Na Guerra da Ucrânia, os moradores idosos não têm a opção de fugir das bombas de Putin


Dificuldade de locomoção, apego ao lar e solidão transformam os mais velhos em alvo civil vulnerável aos ataques russos

Por Redação
Atualização:

WASHINGTON POST, ODESSA- Anna Churiliana não enxerga mais, mas as imagens da guerra na Ucrânia descritas quando ela liga o noticiário da televisão todas as noites são horríveis.

Ela junta as mãos imaginando Kiev e Kharkiv como as belas cidades que conheceu. Seus olhos lacrimejaram ao pensar em como eles devem estar agora, depois de mais de uma semana de bombardeios pesados pelas forças russas.

“Essas explosões são todas tão terríveis”, disse ela. Sua voz tremeu. “Eu não posso vê-las, mas posso senti-las com todo o meu corpo.”

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Idosa é auxliada para atravessar rio na cidade de Irpin, no norte da Ucrânia. Foto: Vadim Ghirda/AP

Em toda a Ucrânia, as pessoas estão em busca de segurança. A maioria tenta fugir do país ou menos migrar para oeste, mais distantes das forças russas. As cenas nas estações de trem da Ucrânia mostram em grande parte mulheres e crianças puxando malas e carregando quaisquer pertences que possam trazer. Homens de 18 a 60 anos são proibidos de sair.

Mas sobraram os idosos. E muitos têm ficado para trás. A retirada pode ser muito desgastante, emocional e fisicamente, para a maioria deles. Para alguns, como Churiliana, de 90 anos, é quase impossível deixar o local onde vivem.

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Outros insistem em permanecer por lealdade e amor por sua casa, resistindo teimosamente à fuga apesar dos apelos de familiares. Isso é especialmente verdade em Odessa, onde há um ditado – “Odessa Mama” – que os moradores costumam se referir carinhosamente à sua cidade como uma matriarca que os protegerá.

Churiliana mal saiu de seu apartamento nos últimos cinco anos. Todos os dias ela diz em voz alta os pontos de referência ao redor de seu prédio no centro de Odessa, uma maneira de garantir que seu mundo não fique confinado apenas a essas paredes. Ela pediu à sobrinha, que mora com ela, que colocasse panos nas janelas como proteção em caso de explosões. Isso tornou o mundo sombrio de Churiliana ainda mais sombrio. “Que diferença isso faz para mim? Embora, acho que gostaria de sentir a luz do sol”, disse ela.

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Ao contrário de outras grandes cidades ucranianas que estão sob bombardeios quase constantes desde que a Rússia lançou seus primeiros ataques em 24 de fevereiro, as pessoas no porto de Odessa, no Mar Negro, tiveram quase duas semanas para fugir com segurança para o oeste. As fronteiras da Moldávia e da Romênia, consideradas menos congestionadas com o tráfego de refugiados do que as da Polônia, também estão próximas.

E se os ucranianos nas cidades ocidentais e centrais do país, como Lviv e Dnipro, estão otimistas que as forças russas não lançarão um ataque lá, em Odessa não há essa ilusão. Este é um dos maiores portos do Mar Negro, tornando-o economicamente crítico para a Ucrânia e um alvo óbvio da Rússia. Depois de ver a destruição e o derramamento de sangue em Kharkiv e ao redor de Kiev, trocar Odessa por um terreno mais seguro, sabendo o que provavelmente está por vir para esta cidade, tornou-se uma opção.

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Voluntários ajudam os idosos

Dois voluntários pararam no apartamento de Churiliana no domingo para trazer uma sacola de alimentos não perecíveis – trigo sarraceno, atum enlatado e outros itens. Estas são as outras pessoas que permanecem na Ucrânia apesar dos riscos: cidadãos comuns agora se mobilizando para ajudar na guerra e no esforço humanitário no país. O número de voluntários para tudo e qualquer coisa na Ucrânia disparou.

