Mulher de uma tribo marginalizada faz história e é a próxima presidente da Índia


Droupadi Murmu, que foi eleita para um cargo em grande parte simbólico nesta semana, será a primeira presidente da tribo indígena Santhals

Por Suhasini Raj
Atualização:

UPARBEDA – Na remota vila oriental de Uparbeda, muitas pessoas ainda usam lenha para cozinhar, a água é retirada de bombas manuais e, até o mês passado, a eletricidade ainda não tinha chegado à casa da indiana Churamuni Tudu. A luz chegou de repente, quando a sua cunhada, Droupadi Murmu, se tornou a provável próxima presidente da Índia.

Os jornais rapidamente informaram que algumas pessoas nesta aldeia, onde Murmu cresceu, ainda viviam sem eletricidade e trabalhadores foram enviados para conectar a comunidade à rede. “Agora eu não preciso ter que andar meia hora até um conhecido para carregar meu celular”, disse Tudu. “Meus netos podem ler à noite quando vêm me visitar.”

A presidência da Índia é em grande parte simbólica, mas quando Murmu, declarada eleita para o cargo na quinta-feira pelos legisladores, for empossada na próxima semana, terá um significado muito além de Uparbeda.

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Além de ser apenas a segunda mulher presidente da Índia, ela será a primeira oriunda das comunidades tribais indígenas do país – uma população economicamente marginalizada e que representa quase 10% da Índia. Até recentemente, Murmu era governadora do Estado de Jharkhand.

Nova presidente da Índia, Droupadi Murmu, após ser eleita para o cargo, em Nova Délhi, 22 de julho. Murmu é a primeira mulher de origem tribal a se tornar presidente Foto: Prakash Singh / AFP

O Partido Bharatiya Janata, do primeiro-ministro Narendra Modi, ou B.J.P., que junto com seus aliados nomeou Murmu para a presidência no mês passado, diz que tê-la no cargo chamará a atenção para necessidades de centenas de tribos oficialmente reconhecidas da Índia, muitos dos quais vivem em aldeias remotas e empobrecidas como Uparbeda.

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“Desde a independência, ninguém dessa comunidade tribal diversificada havia encontrado representação neste nível”, disse Samir Mohanty, presidente do B.J.P. para o Estado de Odisha, que inclui Uparbeda.

Outros veem a escolha do partido como uma estratégia de conquistar votos. A legenda, que se caracteriza por um nacionalismo hindu, tenta há anos fazer incursões com eleitores de tribos em locais como Odisha, onde são quase 25% da população.

“A nova embalagem do B.J.P. está em curso nos último oito a dez anos, que é um partido das castas inferiores, dos marginalizados e das tribos, uma ideia que eles querem promover”, disse Harish Wankhede, professor de estudos políticos na Universidade Jawahar Lal Nehru, em Délhi, especializado em política identitária.

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Droupadi Murmu, de 64 anos, faz parte de uma das mais antigas e maiores tribos da Índia, os Santhals, famosos por uma revolta contra o domínio britânico na década de 1850. Ela é filha de um agricultor de arroz que foi membro do conselho da aldeia de Uparbeda. Na infância, ela precisava caminhar um quilômetro até a escola todos os dias e à noite usava uma lâmpada de querosene para estudar.

Imagem mostra primeiro-ministro da Índia, Narenda Modi, em encontro com nova presidente, Droupadi Murmu, na quinta-feira, 21. Premiê comanda o país, enquanto presidente tem papel simbólico Foto: INDIA PRESS INFORMATION / via EFE

Murmu se formou professora e logo entrou na política local, filiando-se ao B.J.P. e eventualmente servindo na legislatura estadual de Odisha. Em 2015, o partido a nomeou para governadora de Jharkhand, um Estado vizinho que também tem uma população tribal numerosa. Ela ocupou o cargo até o ano passado.

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A indiana tem a reputação de ser de fala mansa e despretensiosa. Em uma entrevista concedida em 2016, ela disse que não tinha a intenção inicial de procurar um cargo público ao ingressar na política. “Na época, a política não era vista com bons olhos, especialmente para as mulheres. A sociedade a que pertenço acha que as mulheres não devem entrar na política.”

Como 15ª presidente da Índia, Murmu será essencialmente uma figura simbólica. O primeiro-ministro da Índia, Jawaharlal Nehru, definiu uma vez o cargo como projetado para carregar “grande autoridade e dignidade”, mas sem “poder real”. Ao longo dos anos, os presidentes têm usado sua influência para resolver crises políticas e criticar governos sobre políticas que desaprovavam.

