Na China, política de filho único será sentida por décadas


Economia sofrerá com nova proporção de idosos, falta de mulheres e impacto da queda da força de trabalho sobre ritmo de crescimento

Por Cláudia Trevisan, CORRESPONDENTE e WASHINGTON

WASHINGTON - A radical política de filho único adotada pelo Partido Comunista da China, há 36 anos, causou efeitos colaterais que serão sentidos por gerações de chineses, confrontadas com o rápido crescimento da proporção de idosos, a escassez de mulheres para o casamento e o potencial impacto negativo da redução da força de trabalho sobre o ritmo de expansão da segunda maior economia do mundo.

Esses riscos já eram evidentes há anos, mas o governo só anunciou o fim do rígido controle de natalidade na quinta-feira. “Por mais de uma década, muitos especialistas, demógrafos e economistas têm alertado para esses problemas. A única surpresa é quanto tempo demorou para o governo chinês responder a essas preocupações”, disse ao Estado a jornalista Mei Fong, autora do livro One Child – The Past and Future of China’s Most Radical Experiment (Filho Único – O Passado e o Presente do Experimento Mais Radical da China), que será lançado em fevereiro pela editora Houghton Mifflin Harcourt.

Crianças na China

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Crianças na China

Foto: REUTERS/Patty Chen
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Pequim, China

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Segundo ela, uma das razões da reação tardia é a dependência de muitos governos locais da arrecadação criada pela cobrança de multa dos que desrespeitam o limite estabelecido para cada casal. “A política de filho único é uma espécie de imposto sobre a reprodução.”

Ex-correspondente do Wall Street Journal em Pequim, Mei entrevistou famílias chinesas, seus filhos únicos, jovens solteiros, pais órfãos, funcionários responsáveis pelo controle de natalidade, demógrafos e economistas. Uma de suas principais conclusões é a de que a política de filho único não era necessária. 

Na década anterior à sua adoção, o número médio de filhos das famílias chinesas já havia caído de seis para três, em razão de um sistema de planejamento familiar que adiava a idade do casamento, estimulava um menor número de filhos e aumentava o intervalo entre eles.

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Essa tendência se acentuaria naturalmente nos anos seguintes, com o aumento da urbanização, da maior educação das mulheres e de sua integração no mercado de trabalho. “A política de filho único foi apresentada como o único caminho possível, mas não era”, afirmou Mei. A narrativa oficial também exagerou os efeitos da medida, com a estimativa de que ela evitou o nascimento de 400 milhões de pessoas.

Os especialistas entrevistados pela escritora dizem que o número real é muito menor, entre 100 milhões e 200 milhões. Apesar de ainda ser elevada, essa contenção populacional teve um custo desproporcional, ao causar desequilíbrios que custarão caro à China e aos chineses, segundo Mei. “Eles aplicaram o controle de natalidade de maneira tão extrema e cruel que o resultado foi uma série de efeitos colaterais com os quais terão de lidar por gerações.”

Para o restante do mundo, o impacto mais importante é a potencial redução da capacidade do país de continuar a crescer rapidamente. Em 2050, 1 em cada 4 chineses terá 65 anos ou mais, o que colocará enorme pressão sobre a população em idade produtiva. “O Japão tem uma demografia semelhante e sua economia está estagnada há uma década”, observou.

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Mas, para os chineses, os efeitos da política de filho único se manifestam de formas mais sutis em uma série de aspectos de suas vidas pessoal e profissional. A legião de 100 milhões de filhos únicos terá a responsabilidade solitária de sustentar a geração anterior, o que influencia suas escolhas e comportamento econômico.

“Alguns economistas acreditam que a geração de filhos únicos na China será menos empreendedora. Há estudos que mostram que esse grupo é mais avesso ao risco e menos otimista. Isso também pode ser um problema no futuro.”

Outro efeito colateral é a “ansiedade matrimonial”, que se manifesta na enorme pressão dos pais para que os filhos únicos se casem e se reproduzam. A síndrome é especialmente aguda no caso dos homens, em desvantagem numérica na disputa por mulheres. 

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“Não há como responder a essa demanda, a menos que se importe 30 milhões de pessoas, o que é improvável”, ressaltou Mei, citando o número de homens que “sobram” no país. Para ampliar a atratividade de seus filhos, os pais chineses embarcaram nos últimos anos em uma épica compra de imóveis, que elevou os preços desse mercado em 50%, nos cálculos de alguns economistas. 