A organização Park Kulturi de Eduard Shevchenko era mais um clube social há duas semanas. Agora, com muitos grupos já focados em ajudar soldados e milícias civis, o Park Kulturi concentrou seus esforços em um grupo demográfico que Shevchenko temia estar sendo esquecido: aposentados e moradores mais velhos.

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Ele e seu colega, Maksim Gaida, entregaram comida para cinco famílias idosas, incluindo a de Churiliana, na tarde de domingo. Talvez mais importante do que os bens que ofereciam era a companhia.

“As pessoas querem ajudar de alguma forma porque ficar em casa sem fazer nada deixa todo mundo louco”, disse Shevchenko. “Podemos fazer uma analogia com como os idosos se sentem: ficam em casa o tempo todo, se sentem indesejados porque ninguém os chama, muitas vezes incapazes de sair e comprar comida para si.”

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Solidão afeta idosos na guerra

Odessa é tudo que Oleksandr Zayarni, de 68 anos conhece. Ele nasceu aqui. A mãe dele nasceu aqui. A avó dele nasceu aqui. “Não há para onde ir, apenas Odessa”, disse ele. “Meu pai morreu durante a 2ª Guerra. Minha esposa morreu. Estou sozinho agora.”

O retrato em preto e branco de sua esposa está pendurado na parede do apartamento que ele mesmo remodelou. Ela morreu há mais de três décadas com apenas 33 anos. Eles não tiveram filhos, e ele nunca se casou novamente.

Em vez disso, ele ajudou a consertar casas para outras famílias. Ele é um homem pequeno que anda com dificuldade – o preço de uma queda feia que quando pintava uma igreja anos atrás.

A guerra é assustadora, disse ele. Mas ele não teme a morte. “Não vou morrer ainda. Quero viver pelo menos mais alguns anos”, acrescentou.

Muitos idosos precisam de ajuda no forte inverno da Ucrânia. Foto: Vadim Ghirda/AP

Fuga é cara para aposentados

Para Evgeni Petrov, de 75 anos, a fuga é cara. Ele ainda trabalha. Em seu sótão, ele fabrica artigos de couro personalizados – bolsas, carteiras, estojos para rifles e outros itens.

Sua esposa estava lá embaixo, deitada na cama. Ela raramente anda e não sai de casa há anos. “Você foge e o que vem a seguir? Morrer de fome ou viver às custas de alguém?” disse Petrov.

Tudo parecia tão distante, apesar de ter acontecido um ano antes de eu nascer. E agora temos que ver com nossos próprios olhos.

Evgeni Petrov, sobre a 2ª Guerra e o conflito atual na Ucrânia

“Aqui temos esses caras pelo menos vindo para nos ajudar, isso é o mais importante”, disse ele sobre os voluntários do Park Kultury. “Ninguém precisa de nós em nenhum outro lugar, embora, é claro, todos estejam preocupados conosco.”

Petrov ouviu histórias sobre a 2ª Guerra de sua mãe e avó. Suas histórias eram sobre bombas e sirenes de ataque aéreo. Uma parede do prédio em que ele mora tem até hoje cicatrizes de bombardeios.

“Tudo parecia tão distante, apesar de ter acontecido um ano antes de eu nascer”, disse ele. “E agora temos que ver com nossos próprios olhos.”

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Criação de corredores humanitários foi acordada com a Rússia e inclui diferentes partes do país

Lembranças da 2ª Guerra

Na casa de Churiliana, embora ela não possa mais ver o retrato do irmão, ela se lembra exatamente onde está pendurado. Ele está vestido com seu uniforme militar da 2ª Guerra. Há outra foto dele na mesma parede – também vestido de uniforme, mas mais velho.

Churiliana nasceu nos Montes Urais, na Rússia, antes de ela e seus irmãos se mudarem para a Ucrânia. Todos os seus irmãos morreram. Agora, seu país natal, e aquele pelo qual seu pai e seu irmão lutaram, está travando uma guerra contra seu lar atual. “Estou apenas esperando meus dias acabarem”, disse ela suavemente.