Segundo analistas políticos, para o B.J.P. nomear Murmu à presidência é uma maneira de aumentar o apelo às mulheres e enviar uma mensagem mais ampla de que se preocupa com os desfavorecidos. Além disso, dizem também que é parte de um esforço para obter ganhos em Estados com grandes populações tribais. Os eleitores das tribos da Índia e as castas inferiores tendem a apoiar o partido do Congresso, que agora compõe a oposição, ou partidos regionais com fortes líderes locais.

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Salkhan Murmu, um ex-legislador do B.J.P. e ativista da comunidade, disse que a ascensão de Murmu foi um “grande, grande negócio” para Santhals e outras tribos. O ativista, que não é parente da presidente, tem feito lobby para que as práticas religiosas tribais sejam formalmente reconhecidas no censo da Índia. “B.J.P. quer ampliar sua base política, e queremos o reconhecimento de nossa cultura e tradição”, disse ele.

“Que eles ganhem politicamente, e vamos ganhar cultural e tradicionalmente, para que possamos manter vivas nossas línguas e modo de vida distintos”, acrescentou.

Mulheres seguram retrato de Droupadi Murmu, primeira presidente mulher de uma tribo, em Nova Délhi, em imagem da quinta-feira, 21. Nomeação da indiana foi grande notícia para a região Foto: Aushree Fadnavis/Reuters
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A viagem até Uparbeda da capital de Odisha, Bhubaneswar, leva cerca de oito horas, sinuosa através de exuberantes florestas verdes, terras agrícolas e reservas florestais, até mesmo caminhos designados para elefantes. No fim, abre para uma paisagem pitoresca de campos de pastagem, com montanhas ao fundo.

Ainda a quilômetros de distância da aldeia, as pessoas apontaram entusiasticamente a direção a seguir – um reflexo de como a nomeação de Murmu se tornou uma grande notícia na região. Em Uparbeda, aldeões formaram um círculo em torno de árvores sagradas e rezaram pela vitória.

“Estamos nos preparando para dançar ao som dos tambores”, disse Bhakta Bandhu Tudu, primo de Murmu, na quinta-feira, 21, antes dos votos serem contados

Em uma tarde recente, os homens de Uparbeda se curvaram em águas até a altura do tornozelo, cuidando de seus campos de pastagem. Mulheres andavam de bicicleta até o mercado local. A vila, cuja população é de cerca de 1,6 mil habitantes, possui três escolas e um centro de atenção primária à saúde. Para doenças mais graves, as pessoas viajam para a cidade mais próxima, a 19,3 quilômetros de distância.

Tudu, uma viúva cujo marido era irmão de Murmu, cultiva arroz em um pequeno campo e tira água da bomba da comunidade. Ela disse que era “libertador” ter eletricidade em sua casa, embora alguns dos quartos ainda não tivessem sido conectados à rede elétrica.

Ao ser questionada sobre a nomeação de Murmu, Tudu se emociona. “Enche meu coração de alegria”, disse ela. Uma primo sentada próxima, Heera Murmu, foi mais pragmática. “Nossa lista de desejos inclui água limpa da torneira, um hospital e uma escola melhor para as crianças do nosso novo presidente”, declarou.

UPARBEDA – Na remota vila oriental de Uparbeda, muitas pessoas ainda usam lenha para cozinhar, a água é retirada de bombas manuais e, até o mês passado, a eletricidade ainda não tinha chegado à casa da indiana Churamuni Tudu. A luz chegou de repente, quando a sua cunhada, Droupadi Murmu, se tornou a provável próxima presidente da Índia.

Os jornais rapidamente informaram que algumas pessoas nesta aldeia, onde Murmu cresceu, ainda viviam sem eletricidade e trabalhadores foram enviados para conectar a comunidade à rede. “Agora eu não preciso ter que andar meia hora até um conhecido para carregar meu celular”, disse Tudu. “Meus netos podem ler à noite quando vêm me visitar.”

A presidência da Índia é em grande parte simbólica, mas quando Murmu, declarada eleita para o cargo na quinta-feira pelos legisladores, for empossada na próxima semana, terá um significado muito além de Uparbeda.

Além de ser apenas a segunda mulher presidente da Índia, ela será a primeira oriunda das comunidades tribais indígenas do país – uma população economicamente marginalizada e que representa quase 10% da Índia. Até recentemente, Murmu era governadora do Estado de Jharkhand.

Nova presidente da Índia, Droupadi Murmu, após ser eleita para o cargo, em Nova Délhi, 22 de julho. Murmu é a primeira mulher de origem tribal a se tornar presidente Foto: Prakash Singh / AFP

O Partido Bharatiya Janata, do primeiro-ministro Narendra Modi, ou B.J.P., que junto com seus aliados nomeou Murmu para a presidência no mês passado, diz que tê-la no cargo chamará a atenção para necessidades de centenas de tribos oficialmente reconhecidas da Índia, muitos dos quais vivem em aldeias remotas e empobrecidas como Uparbeda.

