É escritor venezuelano e membro do Carnegie Endowment. Escreve quinzenalmente

Opinião|Seria Putin capaz de usar armas nucleares táticas na Ucrânia? Leia artigo de Moisés Naim


Comunidade de inteligência americana reconhece preocupação com a possibilidade de a Rússia fazer ataque de pequena escala contra Kiev

Por Moisés Naim

Ele ousaria? Seria Vladimir Putin um sociopata niilista que não valoriza a vida humana e estaria disposto a usar armas nucleares contra seus inimigos? Ou seria ele, antes, um negociador inteligente que usa a ameaça nuclear para extrair concessões de seus rivais? Essas são as questões que mantêm os militares americanos, diplomatas, espiões e seus aliados acordados à noite. E também as pessoas comuns.

Durante décadas, a chamada doutrina da destruição mútua assegurada serviu para dissuadir os líderes mundiais que pudessem ver-se tentados a usar armas nucleares. Seu emprego garantia a retaliação com armas semelhantes e, portanto, a morte de centenas de milhões de pessoas e a devastação de cidades inteiras. Não haveria vencedores. Agora, as coisas parecem ter mudado.

Alguns dias atrás, Bill Burns, o respeitado diretor da CIA, reconheceu publicamente que os Estados Unidos estão preocupados com a possibilidade de a Rússia usar armas nucleares táticas na Ucrânia. Burns disse que “dado o desespero do presidente Putin e da liderança russa diante dos reveses militares que sofreram, nenhum de nós considera implausível a ameaça de a Rússia recorrer ao uso de armas nucleares táticas ou armas nucleares de menor potência”.

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Soldado russo no teatro de Mariupol destruído por bombardeio de seu país Foto: ALEXANDER NEMENOV

A CIA está “observando tudo muito de perto”, disse Burns, embora também tenha esclarecido que eles ainda precisam detectar quaisquer sinais de que a Rússia esteja se preparando para dar tal passo. É obviamente preocupante que o futuro da humanidade dependa das decisões de uma única pessoa.

Reconhecendo isso e levando em conta o comportamento inaceitável da Rússia na Ucrânia – e seu desempenho igualmente condenável na Chechênia e na Síria – é natural que muito esforço seja feito para entender como funciona a psique de Putin.

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Burns, que também foi embaixador dos EUA na Rússia de 2005 a 2008, e mais tarde ocupou os cargos mais altos do governo de Washington, é o funcionário dos EUA que teve as interações mais pessoais com Putin. No seu livro de memórias publicado em 2019, Burns revela que a característica mais notável do líder russo “é sua paixão pelo controle – fundada em uma desconfiança profunda e constante de todos ao seu redor, sejam eles membros da elite russa ou líderes de outros países”.

Burns especula que a visão de mundo que agora define o modo de pensar de Putin foi alimentada tanto por seu treinamento como espião da KGB quanto por suas experiências como criança e adolescente nas ruas violentas de Leningrado durante os anos do pós-guerra. O próprio Putin disse que neste contexto urbano “os fracos são espancados”. É provável que dessa percepção venha seu antigo interesse pelo judô.

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Andrew Weiss é outro renomado especialista em Rússia que já em 2014 destacou que “Putin está muito mais isolado de seus principais colegas estrangeiros do que em qualquer outro momento de seu mandato. Depois de quase 15 anos no comando e ultimamente no centro das atenções mundiais (por sua tomada da Crimeia), Putin se vê como um gigante entre os fracos, que não estão à altura de seus padrões e não podem competir com ele”.

Oito anos depois, teria Putin mudado essa percepção? Certamente as recentes desventuras militares na Ucrânia abriram seus olhos para as fraquezas de suas Forças Armadas e as surpreendentes forças dos ucranianos. Mas há aspectos da personalidade de Putin que parecem não ter mudado. Burns disse recentemente: “ao longo dos anos, observei como Putin se alimentava de uma combinação explosiva de queixas, ambição e insegurança”.

É muito difícil saber o que Putin está planejando. Mas ele mesmo nos explicou como pensa. Sabemos, portanto, que sua visão de mundo pertence ao século 19: uma realidade internacional anárquica onde a única coisa que importa, em última análise, é o poder militar. Seus inimigos, enquanto isso, vivem no século 21.

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O presidente Zelenski, por exemplo, parece mais à vontade fazendo um discurso no Grammy do que usando gravata em seu gabinete. Enquanto Zelenski sempre anda com uma camisa militar verde-oliva, Putin claramente prefere ser visto de terno e gravata. Zelenski recebe seus visitantes constantes com relativa informalidade em seus escritórios cheios de sacos de areia, Putin, em vez disso, os força a sentar na outra ponta de sua nova mesa branca de seis metros de comprimento.