O radical controle de natalidade também criou o fenômeno dos pais órfãos, que perderam seus filhos únicos quando não podiam mais ter filhos – por terem passado a idade fértil ou por terem sido esterilizados. Cerca de 1 milhão de pessoas estão nesse universo. 

“Perder um filho único na China não é só uma questão emocional. É também uma questão social”, afirmou Mei. Muitos desses pais órfãos enfrentam dificuldades para serem admitidos em casas de repouso, por exemplo, por não terem filhos que se responsabilizem pelas despesas no futuro.

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Com a nova política anunciada na quinta-feira, as famílias chinesas poderão ter até dois filhos, mas a mudança não deverá causar um baby boom, avaliou Mei. Segundo ela, é mais fácil “fechar” do que “abrir” a torneira do controle de natalidade. Parte da dificuldade decorre do “sucesso” da política de filho único, com base em uma propaganda que durante mais de três décadas incutiu na mentalidade dos chineses que essa é a melhor estrutura familiar para o país.

WASHINGTON - A radical política de filho único adotada pelo Partido Comunista da China, há 36 anos, causou efeitos colaterais que serão sentidos por gerações de chineses, confrontadas com o rápido crescimento da proporção de idosos, a escassez de mulheres para o casamento e o potencial impacto negativo da redução da força de trabalho sobre o ritmo de expansão da segunda maior economia do mundo.

Esses riscos já eram evidentes há anos, mas o governo só anunciou o fim do rígido controle de natalidade na quinta-feira. “Por mais de uma década, muitos especialistas, demógrafos e economistas têm alertado para esses problemas. A única surpresa é quanto tempo demorou para o governo chinês responder a essas preocupações”, disse ao Estado a jornalista Mei Fong, autora do livro One Child – The Past and Future of China’s Most Radical Experiment (Filho Único – O Passado e o Presente do Experimento Mais Radical da China), que será lançado em fevereiro pela editora Houghton Mifflin Harcourt.

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Segundo ela, uma das razões da reação tardia é a dependência de muitos governos locais da arrecadação criada pela cobrança de multa dos que desrespeitam o limite estabelecido para cada casal. “A política de filho único é uma espécie de imposto sobre a reprodução.”

Ex-correspondente do Wall Street Journal em Pequim, Mei entrevistou famílias chinesas, seus filhos únicos, jovens solteiros, pais órfãos, funcionários responsáveis pelo controle de natalidade, demógrafos e economistas. Uma de suas principais conclusões é a de que a política de filho único não era necessária. 

Na década anterior à sua adoção, o número médio de filhos das famílias chinesas já havia caído de seis para três, em razão de um sistema de planejamento familiar que adiava a idade do casamento, estimulava um menor número de filhos e aumentava o intervalo entre eles.

Essa tendência se acentuaria naturalmente nos anos seguintes, com o aumento da urbanização, da maior educação das mulheres e de sua integração no mercado de trabalho. “A política de filho único foi apresentada como o único caminho possível, mas não era”, afirmou Mei. A narrativa oficial também exagerou os efeitos da medida, com a estimativa de que ela evitou o nascimento de 400 milhões de pessoas.

Os especialistas entrevistados pela escritora dizem que o número real é muito menor, entre 100 milhões e 200 milhões. Apesar de ainda ser elevada, essa contenção populacional teve um custo desproporcional, ao causar desequilíbrios que custarão caro à China e aos chineses, segundo Mei. “Eles aplicaram o controle de natalidade de maneira tão extrema e cruel que o resultado foi uma série de efeitos colaterais com os quais terão de lidar por gerações.”

Para o restante do mundo, o impacto mais importante é a potencial redução da capacidade do país de continuar a crescer rapidamente. Em 2050, 1 em cada 4 chineses terá 65 anos ou mais, o que colocará enorme pressão sobre a população em idade produtiva. “O Japão tem uma demografia semelhante e sua economia está estagnada há uma década”, observou.

Mas, para os chineses, os efeitos da política de filho único se manifestam de formas mais sutis em uma série de aspectos de suas vidas pessoal e profissional. A legião de 100 milhões de filhos únicos terá a responsabilidade solitária de sustentar a geração anterior, o que influencia suas escolhas e comportamento econômico.