Em Kharkiv, alvo de bombardeios russos, idosos têm dificuldade de obter comida e segurança.  Foto: Vasyl Zhlobski/EFE

WASHINGTON POST, ODESSA- Anna Churiliana não enxerga mais, mas as imagens da guerra na Ucrânia descritas quando ela liga o noticiário da televisão todas as noites são horríveis.

Ela junta as mãos imaginando Kiev e Kharkiv como as belas cidades que conheceu. Seus olhos lacrimejaram ao pensar em como eles devem estar agora, depois de mais de uma semana de bombardeios pesados pelas forças russas.

“Essas explosões são todas tão terríveis”, disse ela. Sua voz tremeu. “Eu não posso vê-las, mas posso senti-las com todo o meu corpo.”

Idosa é auxliada para atravessar rio na cidade de Irpin, no norte da Ucrânia. Foto: Vadim Ghirda/AP

Em toda a Ucrânia, as pessoas estão em busca de segurança. A maioria tenta fugir do país ou menos migrar para oeste, mais distantes das forças russas. As cenas nas estações de trem da Ucrânia mostram em grande parte mulheres e crianças puxando malas e carregando quaisquer pertences que possam trazer. Homens de 18 a 60 anos são proibidos de sair.

Mas sobraram os idosos. E muitos têm ficado para trás. A retirada pode ser muito desgastante, emocional e fisicamente, para a maioria deles. Para alguns, como Churiliana, de 90 anos, é quase impossível deixar o local onde vivem.

Outros insistem em permanecer por lealdade e amor por sua casa, resistindo teimosamente à fuga apesar dos apelos de familiares. Isso é especialmente verdade em Odessa, onde há um ditado – “Odessa Mama” – que os moradores costumam se referir carinhosamente à sua cidade como uma matriarca que os protegerá.

Churiliana mal saiu de seu apartamento nos últimos cinco anos. Todos os dias ela diz em voz alta os pontos de referência ao redor de seu prédio no centro de Odessa, uma maneira de garantir que seu mundo não fique confinado apenas a essas paredes. Ela pediu à sobrinha, que mora com ela, que colocasse panos nas janelas como proteção em caso de explosões. Isso tornou o mundo sombrio de Churiliana ainda mais sombrio. “Que diferença isso faz para mim? Embora, acho que gostaria de sentir a luz do sol”, disse ela.

Ao contrário de outras grandes cidades ucranianas que estão sob bombardeios quase constantes desde que a Rússia lançou seus primeiros ataques em 24 de fevereiro, as pessoas no porto de Odessa, no Mar Negro, tiveram quase duas semanas para fugir com segurança para o oeste. As fronteiras da Moldávia e da Romênia, consideradas menos congestionadas com o tráfego de refugiados do que as da Polônia, também estão próximas.

E se os ucranianos nas cidades ocidentais e centrais do país, como Lviv e Dnipro, estão otimistas que as forças russas não lançarão um ataque lá, em Odessa não há essa ilusão. Este é um dos maiores portos do Mar Negro, tornando-o economicamente crítico para a Ucrânia e um alvo óbvio da Rússia. Depois de ver a destruição e o derramamento de sangue em Kharkiv e ao redor de Kiev, trocar Odessa por um terreno mais seguro, sabendo o que provavelmente está por vir para esta cidade, tornou-se uma opção.

Voluntários ajudam os idosos

Dois voluntários pararam no apartamento de Churiliana no domingo para trazer uma sacola de alimentos não perecíveis – trigo sarraceno, atum enlatado e outros itens. Estas são as outras pessoas que permanecem na Ucrânia apesar dos riscos: cidadãos comuns agora se mobilizando para ajudar na guerra e no esforço humanitário no país. O número de voluntários para tudo e qualquer coisa na Ucrânia disparou.

