Monarquia e governo britânico mergulham em crises simultâneas; leia análise 


Historicamente, as instituições apoiaram uma à outra em momentos turbulentos; mas diante das desconcertantes acusações contra o príncipe Andrew e o primeiro-ministro Boris Johnson, agora isso não é uma opção

Por Mark Landler

LONDRES — Quando o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, foi hospitalizado com covid-19 em abril de 2020, o alarmante boletim à imprensa foi emitido pouco após a rainha Elizabeth II discursar na TV garantindo aos britânicos que a pandemia de coronavírus recuaria. “Voltaremos a nos encontrar”, disse ela.

Estóicas, dignificantes e reconfortantes, as palavras da rainha ajudaram o país a se escorar durante os irritadiços dias que se seguiram — não era a primeira vez que a monarquia agia como uma força estabilizadora para o governo durante acontecimentos turbulentos. 

Esta semana, porém, ambas as grandiosas instituições britânicas entraram em crise simultaneamente. Na quarta-feira, Johnson admitiu ter comparecido, pouco depois de se recuperar da covid, a uma festa de jardim que violou regras de lockdown e desencadeou um coro de pedidos por sua renúncia. Horas depois, um juiz de Manhattan rejeitou um pedido do segundo filho da rainha, o príncipe Andrew, para a anulação do processo de abuso sexual a que ele responde.

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Na quinta-feira, o Palácio de Buckingham anunciou que forçará Andrew a abrir mão de seus títulos militares e do honorífico “sua alteza real”. "Ele defende-se neste caso enquanto cidadão privado”, afirmou o palácio no sucinto comunicado que sublinhou a finalidade do exílio do príncipe da vida real. 

Príncipe Andrew (E) e o premiê Boris Johnson em evento noRoyal Albert Hall, in Kensington, Londres, em novembro de 2019 Foto: Chris Jackson/Pool via AP

Ainda que esses casos sejam relativos a temas acentuadamente distintos, ambos apresentam privilegiados homens de meia idade sob ataque em razão de seu comportamento, levantando antigas questões de classes, títulos e desigualdades. 

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“Boris Johnson e o príncipe Andrew”, tuitou Alastair Campbell, que trabalhou como chefe de comunicação do ex-primeiro-ministro Tony Blair. “Que bela imagem o mundo está tendo do Reino Unido Global.” 

Campbell participou de um episódio, atualmente celebrado, em que um governo mais estável ajudou a monarquia em crise: em 1997, ele e Blair, um popular líder trabalhista ungido por uma vitória acachapante nas eleições recentes, persuadiram a rainha e expressar um tom mais empático ao reagir à morte da princesa Diana num acidente de carro. Isso dissolveu uma crescente maré de ressentimento contra a monarca. “Normalmente”, afirmou Campbell, “eles evitam crises ao mesmo tempo”. 

Comentaristas afirmaram, em tom jocoso, que a decisão legal contra Andrew, de 61 anos, ajudou Johnson, de 57, porque desviou a atenção do interrogatório do primeiro-ministro na Câmara dos Comuns, no qual parlamentares de oposição o acusaram de mentir e exigiram sua renúncia. Mas ambos os homens estão à mercê de forças que escapam amplamente de seu controle. 

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Investigação

Johnson pediu que os legisladores adiem seu julgamento, para aguardar os resultados de uma investigação interna a respeito das festas em Downing Street realizada por uma graduada funcionária pública, Sue Gray. Se ela determinar que Johnson enganou o Parlamento com suas declarações, certamente isso lhe custará o cargo. 

Andrew, ao fracassar em conseguir a anulação da acusação apresentada contra ele por Virginia Giuffre, que o acusa de tê-la estuprado quando ela ainda era adolescente, encara o prospecto de revelações contundentes. Ela afirma que foi traficada para Andrew por um amigo dele, o financista condenado por pedofilia pela Justiça Jeffrey Epstein, que se matou na prisão em agosto de 2019. Andrew nega categoricamente a acusação e afirma não ter lembrança de nenhum encontro com Giuffre.

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O que há de comum entre os dois casos, afirmam críticos, é a ausência de admissões de responsabilidade por parte dos principais atores. 

Johnson, ao se desculpar pela festa, reconheceu a raiva que as pessoas devem sentir “quando pensam que, na própria Downing Street, regras não são seguidas pelas pessoas que as formulam”. Mas o primeiro-ministro insistiu que considerou a reunião um “evento de trabalho” — no qual esteve por apenas 25 minutos — um álibi que coloca a culpa sobre os subordinados que organizaram a reunião. 

Andrew não comentou seu revés judicial. Mas ele e seus advogados manobraram para evitar enfrentar as acusações de Giuffre em um julgamento. O príncipe se esforçou para não ser intimado com documentos legais no Reino Unido. Seus advogados tentaram anular o caso fundamentados em alegações jurisdicionais e, mais recentemente, com base no acordo entre Giuffre e Epstein.