“Alguns economistas acreditam que a geração de filhos únicos na China será menos empreendedora. Há estudos que mostram que esse grupo é mais avesso ao risco e menos otimista. Isso também pode ser um problema no futuro.”

Outro efeito colateral é a “ansiedade matrimonial”, que se manifesta na enorme pressão dos pais para que os filhos únicos se casem e se reproduzam. A síndrome é especialmente aguda no caso dos homens, em desvantagem numérica na disputa por mulheres. 

“Não há como responder a essa demanda, a menos que se importe 30 milhões de pessoas, o que é improvável”, ressaltou Mei, citando o número de homens que “sobram” no país. Para ampliar a atratividade de seus filhos, os pais chineses embarcaram nos últimos anos em uma épica compra de imóveis, que elevou os preços desse mercado em 50%, nos cálculos de alguns economistas. 

O radical controle de natalidade também criou o fenômeno dos pais órfãos, que perderam seus filhos únicos quando não podiam mais ter filhos – por terem passado a idade fértil ou por terem sido esterilizados. Cerca de 1 milhão de pessoas estão nesse universo. 

“Perder um filho único na China não é só uma questão emocional. É também uma questão social”, afirmou Mei. Muitos desses pais órfãos enfrentam dificuldades para serem admitidos em casas de repouso, por exemplo, por não terem filhos que se responsabilizem pelas despesas no futuro.

Com a nova política anunciada na quinta-feira, as famílias chinesas poderão ter até dois filhos, mas a mudança não deverá causar um baby boom, avaliou Mei. Segundo ela, é mais fácil “fechar” do que “abrir” a torneira do controle de natalidade. Parte da dificuldade decorre do “sucesso” da política de filho único, com base em uma propaganda que durante mais de três décadas incutiu na mentalidade dos chineses que essa é a melhor estrutura familiar para o país.

WASHINGTON - A radical política de filho único adotada pelo Partido Comunista da China, há 36 anos, causou efeitos colaterais que serão sentidos por gerações de chineses, confrontadas com o rápido crescimento da proporção de idosos, a escassez de mulheres para o casamento e o potencial impacto negativo da redução da força de trabalho sobre o ritmo de expansão da segunda maior economia do mundo.

Esses riscos já eram evidentes há anos, mas o governo só anunciou o fim do rígido controle de natalidade na quinta-feira. “Por mais de uma década, muitos especialistas, demógrafos e economistas têm alertado para esses problemas. A única surpresa é quanto tempo demorou para o governo chinês responder a essas preocupações”, disse ao Estado a jornalista Mei Fong, autora do livro One Child – The Past and Future of China’s Most Radical Experiment (Filho Único – O Passado e o Presente do Experimento Mais Radical da China), que será lançado em fevereiro pela editora Houghton Mifflin Harcourt.

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Segundo ela, uma das razões da reação tardia é a dependência de muitos governos locais da arrecadação criada pela cobrança de multa dos que desrespeitam o limite estabelecido para cada casal. “A política de filho único é uma espécie de imposto sobre a reprodução.”

Ex-correspondente do Wall Street Journal em Pequim, Mei entrevistou famílias chinesas, seus filhos únicos, jovens solteiros, pais órfãos, funcionários responsáveis pelo controle de natalidade, demógrafos e economistas. Uma de suas principais conclusões é a de que a política de filho único não era necessária. 

Na década anterior à sua adoção, o número médio de filhos das famílias chinesas já havia caído de seis para três, em razão de um sistema de planejamento familiar que adiava a idade do casamento, estimulava um menor número de filhos e aumentava o intervalo entre eles.

Essa tendência se acentuaria naturalmente nos anos seguintes, com o aumento da urbanização, da maior educação das mulheres e de sua integração no mercado de trabalho. “A política de filho único foi apresentada como o único caminho possível, mas não era”, afirmou Mei. A narrativa oficial também exagerou os efeitos da medida, com a estimativa de que ela evitou o nascimento de 400 milhões de pessoas.

