest, ele respondeu, “porque está lá”. Parece bobo, mas o desafio daquilo que está lá e que ainda não conseguimos conquistar sempre terá um encanto especial para os humanos. A sede de ser o primeiro a vencer um desafio nos define como espécie. E o espaço... está lá. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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