“Desde a independência, ninguém dessa comunidade tribal diversificada havia encontrado representação neste nível”, disse Samir Mohanty, presidente do B.J.P. para o Estado de Odisha, que inclui Uparbeda.

Outros veem a escolha do partido como uma estratégia de conquistar votos. A legenda, que se caracteriza por um nacionalismo hindu, tenta há anos fazer incursões com eleitores de tribos em locais como Odisha, onde são quase 25% da população.

“A nova embalagem do B.J.P. está em curso nos último oito a dez anos, que é um partido das castas inferiores, dos marginalizados e das tribos, uma ideia que eles querem promover”, disse Harish Wankhede, professor de estudos políticos na Universidade Jawahar Lal Nehru, em Délhi, especializado em política identitária.

Droupadi Murmu, de 64 anos, faz parte de uma das mais antigas e maiores tribos da Índia, os Santhals, famosos por uma revolta contra o domínio britânico na década de 1850. Ela é filha de um agricultor de arroz que foi membro do conselho da aldeia de Uparbeda. Na infância, ela precisava caminhar um quilômetro até a escola todos os dias e à noite usava uma lâmpada de querosene para estudar.

Imagem mostra primeiro-ministro da Índia, Narenda Modi, em encontro com nova presidente, Droupadi Murmu, na quinta-feira, 21. Premiê comanda o país, enquanto presidente tem papel simbólico Foto: INDIA PRESS INFORMATION / via EFE

Murmu se formou professora e logo entrou na política local, filiando-se ao B.J.P. e eventualmente servindo na legislatura estadual de Odisha. Em 2015, o partido a nomeou para governadora de Jharkhand, um Estado vizinho que também tem uma população tribal numerosa. Ela ocupou o cargo até o ano passado.

A indiana tem a reputação de ser de fala mansa e despretensiosa. Em uma entrevista concedida em 2016, ela disse que não tinha a intenção inicial de procurar um cargo público ao ingressar na política. “Na época, a política não era vista com bons olhos, especialmente para as mulheres. A sociedade a que pertenço acha que as mulheres não devem entrar na política.”

Como 15ª presidente da Índia, Murmu será essencialmente uma figura simbólica. O primeiro-ministro da Índia, Jawaharlal Nehru, definiu uma vez o cargo como projetado para carregar “grande autoridade e dignidade”, mas sem “poder real”. Ao longo dos anos, os presidentes têm usado sua influência para resolver crises políticas e criticar governos sobre políticas que desaprovavam.

Segundo analistas políticos, para o B.J.P. nomear Murmu à presidência é uma maneira de aumentar o apelo às mulheres e enviar uma mensagem mais ampla de que se preocupa com os desfavorecidos. Além disso, dizem também que é parte de um esforço para obter ganhos em Estados com grandes populações tribais. Os eleitores das tribos da Índia e as castas inferiores tendem a apoiar o partido do Congresso, que agora compõe a oposição, ou partidos regionais com fortes líderes locais.

Salkhan Murmu, um ex-legislador do B.J.P. e ativista da comunidade, disse que a ascensão de Murmu foi um “grande, grande negócio” para Santhals e outras tribos. O ativista, que não é parente da presidente, tem feito lobby para que as práticas religiosas tribais sejam formalmente reconhecidas no censo da Índia. “B.J.P. quer ampliar sua base política, e queremos o reconhecimento de nossa cultura e tradição”, disse ele.

“Que eles ganhem politicamente, e vamos ganhar cultural e tradicionalmente, para que possamos manter vivas nossas línguas e modo de vida distintos”, acrescentou.

Mulheres seguram retrato de Droupadi Murmu, primeira presidente mulher de uma tribo, em Nova Délhi, em imagem da quinta-feira, 21. Nomeação da indiana foi grande notícia para a região Foto: Aushree Fadnavis/Reuters

A viagem até Uparbeda da capital de Odisha, Bhubaneswar, leva cerca de oito horas, sinuosa através de exuberantes florestas verdes, terras agrícolas e reservas florestais, até mesmo caminhos designados para elefantes. No fim, abre para uma paisagem pitoresca de campos de pastagem, com montanhas ao fundo.

Ainda a quilômetros de distância da aldeia, as pessoas apontaram entusiasticamente a direção a seguir – um reflexo de como a nomeação de Murmu se tornou uma grande notícia na região. Em Uparbeda, aldeões formaram um círculo em torno de árvores sagradas e rezaram pela vitória.