A organização Park Kulturi de Eduard Shevchenko era mais um clube social há duas semanas. Agora, com muitos grupos já focados em ajudar soldados e milícias civis, o Park Kulturi concentrou seus esforços em um grupo demográfico que Shevchenko temia estar sendo esquecido: aposentados e moradores mais velhos.

Ele e seu colega, Maksim Gaida, entregaram comida para cinco famílias idosas, incluindo a de Churiliana, na tarde de domingo. Talvez mais importante do que os bens que ofereciam era a companhia.

“As pessoas querem ajudar de alguma forma porque ficar em casa sem fazer nada deixa todo mundo louco”, disse Shevchenko. “Podemos fazer uma analogia com como os idosos se sentem: ficam em casa o tempo todo, se sentem indesejados porque ninguém os chama, muitas vezes incapazes de sair e comprar comida para si.”

Solidão afeta idosos na guerra

Odessa é tudo que Oleksandr Zayarni, de 68 anos conhece. Ele nasceu aqui. A mãe dele nasceu aqui. A avó dele nasceu aqui. “Não há para onde ir, apenas Odessa”, disse ele. “Meu pai morreu durante a 2ª Guerra. Minha esposa morreu. Estou sozinho agora.”

O retrato em preto e branco de sua esposa está pendurado na parede do apartamento que ele mesmo remodelou. Ela morreu há mais de três décadas com apenas 33 anos. Eles não tiveram filhos, e ele nunca se casou novamente.

Em vez disso, ele ajudou a consertar casas para outras famílias. Ele é um homem pequeno que anda com dificuldade – o preço de uma queda feia que quando pintava uma igreja anos atrás.

A guerra é assustadora, disse ele. Mas ele não teme a morte. “Não vou morrer ainda. Quero viver pelo menos mais alguns anos”, acrescentou.

Muitos idosos precisam de ajuda no forte inverno da Ucrânia. Foto: Vadim Ghirda/AP

Fuga é cara para aposentados

Para Evgeni Petrov, de 75 anos, a fuga é cara. Ele ainda trabalha. Em seu sótão, ele fabrica artigos de couro personalizados – bolsas, carteiras, estojos para rifles e outros itens.

Sua esposa estava lá embaixo, deitada na cama. Ela raramente anda e não sai de casa há anos. “Você foge e o que vem a seguir? Morrer de fome ou viver às custas de alguém?” disse Petrov.

Tudo parecia tão distante, apesar de ter acontecido um ano antes de eu nascer. E agora temos que ver com nossos próprios olhos.

Evgeni Petrov, sobre a 2ª Guerra e o conflito atual na Ucrânia

“Aqui temos esses caras pelo menos vindo para nos ajudar, isso é o mais importante”, disse ele sobre os voluntários do Park Kultury. “Ninguém precisa de nós em nenhum outro lugar, embora, é claro, todos estejam preocupados conosco.”

Petrov ouviu histórias sobre a 2ª Guerra de sua mãe e avó. Suas histórias eram sobre bombas e sirenes de ataque aéreo. Uma parede do prédio em que ele mora tem até hoje cicatrizes de bombardeios.

“Tudo parecia tão distante, apesar de ter acontecido um ano antes de eu nascer”, disse ele. “E agora temos que ver com nossos próprios olhos.”

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Criação de corredores humanitários foi acordada com a Rússia e inclui diferentes partes do país

Lembranças da 2ª Guerra

Na casa de Churiliana, embora ela não possa mais ver o retrato do irmão, ela se lembra exatamente onde está pendurado. Ele está vestido com seu uniforme militar da 2ª Guerra. Há outra foto dele na mesma parede – também vestido de uniforme, mas mais velho.

Churiliana nasceu nos Montes Urais, na Rússia, antes de ela e seus irmãos se mudarem para a Ucrânia. Todos os seus irmãos morreram. Agora, seu país natal, e aquele pelo qual seu pai e seu irmão lutaram, está travando uma guerra contra seu lar atual. “Estou apenas esperando meus dias acabarem”, disse ela suavemente.

