Mudanças e divisões na sociedade afegã desafiam radicalismo do Taleban


Após 20 anos de ocupação, jovens ganharam acesso à música e mulheres conquistaram direitos; hoje, 70% da população tem menos de 25 anos e defende liberdades individuais e sociais, um desafio para o grupo radical que deseja governar sob a lei islâmica

Por Fernanda Simas

O Afeganistão mudou muito em duas décadas, desde a última vez que o Taleban esteve no poder. A sociedade passou a viver sob novas regras, os jovens têm acesso à música, a notícias e as mulheres conquistaram alguns direitos. Atualmente, 70% da população tem menos de 25 anos, passou a maior parte da vida em contato com a cultura ocidental e defende liberdades individuais e sociais, um desafio para o grupo radical islâmico.

“O Ocidente entra no Afeganistão, após a derrota do Taleban em 2001, levando não só tropas, mas também um modo de vida que a população afegã foi, aos poucos, introjetando. O Afeganistão de 2021 não é o mesmo de 2001. As mulheres, que durante o regime do Taleban (de 1996 a 2001) só podiam sair de burca e acompanhadas dos maridos, agora frequentam universidades. A geração entre 20 e 23 anos conviveu com outro Afeganistão, onde há mulheres empresárias”, diz o ex-embaixador do Brasil no Afeganistão Fausto Godoy.

Após a saída dos americanos, na segunda-feira, o Taleban anunciou a formação de um governo “representativo” e tenta mostrar à comunidade internacional uma imagem de moderação com relação ao governo que fez entre 1996 e 2001.

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Ainda assim, a prática não tem sido compatível com tal discurso. Vitrines de lojas com fotografias de modelos femininas foram apagadas ou vandalizadas, há relatos de mulheres impedidas de trabalhar e, das 700 jornalistas que havia em 2020, menos de 100 continuam no país, segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras. 

Para Godoy, essa contradição decorre do fato de a sociedade afegã ser dividida em ao menos 14 grupos étnicos, mas será testada principalmente considerando a quantidade de jovens que vivem no Afeganistão. Atualmente, a idade média da população afegã é 18,4 anos. 

Combatente do Taleban caminha ao lado de mulheres em mercado de Cabul após retirada completa dos soldados americanos Foto: Hoshang Hashimi/AFP
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“Existem conceitos que embasaram o Taleban em 1996, como a sharia. Mas eles não têm condição de impor essa sharia radical como era até 2001. Os jovens vão aceitar? Eles têm celular, acesso à internet, será que vão aceitar voltar a algo tão fechado que não se pode escutar música? Não vão”, diz.

O Taleban afirmou que, ao contrário do que ocorreu até 2001, as meninas poderão estudar, mas respeitando a sharia, ou seja, separadas dos meninos. A separação já era uma realidade, exceto na universidade e no ensino fundamental. 

Em Kunduz, no norte do país, uma professora retomou suas aulas em dari (o dialeto persa falado no Afeganistão) para meninas de 10 e 11 anos. “Eles não mudaram nada nas matérias ou regras, apenas os uniformes”, disse a professora à agência France-Presse.

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O grupo radical tem como desafio inicial encontrar recursos para pagar salários e manter o fornecimento de água, energia e comunicação. Para isso, precisa ganhar a credibilidade de outras etnias e tentar governar sem resistência, o que não parece ser o caso nos primeiros dias após a saída americana.

No Vale de Panshir, perto de Cabul, uma resistência ao Taleban foi organizada pela Frente Nacional de Resistência (FNR), liderada por Ahmad Massud, filho do comandante Ahmed Massud, assassinado em 2001 pela Al-Qaeda, e Amrullah Saleh, vice-presidente do governo derrubado. O Taleban cercou a região e vem tentando esmagar os insurgentes.

A maior parte da população afegã vive em áreas rurais e tribais. Cerca de 10% apenas mora na capital, Cabul. O Taleban surgiu da etnia pashtun, que representa 42% da população. Mas, mesmo entre eles, há divisões. “O Taleban não é um bloco monolítico. O que a elite do grupo diz em Cabul não é o que os milicianos das aldeias falam, onde eles ainda guardam a memória do Taleban radical”, diz Godoy.