“Estamos nos preparando para dançar ao som dos tambores”, disse Bhakta Bandhu Tudu, primo de Murmu, na quinta-feira, 21, antes dos votos serem contados

Em uma tarde recente, os homens de Uparbeda se curvaram em águas até a altura do tornozelo, cuidando de seus campos de pastagem. Mulheres andavam de bicicleta até o mercado local. A vila, cuja população é de cerca de 1,6 mil habitantes, possui três escolas e um centro de atenção primária à saúde. Para doenças mais graves, as pessoas viajam para a cidade mais próxima, a 19,3 quilômetros de distância.

Tudu, uma viúva cujo marido era irmão de Murmu, cultiva arroz em um pequeno campo e tira água da bomba da comunidade. Ela disse que era “libertador” ter eletricidade em sua casa, embora alguns dos quartos ainda não tivessem sido conectados à rede elétrica.

Ao ser questionada sobre a nomeação de Murmu, Tudu se emociona. “Enche meu coração de alegria”, disse ela. Uma primo sentada próxima, Heera Murmu, foi mais pragmática. “Nossa lista de desejos inclui água limpa da torneira, um hospital e uma escola melhor para as crianças do nosso novo presidente”, declarou.

UPARBEDA – Na remota vila oriental de Uparbeda, muitas pessoas ainda usam lenha para cozinhar, a água é retirada de bombas manuais e, até o mês passado, a eletricidade ainda não tinha chegado à casa da indiana Churamuni Tudu. A luz chegou de repente, quando a sua cunhada, Droupadi Murmu, se tornou a provável próxima presidente da Índia.

Os jornais rapidamente informaram que algumas pessoas nesta aldeia, onde Murmu cresceu, ainda viviam sem eletricidade e trabalhadores foram enviados para conectar a comunidade à rede. “Agora eu não preciso ter que andar meia hora até um conhecido para carregar meu celular”, disse Tudu. “Meus netos podem ler à noite quando vêm me visitar.”

A presidência da Índia é em grande parte simbólica, mas quando Murmu, declarada eleita para o cargo na quinta-feira pelos legisladores, for empossada na próxima semana, terá um significado muito além de Uparbeda.

Além de ser apenas a segunda mulher presidente da Índia, ela será a primeira oriunda das comunidades tribais indígenas do país – uma população economicamente marginalizada e que representa quase 10% da Índia. Até recentemente, Murmu era governadora do Estado de Jharkhand.

Nova presidente da Índia, Droupadi Murmu, após ser eleita para o cargo, em Nova Délhi, 22 de julho. Murmu é a primeira mulher de origem tribal a se tornar presidente Foto: Prakash Singh / AFP

O Partido Bharatiya Janata, do primeiro-ministro Narendra Modi, ou B.J.P., que junto com seus aliados nomeou Murmu para a presidência no mês passado, diz que tê-la no cargo chamará a atenção para necessidades de centenas de tribos oficialmente reconhecidas da Índia, muitos dos quais vivem em aldeias remotas e empobrecidas como Uparbeda.

“Desde a independência, ninguém dessa comunidade tribal diversificada havia encontrado representação neste nível”, disse Samir Mohanty, presidente do B.J.P. para o Estado de Odisha, que inclui Uparbeda.

Outros veem a escolha do partido como uma estratégia de conquistar votos. A legenda, que se caracteriza por um nacionalismo hindu, tenta há anos fazer incursões com eleitores de tribos em locais como Odisha, onde são quase 25% da população.

“A nova embalagem do B.J.P. está em curso nos último oito a dez anos, que é um partido das castas inferiores, dos marginalizados e das tribos, uma ideia que eles querem promover”, disse Harish Wankhede, professor de estudos políticos na Universidade Jawahar Lal Nehru, em Délhi, especializado em política identitária.

Droupadi Murmu, de 64 anos, faz parte de uma das mais antigas e maiores tribos da Índia, os Santhals, famosos por uma revolta contra o domínio britânico na década de 1850. Ela é filha de um agricultor de arroz que foi membro do conselho da aldeia de Uparbeda. Na infância, ela precisava caminhar um quilômetro até a escola todos os dias e à noite usava uma lâmpada de querosene para estudar.

Imagem mostra primeiro-ministro da Índia, Narenda Modi, em encontro com nova presidente, Droupadi Murmu, na quinta-feira, 21. Premiê comanda o país, enquanto presidente tem papel simbólico Foto: INDIA PRESS INFORMATION / via EFE

Murmu se formou professora e logo entrou na política local, filiando-se ao B.J.P. e eventualmente servindo na legislatura estadual de Odisha. Em 2015, o partido a nomeou para governadora de Jharkhand, um Estado vizinho que também tem uma população tribal numerosa. Ela ocupou o cargo até o ano passado.