Em Kharkiv, alvo de bombardeios russos, idosos têm dificuldade de obter comida e segurança.  Foto: Vasyl Zhlobski/EFE

WASHINGTON POST, ODESSA- Anna Churiliana não enxerga mais, mas as imagens da guerra na Ucrânia descritas quando ela liga o noticiário da televisão todas as noites são horríveis.

Ela junta as mãos imaginando Kiev e Kharkiv como as belas cidades que conheceu. Seus olhos lacrimejaram ao pensar em como eles devem estar agora, depois de mais de uma semana de bombardeios pesados pelas forças russas.

“Essas explosões são todas tão terríveis”, disse ela. Sua voz tremeu. “Eu não posso vê-las, mas posso senti-las com todo o meu corpo.”

Idosa é auxliada para atravessar rio na cidade de Irpin, no norte da Ucrânia. Foto: Vadim Ghirda/AP

Em toda a Ucrânia, as pessoas estão em busca de segurança. A maioria tenta fugir do país ou menos migrar para oeste, mais distantes das forças russas. As cenas nas estações de trem da Ucrânia mostram em grande parte mulheres e crianças puxando malas e carregando quaisquer pertences que possam trazer. Homens de 18 a 60 anos são proibidos de sair.

Mas sobraram os idosos. E muitos têm ficado para trás. A retirada pode ser muito desgastante, emocional e fisicamente, para a maioria deles. Para alguns, como Churiliana, de 90 anos, é quase impossível deixar o local onde vivem.

Outros insistem em permanecer por lealdade e amor por sua casa, resistindo teimosamente à fuga apesar dos apelos de familiares. Isso é especialmente verdade em Odessa, onde há um ditado – “Odessa Mama” – que os moradores costumam se referir carinhosamente à sua cidade como uma matriarca que os protegerá.

Churiliana mal saiu de seu apartamento nos últimos cinco anos. Todos os dias ela diz em voz alta os pontos de referência ao redor de seu prédio no centro de Odessa, uma maneira de garantir que seu mundo não fique confinado apenas a essas paredes. Ela pediu à sobrinha, que mora com ela, que colocasse panos nas janelas como proteção em caso de explosões. Isso tornou o mundo sombrio de Churiliana ainda mais sombrio. “Que diferença isso faz para mim? Embora, acho que gostaria de sentir a luz do sol”, disse ela.

Ao contrário de outras grandes cidades ucranianas que estão sob bombardeios quase constantes desde que a Rússia lançou seus primeiros ataques em 24 de fevereiro, as pessoas no porto de Odessa, no Mar Negro, tiveram quase duas semanas para fugir com segurança para o oeste. As fronteiras da Moldávia e da Romênia, consideradas menos congestionadas com o tráfego de refugiados do que as da Polônia, também estão próximas.

E se os ucranianos nas cidades ocidentais e centrais do país, como Lviv e Dnipro, estão otimistas que as forças russas não lançarão um ataque lá, em Odessa não há essa ilusão. Este é um dos maiores portos do Mar Negro, tornando-o economicamente crítico para a Ucrânia e um alvo óbvio da Rússia. Depois de ver a destruição e o derramamento de sangue em Kharkiv e ao redor de Kiev, trocar Odessa por um terreno mais seguro, sabendo o que provavelmente está por vir para esta cidade, tornou-se uma opção.

Voluntários ajudam os idosos

Dois voluntários pararam no apartamento de Churiliana no domingo para trazer uma sacola de alimentos não perecíveis – trigo sarraceno, atum enlatado e outros itens. Estas são as outras pessoas que permanecem na Ucrânia apesar dos riscos: cidadãos comuns agora se mobilizando para ajudar na guerra e no esforço humanitário no país. O número de voluntários para tudo e qualquer coisa na Ucrânia disparou.

A organização Park Kulturi de Eduard Shevchenko era mais um clube social há duas semanas. Agora, com muitos grupos já focados em ajudar soldados e milícias civis, o Park Kulturi concentrou seus esforços em um grupo demográfico que Shevchenko temia estar sendo esquecido: aposentados e moradores mais velhos.