Os especialistas entrevistados pela escritora dizem que o número real é muito menor, entre 100 milhões e 200 milhões. Apesar de ainda ser elevada, essa contenção populacional teve um custo desproporcional, ao causar desequilíbrios que custarão caro à China e aos chineses, segundo Mei. “Eles aplicaram o controle de natalidade de maneira tão extrema e cruel que o resultado foi uma série de efeitos colaterais com os quais terão de lidar por gerações.”

Para o restante do mundo, o impacto mais importante é a potencial redução da capacidade do país de continuar a crescer rapidamente. Em 2050, 1 em cada 4 chineses terá 65 anos ou mais, o que colocará enorme pressão sobre a população em idade produtiva. “O Japão tem uma demografia semelhante e sua economia está estagnada há uma década”, observou.

Mas, para os chineses, os efeitos da política de filho único se manifestam de formas mais sutis em uma série de aspectos de suas vidas pessoal e profissional. A legião de 100 milhões de filhos únicos terá a responsabilidade solitária de sustentar a geração anterior, o que influencia suas escolhas e comportamento econômico.

“Alguns economistas acreditam que a geração de filhos únicos na China será menos empreendedora. Há estudos que mostram que esse grupo é mais avesso ao risco e menos otimista. Isso também pode ser um problema no futuro.”

Outro efeito colateral é a “ansiedade matrimonial”, que se manifesta na enorme pressão dos pais para que os filhos únicos se casem e se reproduzam. A síndrome é especialmente aguda no caso dos homens, em desvantagem numérica na disputa por mulheres. 

“Não há como responder a essa demanda, a menos que se importe 30 milhões de pessoas, o que é improvável”, ressaltou Mei, citando o número de homens que “sobram” no país. Para ampliar a atratividade de seus filhos, os pais chineses embarcaram nos últimos anos em uma épica compra de imóveis, que elevou os preços desse mercado em 50%, nos cálculos de alguns economistas. 

O radical controle de natalidade também criou o fenômeno dos pais órfãos, que perderam seus filhos únicos quando não podiam mais ter filhos – por terem passado a idade fértil ou por terem sido esterilizados. Cerca de 1 milhão de pessoas estão nesse universo. 

“Perder um filho único na China não é só uma questão emocional. É também uma questão social”, afirmou Mei. Muitos desses pais órfãos enfrentam dificuldades para serem admitidos em casas de repouso, por exemplo, por não terem filhos que se responsabilizem pelas despesas no futuro.

Com a nova política anunciada na quinta-feira, as famílias chinesas poderão ter até dois filhos, mas a mudança não deverá causar um baby boom, avaliou Mei. Segundo ela, é mais fácil “fechar” do que “abrir” a torneira do controle de natalidade. Parte da dificuldade decorre do “sucesso” da política de filho único, com base em uma propaganda que durante mais de três décadas incutiu na mentalidade dos chineses que essa é a melhor estrutura familiar para o país.

WASHINGTON - A radical política de filho único adotada pelo Partido Comunista da China, há 36 anos, causou efeitos colaterais que serão sentidos por gerações de chineses, confrontadas com o rápido crescimento da proporção de idosos, a escassez de mulheres para o casamento e o potencial impacto negativo da redução da força de trabalho sobre o ritmo de expansão da segunda maior economia do mundo.

Esses riscos já eram evidentes há anos, mas o governo só anunciou o fim do rígido controle de natalidade na quinta-feira. “Por mais de uma década, muitos especialistas, demógrafos e economistas têm alertado para esses problemas. A única surpresa é quanto tempo demorou para o governo chinês responder a essas preocupações”, disse ao Estado a jornalista Mei Fong, autora do livro One Child – The Past and Future of China’s Most Radical Experiment (Filho Único – O Passado e o Presente do Experimento Mais Radical da China), que será lançado em fevereiro pela editora Houghton Mifflin Harcourt.

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Segundo ela, uma das razões da reação tardia é a dependência de muitos governos locais da arrecadação criada pela cobrança de multa dos que desrespeitam o limite estabelecido para cada casal. “A política de filho único é uma espécie de imposto sobre a reprodução.”

Ex-correspondente do Wall Street Journal em Pequim, Mei entrevistou famílias chinesas, seus filhos únicos, jovens solteiros, pais órfãos, funcionários responsáveis pelo controle de natalidade, demógrafos e economistas. Uma de suas principais conclusões é a de que a política de filho único não era necessária. 