A indiana tem a reputação de ser de fala mansa e despretensiosa. Em uma entrevista concedida em 2016, ela disse que não tinha a intenção inicial de procurar um cargo público ao ingressar na política. “Na época, a política não era vista com bons olhos, especialmente para as mulheres. A sociedade a que pertenço acha que as mulheres não devem entrar na política.”

Como 15ª presidente da Índia, Murmu será essencialmente uma figura simbólica. O primeiro-ministro da Índia, Jawaharlal Nehru, definiu uma vez o cargo como projetado para carregar “grande autoridade e dignidade”, mas sem “poder real”. Ao longo dos anos, os presidentes têm usado sua influência para resolver crises políticas e criticar governos sobre políticas que desaprovavam.

Segundo analistas políticos, para o B.J.P. nomear Murmu à presidência é uma maneira de aumentar o apelo às mulheres e enviar uma mensagem mais ampla de que se preocupa com os desfavorecidos. Além disso, dizem também que é parte de um esforço para obter ganhos em Estados com grandes populações tribais. Os eleitores das tribos da Índia e as castas inferiores tendem a apoiar o partido do Congresso, que agora compõe a oposição, ou partidos regionais com fortes líderes locais.

Salkhan Murmu, um ex-legislador do B.J.P. e ativista da comunidade, disse que a ascensão de Murmu foi um “grande, grande negócio” para Santhals e outras tribos. O ativista, que não é parente da presidente, tem feito lobby para que as práticas religiosas tribais sejam formalmente reconhecidas no censo da Índia. “B.J.P. quer ampliar sua base política, e queremos o reconhecimento de nossa cultura e tradição”, disse ele.

“Que eles ganhem politicamente, e vamos ganhar cultural e tradicionalmente, para que possamos manter vivas nossas línguas e modo de vida distintos”, acrescentou.

Mulheres seguram retrato de Droupadi Murmu, primeira presidente mulher de uma tribo, em Nova Délhi, em imagem da quinta-feira, 21. Nomeação da indiana foi grande notícia para a região Foto: Aushree Fadnavis/Reuters

A viagem até Uparbeda da capital de Odisha, Bhubaneswar, leva cerca de oito horas, sinuosa através de exuberantes florestas verdes, terras agrícolas e reservas florestais, até mesmo caminhos designados para elefantes. No fim, abre para uma paisagem pitoresca de campos de pastagem, com montanhas ao fundo.

Ainda a quilômetros de distância da aldeia, as pessoas apontaram entusiasticamente a direção a seguir – um reflexo de como a nomeação de Murmu se tornou uma grande notícia na região. Em Uparbeda, aldeões formaram um círculo em torno de árvores sagradas e rezaram pela vitória.

“Estamos nos preparando para dançar ao som dos tambores”, disse Bhakta Bandhu Tudu, primo de Murmu, na quinta-feira, 21, antes dos votos serem contados

Em uma tarde recente, os homens de Uparbeda se curvaram em águas até a altura do tornozelo, cuidando de seus campos de pastagem. Mulheres andavam de bicicleta até o mercado local. A vila, cuja população é de cerca de 1,6 mil habitantes, possui três escolas e um centro de atenção primária à saúde. Para doenças mais graves, as pessoas viajam para a cidade mais próxima, a 19,3 quilômetros de distância.

Tudu, uma viúva cujo marido era irmão de Murmu, cultiva arroz em um pequeno campo e tira água da bomba da comunidade. Ela disse que era “libertador” ter eletricidade em sua casa, embora alguns dos quartos ainda não tivessem sido conectados à rede elétrica.

Ao ser questionada sobre a nomeação de Murmu, Tudu se emociona. “Enche meu coração de alegria”, disse ela. Uma primo sentada próxima, Heera Murmu, foi mais pragmática. “Nossa lista de desejos inclui água limpa da torneira, um hospital e uma escola melhor para as crianças do nosso novo presidente”, declarou.

UPARBEDA – Na remota vila oriental de Uparbeda, muitas pessoas ainda usam lenha para cozinhar, a água é retirada de bombas manuais e, até o mês passado, a eletricidade ainda não tinha chegado à casa da indiana Churamuni Tudu. A luz chegou de repente, quando a sua cunhada, Droupadi Murmu, se tornou a provável próxima presidente da Índia.

Os jornais rapidamente informaram que algumas pessoas nesta aldeia, onde Murmu cresceu, ainda viviam sem eletricidade e trabalhadores foram enviados para conectar a comunidade à rede. “Agora eu não preciso ter que andar meia hora até um conhecido para carregar meu celular”, disse Tudu. “Meus netos podem ler à noite quando vêm me visitar.”