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Historicamente, o Afeganistão é um país dividido em grupos étnicos. Localizado na passagem de rotas comerciais e de invasões, a região recebeu influências da Europa e da Ásia Ocidental. “A ideia de um presidencialismo ou um líder único é impossível numa população pulverizada entre etnias. Nenhuma delas aceita a preponderância da outra. Embora os pashtuns sejam maioria, não é por isso que os outros vão aceitar. Essa democracia de conceito ocidental não funciona no Afeganistão”, avalia Godoy.

O Afeganistão mudou muito em duas décadas, desde a última vez que o Taleban esteve no poder. A sociedade passou a viver sob novas regras, os jovens têm acesso à música, a notícias e as mulheres conquistaram alguns direitos. Atualmente, 70% da população tem menos de 25 anos, passou a maior parte da vida em contato com a cultura ocidental e defende liberdades individuais e sociais, um desafio para o grupo radical islâmico.

“O Ocidente entra no Afeganistão, após a derrota do Taleban em 2001, levando não só tropas, mas também um modo de vida que a população afegã foi, aos poucos, introjetando. O Afeganistão de 2021 não é o mesmo de 2001. As mulheres, que durante o regime do Taleban (de 1996 a 2001) só podiam sair de burca e acompanhadas dos maridos, agora frequentam universidades. A geração entre 20 e 23 anos conviveu com outro Afeganistão, onde há mulheres empresárias”, diz o ex-embaixador do Brasil no Afeganistão Fausto Godoy.

Após a saída dos americanos, na segunda-feira, o Taleban anunciou a formação de um governo “representativo” e tenta mostrar à comunidade internacional uma imagem de moderação com relação ao governo que fez entre 1996 e 2001.

Ainda assim, a prática não tem sido compatível com tal discurso. Vitrines de lojas com fotografias de modelos femininas foram apagadas ou vandalizadas, há relatos de mulheres impedidas de trabalhar e, das 700 jornalistas que havia em 2020, menos de 100 continuam no país, segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras. 

Para Godoy, essa contradição decorre do fato de a sociedade afegã ser dividida em ao menos 14 grupos étnicos, mas será testada principalmente considerando a quantidade de jovens que vivem no Afeganistão. Atualmente, a idade média da população afegã é 18,4 anos. 

Combatente do Taleban caminha ao lado de mulheres em mercado de Cabul após retirada completa dos soldados americanos Foto: Hoshang Hashimi/AFP

“Existem conceitos que embasaram o Taleban em 1996, como a sharia. Mas eles não têm condição de impor essa sharia radical como era até 2001. Os jovens vão aceitar? Eles têm celular, acesso à internet, será que vão aceitar voltar a algo tão fechado que não se pode escutar música? Não vão”, diz.

O Taleban afirmou que, ao contrário do que ocorreu até 2001, as meninas poderão estudar, mas respeitando a sharia, ou seja, separadas dos meninos. A separação já era uma realidade, exceto na universidade e no ensino fundamental. 

Em Kunduz, no norte do país, uma professora retomou suas aulas em dari (o dialeto persa falado no Afeganistão) para meninas de 10 e 11 anos. “Eles não mudaram nada nas matérias ou regras, apenas os uniformes”, disse a professora à agência France-Presse.

O grupo radical tem como desafio inicial encontrar recursos para pagar salários e manter o fornecimento de água, energia e comunicação. Para isso, precisa ganhar a credibilidade de outras etnias e tentar governar sem resistência, o que não parece ser o caso nos primeiros dias após a saída americana.

No Vale de Panshir, perto de Cabul, uma resistência ao Taleban foi organizada pela Frente Nacional de Resistência (FNR), liderada por Ahmad Massud, filho do comandante Ahmed Massud, assassinado em 2001 pela Al-Qaeda, e Amrullah Saleh, vice-presidente do governo derrubado. O Taleban cercou a região e vem tentando esmagar os insurgentes.

A maior parte da população afegã vive em áreas rurais e tribais. Cerca de 10% apenas mora na capital, Cabul. O Taleban surgiu da etnia pashtun, que representa 42% da população. Mas, mesmo entre eles, há divisões. “O Taleban não é um bloco monolítico. O que a elite do grupo diz em Cabul não é o que os milicianos das aldeias falam, onde eles ainda guardam a memória do Taleban radical”, diz Godoy.

Historicamente, o Afeganistão é um país dividido em grupos étnicos. Localizado na passagem de rotas comerciais e de invasões, a região recebeu influências da Europa e da Ásia Ocidental. “A ideia de um presidencialismo ou um líder único é impossível numa população pulverizada entre etnias. Nenhuma delas aceita a preponderância da outra. Embora os pashtuns sejam maioria, não é por isso que os outros vão aceitar. Essa democracia de conceito ocidental não funciona no Afeganistão”, avalia Godoy.