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Com tanto em jogo, especialmente no ano em que a rainha celebra 70 anos no trono, observadores da realeza especulam que Andrew deverá buscar seu próprio acordo com Giuffre. Os jornais britânicos já perguntam quem pagará pela compensação e com que dinheiro. 

O anúncio do Palácio de Buckingham de que destituirá Andrew de seus títulos militares e do honorífico “sua alteza real” sugere que não existe caminho para a recuperação de sua imagem. Esse é o tipo de ação implacável que os parlamentares do Partido Conservador não aplicaram contra Johnson, apesar de sua frustração com ele.

Enquanto monarca constitucional, a rainha evitará envolver-se em qualquer questão relativa ao futuro político de Johnson — ou à política em geral. Mas isso não significa que ela não tenha influência. Especialistas em legislação afirmam que a monarquia, por causa de sua longevidade e constância, é capaz de exercer um efeito moderador sobre as forças mais extremas na política. 

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“A monarquia age como um ‘fiel da balança’ no sentido de ser uma instituição que, quando os atores políticos direcionam o navio do Estado longe demais a alguma direção, eles sejam capazes de trazê-lo de volta ao seu caminho”, afirmou Harold Hongju Koh, acadêmico americano que atua como professor-visitante na Universidade de Oxford este ano.

Trata-se de um equilíbrio delicado. No fim de 2019, Johnson foi criticado por pedir à rainha a suspensão do Parlamento, uma manobra que a Suprema Corte britânica posteriormente julgou ilegal, porque fora projetada para silenciar o debate a respeito dos planos do primeiro-ministro de retirar o país da União Europeia. 

A rainha Elizabeth II, isolada, durante o funeral de seu marido, príncipe Philip, em 17 de abril de 2021 Foto: Victoria Jones/Reuters

Ao contrário de abril de 2020, quando a rainha mandou para o enfermo Johnson seus melhores desejos, a monarca quase certamente permanecerá calada a respeito da atual aflição do primeiro-ministro. Acima de tudo, a disciplinada adesão de Elisabeth às regras de distanciamento social — expressa de maneira comovente em seu choro solitário durante funeral do marido, o príncipe Philip — é um vívido contraste em relação às atividades sociais de Johnson após o expediente.

Para Johnson, as festas clandestinas são tão prejudiciais porque provocam um grau de indignação no público que outros escândalos, como a dispendiosa reforma de seu apartamento em Downing Street ou suas defesas a um parlamentar eticamente desafiado, não chegam a provocar. A sensação de dois pesos e duas medidas, uma vez que cola, é difícil fazer desgrudar.

“A maioria das pessoas não está interessada em política, e por isso muitos temas que excitam comentadores políticos não têm ressonância entre elas. Mas neste caso, a coisa é diferente”, afirmou Vernon Bogdanor, professor de gestão pública da King’s College London. “Houve muitas pessoas que não puderam ver parentes idosos, doentes ou à beira da morte nesse período”, afirmou ele. “Elas contarão isso para todo mundo.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

LONDRES — Quando o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, foi hospitalizado com covid-19 em abril de 2020, o alarmante boletim à imprensa foi emitido pouco após a rainha Elizabeth II discursar na TV garantindo aos britânicos que a pandemia de coronavírus recuaria. “Voltaremos a nos encontrar”, disse ela.

Estóicas, dignificantes e reconfortantes, as palavras da rainha ajudaram o país a se escorar durante os irritadiços dias que se seguiram — não era a primeira vez que a monarquia agia como uma força estabilizadora para o governo durante acontecimentos turbulentos. 

Esta semana, porém, ambas as grandiosas instituições britânicas entraram em crise simultaneamente. Na quarta-feira, Johnson admitiu ter comparecido, pouco depois de se recuperar da covid, a uma festa de jardim que violou regras de lockdown e desencadeou um coro de pedidos por sua renúncia. Horas depois, um juiz de Manhattan rejeitou um pedido do segundo filho da rainha, o príncipe Andrew, para a anulação do processo de abuso sexual a que ele responde.

Na quinta-feira, o Palácio de Buckingham anunciou que forçará Andrew a abrir mão de seus títulos militares e do honorífico “sua alteza real”. "Ele defende-se neste caso enquanto cidadão privado”, afirmou o palácio no sucinto comunicado que sublinhou a finalidade do exílio do príncipe da vida real. 

Príncipe Andrew (E) e o premiê Boris Johnson em evento noRoyal Albert Hall, in Kensington, Londres, em novembro de 2019 Foto: Chris Jackson/Pool via AP

Ainda que esses casos sejam relativos a temas acentuadamente distintos, ambos apresentam privilegiados homens de meia idade sob ataque em razão de seu comportamento, levantando antigas questões de classes, títulos e desigualdades. 