A presidência da Índia é em grande parte simbólica, mas quando Murmu, declarada eleita para o cargo na quinta-feira pelos legisladores, for empossada na próxima semana, terá um significado muito além de Uparbeda.

Além de ser apenas a segunda mulher presidente da Índia, ela será a primeira oriunda das comunidades tribais indígenas do país – uma população economicamente marginalizada e que representa quase 10% da Índia. Até recentemente, Murmu era governadora do Estado de Jharkhand.

Nova presidente da Índia, Droupadi Murmu, após ser eleita para o cargo, em Nova Délhi, 22 de julho. Murmu é a primeira mulher de origem tribal a se tornar presidente Foto: Prakash Singh / AFP

O Partido Bharatiya Janata, do primeiro-ministro Narendra Modi, ou B.J.P., que junto com seus aliados nomeou Murmu para a presidência no mês passado, diz que tê-la no cargo chamará a atenção para necessidades de centenas de tribos oficialmente reconhecidas da Índia, muitos dos quais vivem em aldeias remotas e empobrecidas como Uparbeda.

“Desde a independência, ninguém dessa comunidade tribal diversificada havia encontrado representação neste nível”, disse Samir Mohanty, presidente do B.J.P. para o Estado de Odisha, que inclui Uparbeda.

Outros veem a escolha do partido como uma estratégia de conquistar votos. A legenda, que se caracteriza por um nacionalismo hindu, tenta há anos fazer incursões com eleitores de tribos em locais como Odisha, onde são quase 25% da população.

“A nova embalagem do B.J.P. está em curso nos último oito a dez anos, que é um partido das castas inferiores, dos marginalizados e das tribos, uma ideia que eles querem promover”, disse Harish Wankhede, professor de estudos políticos na Universidade Jawahar Lal Nehru, em Délhi, especializado em política identitária.

Droupadi Murmu, de 64 anos, faz parte de uma das mais antigas e maiores tribos da Índia, os Santhals, famosos por uma revolta contra o domínio britânico na década de 1850. Ela é filha de um agricultor de arroz que foi membro do conselho da aldeia de Uparbeda. Na infância, ela precisava caminhar um quilômetro até a escola todos os dias e à noite usava uma lâmpada de querosene para estudar.

Imagem mostra primeiro-ministro da Índia, Narenda Modi, em encontro com nova presidente, Droupadi Murmu, na quinta-feira, 21. Premiê comanda o país, enquanto presidente tem papel simbólico Foto: INDIA PRESS INFORMATION / via EFE

Murmu se formou professora e logo entrou na política local, filiando-se ao B.J.P. e eventualmente servindo na legislatura estadual de Odisha. Em 2015, o partido a nomeou para governadora de Jharkhand, um Estado vizinho que também tem uma população tribal numerosa. Ela ocupou o cargo até o ano passado.

A indiana tem a reputação de ser de fala mansa e despretensiosa. Em uma entrevista concedida em 2016, ela disse que não tinha a intenção inicial de procurar um cargo público ao ingressar na política. “Na época, a política não era vista com bons olhos, especialmente para as mulheres. A sociedade a que pertenço acha que as mulheres não devem entrar na política.”

Como 15ª presidente da Índia, Murmu será essencialmente uma figura simbólica. O primeiro-ministro da Índia, Jawaharlal Nehru, definiu uma vez o cargo como projetado para carregar “grande autoridade e dignidade”, mas sem “poder real”. Ao longo dos anos, os presidentes têm usado sua influência para resolver crises políticas e criticar governos sobre políticas que desaprovavam.

Segundo analistas políticos, para o B.J.P. nomear Murmu à presidência é uma maneira de aumentar o apelo às mulheres e enviar uma mensagem mais ampla de que se preocupa com os desfavorecidos. Além disso, dizem também que é parte de um esforço para obter ganhos em Estados com grandes populações tribais. Os eleitores das tribos da Índia e as castas inferiores tendem a apoiar o partido do Congresso, que agora compõe a oposição, ou partidos regionais com fortes líderes locais.

Salkhan Murmu, um ex-legislador do B.J.P. e ativista da comunidade, disse que a ascensão de Murmu foi um “grande, grande negócio” para Santhals e outras tribos. O ativista, que não é parente da presidente, tem feito lobby para que as práticas religiosas tribais sejam formalmente reconhecidas no censo da Índia. “B.J.P. quer ampliar sua base política, e queremos o reconhecimento de nossa cultura e tradição”, disse ele.

“Que eles ganhem politicamente, e vamos ganhar cultural e tradicionalmente, para que possamos manter vivas nossas línguas e modo de vida distintos”, acrescentou.