Ele e seu colega, Maksim Gaida, entregaram comida para cinco famílias idosas, incluindo a de Churiliana, na tarde de domingo. Talvez mais importante do que os bens que ofereciam era a companhia.

“As pessoas querem ajudar de alguma forma porque ficar em casa sem fazer nada deixa todo mundo louco”, disse Shevchenko. “Podemos fazer uma analogia com como os idosos se sentem: ficam em casa o tempo todo, se sentem indesejados porque ninguém os chama, muitas vezes incapazes de sair e comprar comida para si.”

Solidão afeta idosos na guerra

Odessa é tudo que Oleksandr Zayarni, de 68 anos conhece. Ele nasceu aqui. A mãe dele nasceu aqui. A avó dele nasceu aqui. “Não há para onde ir, apenas Odessa”, disse ele. “Meu pai morreu durante a 2ª Guerra. Minha esposa morreu. Estou sozinho agora.”

O retrato em preto e branco de sua esposa está pendurado na parede do apartamento que ele mesmo remodelou. Ela morreu há mais de três décadas com apenas 33 anos. Eles não tiveram filhos, e ele nunca se casou novamente.

Em vez disso, ele ajudou a consertar casas para outras famílias. Ele é um homem pequeno que anda com dificuldade – o preço de uma queda feia que quando pintava uma igreja anos atrás.

A guerra é assustadora, disse ele. Mas ele não teme a morte. “Não vou morrer ainda. Quero viver pelo menos mais alguns anos”, acrescentou.

Muitos idosos precisam de ajuda no forte inverno da Ucrânia. Foto: Vadim Ghirda/AP

Fuga é cara para aposentados

Para Evgeni Petrov, de 75 anos, a fuga é cara. Ele ainda trabalha. Em seu sótão, ele fabrica artigos de couro personalizados – bolsas, carteiras, estojos para rifles e outros itens.

Sua esposa estava lá embaixo, deitada na cama. Ela raramente anda e não sai de casa há anos. “Você foge e o que vem a seguir? Morrer de fome ou viver às custas de alguém?” disse Petrov.

Tudo parecia tão distante, apesar de ter acontecido um ano antes de eu nascer. E agora temos que ver com nossos próprios olhos.

Evgeni Petrov, sobre a 2ª Guerra e o conflito atual na Ucrânia

“Aqui temos esses caras pelo menos vindo para nos ajudar, isso é o mais importante”, disse ele sobre os voluntários do Park Kultury. “Ninguém precisa de nós em nenhum outro lugar, embora, é claro, todos estejam preocupados conosco.”

Petrov ouviu histórias sobre a 2ª Guerra de sua mãe e avó. Suas histórias eram sobre bombas e sirenes de ataque aéreo. Uma parede do prédio em que ele mora tem até hoje cicatrizes de bombardeios.

“Tudo parecia tão distante, apesar de ter acontecido um ano antes de eu nascer”, disse ele. “E agora temos que ver com nossos próprios olhos.”

Seu navegador não suporta esse video.

Criação de corredores humanitários foi acordada com a Rússia e inclui diferentes partes do país

Lembranças da 2ª Guerra

Na casa de Churiliana, embora ela não possa mais ver o retrato do irmão, ela se lembra exatamente onde está pendurado. Ele está vestido com seu uniforme militar da 2ª Guerra. Há outra foto dele na mesma parede – também vestido de uniforme, mas mais velho.

Churiliana nasceu nos Montes Urais, na Rússia, antes de ela e seus irmãos se mudarem para a Ucrânia. Todos os seus irmãos morreram. Agora, seu país natal, e aquele pelo qual seu pai e seu irmão lutaram, está travando uma guerra contra seu lar atual. “Estou apenas esperando meus dias acabarem”, disse ela suavemente.

