SAN JOSÉ - Eles são jovens, têm o mesmo nome e uma forte ligação com a música. Mas as semelhanças entre Fabricio Alvarado e Carlos Alvarado Quesada terminam aí. O resultado da eleição realizada no domingo determinou que os dois disputarão em abril o segundo turno das eleições presidenciais da Costa Rica.
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Fabricio é pastor evangélico, cantor de música gospel e ex-apresentador de TV. Candidato pelo partido conservador Restauração Nacional, ele tinha 3% das intenções de voto em dezembro. Ele seria um coadjuvante na eleição costa-riquenha não fosse uma decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), com sede em San José. No dia 9 de janeiro, o tribunal determinou que a Costa Rica deveria aceitar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Fabricio, que também é deputado, soube explorar o conservadorismo de parte da população para disparar nas pesquisas.
“Há uma população que não está satisfeita com a maneira com a qual a CIDH violou nossa soberania e passou por cima da nossa institucionalidade”, disse o pastor, de 43 anos, que prometeu retirar a Costa Rica da corte, se for eleito. “Vamos derrotar essa ideologia de gênero que assola a Costa Rica.”
Alçado à liderança em menos de um mês, ele confirmou nas urnas seu favoritismo, vencendo o primeiro turno com 24,8% dos votos. Seu adversário em abril não poderia ter um perfil mais antagônico. Carlos Alvarado, de 38 anos, foi ministro do Trabalho do atual presidente, Luis Guillermo Solís. Candidato do partido governista Ação Cidadã, se garantiu no segundo turno com 21,6% dos votos.
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Ao contrário de Fabricio, que defende os “valores da família tradicional” da Costa Rica, Carlos tem apoio da centro esquerda e pretende manter o país no caminho progressista que sempre teve. Escritor, publicou quatro livros nos últimos dez anos e foi vocalistas de várias bandas de rock progressivo. Se eleito, ele promete cumprir a decisão da CIDH e garantir os direitos da comunidade LGBT.
A maior crítica feita pelos adversários de Carlos é sua falta de experiência. No entanto, analistas dizem que, diante de escândalos de corrupção envolvendo o governo de Solís e de uma crise de imagem dos políticos tradicionais na América Latina, tanto Carlos quanto Fabricio foram beneficiados por serem considerados “novidade” no cenário eleitoral.
Segundo pesquisa feita em dezembro pela Universidade da Costa Rica, temas como casamento entre pessoas do mesmo sexo, uso recreativo da maconha, Estado laico e aborto em caso de estupro têm 65% de reprovação. Cerca de 80% dos costa-riquenhos consideram a religião um elemento importante e 70% deles se declaram católicos – números que podem favorecer o pastor em abril. / AP