Mulheres seguram retrato de Droupadi Murmu, primeira presidente mulher de uma tribo, em Nova Délhi, em imagem da quinta-feira, 21. Nomeação da indiana foi grande notícia para a região Foto: Aushree Fadnavis/Reuters

A viagem até Uparbeda da capital de Odisha, Bhubaneswar, leva cerca de oito horas, sinuosa através de exuberantes florestas verdes, terras agrícolas e reservas florestais, até mesmo caminhos designados para elefantes. No fim, abre para uma paisagem pitoresca de campos de pastagem, com montanhas ao fundo.

Ainda a quilômetros de distância da aldeia, as pessoas apontaram entusiasticamente a direção a seguir – um reflexo de como a nomeação de Murmu se tornou uma grande notícia na região. Em Uparbeda, aldeões formaram um círculo em torno de árvores sagradas e rezaram pela vitória.

“Estamos nos preparando para dançar ao som dos tambores”, disse Bhakta Bandhu Tudu, primo de Murmu, na quinta-feira, 21, antes dos votos serem contados

Em uma tarde recente, os homens de Uparbeda se curvaram em águas até a altura do tornozelo, cuidando de seus campos de pastagem. Mulheres andavam de bicicleta até o mercado local. A vila, cuja população é de cerca de 1,6 mil habitantes, possui três escolas e um centro de atenção primária à saúde. Para doenças mais graves, as pessoas viajam para a cidade mais próxima, a 19,3 quilômetros de distância.

Tudu, uma viúva cujo marido era irmão de Murmu, cultiva arroz em um pequeno campo e tira água da bomba da comunidade. Ela disse que era “libertador” ter eletricidade em sua casa, embora alguns dos quartos ainda não tivessem sido conectados à rede elétrica.

Ao ser questionada sobre a nomeação de Murmu, Tudu se emociona. “Enche meu coração de alegria”, disse ela. Uma primo sentada próxima, Heera Murmu, foi mais pragmática. “Nossa lista de desejos inclui água limpa da torneira, um hospital e uma escola melhor para as crianças do nosso novo presidente”, declarou.

UPARBEDA – Na remota vila oriental de Uparbeda, muitas pessoas ainda usam lenha para cozinhar, a água é retirada de bombas manuais e, até o mês passado, a eletricidade ainda não tinha chegado à casa da indiana Churamuni Tudu. A luz chegou de repente, quando a sua cunhada, Droupadi Murmu, se tornou a provável próxima presidente da Índia.

Os jornais rapidamente informaram que algumas pessoas nesta aldeia, onde Murmu cresceu, ainda viviam sem eletricidade e trabalhadores foram enviados para conectar a comunidade à rede. “Agora eu não preciso ter que andar meia hora até um conhecido para carregar meu celular”, disse Tudu. “Meus netos podem ler à noite quando vêm me visitar.”

A presidência da Índia é em grande parte simbólica, mas quando Murmu, declarada eleita para o cargo na quinta-feira pelos legisladores, for empossada na próxima semana, terá um significado muito além de Uparbeda.

Além de ser apenas a segunda mulher presidente da Índia, ela será a primeira oriunda das comunidades tribais indígenas do país – uma população economicamente marginalizada e que representa quase 10% da Índia. Até recentemente, Murmu era governadora do Estado de Jharkhand.

Nova presidente da Índia, Droupadi Murmu, após ser eleita para o cargo, em Nova Délhi, 22 de julho. Murmu é a primeira mulher de origem tribal a se tornar presidente Foto: Prakash Singh / AFP

O Partido Bharatiya Janata, do primeiro-ministro Narendra Modi, ou B.J.P., que junto com seus aliados nomeou Murmu para a presidência no mês passado, diz que tê-la no cargo chamará a atenção para necessidades de centenas de tribos oficialmente reconhecidas da Índia, muitos dos quais vivem em aldeias remotas e empobrecidas como Uparbeda.

“Desde a independência, ninguém dessa comunidade tribal diversificada havia encontrado representação neste nível”, disse Samir Mohanty, presidente do B.J.P. para o Estado de Odisha, que inclui Uparbeda.

Outros veem a escolha do partido como uma estratégia de conquistar votos. A legenda, que se caracteriza por um nacionalismo hindu, tenta há anos fazer incursões com eleitores de tribos em locais como Odisha, onde são quase 25% da população.

“A nova embalagem do B.J.P. está em curso nos último oito a dez anos, que é um partido das castas inferiores, dos marginalizados e das tribos, uma ideia que eles querem promover”, disse Harish Wankhede, professor de estudos políticos na Universidade Jawahar Lal Nehru, em Délhi, especializado em política identitária.