“Boris Johnson e o príncipe Andrew”, tuitou Alastair Campbell, que trabalhou como chefe de comunicação do ex-primeiro-ministro Tony Blair. “Que bela imagem o mundo está tendo do Reino Unido Global.” 

Campbell participou de um episódio, atualmente celebrado, em que um governo mais estável ajudou a monarquia em crise: em 1997, ele e Blair, um popular líder trabalhista ungido por uma vitória acachapante nas eleições recentes, persuadiram a rainha e expressar um tom mais empático ao reagir à morte da princesa Diana num acidente de carro. Isso dissolveu uma crescente maré de ressentimento contra a monarca. “Normalmente”, afirmou Campbell, “eles evitam crises ao mesmo tempo”. 

Comentaristas afirmaram, em tom jocoso, que a decisão legal contra Andrew, de 61 anos, ajudou Johnson, de 57, porque desviou a atenção do interrogatório do primeiro-ministro na Câmara dos Comuns, no qual parlamentares de oposição o acusaram de mentir e exigiram sua renúncia. Mas ambos os homens estão à mercê de forças que escapam amplamente de seu controle. 

Investigação

Johnson pediu que os legisladores adiem seu julgamento, para aguardar os resultados de uma investigação interna a respeito das festas em Downing Street realizada por uma graduada funcionária pública, Sue Gray. Se ela determinar que Johnson enganou o Parlamento com suas declarações, certamente isso lhe custará o cargo. 

Andrew, ao fracassar em conseguir a anulação da acusação apresentada contra ele por Virginia Giuffre, que o acusa de tê-la estuprado quando ela ainda era adolescente, encara o prospecto de revelações contundentes. Ela afirma que foi traficada para Andrew por um amigo dele, o financista condenado por pedofilia pela Justiça Jeffrey Epstein, que se matou na prisão em agosto de 2019. Andrew nega categoricamente a acusação e afirma não ter lembrança de nenhum encontro com Giuffre.

O que há de comum entre os dois casos, afirmam críticos, é a ausência de admissões de responsabilidade por parte dos principais atores. 

Johnson, ao se desculpar pela festa, reconheceu a raiva que as pessoas devem sentir “quando pensam que, na própria Downing Street, regras não são seguidas pelas pessoas que as formulam”. Mas o primeiro-ministro insistiu que considerou a reunião um “evento de trabalho” — no qual esteve por apenas 25 minutos — um álibi que coloca a culpa sobre os subordinados que organizaram a reunião. 

Andrew não comentou seu revés judicial. Mas ele e seus advogados manobraram para evitar enfrentar as acusações de Giuffre em um julgamento. O príncipe se esforçou para não ser intimado com documentos legais no Reino Unido. Seus advogados tentaram anular o caso fundamentados em alegações jurisdicionais e, mais recentemente, com base no acordo entre Giuffre e Epstein.

Com tanto em jogo, especialmente no ano em que a rainha celebra 70 anos no trono, observadores da realeza especulam que Andrew deverá buscar seu próprio acordo com Giuffre. Os jornais britânicos já perguntam quem pagará pela compensação e com que dinheiro. 

O anúncio do Palácio de Buckingham de que destituirá Andrew de seus títulos militares e do honorífico “sua alteza real” sugere que não existe caminho para a recuperação de sua imagem. Esse é o tipo de ação implacável que os parlamentares do Partido Conservador não aplicaram contra Johnson, apesar de sua frustração com ele.

Enquanto monarca constitucional, a rainha evitará envolver-se em qualquer questão relativa ao futuro político de Johnson — ou à política em geral. Mas isso não significa que ela não tenha influência. Especialistas em legislação afirmam que a monarquia, por causa de sua longevidade e constância, é capaz de exercer um efeito moderador sobre as forças mais extremas na política. 

“A monarquia age como um ‘fiel da balança’ no sentido de ser uma instituição que, quando os atores políticos direcionam o navio do Estado longe demais a alguma direção, eles sejam capazes de trazê-lo de volta ao seu caminho”, afirmou Harold Hongju Koh, acadêmico americano que atua como professor-visitante na Universidade de Oxford este ano.

Trata-se de um equilíbrio delicado. No fim de 2019, Johnson foi criticado por pedir à rainha a suspensão do Parlamento, uma manobra que a Suprema Corte britânica posteriormente julgou ilegal, porque fora projetada para silenciar o debate a respeito dos planos do primeiro-ministro de retirar o país da União Europeia. 