Na década anterior à sua adoção, o número médio de filhos das famílias chinesas já havia caído de seis para três, em razão de um sistema de planejamento familiar que adiava a idade do casamento, estimulava um menor número de filhos e aumentava o intervalo entre eles.

Essa tendência se acentuaria naturalmente nos anos seguintes, com o aumento da urbanização, da maior educação das mulheres e de sua integração no mercado de trabalho. “A política de filho único foi apresentada como o único caminho possível, mas não era”, afirmou Mei. A narrativa oficial também exagerou os efeitos da medida, com a estimativa de que ela evitou o nascimento de 400 milhões de pessoas.

Os especialistas entrevistados pela escritora dizem que o número real é muito menor, entre 100 milhões e 200 milhões. Apesar de ainda ser elevada, essa contenção populacional teve um custo desproporcional, ao causar desequilíbrios que custarão caro à China e aos chineses, segundo Mei. “Eles aplicaram o controle de natalidade de maneira tão extrema e cruel que o resultado foi uma série de efeitos colaterais com os quais terão de lidar por gerações.”

Para o restante do mundo, o impacto mais importante é a potencial redução da capacidade do país de continuar a crescer rapidamente. Em 2050, 1 em cada 4 chineses terá 65 anos ou mais, o que colocará enorme pressão sobre a população em idade produtiva. “O Japão tem uma demografia semelhante e sua economia está estagnada há uma década”, observou.

Mas, para os chineses, os efeitos da política de filho único se manifestam de formas mais sutis em uma série de aspectos de suas vidas pessoal e profissional. A legião de 100 milhões de filhos únicos terá a responsabilidade solitária de sustentar a geração anterior, o que influencia suas escolhas e comportamento econômico.

“Alguns economistas acreditam que a geração de filhos únicos na China será menos empreendedora. Há estudos que mostram que esse grupo é mais avesso ao risco e menos otimista. Isso também pode ser um problema no futuro.”

Outro efeito colateral é a “ansiedade matrimonial”, que se manifesta na enorme pressão dos pais para que os filhos únicos se casem e se reproduzam. A síndrome é especialmente aguda no caso dos homens, em desvantagem numérica na disputa por mulheres. 

“Não há como responder a essa demanda, a menos que se importe 30 milhões de pessoas, o que é improvável”, ressaltou Mei, citando o número de homens que “sobram” no país. Para ampliar a atratividade de seus filhos, os pais chineses embarcaram nos últimos anos em uma épica compra de imóveis, que elevou os preços desse mercado em 50%, nos cálculos de alguns economistas. 

O radical controle de natalidade também criou o fenômeno dos pais órfãos, que perderam seus filhos únicos quando não podiam mais ter filhos – por terem passado a idade fértil ou por terem sido esterilizados. Cerca de 1 milhão de pessoas estão nesse universo. 

“Perder um filho único na China não é só uma questão emocional. É também uma questão social”, afirmou Mei. Muitos desses pais órfãos enfrentam dificuldades para serem admitidos em casas de repouso, por exemplo, por não terem filhos que se responsabilizem pelas despesas no futuro.

Com a nova política anunciada na quinta-feira, as famílias chinesas poderão ter até dois filhos, mas a mudança não deverá causar um baby boom, avaliou Mei. Segundo ela, é mais fácil “fechar” do que “abrir” a torneira do controle de natalidade. Parte da dificuldade decorre do “sucesso” da política de filho único, com base em uma propaganda que durante mais de três décadas incutiu na mentalidade dos chineses que essa é a melhor estrutura familiar para o país.

WASHINGTON - A radical política de filho único adotada pelo Partido Comunista da China, há 36 anos, causou efeitos colaterais que serão sentidos por gerações de chineses, confrontadas com o rápido crescimento da proporção de idosos, a escassez de mulheres para o casamento e o potencial impacto negativo da redução da força de trabalho sobre o ritmo de expansão da segunda maior economia do mundo.

Esses riscos já eram evidentes há anos, mas o governo só anunciou o fim do rígido controle de natalidade na quinta-feira. “Por mais de uma década, muitos especialistas, demógrafos e economistas têm alertado para esses problemas. A única surpresa é quanto tempo demorou para o governo chinês responder a essas preocupações”, disse ao Estado a jornalista Mei Fong, autora do livro One Child – The Past and Future of China’s Most Radical Experiment (Filho Único – O Passado e o Presente do Experimento Mais Radical da China), que será lançado em fevereiro pela editora Houghton Mifflin Harcourt.