Droupadi Murmu, de 64 anos, faz parte de uma das mais antigas e maiores tribos da Índia, os Santhals, famosos por uma revolta contra o domínio britânico na década de 1850. Ela é filha de um agricultor de arroz que foi membro do conselho da aldeia de Uparbeda. Na infância, ela precisava caminhar um quilômetro até a escola todos os dias e à noite usava uma lâmpada de querosene para estudar.

Imagem mostra primeiro-ministro da Índia, Narenda Modi, em encontro com nova presidente, Droupadi Murmu, na quinta-feira, 21. Premiê comanda o país, enquanto presidente tem papel simbólico Foto: INDIA PRESS INFORMATION / via EFE

Murmu se formou professora e logo entrou na política local, filiando-se ao B.J.P. e eventualmente servindo na legislatura estadual de Odisha. Em 2015, o partido a nomeou para governadora de Jharkhand, um Estado vizinho que também tem uma população tribal numerosa. Ela ocupou o cargo até o ano passado.

A indiana tem a reputação de ser de fala mansa e despretensiosa. Em uma entrevista concedida em 2016, ela disse que não tinha a intenção inicial de procurar um cargo público ao ingressar na política. “Na época, a política não era vista com bons olhos, especialmente para as mulheres. A sociedade a que pertenço acha que as mulheres não devem entrar na política.”

Como 15ª presidente da Índia, Murmu será essencialmente uma figura simbólica. O primeiro-ministro da Índia, Jawaharlal Nehru, definiu uma vez o cargo como projetado para carregar “grande autoridade e dignidade”, mas sem “poder real”. Ao longo dos anos, os presidentes têm usado sua influência para resolver crises políticas e criticar governos sobre políticas que desaprovavam.

Segundo analistas políticos, para o B.J.P. nomear Murmu à presidência é uma maneira de aumentar o apelo às mulheres e enviar uma mensagem mais ampla de que se preocupa com os desfavorecidos. Além disso, dizem também que é parte de um esforço para obter ganhos em Estados com grandes populações tribais. Os eleitores das tribos da Índia e as castas inferiores tendem a apoiar o partido do Congresso, que agora compõe a oposição, ou partidos regionais com fortes líderes locais.

Salkhan Murmu, um ex-legislador do B.J.P. e ativista da comunidade, disse que a ascensão de Murmu foi um “grande, grande negócio” para Santhals e outras tribos. O ativista, que não é parente da presidente, tem feito lobby para que as práticas religiosas tribais sejam formalmente reconhecidas no censo da Índia. “B.J.P. quer ampliar sua base política, e queremos o reconhecimento de nossa cultura e tradição”, disse ele.

“Que eles ganhem politicamente, e vamos ganhar cultural e tradicionalmente, para que possamos manter vivas nossas línguas e modo de vida distintos”, acrescentou.

Mulheres seguram retrato de Droupadi Murmu, primeira presidente mulher de uma tribo, em Nova Délhi, em imagem da quinta-feira, 21. Nomeação da indiana foi grande notícia para a região Foto: Aushree Fadnavis/Reuters

A viagem até Uparbeda da capital de Odisha, Bhubaneswar, leva cerca de oito horas, sinuosa através de exuberantes florestas verdes, terras agrícolas e reservas florestais, até mesmo caminhos designados para elefantes. No fim, abre para uma paisagem pitoresca de campos de pastagem, com montanhas ao fundo.

Ainda a quilômetros de distância da aldeia, as pessoas apontaram entusiasticamente a direção a seguir – um reflexo de como a nomeação de Murmu se tornou uma grande notícia na região. Em Uparbeda, aldeões formaram um círculo em torno de árvores sagradas e rezaram pela vitória.

“Estamos nos preparando para dançar ao som dos tambores”, disse Bhakta Bandhu Tudu, primo de Murmu, na quinta-feira, 21, antes dos votos serem contados

Em uma tarde recente, os homens de Uparbeda se curvaram em águas até a altura do tornozelo, cuidando de seus campos de pastagem. Mulheres andavam de bicicleta até o mercado local. A vila, cuja população é de cerca de 1,6 mil habitantes, possui três escolas e um centro de atenção primária à saúde. Para doenças mais graves, as pessoas viajam para a cidade mais próxima, a 19,3 quilômetros de distância.

Tudu, uma viúva cujo marido era irmão de Murmu, cultiva arroz em um pequeno campo e tira água da bomba da comunidade. Ela disse que era “libertador” ter eletricidade em sua casa, embora alguns dos quartos ainda não tivessem sido conectados à rede elétrica.

Ao ser questionada sobre a nomeação de Murmu, Tudu se emociona. “Enche meu coração de alegria”, disse ela. Uma primo sentada próxima, Heera Murmu, foi mais pragmática. “Nossa lista de desejos inclui água limpa da torneira, um hospital e uma escola melhor para as crianças do nosso novo presidente”, declarou.

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