O Afeganistão mudou muito em duas décadas, desde a última vez que o Taleban esteve no poder. A sociedade passou a viver sob novas regras, os jovens têm acesso à música, a notícias e as mulheres conquistaram alguns direitos. Atualmente, 70% da população tem menos de 25 anos, passou a maior parte da vida em contato com a cultura ocidental e defende liberdades individuais e sociais, um desafio para o grupo radical islâmico.

“O Ocidente entra no Afeganistão, após a derrota do Taleban em 2001, levando não só tropas, mas também um modo de vida que a população afegã foi, aos poucos, introjetando. O Afeganistão de 2021 não é o mesmo de 2001. As mulheres, que durante o regime do Taleban (de 1996 a 2001) só podiam sair de burca e acompanhadas dos maridos, agora frequentam universidades. A geração entre 20 e 23 anos conviveu com outro Afeganistão, onde há mulheres empresárias”, diz o ex-embaixador do Brasil no Afeganistão Fausto Godoy.

Após a saída dos americanos, na segunda-feira, o Taleban anunciou a formação de um governo “representativo” e tenta mostrar à comunidade internacional uma imagem de moderação com relação ao governo que fez entre 1996 e 2001.

Ainda assim, a prática não tem sido compatível com tal discurso. Vitrines de lojas com fotografias de modelos femininas foram apagadas ou vandalizadas, há relatos de mulheres impedidas de trabalhar e, das 700 jornalistas que havia em 2020, menos de 100 continuam no país, segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras. 

Para Godoy, essa contradição decorre do fato de a sociedade afegã ser dividida em ao menos 14 grupos étnicos, mas será testada principalmente considerando a quantidade de jovens que vivem no Afeganistão. Atualmente, a idade média da população afegã é 18,4 anos. 

Combatente do Taleban caminha ao lado de mulheres em mercado de Cabul após retirada completa dos soldados americanos Foto: Hoshang Hashimi/AFP

“Existem conceitos que embasaram o Taleban em 1996, como a sharia. Mas eles não têm condição de impor essa sharia radical como era até 2001. Os jovens vão aceitar? Eles têm celular, acesso à internet, será que vão aceitar voltar a algo tão fechado que não se pode escutar música? Não vão”, diz.

O Taleban afirmou que, ao contrário do que ocorreu até 2001, as meninas poderão estudar, mas respeitando a sharia, ou seja, separadas dos meninos. A separação já era uma realidade, exceto na universidade e no ensino fundamental. 

Em Kunduz, no norte do país, uma professora retomou suas aulas em dari (o dialeto persa falado no Afeganistão) para meninas de 10 e 11 anos. “Eles não mudaram nada nas matérias ou regras, apenas os uniformes”, disse a professora à agência France-Presse.

O grupo radical tem como desafio inicial encontrar recursos para pagar salários e manter o fornecimento de água, energia e comunicação. Para isso, precisa ganhar a credibilidade de outras etnias e tentar governar sem resistência, o que não parece ser o caso nos primeiros dias após a saída americana.

No Vale de Panshir, perto de Cabul, uma resistência ao Taleban foi organizada pela Frente Nacional de Resistência (FNR), liderada por Ahmad Massud, filho do comandante Ahmed Massud, assassinado em 2001 pela Al-Qaeda, e Amrullah Saleh, vice-presidente do governo derrubado. O Taleban cercou a região e vem tentando esmagar os insurgentes.

A maior parte da população afegã vive em áreas rurais e tribais. Cerca de 10% apenas mora na capital, Cabul. O Taleban surgiu da etnia pashtun, que representa 42% da população. Mas, mesmo entre eles, há divisões. “O Taleban não é um bloco monolítico. O que a elite do grupo diz em Cabul não é o que os milicianos das aldeias falam, onde eles ainda guardam a memória do Taleban radical”, diz Godoy.

Historicamente, o Afeganistão é um país dividido em grupos étnicos. Localizado na passagem de rotas comerciais e de invasões, a região recebeu influências da Europa e da Ásia Ocidental. “A ideia de um presidencialismo ou um líder único é impossível numa população pulverizada entre etnias. Nenhuma delas aceita a preponderância da outra. Embora os pashtuns sejam maioria, não é por isso que os outros vão aceitar. Essa democracia de conceito ocidental não funciona no Afeganistão”, avalia Godoy.

