MOSCOU - Pelo menos sete bilionários russos morreram desde o final de janeiro até o início deste mês. Cinco deles supostamente se suicidaram, e três foram encontrados próximos a cadáveres de familiares, criando a suspeita de assassinato seguido de suicídio. A coincidência entre os casos criou especulações sobre suicídios forjados e assassinatos, mas não há informações oficiais públicas até o momento que apontem para isso.
Os casos aconteceram em diferentes cidades e países em um período de tempo curto e foram reportados por diversos meios de comunicação russos e ocidentais. Segundo os registros, quatro dos mortos estavam associados à gigante de energia estatal russa Gazprom ou a uma de suas subsidiárias.
O primeiro caso é o do alto executivo Leonid Shulman, encontrado morto em sua casa de campo na vila de Lensinski, perto de São Petersburgo, no dia 30 de janeiro. A estatal russa RIA Novosti reportou a morte de Shulman e informou que uma nota de suicídio foi encontrada no local. Ainda segundo a estatal, essa é a hipótese mais considerada pelos investigadores. Shulman era chefe de transporte da Gazprom Invest.
Um mês depois, no dia 25 de fevereiro, outro alto executivo da Gazprom foi encontrado morto na mesma vila. Alexander Tiulakov foi encontrado morto na garagem de casa, segundo o Novaya Gazeta, um jornal independente russo comandado pelo jornalista Dmitri Andreyevich Muratov, vencedor do Nobel da Paz em 2021. O Novaya Gazeta informou que ele se suicidou.
Segundo uma reportagem da CNN, o Comitê de Investigação da Rússia não respondeu as perguntas sobre as investigações dos dois casos.
Três dias depois da morte de Alexander Tiulakov, Mikhail Watford, um bilionário russo nascido na Ucrânia, foi encontrado morto em sua casa em Surrey, Inglaterra. O caso está em investigação.
No fim de março, foi a vez de Vasili Melnikov ser encontrado morto ao lado da família em Nizhny Novgorod, na Rússia. A morte do empresário foi reportada pelo jornal russo Kommersant e se encaixa com as informações divulgadas pelo Comitê de Investigação da Rússia no dia, sobre a morte de um homem de 43 anos, da esposa, de 41, e de duas crianças, de 4 e 10 anos.
O nome de Melnikov não foi mencionado pelo comitê, mas a idade e a localização do incidente coincidem com a reportagem do Kommersant, segundo a CNN. Melnikov era dono da MedStom, uma empresa de suprimentos médicos.
As informações oficiais disponíveis até o momento sobre a investigação de Melnikov indicam somente que não havia sinais de arrombamento no apartamento do empresário e que facas foram encontradas e apreendidas. A hipótese de que Melnikov assassinou a esposa e os filhos e em seguida se suicidou é considerada pela investigação.
No início de abril, mais dois bilionários russos morreram de maneira semelhante. Vladislav Avaiev, ex-vice-presidente do Gazprombank, foi encontrado morto com a esposa e a filha em seu apartamento em Moscou no dia 18 de abril, segundo a agência de notícias estatal russa Tass. A estatal noticiou Avaiev foi encontrado com uma pistola na mão e que as mortes são investigadas como assassinato seguido de suicídio.
O corpo de Avaiev foi encontrado pelo Comitê de Investigação da Rússia após o motorista e a babá da família informarem à polícia que não conseguiam entrar em contato com eles por telefone e nem entrar no apartamento, que estava fechado com chave por dentro.
Apenas um dia depois, Sergei Protosenia, ex-executivo da companhia de gás Novatek, que pertence parcialmente à Gazprom, foi encontrado morto ao norte de Barcelona. Assim como os outros casos citados, Protosenia foi encontrado junto da esposa e da filha. Eles moravam em Lloret de Mar, uma cidade mediterrânea.
Os corpos das duas mulheres apresentavam sinais de terem sofrido violência e foram encontrados dentro da casa da família. Já o corpo de Protosenia foi encontrado no jardim do lado de fora, segundo as reportagens sobre o caso. A investigação aponta para duplo homicídio e subsequente suicídio, em um caso de violência doméstica.
O filho de Protosenia, Fedor Protosenia, questionou o suicídio ao jornal britânico Daily Mail e sugeriu que o pai foi assassinado. “Ele amava minha mãe e especialmente Maria, minha irmã. Ela era sua princesa. Ele nunca poderia fazer nada para prejudicá-los. Não sei o que aconteceu naquela noite, mas sei que meu pai não os machucou”, declarou Fedor, que estava na casa da família na França no dia do incidente.
A polícia catalã da província de Girona, onde fica a cidade de Lloret de Mar, informou à CNN que “a hipótese continua sendo um caso de violência doméstica, apesar das declarações do filho”. “A polícia catalã recebeu depoimentos do filho. Outras hipóteses foram descartadas. Também foi descartado um triplo homicídio”, acrescentou a polícia à emissora americana.
Além destes, há o caso de Andrei Krukovski. Diretor da estação de esqui Krasnaya Polyana, localizada perto de Sochi, Krukovski morreu no dia 2 de maio depois de cair de um penhasco, segundo relata o jornal russo Kommersant.
Oligarcas russos
Especulações
As mortes em circunstâncias semelhantes e em um período de tempo curto geram especulações. Segundo uma reportagem do Deutsche Welle, diversos meios de comunicação e perfis nas redes sociais suspeitam que os suicídios podem ter sido forjados e parte chega a sugerir que o Kremlin está envolvido de alguma forma.
Entretanto, nenhum dos oligarcas mortos este ano era conhecido por ter feito comentários públicos críticos contra o Kremlin ou sobre a invasão na Ucrânia, já que as mortes coincidem com o início da guerra. Ao mesmo tempo, nenhum deles estava nas listas de sanções internacionais elaboradas após a invasão.
O único caso público que envolve bilionários russos sancionados que se aproxima das mortes é o da suspeita de envenenamento de Roman Abramovich, no início de março. O dono do Chelsea estava em Kiev participando de uma negociação de paz entre Rússia e Ucrânia, quando teve sintomas de envenenamento. O porta-voz de Abramovich confirmou a suspeita na época.
Apesar de todas as especulações, nenhuma investigação oficial aponta publicamente para uma ligação entre as mortes e nem para um autor. À CNN, um funcionário da polícia catalã, que investiga a morte de Sergei Protosenia, foi sarcástico quanto às especulações. “Isso foi obra da máfia russa? Bem, não”, disse o funcionário.