A rainha Elizabeth II, isolada, durante o funeral de seu marido, príncipe Philip, em 17 de abril de 2021 Foto: Victoria Jones/Reuters

Ao contrário de abril de 2020, quando a rainha mandou para o enfermo Johnson seus melhores desejos, a monarca quase certamente permanecerá calada a respeito da atual aflição do primeiro-ministro. Acima de tudo, a disciplinada adesão de Elisabeth às regras de distanciamento social — expressa de maneira comovente em seu choro solitário durante funeral do marido, o príncipe Philip — é um vívido contraste em relação às atividades sociais de Johnson após o expediente.

Para Johnson, as festas clandestinas são tão prejudiciais porque provocam um grau de indignação no público que outros escândalos, como a dispendiosa reforma de seu apartamento em Downing Street ou suas defesas a um parlamentar eticamente desafiado, não chegam a provocar. A sensação de dois pesos e duas medidas, uma vez que cola, é difícil fazer desgrudar.

“A maioria das pessoas não está interessada em política, e por isso muitos temas que excitam comentadores políticos não têm ressonância entre elas. Mas neste caso, a coisa é diferente”, afirmou Vernon Bogdanor, professor de gestão pública da King’s College London. “Houve muitas pessoas que não puderam ver parentes idosos, doentes ou à beira da morte nesse período”, afirmou ele. “Elas contarão isso para todo mundo.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

LONDRES — Quando o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, foi hospitalizado com covid-19 em abril de 2020, o alarmante boletim à imprensa foi emitido pouco após a rainha Elizabeth II discursar na TV garantindo aos britânicos que a pandemia de coronavírus recuaria. “Voltaremos a nos encontrar”, disse ela.

Estóicas, dignificantes e reconfortantes, as palavras da rainha ajudaram o país a se escorar durante os irritadiços dias que se seguiram — não era a primeira vez que a monarquia agia como uma força estabilizadora para o governo durante acontecimentos turbulentos. 

Esta semana, porém, ambas as grandiosas instituições britânicas entraram em crise simultaneamente. Na quarta-feira, Johnson admitiu ter comparecido, pouco depois de se recuperar da covid, a uma festa de jardim que violou regras de lockdown e desencadeou um coro de pedidos por sua renúncia. Horas depois, um juiz de Manhattan rejeitou um pedido do segundo filho da rainha, o príncipe Andrew, para a anulação do processo de abuso sexual a que ele responde.

Na quinta-feira, o Palácio de Buckingham anunciou que forçará Andrew a abrir mão de seus títulos militares e do honorífico “sua alteza real”. "Ele defende-se neste caso enquanto cidadão privado”, afirmou o palácio no sucinto comunicado que sublinhou a finalidade do exílio do príncipe da vida real. 

Príncipe Andrew (E) e o premiê Boris Johnson em evento noRoyal Albert Hall, in Kensington, Londres, em novembro de 2019 Foto: Chris Jackson/Pool via AP

Ainda que esses casos sejam relativos a temas acentuadamente distintos, ambos apresentam privilegiados homens de meia idade sob ataque em razão de seu comportamento, levantando antigas questões de classes, títulos e desigualdades. 

“Boris Johnson e o príncipe Andrew”, tuitou Alastair Campbell, que trabalhou como chefe de comunicação do ex-primeiro-ministro Tony Blair. “Que bela imagem o mundo está tendo do Reino Unido Global.” 

Campbell participou de um episódio, atualmente celebrado, em que um governo mais estável ajudou a monarquia em crise: em 1997, ele e Blair, um popular líder trabalhista ungido por uma vitória acachapante nas eleições recentes, persuadiram a rainha e expressar um tom mais empático ao reagir à morte da princesa Diana num acidente de carro. Isso dissolveu uma crescente maré de ressentimento contra a monarca. “Normalmente”, afirmou Campbell, “eles evitam crises ao mesmo tempo”. 

Comentaristas afirmaram, em tom jocoso, que a decisão legal contra Andrew, de 61 anos, ajudou Johnson, de 57, porque desviou a atenção do interrogatório do primeiro-ministro na Câmara dos Comuns, no qual parlamentares de oposição o acusaram de mentir e exigiram sua renúncia. Mas ambos os homens estão à mercê de forças que escapam amplamente de seu controle. 

Investigação

Johnson pediu que os legisladores adiem seu julgamento, para aguardar os resultados de uma investigação interna a respeito das festas em Downing Street realizada por uma graduada funcionária pública, Sue Gray. Se ela determinar que Johnson enganou o Parlamento com suas declarações, certamente isso lhe custará o cargo. 

Andrew, ao fracassar em conseguir a anulação da acusação apresentada contra ele por Virginia Giuffre, que o acusa de tê-la estuprado quando ela ainda era adolescente, encara o prospecto de revelações contundentes. Ela afirma que foi traficada para Andrew por um amigo dele, o financista condenado por pedofilia pela Justiça Jeffrey Epstein, que se matou na prisão em agosto de 2019. Andrew nega categoricamente a acusação e afirma não ter lembrança de nenhum encontro com Giuffre.