O Afeganistão mudou muito em duas décadas, desde a última vez que o Taleban esteve no poder. A sociedade passou a viver sob novas regras, os jovens têm acesso à música, a notícias e as mulheres conquistaram alguns direitos. Atualmente, 70% da população tem menos de 25 anos, passou a maior parte da vida em contato com a cultura ocidental e defende liberdades individuais e sociais, um desafio para o grupo radical islâmico.

“O Ocidente entra no Afeganistão, após a derrota do Taleban em 2001, levando não só tropas, mas também um modo de vida que a população afegã foi, aos poucos, introjetando. O Afeganistão de 2021 não é o mesmo de 2001. As mulheres, que durante o regime do Taleban (de 1996 a 2001) só podiam sair de burca e acompanhadas dos maridos, agora frequentam universidades. A geração entre 20 e 23 anos conviveu com outro Afeganistão, onde há mulheres empresárias”, diz o ex-embaixador do Brasil no Afeganistão Fausto Godoy.

Após a saída dos americanos, na segunda-feira, o Taleban anunciou a formação de um governo “representativo” e tenta mostrar à comunidade internacional uma imagem de moderação com relação ao governo que fez entre 1996 e 2001.

Ainda assim, a prática não tem sido compatível com tal discurso. Vitrines de lojas com fotografias de modelos femininas foram apagadas ou vandalizadas, há relatos de mulheres impedidas de trabalhar e, das 700 jornalistas que havia em 2020, menos de 100 continuam no país, segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras. 

Para Godoy, essa contradição decorre do fato de a sociedade afegã ser dividida em ao menos 14 grupos étnicos, mas será testada principalmente considerando a quantidade de jovens que vivem no Afeganistão. Atualmente, a idade média da população afegã é 18,4 anos. 

Combatente do Taleban caminha ao lado de mulheres em mercado de Cabul após retirada completa dos soldados americanos Foto: Hoshang Hashimi/AFP

“Existem conceitos que embasaram o Taleban em 1996, como a sharia. Mas eles não têm condição de impor essa sharia radical como era até 2001. Os jovens vão aceitar? Eles têm celular, acesso à internet, será que vão aceitar voltar a algo tão fechado que não se pode escutar música? Não vão”, diz.

O Taleban afirmou que, ao contrário do que ocorreu até 2001, as meninas poderão estudar, mas respeitando a sharia, ou seja, separadas dos meninos. A separação já era uma realidade, exceto na universidade e no ensino fundamental. 

Em Kunduz, no norte do país, uma professora retomou suas aulas em dari (o dialeto persa falado no Afeganistão) para meninas de 10 e 11 anos. “Eles não mudaram nada nas matérias ou regras, apenas os uniformes”, disse a professora à agência France-Presse.

O grupo radical tem como desafio inicial encontrar recursos para pagar salários e manter o fornecimento de água, energia e comunicação. Para isso, precisa ganhar a credibilidade de outras etnias e tentar governar sem resistência, o que não parece ser o caso nos primeiros dias após a saída americana.

No Vale de Panshir, perto de Cabul, uma resistência ao Taleban foi organizada pela Frente Nacional de Resistência (FNR), liderada por Ahmad Massud, filho do comandante Ahmed Massud, assassinado em 2001 pela Al-Qaeda, e Amrullah Saleh, vice-presidente do governo derrubado. O Taleban cercou a região e vem tentando esmagar os insurgentes.

A maior parte da população afegã vive em áreas rurais e tribais. Cerca de 10% apenas mora na capital, Cabul. O Taleban surgiu da etnia pashtun, que representa 42% da população. Mas, mesmo entre eles, há divisões. “O Taleban não é um bloco monolítico. O que a elite do grupo diz em Cabul não é o que os milicianos das aldeias falam, onde eles ainda guardam a memória do Taleban radical”, diz Godoy.

Historicamente, o Afeganistão é um país dividido em grupos étnicos. Localizado na passagem de rotas comerciais e de invasões, a região recebeu influências da Europa e da Ásia Ocidental. “A ideia de um presidencialismo ou um líder único é impossível numa população pulverizada entre etnias. Nenhuma delas aceita a preponderância da outra. Embora os pashtuns sejam maioria, não é por isso que os outros vão aceitar. Essa democracia de conceito ocidental não funciona no Afeganistão”, avalia Godoy.