Em Kharkiv, alvo de bombardeios russos, idosos têm dificuldade de obter comida e segurança.  Foto: Vasyl Zhlobski/EFE

WASHINGTON POST, ODESSA- Anna Churiliana não enxerga mais, mas as imagens da guerra na Ucrânia descritas quando ela liga o noticiário da televisão todas as noites são horríveis.

Ela junta as mãos imaginando Kiev e Kharkiv como as belas cidades que conheceu. Seus olhos lacrimejaram ao pensar em como eles devem estar agora, depois de mais de uma semana de bombardeios pesados pelas forças russas.

“Essas explosões são todas tão terríveis”, disse ela. Sua voz tremeu. “Eu não posso vê-las, mas posso senti-las com todo o meu corpo.”

Idosa é auxliada para atravessar rio na cidade de Irpin, no norte da Ucrânia. Foto: Vadim Ghirda/AP

Em toda a Ucrânia, as pessoas estão em busca de segurança. A maioria tenta fugir do país ou menos migrar para oeste, mais distantes das forças russas. As cenas nas estações de trem da Ucrânia mostram em grande parte mulheres e crianças puxando malas e carregando quaisquer pertences que possam trazer. Homens de 18 a 60 anos são proibidos de sair.

Mas sobraram os idosos. E muitos têm ficado para trás. A retirada pode ser muito desgastante, emocional e fisicamente, para a maioria deles. Para alguns, como Churiliana, de 90 anos, é quase impossível deixar o local onde vivem.

Outros insistem em permanecer por lealdade e amor por sua casa, resistindo teimosamente à fuga apesar dos apelos de familiares. Isso é especialmente verdade em Odessa, onde há um ditado – “Odessa Mama” – que os moradores costumam se referir carinhosamente à sua cidade como uma matriarca que os protegerá.

Churiliana mal saiu de seu apartamento nos últimos cinco anos. Todos os dias ela diz em voz alta os pontos de referência ao redor de seu prédio no centro de Odessa, uma maneira de garantir que seu mundo não fique confinado apenas a essas paredes. Ela pediu à sobrinha, que mora com ela, que colocasse panos nas janelas como proteção em caso de explosões. Isso tornou o mundo sombrio de Churiliana ainda mais sombrio. “Que diferença isso faz para mim? Embora, acho que gostaria de sentir a luz do sol”, disse ela.

Ao contrário de outras grandes cidades ucranianas que estão sob bombardeios quase constantes desde que a Rússia lançou seus primeiros ataques em 24 de fevereiro, as pessoas no porto de Odessa, no Mar Negro, tiveram quase duas semanas para fugir com segurança para o oeste. As fronteiras da Moldávia e da Romênia, consideradas menos congestionadas com o tráfego de refugiados do que as da Polônia, também estão próximas.

E se os ucranianos nas cidades ocidentais e centrais do país, como Lviv e Dnipro, estão otimistas que as forças russas não lançarão um ataque lá, em Odessa não há essa ilusão. Este é um dos maiores portos do Mar Negro, tornando-o economicamente crítico para a Ucrânia e um alvo óbvio da Rússia. Depois de ver a destruição e o derramamento de sangue em Kharkiv e ao redor de Kiev, trocar Odessa por um terreno mais seguro, sabendo o que provavelmente está por vir para esta cidade, tornou-se uma opção.

Voluntários ajudam os idosos

Dois voluntários pararam no apartamento de Churiliana no domingo para trazer uma sacola de alimentos não perecíveis – trigo sarraceno, atum enlatado e outros itens. Estas são as outras pessoas que permanecem na Ucrânia apesar dos riscos: cidadãos comuns agora se mobilizando para ajudar na guerra e no esforço humanitário no país. O número de voluntários para tudo e qualquer coisa na Ucrânia disparou.

A organização Park Kulturi de Eduard Shevchenko era mais um clube social há duas semanas. Agora, com muitos grupos já focados em ajudar soldados e milícias civis, o Park Kulturi concentrou seus esforços em um grupo demográfico que Shevchenko temia estar sendo esquecido: aposentados e moradores mais velhos.