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Segundo ela, uma das razões da reação tardia é a dependência de muitos governos locais da arrecadação criada pela cobrança de multa dos que desrespeitam o limite estabelecido para cada casal. “A política de filho único é uma espécie de imposto sobre a reprodução.”

Ex-correspondente do Wall Street Journal em Pequim, Mei entrevistou famílias chinesas, seus filhos únicos, jovens solteiros, pais órfãos, funcionários responsáveis pelo controle de natalidade, demógrafos e economistas. Uma de suas principais conclusões é a de que a política de filho único não era necessária. 

Na década anterior à sua adoção, o número médio de filhos das famílias chinesas já havia caído de seis para três, em razão de um sistema de planejamento familiar que adiava a idade do casamento, estimulava um menor número de filhos e aumentava o intervalo entre eles.

Essa tendência se acentuaria naturalmente nos anos seguintes, com o aumento da urbanização, da maior educação das mulheres e de sua integração no mercado de trabalho. “A política de filho único foi apresentada como o único caminho possível, mas não era”, afirmou Mei. A narrativa oficial também exagerou os efeitos da medida, com a estimativa de que ela evitou o nascimento de 400 milhões de pessoas.

Os especialistas entrevistados pela escritora dizem que o número real é muito menor, entre 100 milhões e 200 milhões. Apesar de ainda ser elevada, essa contenção populacional teve um custo desproporcional, ao causar desequilíbrios que custarão caro à China e aos chineses, segundo Mei. “Eles aplicaram o controle de natalidade de maneira tão extrema e cruel que o resultado foi uma série de efeitos colaterais com os quais terão de lidar por gerações.”

Para o restante do mundo, o impacto mais importante é a potencial redução da capacidade do país de continuar a crescer rapidamente. Em 2050, 1 em cada 4 chineses terá 65 anos ou mais, o que colocará enorme pressão sobre a população em idade produtiva. “O Japão tem uma demografia semelhante e sua economia está estagnada há uma década”, observou.

Mas, para os chineses, os efeitos da política de filho único se manifestam de formas mais sutis em uma série de aspectos de suas vidas pessoal e profissional. A legião de 100 milhões de filhos únicos terá a responsabilidade solitária de sustentar a geração anterior, o que influencia suas escolhas e comportamento econômico.

“Alguns economistas acreditam que a geração de filhos únicos na China será menos empreendedora. Há estudos que mostram que esse grupo é mais avesso ao risco e menos otimista. Isso também pode ser um problema no futuro.”

Outro efeito colateral é a “ansiedade matrimonial”, que se manifesta na enorme pressão dos pais para que os filhos únicos se casem e se reproduzam. A síndrome é especialmente aguda no caso dos homens, em desvantagem numérica na disputa por mulheres. 

“Não há como responder a essa demanda, a menos que se importe 30 milhões de pessoas, o que é improvável”, ressaltou Mei, citando o número de homens que “sobram” no país. Para ampliar a atratividade de seus filhos, os pais chineses embarcaram nos últimos anos em uma épica compra de imóveis, que elevou os preços desse mercado em 50%, nos cálculos de alguns economistas. 

O radical controle de natalidade também criou o fenômeno dos pais órfãos, que perderam seus filhos únicos quando não podiam mais ter filhos – por terem passado a idade fértil ou por terem sido esterilizados. Cerca de 1 milhão de pessoas estão nesse universo. 

“Perder um filho único na China não é só uma questão emocional. É também uma questão social”, afirmou Mei. Muitos desses pais órfãos enfrentam dificuldades para serem admitidos em casas de repouso, por exemplo, por não terem filhos que se responsabilizem pelas despesas no futuro.

Com a nova política anunciada na quinta-feira, as famílias chinesas poderão ter até dois filhos, mas a mudança não deverá causar um baby boom, avaliou Mei. Segundo ela, é mais fácil “fechar” do que “abrir” a torneira do controle de natalidade. Parte da dificuldade decorre do “sucesso” da política de filho único, com base em uma propaganda que durante mais de três décadas incutiu na mentalidade dos chineses que essa é a melhor estrutura familiar para o país.

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