O Afeganistão mudou muito em duas décadas, desde a última vez que o Taleban esteve no poder. A sociedade passou a viver sob novas regras, os jovens têm acesso à música, a notícias e as mulheres conquistaram alguns direitos. Atualmente, 70% da população tem menos de 25 anos, passou a maior parte da vida em contato com a cultura ocidental e defende liberdades individuais e sociais, um desafio para o grupo radical islâmico.

“O Ocidente entra no Afeganistão, após a derrota do Taleban em 2001, levando não só tropas, mas também um modo de vida que a população afegã foi, aos poucos, introjetando. O Afeganistão de 2021 não é o mesmo de 2001. As mulheres, que durante o regime do Taleban (de 1996 a 2001) só podiam sair de burca e acompanhadas dos maridos, agora frequentam universidades. A geração entre 20 e 23 anos conviveu com outro Afeganistão, onde há mulheres empresárias”, diz o ex-embaixador do Brasil no Afeganistão Fausto Godoy.

Após a saída dos americanos, na segunda-feira, o Taleban anunciou a formação de um governo “representativo” e tenta mostrar à comunidade internacional uma imagem de moderação com relação ao governo que fez entre 1996 e 2001.

Ainda assim, a prática não tem sido compatível com tal discurso. Vitrines de lojas com fotografias de modelos femininas foram apagadas ou vandalizadas, há relatos de mulheres impedidas de trabalhar e, das 700 jornalistas que havia em 2020, menos de 100 continuam no país, segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras. 

Para Godoy, essa contradição decorre do fato de a sociedade afegã ser dividida em ao menos 14 grupos étnicos, mas será testada principalmente considerando a quantidade de jovens que vivem no Afeganistão. Atualmente, a idade média da população afegã é 18,4 anos. 

Combatente do Taleban caminha ao lado de mulheres em mercado de Cabul após retirada completa dos soldados americanos Foto: Hoshang Hashimi/AFP

“Existem conceitos que embasaram o Taleban em 1996, como a sharia. Mas eles não têm condição de impor essa sharia radical como era até 2001. Os jovens vão aceitar? Eles têm celular, acesso à internet, será que vão aceitar voltar a algo tão fechado que não se pode escutar música? Não vão”, diz.

O Taleban afirmou que, ao contrário do que ocorreu até 2001, as meninas poderão estudar, mas respeitando a sharia, ou seja, separadas dos meninos. A separação já era uma realidade, exceto na universidade e no ensino fundamental. 

Em Kunduz, no norte do país, uma professora retomou suas aulas em dari (o dialeto persa falado no Afeganistão) para meninas de 10 e 11 anos. “Eles não mudaram nada nas matérias ou regras, apenas os uniformes”, disse a professora à agência France-Presse.

O grupo radical tem como desafio inicial encontrar recursos para pagar salários e manter o fornecimento de água, energia e comunicação. Para isso, precisa ganhar a credibilidade de outras etnias e tentar governar sem resistência, o que não parece ser o caso nos primeiros dias após a saída americana.

No Vale de Panshir, perto de Cabul, uma resistência ao Taleban foi organizada pela Frente Nacional de Resistência (FNR), liderada por Ahmad Massud, filho do comandante Ahmed Massud, assassinado em 2001 pela Al-Qaeda, e Amrullah Saleh, vice-presidente do governo derrubado. O Taleban cercou a região e vem tentando esmagar os insurgentes.

A maior parte da população afegã vive em áreas rurais e tribais. Cerca de 10% apenas mora na capital, Cabul. O Taleban surgiu da etnia pashtun, que representa 42% da população. Mas, mesmo entre eles, há divisões. “O Taleban não é um bloco monolítico. O que a elite do grupo diz em Cabul não é o que os milicianos das aldeias falam, onde eles ainda guardam a memória do Taleban radical”, diz Godoy.

Historicamente, o Afeganistão é um país dividido em grupos étnicos. Localizado na passagem de rotas comerciais e de invasões, a região recebeu influências da Europa e da Ásia Ocidental. “A ideia de um presidencialismo ou um líder único é impossível numa população pulverizada entre etnias. Nenhuma delas aceita a preponderância da outra. Embora os pashtuns sejam maioria, não é por isso que os outros vão aceitar. Essa democracia de conceito ocidental não funciona no Afeganistão”, avalia Godoy.

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