O que há de comum entre os dois casos, afirmam críticos, é a ausência de admissões de responsabilidade por parte dos principais atores. 

Johnson, ao se desculpar pela festa, reconheceu a raiva que as pessoas devem sentir “quando pensam que, na própria Downing Street, regras não são seguidas pelas pessoas que as formulam”. Mas o primeiro-ministro insistiu que considerou a reunião um “evento de trabalho” — no qual esteve por apenas 25 minutos — um álibi que coloca a culpa sobre os subordinados que organizaram a reunião. 

Andrew não comentou seu revés judicial. Mas ele e seus advogados manobraram para evitar enfrentar as acusações de Giuffre em um julgamento. O príncipe se esforçou para não ser intimado com documentos legais no Reino Unido. Seus advogados tentaram anular o caso fundamentados em alegações jurisdicionais e, mais recentemente, com base no acordo entre Giuffre e Epstein.

Com tanto em jogo, especialmente no ano em que a rainha celebra 70 anos no trono, observadores da realeza especulam que Andrew deverá buscar seu próprio acordo com Giuffre. Os jornais britânicos já perguntam quem pagará pela compensação e com que dinheiro. 

O anúncio do Palácio de Buckingham de que destituirá Andrew de seus títulos militares e do honorífico “sua alteza real” sugere que não existe caminho para a recuperação de sua imagem. Esse é o tipo de ação implacável que os parlamentares do Partido Conservador não aplicaram contra Johnson, apesar de sua frustração com ele.

Enquanto monarca constitucional, a rainha evitará envolver-se em qualquer questão relativa ao futuro político de Johnson — ou à política em geral. Mas isso não significa que ela não tenha influência. Especialistas em legislação afirmam que a monarquia, por causa de sua longevidade e constância, é capaz de exercer um efeito moderador sobre as forças mais extremas na política. 

“A monarquia age como um ‘fiel da balança’ no sentido de ser uma instituição que, quando os atores políticos direcionam o navio do Estado longe demais a alguma direção, eles sejam capazes de trazê-lo de volta ao seu caminho”, afirmou Harold Hongju Koh, acadêmico americano que atua como professor-visitante na Universidade de Oxford este ano.

Trata-se de um equilíbrio delicado. No fim de 2019, Johnson foi criticado por pedir à rainha a suspensão do Parlamento, uma manobra que a Suprema Corte britânica posteriormente julgou ilegal, porque fora projetada para silenciar o debate a respeito dos planos do primeiro-ministro de retirar o país da União Europeia. 

A rainha Elizabeth II, isolada, durante o funeral de seu marido, príncipe Philip, em 17 de abril de 2021 Foto: Victoria Jones/Reuters

Ao contrário de abril de 2020, quando a rainha mandou para o enfermo Johnson seus melhores desejos, a monarca quase certamente permanecerá calada a respeito da atual aflição do primeiro-ministro. Acima de tudo, a disciplinada adesão de Elisabeth às regras de distanciamento social — expressa de maneira comovente em seu choro solitário durante funeral do marido, o príncipe Philip — é um vívido contraste em relação às atividades sociais de Johnson após o expediente.

Para Johnson, as festas clandestinas são tão prejudiciais porque provocam um grau de indignação no público que outros escândalos, como a dispendiosa reforma de seu apartamento em Downing Street ou suas defesas a um parlamentar eticamente desafiado, não chegam a provocar. A sensação de dois pesos e duas medidas, uma vez que cola, é difícil fazer desgrudar.

“A maioria das pessoas não está interessada em política, e por isso muitos temas que excitam comentadores políticos não têm ressonância entre elas. Mas neste caso, a coisa é diferente”, afirmou Vernon Bogdanor, professor de gestão pública da King’s College London. “Houve muitas pessoas que não puderam ver parentes idosos, doentes ou à beira da morte nesse período”, afirmou ele. “Elas contarão isso para todo mundo.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

LONDRES — Quando o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, foi hospitalizado com covid-19 em abril de 2020, o alarmante boletim à imprensa foi emitido pouco após a rainha Elizabeth II discursar na TV garantindo aos britânicos que a pandemia de coronavírus recuaria. “Voltaremos a nos encontrar”, disse ela.

Estóicas, dignificantes e reconfortantes, as palavras da rainha ajudaram o país a se escorar durante os irritadiços dias que se seguiram — não era a primeira vez que a monarquia agia como uma força estabilizadora para o governo durante acontecimentos turbulentos. 

Esta semana, porém, ambas as grandiosas instituições britânicas entraram em crise simultaneamente. Na quarta-feira, Johnson admitiu ter comparecido, pouco depois de se recuperar da covid, a uma festa de jardim que violou regras de lockdown e desencadeou um coro de pedidos por sua renúncia. Horas depois, um juiz de Manhattan rejeitou um pedido do segundo filho da rainha, o príncipe Andrew, para a anulação do processo de abuso sexual a que ele responde.