É difícil se acostumar a pensar com os mesmos critérios geopolíticos que prevaleciam no século 19. A visão segundo a qual a única coisa que importa é o poder de fogo de cada lado é antiga e ultrapassada. Preferimos não ter de pensar assim. Mas parece que Putin não vai nos deixar essa alternativa. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Ele ousaria? Seria Vladimir Putin um sociopata niilista que não valoriza a vida humana e estaria disposto a usar armas nucleares contra seus inimigos? Ou seria ele, antes, um negociador inteligente que usa a ameaça nuclear para extrair concessões de seus rivais? Essas são as questões que mantêm os militares americanos, diplomatas, espiões e seus aliados acordados à noite. E também as pessoas comuns.

Durante décadas, a chamada doutrina da destruição mútua assegurada serviu para dissuadir os líderes mundiais que pudessem ver-se tentados a usar armas nucleares. Seu emprego garantia a retaliação com armas semelhantes e, portanto, a morte de centenas de milhões de pessoas e a devastação de cidades inteiras. Não haveria vencedores. Agora, as coisas parecem ter mudado.

Alguns dias atrás, Bill Burns, o respeitado diretor da CIA, reconheceu publicamente que os Estados Unidos estão preocupados com a possibilidade de a Rússia usar armas nucleares táticas na Ucrânia. Burns disse que “dado o desespero do presidente Putin e da liderança russa diante dos reveses militares que sofreram, nenhum de nós considera implausível a ameaça de a Rússia recorrer ao uso de armas nucleares táticas ou armas nucleares de menor potência”.

Soldado russo no teatro de Mariupol destruído por bombardeio de seu país Foto: ALEXANDER NEMENOV

A CIA está “observando tudo muito de perto”, disse Burns, embora também tenha esclarecido que eles ainda precisam detectar quaisquer sinais de que a Rússia esteja se preparando para dar tal passo. É obviamente preocupante que o futuro da humanidade dependa das decisões de uma única pessoa.

Reconhecendo isso e levando em conta o comportamento inaceitável da Rússia na Ucrânia – e seu desempenho igualmente condenável na Chechênia e na Síria – é natural que muito esforço seja feito para entender como funciona a psique de Putin.

Burns, que também foi embaixador dos EUA na Rússia de 2005 a 2008, e mais tarde ocupou os cargos mais altos do governo de Washington, é o funcionário dos EUA que teve as interações mais pessoais com Putin. No seu livro de memórias publicado em 2019, Burns revela que a característica mais notável do líder russo “é sua paixão pelo controle – fundada em uma desconfiança profunda e constante de todos ao seu redor, sejam eles membros da elite russa ou líderes de outros países”.

Burns especula que a visão de mundo que agora define o modo de pensar de Putin foi alimentada tanto por seu treinamento como espião da KGB quanto por suas experiências como criança e adolescente nas ruas violentas de Leningrado durante os anos do pós-guerra. O próprio Putin disse que neste contexto urbano “os fracos são espancados”. É provável que dessa percepção venha seu antigo interesse pelo judô.

Andrew Weiss é outro renomado especialista em Rússia que já em 2014 destacou que “Putin está muito mais isolado de seus principais colegas estrangeiros do que em qualquer outro momento de seu mandato. Depois de quase 15 anos no comando e ultimamente no centro das atenções mundiais (por sua tomada da Crimeia), Putin se vê como um gigante entre os fracos, que não estão à altura de seus padrões e não podem competir com ele”.

Oito anos depois, teria Putin mudado essa percepção? Certamente as recentes desventuras militares na Ucrânia abriram seus olhos para as fraquezas de suas Forças Armadas e as surpreendentes forças dos ucranianos. Mas há aspectos da personalidade de Putin que parecem não ter mudado. Burns disse recentemente: “ao longo dos anos, observei como Putin se alimentava de uma combinação explosiva de queixas, ambição e insegurança”.

É muito difícil saber o que Putin está planejando. Mas ele mesmo nos explicou como pensa. Sabemos, portanto, que sua visão de mundo pertence ao século 19: uma realidade internacional anárquica onde a única coisa que importa, em última análise, é o poder militar. Seus inimigos, enquanto isso, vivem no século 21.

O presidente Zelenski, por exemplo, parece mais à vontade fazendo um discurso no Grammy do que usando gravata em seu gabinete. Enquanto Zelenski sempre anda com uma camisa militar verde-oliva, Putin claramente prefere ser visto de terno e gravata. Zelenski recebe seus visitantes constantes com relativa informalidade em seus escritórios cheios de sacos de areia, Putin, em vez disso, os força a sentar na outra ponta de sua nova mesa branca de seis metros de comprimento.