Ele e seu colega, Maksim Gaida, entregaram comida para cinco famílias idosas, incluindo a de Churiliana, na tarde de domingo. Talvez mais importante do que os bens que ofereciam era a companhia.

“As pessoas querem ajudar de alguma forma porque ficar em casa sem fazer nada deixa todo mundo louco”, disse Shevchenko. “Podemos fazer uma analogia com como os idosos se sentem: ficam em casa o tempo todo, se sentem indesejados porque ninguém os chama, muitas vezes incapazes de sair e comprar comida para si.”

Solidão afeta idosos na guerra

Odessa é tudo que Oleksandr Zayarni, de 68 anos conhece. Ele nasceu aqui. A mãe dele nasceu aqui. A avó dele nasceu aqui. “Não há para onde ir, apenas Odessa”, disse ele. “Meu pai morreu durante a 2ª Guerra. Minha esposa morreu. Estou sozinho agora.”

O retrato em preto e branco de sua esposa está pendurado na parede do apartamento que ele mesmo remodelou. Ela morreu há mais de três décadas com apenas 33 anos. Eles não tiveram filhos, e ele nunca se casou novamente.

Em vez disso, ele ajudou a consertar casas para outras famílias. Ele é um homem pequeno que anda com dificuldade – o preço de uma queda feia que quando pintava uma igreja anos atrás.

A guerra é assustadora, disse ele. Mas ele não teme a morte. “Não vou morrer ainda. Quero viver pelo menos mais alguns anos”, acrescentou.

Muitos idosos precisam de ajuda no forte inverno da Ucrânia. Foto: Vadim Ghirda/AP

Fuga é cara para aposentados

Para Evgeni Petrov, de 75 anos, a fuga é cara. Ele ainda trabalha. Em seu sótão, ele fabrica artigos de couro personalizados – bolsas, carteiras, estojos para rifles e outros itens.

Sua esposa estava lá embaixo, deitada na cama. Ela raramente anda e não sai de casa há anos. “Você foge e o que vem a seguir? Morrer de fome ou viver às custas de alguém?” disse Petrov.

Tudo parecia tão distante, apesar de ter acontecido um ano antes de eu nascer. E agora temos que ver com nossos próprios olhos.

Evgeni Petrov, sobre a 2ª Guerra e o conflito atual na Ucrânia

“Aqui temos esses caras pelo menos vindo para nos ajudar, isso é o mais importante”, disse ele sobre os voluntários do Park Kultury. “Ninguém precisa de nós em nenhum outro lugar, embora, é claro, todos estejam preocupados conosco.”

Petrov ouviu histórias sobre a 2ª Guerra de sua mãe e avó. Suas histórias eram sobre bombas e sirenes de ataque aéreo. Uma parede do prédio em que ele mora tem até hoje cicatrizes de bombardeios.

“Tudo parecia tão distante, apesar de ter acontecido um ano antes de eu nascer”, disse ele. “E agora temos que ver com nossos próprios olhos.”

Seu navegador não suporta esse video.

Criação de corredores humanitários foi acordada com a Rússia e inclui diferentes partes do país

Lembranças da 2ª Guerra

Na casa de Churiliana, embora ela não possa mais ver o retrato do irmão, ela se lembra exatamente onde está pendurado. Ele está vestido com seu uniforme militar da 2ª Guerra. Há outra foto dele na mesma parede – também vestido de uniforme, mas mais velho.

Churiliana nasceu nos Montes Urais, na Rússia, antes de ela e seus irmãos se mudarem para a Ucrânia. Todos os seus irmãos morreram. Agora, seu país natal, e aquele pelo qual seu pai e seu irmão lutaram, está travando uma guerra contra seu lar atual. “Estou apenas esperando meus dias acabarem”, disse ela suavemente.

Em Kharkiv, alvo de bombardeios russos, idosos têm dificuldade de obter comida e segurança.  Foto: Vasyl Zhlobski/EFE

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