Na quinta-feira, o Palácio de Buckingham anunciou que forçará Andrew a abrir mão de seus títulos militares e do honorífico “sua alteza real”. "Ele defende-se neste caso enquanto cidadão privado”, afirmou o palácio no sucinto comunicado que sublinhou a finalidade do exílio do príncipe da vida real. 

Príncipe Andrew (E) e o premiê Boris Johnson em evento noRoyal Albert Hall, in Kensington, Londres, em novembro de 2019 Foto: Chris Jackson/Pool via AP

Ainda que esses casos sejam relativos a temas acentuadamente distintos, ambos apresentam privilegiados homens de meia idade sob ataque em razão de seu comportamento, levantando antigas questões de classes, títulos e desigualdades. 

“Boris Johnson e o príncipe Andrew”, tuitou Alastair Campbell, que trabalhou como chefe de comunicação do ex-primeiro-ministro Tony Blair. “Que bela imagem o mundo está tendo do Reino Unido Global.” 

Campbell participou de um episódio, atualmente celebrado, em que um governo mais estável ajudou a monarquia em crise: em 1997, ele e Blair, um popular líder trabalhista ungido por uma vitória acachapante nas eleições recentes, persuadiram a rainha e expressar um tom mais empático ao reagir à morte da princesa Diana num acidente de carro. Isso dissolveu uma crescente maré de ressentimento contra a monarca. “Normalmente”, afirmou Campbell, “eles evitam crises ao mesmo tempo”. 

Comentaristas afirmaram, em tom jocoso, que a decisão legal contra Andrew, de 61 anos, ajudou Johnson, de 57, porque desviou a atenção do interrogatório do primeiro-ministro na Câmara dos Comuns, no qual parlamentares de oposição o acusaram de mentir e exigiram sua renúncia. Mas ambos os homens estão à mercê de forças que escapam amplamente de seu controle. 

Investigação

Johnson pediu que os legisladores adiem seu julgamento, para aguardar os resultados de uma investigação interna a respeito das festas em Downing Street realizada por uma graduada funcionária pública, Sue Gray. Se ela determinar que Johnson enganou o Parlamento com suas declarações, certamente isso lhe custará o cargo. 

Andrew, ao fracassar em conseguir a anulação da acusação apresentada contra ele por Virginia Giuffre, que o acusa de tê-la estuprado quando ela ainda era adolescente, encara o prospecto de revelações contundentes. Ela afirma que foi traficada para Andrew por um amigo dele, o financista condenado por pedofilia pela Justiça Jeffrey Epstein, que se matou na prisão em agosto de 2019. Andrew nega categoricamente a acusação e afirma não ter lembrança de nenhum encontro com Giuffre.

O que há de comum entre os dois casos, afirmam críticos, é a ausência de admissões de responsabilidade por parte dos principais atores. 

Johnson, ao se desculpar pela festa, reconheceu a raiva que as pessoas devem sentir “quando pensam que, na própria Downing Street, regras não são seguidas pelas pessoas que as formulam”. Mas o primeiro-ministro insistiu que considerou a reunião um “evento de trabalho” — no qual esteve por apenas 25 minutos — um álibi que coloca a culpa sobre os subordinados que organizaram a reunião. 

Andrew não comentou seu revés judicial. Mas ele e seus advogados manobraram para evitar enfrentar as acusações de Giuffre em um julgamento. O príncipe se esforçou para não ser intimado com documentos legais no Reino Unido. Seus advogados tentaram anular o caso fundamentados em alegações jurisdicionais e, mais recentemente, com base no acordo entre Giuffre e Epstein.

Com tanto em jogo, especialmente no ano em que a rainha celebra 70 anos no trono, observadores da realeza especulam que Andrew deverá buscar seu próprio acordo com Giuffre. Os jornais britânicos já perguntam quem pagará pela compensação e com que dinheiro. 

O anúncio do Palácio de Buckingham de que destituirá Andrew de seus títulos militares e do honorífico “sua alteza real” sugere que não existe caminho para a recuperação de sua imagem. Esse é o tipo de ação implacável que os parlamentares do Partido Conservador não aplicaram contra Johnson, apesar de sua frustração com ele.

Enquanto monarca constitucional, a rainha evitará envolver-se em qualquer questão relativa ao futuro político de Johnson — ou à política em geral. Mas isso não significa que ela não tenha influência. Especialistas em legislação afirmam que a monarquia, por causa de sua longevidade e constância, é capaz de exercer um efeito moderador sobre as forças mais extremas na política. 