É difícil se acostumar a pensar com os mesmos critérios geopolíticos que prevaleciam no século 19. A visão segundo a qual a única coisa que importa é o poder de fogo de cada lado é antiga e ultrapassada. Preferimos não ter de pensar assim. Mas parece que Putin não vai nos deixar essa alternativa. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Ele ousaria? Seria Vladimir Putin um sociopata niilista que não valoriza a vida humana e estaria disposto a usar armas nucleares contra seus inimigos? Ou seria ele, antes, um negociador inteligente que usa a ameaça nuclear para extrair concessões de seus rivais? Essas são as questões que mantêm os militares americanos, diplomatas, espiões e seus aliados acordados à noite. E também as pessoas comuns.

Durante décadas, a chamada doutrina da destruição mútua assegurada serviu para dissuadir os líderes mundiais que pudessem ver-se tentados a usar armas nucleares. Seu emprego garantia a retaliação com armas semelhantes e, portanto, a morte de centenas de milhões de pessoas e a devastação de cidades inteiras. Não haveria vencedores. Agora, as coisas parecem ter mudado.

Alguns dias atrás, Bill Burns, o respeitado diretor da CIA, reconheceu publicamente que os Estados Unidos estão preocupados com a possibilidade de a Rússia usar armas nucleares táticas na Ucrânia. Burns disse que “dado o desespero do presidente Putin e da liderança russa diante dos reveses militares que sofreram, nenhum de nós considera implausível a ameaça de a Rússia recorrer ao uso de armas nucleares táticas ou armas nucleares de menor potência”.

Soldado russo no teatro de Mariupol destruído por bombardeio de seu país Foto: ALEXANDER NEMENOV

A CIA está “observando tudo muito de perto”, disse Burns, embora também tenha esclarecido que eles ainda precisam detectar quaisquer sinais de que a Rússia esteja se preparando para dar tal passo. É obviamente preocupante que o futuro da humanidade dependa das decisões de uma única pessoa.

Reconhecendo isso e levando em conta o comportamento inaceitável da Rússia na Ucrânia – e seu desempenho igualmente condenável na Chechênia e na Síria – é natural que muito esforço seja feito para entender como funciona a psique de Putin.

Burns, que também foi embaixador dos EUA na Rússia de 2005 a 2008, e mais tarde ocupou os cargos mais altos do governo de Washington, é o funcionário dos EUA que teve as interações mais pessoais com Putin. No seu livro de memórias publicado em 2019, Burns revela que a característica mais notável do líder russo “é sua paixão pelo controle – fundada em uma desconfiança profunda e constante de todos ao seu redor, sejam eles membros da elite russa ou líderes de outros países”.

Burns especula que a visão de mundo que agora define o modo de pensar de Putin foi alimentada tanto por seu treinamento como espião da KGB quanto por suas experiências como criança e adolescente nas ruas violentas de Leningrado durante os anos do pós-guerra. O próprio Putin disse que neste contexto urbano “os fracos são espancados”. É provável que dessa percepção venha seu antigo interesse pelo judô.

Andrew Weiss é outro renomado especialista em Rússia que já em 2014 destacou que “Putin está muito mais isolado de seus principais colegas estrangeiros do que em qualquer outro momento de seu mandato. Depois de quase 15 anos no comando e ultimamente no centro das atenções mundiais (por sua tomada da Crimeia), Putin se vê como um gigante entre os fracos, que não estão à altura de seus padrões e não podem competir com ele”.

Oito anos depois, teria Putin mudado essa percepção? Certamente as recentes desventuras militares na Ucrânia abriram seus olhos para as fraquezas de suas Forças Armadas e as surpreendentes forças dos ucranianos. Mas há aspectos da personalidade de Putin que parecem não ter mudado. Burns disse recentemente: “ao longo dos anos, observei como Putin se alimentava de uma combinação explosiva de queixas, ambição e insegurança”.

É muito difícil saber o que Putin está planejando. Mas ele mesmo nos explicou como pensa. Sabemos, portanto, que sua visão de mundo pertence ao século 19: uma realidade internacional anárquica onde a única coisa que importa, em última análise, é o poder militar. Seus inimigos, enquanto isso, vivem no século 21.

O presidente Zelenski, por exemplo, parece mais à vontade fazendo um discurso no Grammy do que usando gravata em seu gabinete. Enquanto Zelenski sempre anda com uma camisa militar verde-oliva, Putin claramente prefere ser visto de terno e gravata. Zelenski recebe seus visitantes constantes com relativa informalidade em seus escritórios cheios de sacos de areia, Putin, em vez disso, os força a sentar na outra ponta de sua nova mesa branca de seis metros de comprimento.

É difícil se acostumar a pensar com os mesmos critérios geopolíticos que prevaleciam no século 19. A visão segundo a qual a única coisa que importa é o poder de fogo de cada lado é antiga e ultrapassada. Preferimos não ter de pensar assim. Mas parece que Putin não vai nos deixar essa alternativa. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Opinião por Moisés Naim

É escritor venezuelano e membro do Carnegie Endowmen

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