“A monarquia age como um ‘fiel da balança’ no sentido de ser uma instituição que, quando os atores políticos direcionam o navio do Estado longe demais a alguma direção, eles sejam capazes de trazê-lo de volta ao seu caminho”, afirmou Harold Hongju Koh, acadêmico americano que atua como professor-visitante na Universidade de Oxford este ano.

Trata-se de um equilíbrio delicado. No fim de 2019, Johnson foi criticado por pedir à rainha a suspensão do Parlamento, uma manobra que a Suprema Corte britânica posteriormente julgou ilegal, porque fora projetada para silenciar o debate a respeito dos planos do primeiro-ministro de retirar o país da União Europeia. 

A rainha Elizabeth II, isolada, durante o funeral de seu marido, príncipe Philip, em 17 de abril de 2021 Foto: Victoria Jones/Reuters

Ao contrário de abril de 2020, quando a rainha mandou para o enfermo Johnson seus melhores desejos, a monarca quase certamente permanecerá calada a respeito da atual aflição do primeiro-ministro. Acima de tudo, a disciplinada adesão de Elisabeth às regras de distanciamento social — expressa de maneira comovente em seu choro solitário durante funeral do marido, o príncipe Philip — é um vívido contraste em relação às atividades sociais de Johnson após o expediente.

Para Johnson, as festas clandestinas são tão prejudiciais porque provocam um grau de indignação no público que outros escândalos, como a dispendiosa reforma de seu apartamento em Downing Street ou suas defesas a um parlamentar eticamente desafiado, não chegam a provocar. A sensação de dois pesos e duas medidas, uma vez que cola, é difícil fazer desgrudar.

“A maioria das pessoas não está interessada em política, e por isso muitos temas que excitam comentadores políticos não têm ressonância entre elas. Mas neste caso, a coisa é diferente”, afirmou Vernon Bogdanor, professor de gestão pública da King’s College London. “Houve muitas pessoas que não puderam ver parentes idosos, doentes ou à beira da morte nesse período”, afirmou ele. “Elas contarão isso para todo mundo.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

LONDRES — Quando o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, foi hospitalizado com covid-19 em abril de 2020, o alarmante boletim à imprensa foi emitido pouco após a rainha Elizabeth II discursar na TV garantindo aos britânicos que a pandemia de coronavírus recuaria. “Voltaremos a nos encontrar”, disse ela.

Estóicas, dignificantes e reconfortantes, as palavras da rainha ajudaram o país a se escorar durante os irritadiços dias que se seguiram — não era a primeira vez que a monarquia agia como uma força estabilizadora para o governo durante acontecimentos turbulentos. 

Esta semana, porém, ambas as grandiosas instituições britânicas entraram em crise simultaneamente. Na quarta-feira, Johnson admitiu ter comparecido, pouco depois de se recuperar da covid, a uma festa de jardim que violou regras de lockdown e desencadeou um coro de pedidos por sua renúncia. Horas depois, um juiz de Manhattan rejeitou um pedido do segundo filho da rainha, o príncipe Andrew, para a anulação do processo de abuso sexual a que ele responde.

Na quinta-feira, o Palácio de Buckingham anunciou que forçará Andrew a abrir mão de seus títulos militares e do honorífico “sua alteza real”. "Ele defende-se neste caso enquanto cidadão privado”, afirmou o palácio no sucinto comunicado que sublinhou a finalidade do exílio do príncipe da vida real. 

Príncipe Andrew (E) e o premiê Boris Johnson em evento noRoyal Albert Hall, in Kensington, Londres, em novembro de 2019 Foto: Chris Jackson/Pool via AP

Ainda que esses casos sejam relativos a temas acentuadamente distintos, ambos apresentam privilegiados homens de meia idade sob ataque em razão de seu comportamento, levantando antigas questões de classes, títulos e desigualdades. 

“Boris Johnson e o príncipe Andrew”, tuitou Alastair Campbell, que trabalhou como chefe de comunicação do ex-primeiro-ministro Tony Blair. “Que bela imagem o mundo está tendo do Reino Unido Global.” 

Campbell participou de um episódio, atualmente celebrado, em que um governo mais estável ajudou a monarquia em crise: em 1997, ele e Blair, um popular líder trabalhista ungido por uma vitória acachapante nas eleições recentes, persuadiram a rainha e expressar um tom mais empático ao reagir à morte da princesa Diana num acidente de carro. Isso dissolveu uma crescente maré de ressentimento contra a monarca. “Normalmente”, afirmou Campbell, “eles evitam crises ao mesmo tempo”. 

Comentaristas afirmaram, em tom jocoso, que a decisão legal contra Andrew, de 61 anos, ajudou Johnson, de 57, porque desviou a atenção do interrogatório do primeiro-ministro na Câmara dos Comuns, no qual parlamentares de oposição o acusaram de mentir e exigiram sua renúncia. Mas ambos os homens estão à mercê de forças que escapam amplamente de seu controle. 

Investigação

Johnson pediu que os legisladores adiem seu julgamento, para aguardar os resultados de uma investigação interna a respeito das festas em Downing Street realizada por uma graduada funcionária pública, Sue Gray. Se ela determinar que Johnson enganou o Parlamento com suas declarações, certamente isso lhe custará o cargo. 

Andrew, ao fracassar em conseguir a anulação da acusação apresentada contra ele por Virginia Giuffre, que o acusa de tê-la estuprado quando ela ainda era adolescente, encara o prospecto de revelações contundentes. Ela afirma que foi traficada para Andrew por um amigo dele, o financista condenado por pedofilia pela Justiça Jeffrey Epstein, que se matou na prisão em agosto de 2019. Andrew nega categoricamente a acusação e afirma não ter lembrança de nenhum encontro com Giuffre.

O que há de comum entre os dois casos, afirmam críticos, é a ausência de admissões de responsabilidade por parte dos principais atores. 

Johnson, ao se desculpar pela festa, reconheceu a raiva que as pessoas devem sentir “quando pensam que, na própria Downing Street, regras não são seguidas pelas pessoas que as formulam”. Mas o primeiro-ministro insistiu que considerou a reunião um “evento de trabalho” — no qual esteve por apenas 25 minutos — um álibi que coloca a culpa sobre os subordinados que organizaram a reunião. 

Andrew não comentou seu revés judicial. Mas ele e seus advogados manobraram para evitar enfrentar as acusações de Giuffre em um julgamento. O príncipe se esforçou para não ser intimado com documentos legais no Reino Unido. Seus advogados tentaram anular o caso fundamentados em alegações jurisdicionais e, mais recentemente, com base no acordo entre Giuffre e Epstein.

Com tanto em jogo, especialmente no ano em que a rainha celebra 70 anos no trono, observadores da realeza especulam que Andrew deverá buscar seu próprio acordo com Giuffre. Os jornais britânicos já perguntam quem pagará pela compensação e com que dinheiro. 

O anúncio do Palácio de Buckingham de que destituirá Andrew de seus títulos militares e do honorífico “sua alteza real” sugere que não existe caminho para a recuperação de sua imagem. Esse é o tipo de ação implacável que os parlamentares do Partido Conservador não aplicaram contra Johnson, apesar de sua frustração com ele.

Enquanto monarca constitucional, a rainha evitará envolver-se em qualquer questão relativa ao futuro político de Johnson — ou à política em geral. Mas isso não significa que ela não tenha influência. Especialistas em legislação afirmam que a monarquia, por causa de sua longevidade e constância, é capaz de exercer um efeito moderador sobre as forças mais extremas na política. 

“A monarquia age como um ‘fiel da balança’ no sentido de ser uma instituição que, quando os atores políticos direcionam o navio do Estado longe demais a alguma direção, eles sejam capazes de trazê-lo de volta ao seu caminho”, afirmou Harold Hongju Koh, acadêmico americano que atua como professor-visitante na Universidade de Oxford este ano.

Trata-se de um equilíbrio delicado. No fim de 2019, Johnson foi criticado por pedir à rainha a suspensão do Parlamento, uma manobra que a Suprema Corte britânica posteriormente julgou ilegal, porque fora projetada para silenciar o debate a respeito dos planos do primeiro-ministro de retirar o país da União Europeia. 

A rainha Elizabeth II, isolada, durante o funeral de seu marido, príncipe Philip, em 17 de abril de 2021 Foto: Victoria Jones/Reuters

Ao contrário de abril de 2020, quando a rainha mandou para o enfermo Johnson seus melhores desejos, a monarca quase certamente permanecerá calada a respeito da atual aflição do primeiro-ministro. Acima de tudo, a disciplinada adesão de Elisabeth às regras de distanciamento social — expressa de maneira comovente em seu choro solitário durante funeral do marido, o príncipe Philip — é um vívido contraste em relação às atividades sociais de Johnson após o expediente.

Para Johnson, as festas clandestinas são tão prejudiciais porque provocam um grau de indignação no público que outros escândalos, como a dispendiosa reforma de seu apartamento em Downing Street ou suas defesas a um parlamentar eticamente desafiado, não chegam a provocar. A sensação de dois pesos e duas medidas, uma vez que cola, é difícil fazer desgrudar.

“A maioria das pessoas não está interessada em política, e por isso muitos temas que excitam comentadores políticos não têm ressonância entre elas. Mas neste caso, a coisa é diferente”, afirmou Vernon Bogdanor, professor de gestão pública da King’s College London. “Houve muitas pessoas que não puderam ver parentes idosos, doentes ou à beira da morte nesse período”, afirmou ele. “Elas contarão isso para todo mundo.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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